Senhor Comandante escrita por Mondai


Capítulo 1
Its Jaime, bitch!




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 Jaime estava sentado à sua mesa de Senhor Comandante da Guarda Real, escrevendo no Livro Branco. Sentia-se cansado de todo trabalho árduo como comandante, apesar de os primeiros raios de sol estarem apenas começando a iluminar a sala. Tenhofome, pensou.

 Analisou o trabalho que havia feito naquela página e deu-se por satisfeito.

 - Sor Osmund! – gritou – Soooor Osmuuuund! Tô com fomeeeeee... – continuou gritando, mas Osmund Kettleblack não apareceu. Apoiou-se sobre a única mão que tinha. Bufou – E a minha comidaaa? – irritado, atirou um giz de cera contra a porta.

 Levantou-se, com o Livro Branco por baixo do braço. Eu queria tanto que Sor Osmund visse o desenho que fiz, mas é provável que ele esteja ocupado dando aulas particulares para Cersei. Havia se tornado rotineiro as aulas de esgrima de Cersei, e Jaime achava isso ótimo, já que uma rainha devia saber se defender. E Cersei era uma aluna muito aplicada, todas as noites algum membro da Guarda Real ajudava nas aulas ela. Alguns tempos atrás, ele mesmo podia ter ensinado ela a esgrimir, mas isso era quando ele ainda tinha sua mão direita.

 Foi até a porta, pensando em ir às cozinhas. Porém, seu coto não era muito útil ao tentar abrir a porta. Passou o coto sobre a maçaneta redonda, tentando abri-la.

 - Opa... – disse, enquanto se esforçava para abrir a porta. Não entendia porque não conseguia abrir a porta, cada vez que forçava a maçaneta, seu coto simplesmente escorregava. Mordeu os lábios, concentrado, mas nada adiantava. Sentiu-se tão confuso, desde que perdera a mão, todos os dias era a mesma coisa.

 Desistiu e atirou-se pela janela.

 Ao chegar às cozinhas, comeu umdelicioso mingau e biscoitos doces. Claro que o cozinheiro lhe deu comida na boca, não podia negar que era extremamente divertido cada vez que ouvia o cozinheiro falar: olha o dragãozinho, buf, buf, abre a boquinha para o
dragãozinho!

 Era muito engraçado! Aproveitou a gentileza e amabilidade do cozinheiro e lhe mostrou o desenho que havia feito aquela manhã no Livro Branco.

 - Então, está vendo este homem dourado aqui? É esse daí - disse, gesticulando sobre o papel e o mostrando para o cozinheiro – Sou eu, viu? E essa princesa aí, essa de vermelho, olha que lindo é o cabelo dela, está vendo? Eu desenhei com duas cores o vestido, você
consegue perceber? É a Cersei, é! E, está vendo essa nuvem em cima do sol? O leão em cima dela é meu pai, viu? Ele está nos observando lá de cima, ao lado do Pai e do Guerreiro... – foi isso que o Septão havia dito a Jaime no enterro de Tywin Lannister. O cozinheiro cujo Jaime desconhecia o nome, gargalhou carinhosamente e elogiou os dotes artísticos de Jaime. Ah, é tão bom saber que os súditos nos amam! Papai teria orgulho de mim neste momento!

 Da mesma forma que havia tido orgulho de Jaime quando ele matou Aerys. Na realidade, ninguém havia dito a Jaime que Aerys era seu rei.

 Resolveu olhar onde estavam os outros membros da Guarda Real. Agradeceu a refeição e saiu para o pátio.

 No pátio, alguns cavaleiros lutavam com alguns membros da Guarda Real amistosamente. E próximo dali, algumas crianças tentavam fazer o mesmo, lutando com pedaços de madeira. Jaime sentiu seus dedos fantasmas coçarem, e resolveu juntar-se a seus amigos. O problema era que Jaime não havia aprendido muito bem a usar a espada na mão
esquerda.

 - Alguém luta comigo? – questionou, aproximando-se, rebolando seus quadris de um lado para o outro, de forma ameaçadora e sensual. Tirou a espada de bainha, mas ela acabou escorrendo de seus dedos e caindo no chão. Riu de sua trapalhada e seus amigos riram junto com ele. Quando abaixou-se para pegar sua espada, alguém já havia feito o
mesmo. Levantou os olhos para o rapaz a sua frente.

 - Loras... – cumprimentou rigidamente.

 - Jaime... – ele retribuiu, sorrindo e entregando a espada a Jaime – Está procurando alguém para lutar? Bem, eu estou aqui! – disse, sacudindo os cabelos dos olhos.

 - Oh, Loras – suspirou uma criada que passava por ali, com um cesto de frutas nos braços, antes de desmaiar. Loras atirou um beijo pra ela. Jaime pigarreou.

 - Não, não, meu caro amigo, não poderia lutar com alguém como você; poderia machucá-lo... – disse simplesmente.

 - Ah, não! Se fosse eu, não deixava isso assim não, Loras! Ou devo dizer... Floras? – Sor Meryn Trant disse, atrás de Jaime. Regicida e Meryn gritaram “uooou” enquanto faziam o seu cumprimento secreto.

 Loras Tyrell cuspiu aos pés de Jaime, perdendo seu sorriso.

 - Fale o que quiser, Jaime... Pelo menos eu posso dançar Gangnam Style, porque eu tenho as duas mãos – afirmou Loras, enquanto imitava ridiculamente a coreografia da dança. Jaime precisou de todo seu autocontrole. Passou a língua pelos lábios lentamente.

 - Cale a boca, vadia – falou, jogando o cabelo para trás e virando-se para voltar para o
castelo. Embainhou a espada e tentou conter as lágrimas. Loras sabia que aquilo ainda era um assunto difícil para Jaime, ele sabia!

 Enquanto caminhava de volta ao castelo, para cumprir suas obrigações de Senhor Comandante, olhou para cima. Na torre de seus aposentos, haviam colocado uma faixa: “Parabéns, Jaime Lannister, aprovado Senhor Comandante! O mérito é seu, mas o orgulho é nosso!”

 Toda vez que via aquilo, sorria. Distraído com seus pensamentos, tropeçou em seu filho.

 - Tio Jaime! – disse Tommen. Ele estava recostado à parede do castelo, com três gatinhos aninhados no colo.

 - Tommen! – saudou feliz. Escutougemidos abafados, vindo de atrás de um monte de palha ao lado, mas quando tentou aproximar-se, Tommen segurou sua perna.

 - Não, não, tio; Margaery disse para não interromper, ela tinha assuntos sérios para discutir com Bardo... – o garotinho falou, enquanto um dos gatinhos pretos tentava subir em seu pescoço.

 - Ah, sim, sim, a vida de uma jovem rainha é bastante tumultuada, pelo visto – notou, com o cenho franzido. Cersei também é assim, ahh, mulheres, ruim com elas, pior sem elas...

 De repente, o mundo de Jaime parou. Olhou atenciosamente para o gatinho preto no ombro de Tommen... Era tão pequenininho, com olhos negros profundos, e a forma como tentava dilacerar o pescoço do gorducho garoto era completamente adorável.

 - Tommen, me diga, qual o nome deste gatinho em seu ombro? – Jaime perguntou, escondendo suas intenções.

 - Essa? Essa daqui é a Senhora Bigodes... – Tommen respondeu, puxando a gatinha para o colo e fazendo carinho entre as orelhas do bichinho. É tão linda... Oh, meus deuses, eu preciso dela!

 Arrancou a gatinha dos dedos gordos de Tommen, e pôs, a ir embora, mas o garoto  agarrou as pernas de Jaime.

 - Tio? Tio, o que está fazendo? Ei, me devolva Senhora Bigodes, tio! Por favor, me devolva! – ele implorou, então começou a beliscar as canelas de Jaime e arranhá-las.

 - Ai, moleque filho da mãe! – foram necessários vários chutes até que Tommen parasse de se mexer.

 Por fim, saiu correndo para seu quarto, derrubando tudo que estava em seu caminho, com a gatinha bem protegida em seus braços, mesmo que por vezes ela caísse no chão, já que a única mão de Jaime não era tão boa assim em segurar alguma coisa.

 Chegou em seu quarto e trancou a porta. Pôs a gatinha sobre a sua cama. O animal miou e começou a passar as unhas sobre seus lençóis, então Jaime o tirou de lá e foi para a janela. Colocou o gatinho sobre o parapeito, mas o bicho não parecia gostar muito de
lá. Jaime a acariciou, o pelo dela era tão negro e macio... Poderiam ser amigos para sempre! Ela tinha as patinhas mais pequenas do mundo todo, e parecia tão frágil...

 Então ela mordeu Jaime. Numa reação instintiva, ele a jogou para fora da janela.

 Mas Jaime não se preocupou, porque gatos voavam, seu irmão Tyrion sempre lhe dissera isso quando eram crianças. Abriu os braços e disse:

 - Volte pra mim, Senhora Bigodes! Volte! – pediu. Olhou para o céu azulado, porém não conseguia avistar a gatinha voando por perto. Ela foi embora, pensou. Nos conhecemos tão brevemente, nem me apresentei à ela, se tivesse tido oportunidade, um pouquinho mais de
tempo, ela talvez tivesse gostado de mim, e talvez quisesse voltar para os meus braços. Voe, Senhora Bigodes, voe, mas lembre-se de ninguém a amará como eu
amei...

 Jaime inspirou profundamente, recuperando-se da perda. Alguém bateu na porta.

 - Senhor Comandente? – disse algum intendente, espreitando pela porta dos aposentos de Jaime.

 - Esse cara sou eu... Diga, querido – Regicida falou.

 - Trouxe o seu almoço, senhor – o homem disse, entrando com uma bandeja em mãos. Jaime observou ele colocar a bandeja sobre a cama, o homem fez uma reverência, mas Jaime o chamou antes que ele saísse.

 - Ei! Ei! Como assim? – perguntou Jaime.

 - Senhor? – o homem disse confuso. Tinha uma barba negra e era calvo, com uma barriga redonda. Igual a da Senhora Bigodes...

 - Você não vai... Não... Sem dragãozinho? Buf, buf, buf? – Jaime fez beicinho.

 - O que você quer dizer, Sor Jaime? – o homem parecia confuso.

 - Nada não – disse, desistindo e indo até a bandeja. O intendente fez outra reverência, mas Jaime lembrou-se de algo e não deixou ele ir – Oh, senhor? Já que está aqui, poderia me dar uma opinião? – perguntou, indo até seu baú de coisas mágicas no canto do quarto.

 - Às suas ordens, sor - disse, apesar de parecer ansioso. Jaime pegou seu alaúde e sentou-se sobre a cama, cruzando as pernas – Sor, o que...?

 - Bem, esta canção eu fiz noite passada, enquanto me interrogava sobre questões da vida... – Jaime pigarreou e passou os dedos pelas cordas do instrumento, tirando algumas notas desafinadas.

 Eu estava lá, sentado a brincar,

Em minha cama...

Quando comecei, a me questionar

Será que alguém me ama?

Porque sempre estou sorrindo

E isso é tão lindo

Eu apenas... Sinto!

O céu é azul,

A noite é...

Bem, a noite é azul escuro

O meu sangue é vermelho,

Vermelho carmesim,

Porque sou um Lannister assim

Então ouça-me rugir

Pra onde ir?

Para onde eu

Euuu,

Devo ir...

Perdi uma mão,

Isso doeu de montão

Porque foi um arakh afiadão

Mas ainda tenho,

Um grande coração

Que recusa todo “não”

Sou muito sem noção...

Fazer o que?

Já dá pra ver

Que de mim

Todos sempre

Vão esquecer...

 Jaime terminou a canção e pôs alaúde de lado. Na verdade, só o pegara para parecer mais profissional, porque não fazia ideia de como se tocava um alaúde.

 - Então... O que você achou, bom amigo? - perguntou para o homem que devia estar parado a porta. Mas ele não estava mais ali. Algumas pessoas são tão sensíveis à música, pensou.

 Quando lembrou de seu almoço, a comida já estava fria. Resolveu então fazer uma visita à Cersei.

 Porém, quando chegou aos aposentos dela, foi informado de que ele havia ido cavalgar pela cidade.

 Jaime então desceu aos estábulos para preparar seu cavalo. Selou e montou seu corcel...

 ... mas não sabia como iria fazer para segurar as rédeas.

 Colocou a corda sobre o coto, só que no momento que abaixava o braço, ela escorregava, e não conseguia agarrá-la.

 - Mas... – tentou colocar em baixo do braço – Que coisa – tentou segurar só com a mão esquerda, mas não adiantava – Que feitiçaria é essa?!

 Desceu, assombrado e com raiva, do cavalo. Voltou para o castelo. Jaime, não se preocupe, Cersei não se esqueceria de você, gostosão, ela te ama...

 A tarde daquele dia fora extremamente vazia e entediante. Jaime pensou em fazer as unhas, mas logo começou a começou a chorar, quando percebeu a impossibilidade do ato.

 Ficou então desenhando. Perto da noite, Meistre Pycelle veio ao seu quarto.

 - Oh, jovem Jaime, como foi seu dia? – ele perguntou amavelmente. Mas Jaime ainda estava bravo com ele, então apenas virou o rosto – Jaime, até quando você vai continuar com isso?

 - Não, o que você fez é imperdoável – Jaime respondeu. Ele sabia que desde sua infância, era Meistre Pycelle quem se fantasiava de Papai Noel, mas só ficara sabendo disso no ano
passado, quando sem querer havia ateado fogo à barba do homem.

 - Está bem então – o velho meistre disse, virando as costas e fazendo menção a sair dali – Mas não vou lhe contar o presente que eu estou fazendo...

 - Presente? – Jaime quase pulou na cama. Adorava presentes.

 - É, mas você não quer falarcomigo...

 - Quero, quero sim, me diga, Pycelle, que presente? – ele questionou, quicando no mesmo lugar de ansiedade.

 - Bem, já que você insiste... É uma mão feita de ouro! Especialmente encomendada para você! – Pycelle sorriu.

 -Ahn? Sério, qual é o presente? – Jaime disse, sério.

 -É esse... Não... Não é de seu agrado, Sor? – o velho perguntou, parecendo repentinamente desapontado. Mas não tanto quanto Jaime.

 - Eu sou herdeiro de Rochedo Casterly, o que é uma mão de ouro comparado com isso? Por favor, né... – estirou-se na cama, cruzando os braços atrás da cabeça. É assim que ele tenta conquistar minha confiança novamente?

 Meistre Pycelle saiu à passos pesados. E se voltar a me incomodar, mandarei açoitá-lo.

 Sentiu o sono dominar seu corpo, e percebeu que já estava na hora de dormir. Pôs os rolinhos em seu cabelo e sua touca. Pegou seu diário e seus gizes de cera.

 - Querido diário... – começou – Hoje eu tive um dia incrível! Comi um delicioso mingau pela manhã, mostrei meus desenhos ao cozinheiro, e, oh, ele os achou tão belos! Isso me deixou muito contente, depois teve a vadiazinha do Loras me importunando, mas eu sambei na cara dele, e saí com orgulho. Oh, e eu conheci uma adorável amiga hoje, a
Senhora Bigodes, infelizmente, ela teve que partir. Amanhã contarei isso a Tommen. Cersei não veio me visitar hoje, acho que ela deve estar muito ocupada. Bem, isso foi o mais importante. Beijos do Senhor Comandante, Jaime Leãozinho.

Como não sabia escrever, Jaime fez desenhos representando os acontecimentos do seu dia. Depois, colocou um pouco
de purpurina por cima.

 Então, dormiu. Estava cansadinho daquele dia agitado. É, ser Senhor Comandante não é tarefa fácil.


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Notas finais do capítulo

E aí?



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