Unbreakable escrita por Caeruleae Ignis


Capítulo 2
Capítulo 2 - O Limbo




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Carmen brincava com a bolinha de jornal, anteriormente usada para abrigar o peixe-e-fritas finalizado. O táxi entrou em uma garagem e ela se ajeitou na cadeira, e bebericou um pouco do refrigerante. Sherlock abriu um sorrisinho ao ver que estavam quase chegando em seu destino. A garota colocou-se a falar:

– "Fale mais sobre seu irmão, Sherlock."

– "Por que eu deveria?" ela suspirou. Carmen saltou do táxi quando este parou. Ela aguardava uma perua preta e capangas para sequestrá-la. Mas só um homem ligeiramente grisalho nos seus quarenta e cinco anos estava lá. Atraente. Ele esquadrinhou-a dos pés à cabeça, e estranhou seu visual. Sherlock começou a falar.

– "Antes que você pergunte, essa é Carmen Morrigan, minha nova..."

– "Companheira?" Lestrade interrompeou-o, e meneou o rosto em direção ao taxi. Ela acompanhou Sherlock até o carro. Lestrade tomou o assento ao lado do motorista, Carmen adentrou o carro pela porta direita e Sherlock, pela porta esquerda. O motorista, um taxista de seus trinta e cinco anos girou a chave na ignição e deu partida no carro. Carmen abriu a janela da sua porta e puxou a carteira de cigarros da bolsinha. Era uma carteira metálica, com a caveira dos Misfits. Ela retirou um cigarrete de dentro da carteira e levou-o aos lábios vermelho-carmin, acendendo com um isqueiro barato. Soltou um "espero que não se incomode" em forma de risadinha, dando um longo trago no cigarro, equilibrado entre as unhas do indicador e do dedo-médio, impecavelmente pintadas de preto, cada uma com quase dois centímetros de tamanho.

– "Então... o nome é Lestrade, não é?" ela jogou as cinzas do cigarro que se acumulavam em seu extremo pela janela.

– "Desculpe?"

– "Está escrito. No cartão, dentro do seu bolso. Greg Lestrade, quarenta e cinco anos. Como anda o casamento?" Lestrade fez uma cara.

– "A marca no seu anelar esquerdo, proveniente dos vinte anos de casado sumiu durante algumas horas, e ainda não retornou. Seu dedo está inchado por causa da aliança. Como foi a transa de ontem?" ele engasgou, com o rosto vermelho. "Mulher, trinta anos. Cabelo loiro. Chegou em casa às três da manhã e disse para sua esposa que tinha ficado no trabalho, mesmo com o forte cheiro de whisky e de perfume feminino. Pff." Sherlock delineou um sorrisinho no canto dos lábios, ela deu outra longa tragada no cigarro e Lestrade se virou ao detetive consultor.

– "Ela é três vezes pior que você."

– "Eu não diria isso."

Após alguns minutos, eles chegaram na cena do crime. Já era noite. Um prédio, ainda no esqueleto, de aproximadamente 15 andares. Estava na segunda etapa de construção. Alguns apartamentos estavam prontos mas nem todos estavam detalhados. O lugar mais improvável para um crime. Sherlock entregou uma nota de vinte libras e aguardou Carmen sair do carro para liberar a passagem. Um verdadeiro circo, com diversos carros da polícia, agentes contendo os civis curiosos e os jornalistas tentando capturar informações da polícia. Carmen foi a primeira a se retirar do carro, com metade do cigarro tragado pendulando entre suas unhas. Sherlock permaneceu calado, provavelmente discutindo consigo mesmo, sendo acompanhado pela menina. Lestrade abriu caminho pela fita de "Não passe", e eles toparam com o resto do time de Lestrade. Um casal aproximava-se do detetive inspetor, e tomaram um susto quando viram Carmen.

– "Novo brinquedinho, aberração?" a sargento Donovan soltou o comentário desagradável, cruzando os braços e equilibrando o peso do corpo na perna direita. O legista que acompanhava Sally soltou um suspiro e mirou os olhos no decote da adolescente. Carmen alinhou os peep-toes e levantou a mão direita, apresentando-se à mulher. Sherlock colocou-se a falar.

– "Carmen, esse é o... Anderson e ela é a sargento Sally Donovan. Ela é Carmen Morrigan e vai me ajudar no novo caso, antes de passar a noite na minha casa. " Sherlock disse sem segundas intenções, mas o casal soltou um par de risadinhas.

– "Além de psicopata é pedófilo, Sherlock?" Anderson comentou com um olhar desgostoso e provocativo. Como não fora cumprimentada, Carmen sentiu-se mais provocada do que já estava. Ela aprimorou um passo na direção de Donovan e passou o indicador próximo dos lábios da sargento, retirando um resquício de algo nada higiênico. Ela levou o indicador ao nariz e fez uma careta, controlando as risadas.

– "Esperma, como eu suspeitava." ela limpou o dedo no ombro de Donovan, e mirou os ameaçadores olhos em Anderson. "E é do seu amiguinho, não é?"
Os rostos do casal se contorceram em uma expressão de horror e raiva, e um sorrisinho brotou nos lábios vermelhos de Carmen.

– "Eis o motivo da sua braguilha estar emperrada, caro legista; se você controlasse a sua ejaculação na boca da sargento, provavelmente conseguiria fechar o próprio zíper da calça. Além do mais, tente ser mais discreto, a sua mulher estava chegando em casa quando Donovan acabou seu serviço. Enfim. Aonde está o corpo?" ela seguiu o caminho sozinha em direção a entrada do prédio ainda em construção, acompanhando Sherlock, que esperou se distanciar do casal horrorizado antes de lançar uma piscadela marota a Carmen. Lestrade fitou Donovan e Anderson sem se surpreender.

– "Você vai ser de grande ajuda", ele assumiu, subindo as escadas de dois em dois degraus, "mas não é melhor que eu."

– "Veremos." ela ouviu os passos raivosos de Anderson e apressou o andar, e agarrou o par de luvas de borracha que Sherlock ofereceu-a. Em um movimento rápido, vestiu-as sem contaminar a proteção. Depois de subirem alguns lances de escada, aproximaram-se da cena do crime. Um corpo feminino erguido em um gancho de abatedouro pelas mãos, com um corte no abdome, e as vísceras pendulando do corte. Bastante sangue era encontrado no chão e na parede do apartamento ainda em construção. Seus braços estavam substituídos por duas peças de manequim, e os originais não se encontravam no recinto. A letra "a" e a palavra "trivium" estavam escritas entre os seios da mulher. Os olhos não estavam presentes em seu rosto. Os lábios, costurados. Carmen fitou o corpo como se fosse a coisa mais natural do planeta, e Lestrade, que acabara de chegar na cena do crime, dispensou os legistas antes que Sherlock se irritasse. Ele se aproximou do corpo e Carmen continuou a fitar os braços repostos.

– "Sherlock, reconhece esse aroma?" ela parecia incomodada. O detetive virou-se a ela, e prendeu a respiração por alguns segundos. Os dois completaram na mesma hora: - "Porcelana." Carmen fitou Sherlock com olhos secos e aproximou-se do corpo. Ela tentou alcançar os braços mas não conseguiu, devido sua altura. Ela sentiu um par de mãos rodear sua cintura e ela foi erguida com facilidade por Sherlock, que apoiou-a em seu ombro. Raspou a unha coberta pela luva no braço antes de levar o indicador ao nariz, sentindo um arrepio rastejar pela sua espinha. Sherlock abaixou a garota, que distanciou-se alguns passos do corpo.

– "Sul-coreana. Minha avó trouxe uma boneca do mesmo material quando voltou da Coreia do Sul. O material é caro e não pode entrar na Inglaterra com facilidade, já que é composta por ópio para dar consistência, e não deixar a porcelana lisa. Ou entrou por contrabando, ou o comprador é muito rico." ela abaixou o tronco por completo, flexionando as pernas, ficando de cócoras para tirar algumas conclusões sobre o ferimento abdominal da vítima. Sherlock observava as fendas oculares vazias da vítima. Lestrade adentrou a cena do crime e informou aos presentes alguns detalhes do dossiê.

– "O nome da vítima é Camilla Belucci, imigrante italiana, chegou na Inglaterra aos vinte anos, morreu aos trinta e três."

– "Por acaso ela era professora de literatura ou filosofia, Lestrade?"

– "Não. É professora de italiano na City University." ela tentou recolher os pensamentos e retornou a atenção ao corpo, cruzando os braços.

– "Ela não foi morta aqui, Carmen. Isso é sangue de porco. Ele abateu o animal aqui para parecer que o sangue fosse da vítima, e dispensou o corpo do animal em uma lixeira próxima daqui... agora, como ele conseguiu entrar num prédio com um porco eu não sei." Sherlock suspirou, e flexionou os joelhos, apoiando-se na sola dos pés, fitando a poça de sangue que jazia embaixo do corpo. Carmen levantou o corpo rapidamente para se aproximar de Sherlock, tentando alinhar o foco do pensamento com o do parceiro. Após piscar um par de vezes, Sherlock proferiu em tom monótono:

– "Pare de olhar para a bunda da minha assistente, Anderson. O que você quer?" Carmen quase caiu no chão com o comentário de Sherlock, abaixando um pouco a barra da mini-saia de couro. Ela não se importava de ser observada por um homem, mas não por um babaca de marca maior como o Anderson. Mesmo sem conhecê-lo, Carmen já podia prever que o legista não era útil pra nada. Ele pigarreou e Carmen se levantou, umidecendo os lábios com a língua, de maneira agressiva. Ela sentiu um click! na cabeça e teve uma resolução brilhante.

– "Acabamos de conferir que ela não foi morta aqui e que esse sangue não é human--" Anderson foi atropelado por uma Carmen que desejava passar. Correndo e tirando fino dos outros peritos, ela foi descendo rapidamente os lances de escada, retirando as luvas enquanto equilibrava-se nos saltos de quinze centímetros. Sherlock tentou acompanhar a pequena, empurrando Anderson, que cambaleou novamente. Ele se colocou no corrimão da recém construída escada, e gritou.

– "Aonde você está indo?!" ela parou de correr e olhou para cima, percorrendo o olhar pelo vão até encontrar o rosto de Sherlock.

– "City University! Ela foi morta lá!"


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