O acampamento sucumbiu ao caos. A alegria da multidão transformou-se em desespero.O show havia parado. Os fogos que antes reluziam junto as estrelas foram rapidamente substituídos por uma densa cortina de fumaça vermelha,vinda das quatro torres de vigia.

- Precisamos ir – Liza desceu rapidamente o morro onde estavam.Seu rosto estava sério e seus olhos lacrimejavam.Gabe odiava vê-los assim.

- Espere ! – Gritou,descendo o morro atrás dela.Agindo pelo impulso,puxou-a para junto de si.Liza viu-se surpresa pela atitude de Gabe.Ele não era mais o garoto indefeso que ela conhecera no colegial.

- Gabe ... o campus ... temos que ir – Gabe passou os dedos no rosto de Liza,tentando acalmá-la.

- Eu vou. Ache um lugar seguro e ... – Não houve tempo para completar a frase . Em questão de segundos estava no chão devido aos punhos de Liza .

- Quem você acha que eu sou ? Acha mesmo que vou me esconder enquanto o meu lar está sendo atacado ? – Gabe ficou sem palavras . Ela tinha razão e ele sabia disso. Ela sempre encarou seus problemas e não seria diferente naquela noite.

Desajeitado,Gabe levantou-se limpando a poeira de sua roupa .Liza estranhou o comportamento dele pois esbanjava um largo sorriso.

- Por que sorri assim ? – Perguntou curiosa,enquanto caminhavam apressados.Gabe olhou-a. Não havia reparado,mas ela ficava sexy quando estava irritada.

- Sabe,essa vai ser a minha primeira chance de chutar o rabo desses desgraçados depois de todo o meu treino – Liza corou. Achava aquela atitude tão despreocupada e irresponsável.Como se,no final,ele tivesse a certeza de que tudo ficaria bem.No fundo,isso a fazia sentir-se mais segura.

Fora dos arredores do campus,em meio as montanhas que cercavam o sul da região, o céu estava nebuloso.As densas nuvens apresentavam os sinais eminentes da tempestade que se aproximava.No alto do morro,sentada a beirada,havia m vulto encapuzado admirando a paisagem.

- É uma imagem bonita essa ! – Exclamou,olhando à vista ao seu redor.O timbre de sua voz era grave,calmo e não esbanjava nenhum sentimento.

- Acha mesmo necessário esperar que eu baixe a minha guarda ? – Sua voz espantou os pássaros que repousavam em um canto,obtendo apenas o bater de suas asas como resposta – Quer que eu vá até aí irmãozinho ?

Em um canto escuro do amontoado de rochas da montanha,Toi se fez aparecer.O homem levantou-se.Sua feição por debaixo do capuz demonstrava calma e paciência,como se já esperasse pela abordagem.

As primeiras gotas de chuva pingaram em seus rostos.Seus olhares estavam estáticos,fixos um no outro a espera da primeira abertura.Com o rugido do primeiro trovão,ambos avançaram para o ataque,sem hesitar.

Seus ataques eram rápidos,seguindo o ritmo do gotejar da chuva.Toi investia mirando os pontos vitais.Queria acabar rápido com tudo aquilo.Porém,seu oponente era habilidoso,tanto quanto ele.Sua guarda não tinha brechas ou falhas.Em uma rápida colisão de socos,Toi recuou,posicionando-se para realizar sua técnica.Seu adversário caiu na gargalhada,como se já esperasse por isso.

- Todos esses anos para você usar a técnica que eu te ensinei ? Você me decepciona.

- Cala a boca ! – Gritou Toi,batendo as palmas da mão,disparando seu raio contra seu inimigo .

- Chega de brincadeiras,isso não irá me afetar – Disse,rebatendo o raio com a mão.Essa era a brecha que Toi esperava . Se movendo junto ao raio que disparou,Toi investiu contra seu irmão.

- Chega disso – A colisão da fúria dos dois guerreiros criou um estrondo que ecoou por todo o vale ao redor.Pendendo nas mãos do oponente estava Toi,lutando para não desmaiar.

-Des...gra...çado – Bufou Toi.As mãos de seu irmão apertavam seu pescoço,dificultando sua respiração.

- Pobre Toi. Nove anos se passaram e você mal consegue tirar o meu capuz em uma batalha.- Toi gritou de dor.A mão ao redor de seu pescoço apertou-o ainda mais – Saiba irmão.Depois que acabar com você,irei fazer uma visita a nossa velha amiga.O que acha ?

Toi relutou-se.Seus olhos lacrimejavam mas não de dor e sim de fúria.

- Adeus irmãozinho.Nos vemos no inferno – E lançou-o montanha abaixo.Toi estava quase desacordado,sem chances de reagir.Era esse o seu fim ? Sentia-se fraco e inútil.Toda sua vida de guardião fora em vão ?

- KAMINARI ! –  O rugido ecoou pela montanha.Uma grande quantidade de energia saiu da palma da mão do irmão Assassino de Toi.

- Raxus !!! – Essas foram as últimas palavras de Toi antes do impacto. A região afetada havia desintegrado,criando uma cratera no chão.

O acampamento havia se organizado para defender-se.Alunos e professores uniam forças para proteger a região.Os psico elementares  ficavam mais recuados,rogando suas habilidades para levantar a barreira.

- Quanto será que falta para eles terminarem a conjuração ? – Gritou Cid em meio ao campo de batalha.O campus havia virado uma zona de guerra.

- Tanto faz para mim ! Vou chutar a bunda fétida de cada um deles ! – Era Marco quem dizia.Sua habilidade era notável no campo de batalha.Seu domínio elementar era tamanho que conseguia enrijecer seus punhos com uma grossa camada de pedras,desferindo golpes letais.

- Cuidado para não chutarem a sua – Aconselhou Grotle,enquanto arremessava um dos soldados. Grotle era mais fraco,porém mais habilidoso que Marco.Com apenas a pressão de seus pés sobre a terra,fazia-a elevar-se,criando uma esfera maciça rochosa a qual arremessava em seus oponentes.

-Vocês são muito barulhentos sabia ? – Marco virou-se para encarar Luna por seu comentário,porém teve que desviar das pilhas de corpos que foram arremessados em sua direção.

- Heey,cuidado onde joga isso Luna ! – Reclamou.Luna apenas sorriu como resposta,voltando sua atenção para o combate.

- Cid,atrás de você ! – Gritou um aluno que corria para ajudar o amigo.Um dos soldados desferiu um golpe nas costas de Cid,que não teve tempo de desviar da lâmina.

- Desculpe,mas não vai conseguir me cortar com isso – Cid virou-se para o seu agressor.Sua pele havia adquirido um tom metálico.A lâmina rasgara as vestes de Cid,mas em seu corpo havia apenas um pequeno arranhão.De suas mãos saíram dois bastões de ferro polido que,em um golpe ágil,usou para nocautear seu oponente.

Nesse instante,um tremor atingiu a área do acampamento.Tanto os alunos quanto os soldados pararam de lutar.

- Essa energia ... – Elena estava lutando contra cinco dos soldados do Chaos quando baixou sua guarda para prestar a atenção na energia.Um soldado tentou acertá-la na altura da cintura com uma lança,mas fora facilmente desviado.Os olhos da professora adquiriram um brilho avermelhado.A concentração de sua energia criou labaredas ao redor da área,queimando seus oponentes,que caíram no chão frio daquela noite.

- É melhor controlar seu aluno Chris – Sussurrou ela para a noite,voltando para o combate.

Afastado do centro do confronto,em cima da casa principal do campus,estava Willian,o diretor,sentado,proferindo conjurações para realizar a sua habilidade .

- Mental Breaker ! – As palavras ecoaram pela calma suave da brisa que passara pela região.Pequenos feixes arroxeados encheram o céu do campus.Em um espetáculo de cores,de acordo com os movimentos do braço do diretor,os pontos arroxeados caíram dos céus como lâminas acertando e adentrando a mente de cada soldado do Chaos.Era o fim da invasão.

- Willian ! – Gritou Elena,saltando nos telhados na casa.

- Então você também percebeu ... – Willian sacou um cigarro do bolso,acendendo-o em meio ao caos que terminava com os gritos de vitória de seus alunos.

- Eles chegaram a possuir civis inocentes para nos confrontar.A situação está fugindo do nosso controle.

- Você está certa – Disse o diretor Willian,cortês,levantando-se para cumprimentar Elena com uma reverência.

-Pare com isso ! Estávamos sendo atacados e você fica ai com suas idiotices ! – Gritou ela,revoltada.Sua pele começava a adquirir um tom avermelhado.Por que ele estava fazendo isso ?

Para a sua surpresa,Willian abriu um largo sorriso.

- Apenas observe Elena ! Veja com os seus próprios olhos.

A visão era catastrófica.O acampamento havia se tornado um campo de guerra.Porém,em meio a desgraça daquela noite,os alunos simplesmente sorriam.Eles estavam se divertindo com tudo aquilo.

- Por quê ? – Pergunto,confusa.

- Assim como você,eles logo notaram que tratava-se apenas de civis inocentes.Digamos que eles veem tudo isso como um mero ... passatempo.

Elena olhou para Willian,pronta para reclamar com seu chefe.Suas palavras de nada valeriam.Ela o entendia,apesar de achar tudo aquilo um tanto irresponsável.

- Todos eles,meus alunos.Não costumo chamá-los assim.São minha família.Parte de mim sabe ? – Willian olhou para ela – Se a situação estivesse fora de controle,eu daria a minha vida por todos eles.

Elena olhou voltou seu olhar para os alunos,fixando-se em seus sorrisos.Isso a animava.Uma chama de agitação tomava conta de seu corpo.

- Então chegou a hora não é velho ? A roda do destino aponta para apenas uma direção – Willian soltou mais uma baforada,jogando fora seu cigarro.Ao tocar o chão,o maço simplesmente vaporizou.

- O fim ! Chega a ser poético não ?

Uma chama verde brilhou em meio ao céu aquela noite. Era o sinal que a invasão havia sido contida.

- Conseguimos afinal – Disse Gabe,jogando o corpo de um soldado desmaiado em um canto.

- Até que você se saiu bem – Liza abriu um sorriso de aprovação para Gabe – Mas eu derrubei 17 .

- Grande coisa ...

Nesse instante,saltando em meio aos galhos das árvores da floresta.Chris apareceu carregando Toi em seus braços.O corpo do garoto de cabelos avermelhados estava cheio de hematomas.Sua roupa estava rasgada e,apesar de desmaiado,seu corpo contorcia-se de dor.

- Professor Chris,o que houve ? – Perguntou Gabe.Nunca tinha visto Toi em tal estado. De uma coisa ele estava certo : Quem quer que o tenha deixado assim era assustadoramente forte.

- Longa história . Vocês precisam levá-lo para a enfermaria.

- Mas e quanto a você ? – Perguntou Liza . Chris fechou a cara.

- Preciso fazer meu papel de professor e ir atrás do filho da puta que fez isso com ele não ? – Seus olhos brilharam como um raio caindo dos céus – Agora vão !

 Sem pensar duas vezes,Gabe colocou Toi as suas costas e foi em direção a área hospitalar junto a Liza . O caminho inteiro foi composto por um silêncio mútuo entre os dois.

Gabe tinha seus motivos.Sentia-se culpado. Sabia que aquilo ia acontecer . Fora avisado do evento pela voz que ecoa em sua cabeça.Sem contar sua desastrosa declaração a Liza . “Muito bem idiota”.

Ao deixar Liza em casa junto ao diretor Willian,Gabe não voltou para a mansão.Um mau pressentimento entorpecia sua alma.Precisava ver sua mãe.

A tempestade começava a castigar o campus.O chão enlameado tornava-se um caminho difícil e escorregadio.Gabe corria no meio da noite,enquanto os alunos iam para seus dormitórios,Gabe dirigia-se ao caminho oposto.O dormitório dos visitantes era do outro lado do campus,perto da pista de corrida.

A cada passo que dava,seu coração apertava ainda mais.”Que sensação é essa ?” perguntava-se.

- Não – Gabe entrou em completo desespero.Ao chegar no dormitório onde sua mãe dormia,deparou-se com a porta despedaçada no chão.Os móveis estava congelados e alguns até mesmo despedaçados no chão coberto de sangue.

Escrito a sangue,na parede,apenas uma mensagem.

“ Espero que não se importe Daegon,mas peguei sua mamãezinha.”

- Eu vou matar você desgraçado ! – Gritou Gabe . Sua fúria transformou-se em chamas,incendiando a casa.Mas não eram chamas normais.Eram chamas negras,Chamas de ódio.