Laila escrita por Solidão


Capítulo 17
XVI


Notas iniciais do capítulo

Resolvi postar esse outro capitulo agora porque achei que era um jeito de tentar me redimir :)

Aproveitem, queridos leitores, e deixem um comentário, dizendo o que gostaram, se odiaram, se eu tenho que morrer.. Enfim ahahha



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Depois de se vestir novamente, estar com todas as suas coisas enfiadas na mochila, Laila, Luna e Serena foram até a professora de português perguntar sobre a peça e talvez dar alguma desculpa para o fracasso que fora.

Ok, não vamos exagerar. Até mesmo Laila estava surpresa por não ter sido tão ruim.

Era preciso confessar que, apesar dos gritos, das risadas e das faltas aos ensaios, todos se saíram razoavelmente bem e que, por mais que Luna ainda a olhasse de um jeito levemente estranho e indecifrável, Laila conseguira se concentrar na peça.

Foram até a professora. A mulher, uma moça de seu trinta e poucos anos, cabelos escuros, olhos negros e pele branca pálida, estava escrevendo qualquer coisa numa ficha de anotações e ergueu parcialmente a cabeça ao notar a presença do trio por ali.

-Sim?

Serena e Luna se entreolharam. Laila estava preocupara demais pensando em quanto poderiam ganhar – ela se daria um ponto, no máximo, de uma peça que valia dois pontos.

-Professora, você já sabe quanto mais ou menos vai dar pra cada peça? É que a gente queria fazer as contas pra prova e...

A mulher ergueu a cabeça completamente e sorriu.

-Vou dar 1,7 para peça de vocês – disse – Vocês quase não tinham cenário, é verdade, mas muitas peças não têm cenário. E, no fundo, eu gostei muito do beijo que você deu em Thiago, Laila.

A garota sentiu a pele queimar com uma intensidade absurda.

-Hum – foi tudo o que conseguiu dizer.

Serena sorriu e agradeceu pela informação. As três saíram do auditório e se encaminharam, cada qual, para seu ponto de ônibus.

-Laila – Luna sentou no banco de metal – Por que você não beijou Thiago como deveria ser?

A garota engoliu em seco.

No roteiro e no livro que elas leram, a cena do beijo estava descrita como: “E viúva beija Roque apaixonadamente. Fecham as cortinas”. Ou seja, Laila deveria ter dado um beijo apaixonado, no mínimo, em Thiago – para as coisas saírem mais realistas.

A verdade é que... No decorrer da cena, ela observava cada canto de seu palco. Thiago estava ao seu lado, sentado num sofá improvisado feito de cadeiras cobertas por um lençol, tagarelando sua fala sem, incrivelmente, erro algum. Enquanto que Laila fingia compreender o que ele dizia, tentando não prestar atenção alguma na luz forte que iluminava a cena ou nos outros atores. Mas era impossível.

Atrás das cortinas, ao lado do palco, estavam Luna, Serena, Cíntia e Leila. As duas últimas tentavam, alucinadamente, decorar suas falas para a cena do bordel – faziam duas raparigas – enquanto que Serena apenas revisava suas falas de sua cena que logo seguiria aquela – era a dona do bordel – e Luna observava tudo com cara de paisagem.

Entretanto, ao se aproximar das falas do beijo, Laila levantou-se do sofá – como mandava o roteiro – e caminhou pelo palco. Ditou suas falas, Thiago permanecia sentado (Será que esse estúpido esqueceu que devia levantar também?, ela pensou), e seus olhos encontraram os de Luna. As duas se encararam.

Luna retirou de seu rosto a cara de paisagem e tomou para si uma expressão de observação. Os olhos passaram por cada milímetro de Laila e voltaram para o rosto de nossa protagonista, a boca abriu aquele sorriso de Monalisa, terminantemente indecifrável, e ela inclinou de leve a cabeça.

Naquele segundo, Laila sentiu – novamente – aquele nó no estômago. Ela iria beijar Thiago... Na frente de Luna. Não poderia fazer isso. Não poderia, de jeito algum, beijar Thiago na frente de Luna.

Sentia como se estivesse traindo a garota. Mas traindo pelo quê? As duas eram apenas amigas. Nunca se beijaram ou nunca deram em cima uma da outra para terem um laço diferente da amizade. Só que, mesmo sabendo de tudo isso, Laila ainda sentia como se estivesse traindo a amiga.

Talvez fosse o olhar que a outra transmitia. O olhar que ia de Laila para Thiago, diversas vezes.

Thiago levantou da cadeira (Ah, pensei que havia esquecido das falas, idiota, ela pensou cruelmente) e andou até Laila. Os dois se viraram, ele atrapalhou sua visão de Luna, e o garoto cantou sua frase.

Segundos antes de se beijarem, ele virou um pouco o corpo e novamente Luna apareceu em seu campo de visão. Estava, agora, com uma expressão muito estranha. Os braços cruzados.

Thiago inclinou-se para beijar Laila e a garota fez o mesmo.

No fim, ela simplesmente deu um ‘selinho’ no rapaz e as cortinas se fecharam para a troca de “cenário”.

-Hein, Laila, por que não beijou Thiago como estava no roteiro? – Luna a despertou de suas lembranças desagradáveis.

Laila engoliu em seco e evitou olhar para a amiga. Fingiu estar vendo se o ônibus vinha desvairado pela rua.

-Ah, sei lá, não senti a mínima vontade de beijar aquele lá – ela disse. O mais interessante de tudo é que não mentiu.

-Hum. Laila – ela chamou – Você anda muito estranha com Thiago, pelo que eu andei percebendo.

Ela virou para trás e encarou os olhos de Luna.

Droga, não devia ter feito isso.

Sentiu o embrulho no estômago e novamente lembrou o sonho que tivera.

-É? Por que você acha isso?

-Eu não acho, tenho certeza – deu de ombros – Laila, você praticamente não fala mais com ele decentemente. Até duas semanas antes da peça, vocês não se desgrudavam, você chegou até a mudar de lugar para sentar atrás com ele! Mas, agora... Nem se falam mais. Aconteceu algo?

-Ah, não, Luna. Você sabe muito bem que eu me sinto incomodada com ele – ela disse – Simplesmente não consigo mais.

Luna assentiu e sorriu. Puxou Laila para si e a abraçou.

-Sabe que eu te amo, não é? – disse – Pode contar comigo sempre.

Laila engoliu em seco. De novo.

Luna não devia falar aquelas coisas. Não mesmo. Aquelas palavras... Aquelas palavras, mesmo que Laila ainda não soubesse, mexeriam bastante com a cabeça da garota.

“Sabe que eu te amo” não era o que Luna deveria ter tido, não mesmo. Essas cinco palavras causaram um baque ainda mais forte que o sonho que Laila tivera, ainda mais profundo. Ela ainda não se daria conta, mas sonharia a cada instante com aquelas palavras, a cada segundo, a cada dia de sua vida.

Laila ainda não se dava conta, mas estava caindo, lenta e gradativamente, nas teias da armadilha de Afrodite. Caía vertiginosamente dentro do mar de onde a concha saiu com a Deusa do Amor nascida, e, cada vez mais, se afogada naquela imensidão azul.

A Deusa a capturava, como pescadores capturam peixes, e a prendia em seu plano maligno.

Laila não conseguiria mais sair, era uma questão de tempo. E, aos poucos, Luna se transformaria em seu pior pesadelo.


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