Dylan e Mia chegaram algumas horas depois, lá pelas 5 da tarde. A voz na minha cabeça havia se silenciado. Eu estava sentada no sofá, assistindo TV, tentando não pensar em Daniel, nem na voz, nem nas raças. Em nada.

Quando a porta se abriu, Mia veio correndo e me abraçou. Depois foi para o banheiro, tomar um banho. Dylan aproximou-se de mim.

– Cadê o Daniel? – ele perguntou.

Dei de ombros. Fui em direção a cozinha e tomei um copo d’água. Por mais que eu tentasse não parecer mal, ou triste, Dylan reparara que algo estava errado.

– Abby, o que houve? – ele perguntou preocupado.

– Eu terminei com o seu irmão. Não houve mais nada. – falei.

– Sim, houve alguma coisa, você está nervosa. – ele disse aproximando-se.

– Não estou-u n-nervosa. – falei gaguejando. Droga! – Como você sabia?

– Sou um 2, lembra? – ele perguntou. – Eu sinto.

Revirei os olhos, esses dons. Já estou cansada deles. Bufo e vejo Mia indo em direção ao quarto.

– Abby, por que você tá assim? – ela pergunta, mudando de rumo, e indo em direção a cozinha.

– Por que vocês só sabem me perguntar isso? – falei com raiva. Nem percebi que acabei quebrando o copo. – Droga! – gritei, catando os cacos no chão.

Joguei-os no lixo e fui (praticamente marchando) de volta ao quarto. Fechei a porta e me encostei na parede. Mas Dylan logo abriu a porta.

– Será que vocês nunca vão poder me dar um minuto de sossego. Um minuto só para mim? – perguntei quase chutando-o para fora.

– Abby, se alguma coisa foi com o Daniel, tem que nos contar! – ele pediu.

– Não. Tem. Nada. A. Ver. Com. O. Daniel! – gritei novamente, dessa vez com os pulsos cerrados.

Dylan começou a discutir comigo. Ouvimos um grito de Mia, mas ignoramos, achando que não era nada. Ele continuava a discutir comigo.

– Se não aconteceu nada, então por que vocês terminaram?

– Porque ele descobriu que nós nos beijamos.

– Claro que descobriu, eu que falei para ele! – ele gritou.

Arregalei os olhos.

– Você o que? Disse que não íamos falar para ninguém. – gritei com ele, empurrando-o.

Isso fez com que a porta se abrisse e sentimos um forte cheiro. Uma grande quantidade de fumaça entrou e invadiu o cômodo. Dylan fechou-a rapidamente.

– Fogo. – sussurrei. E ele assentiu. – Como saímos daqui? – perguntei com um pouco de falta de ar e mais nervosa do que nunca.

Dylan olhou em volta. Apontou para uma pequena janela e disse:

– Você consegue passar. – ele abafava a voz com a mão. – Rápido.

– Dylan, e você?

– Vai, Abby, peça ajuda. – ele disse, abrindo a janela.

– Dylan...

– Vai!

Tentei relutar um pouco, mandar ele tentar ir também, mas a fumaça já me deixava tonta também. Eu me espremi para passar pela janela e consegui, caindo no gramado fofo. Cambaleei até uma parte mais afastada da casa, quando tive que parar. Ouvi um grande estrondo e caí na grama.