POV James

Uma semana se passou desde que meu pai e Rick morreram.  Eu e Carol já não estamos tão mal como estávamos, mas Justin ainda está se recuperando. Vendi o apartamento em que vivia com meu pai e comprei outro. Carol insistiu pra que eu continuasse na casa deles, mas eu preferi ir me acostumando com o apartamento novo. É grande e bem espaçoso. Comprei os móveis que eu queria, e já estou gostando de ficar aqui. Só não me sinto bem sozinho. Vendi meu carro e o carro do meu pai e comprei o carro dos meus sonhos. Uma Mercedes Benz C 250 CGI preta. Não sou exigente quando o assunto é carro, mas sempre fui apaixonado por esse.

Hoje é a missa de sétimo dia do meu pai e do Rick. Não é na mesma igreja, por isso vou deixar a Carol e o Justin em uma das igrejas, e vou pra outra. Ah, igrejas... Não me sinto confortável dentro delas. Se descobrirem que sou ateu, é capaz de me expulsarem. Não queria ir, mas Carol disse pra eu ir pelo meu pai. Então eu vou fazer o que minha namorada pediu.

Estou vestindo uma roupa pra ir à missa do meu pai, quando meu celular toca. É o Daniel.

- Alô? – Atendo.

- Oi, cara. Como vai? Já tá melhor?

- To indo aos poucos, sabe?

- Entendi. Meus pêsames de novo. Escuta, eu sei que não é um bom momento, mas amanhã é meu aniversário e eu vou fazer um luau na praia às 20h. A praia fica um pouquinho longe, então o pessoal estava combinando de ir todo mundo junto. Se você, o Justin e a Caroline puderem ir, eu ficaria muito feliz. Mas se não puderem também, não tem problema.

- Eu vou falar com eles. Mas acho provável que iremos sim. Agora eu tenho que desligar.

- Falou, abraço – Ele desliga.

Coloco o celular no meu bolso e termino de me vestir. Saio do apartamento e vou até a garagem. Entro no meu carro que ainda tem cheiro de novo, e dirijo até a casa de Justin e Carol. Consegui um apartamento bom e bonito quase perto da casa deles. Posso ir a pé a qualquer hora, se eu quiser. Assim que chego, eles já estão me esperando do lado de fora. Espero não ter demorado. Quando eles entram no carro, aviso logo sobre a festa do Daniel. Vejo Carol tensa pelo espelho e franzo a testa. Justin disse que só vai porque Daniel é um grande amigo nosso, porque ele ainda não está com ânimo pra isso.

Deixo-os na igreja, e dirijo até chegar à igreja onde será a missa do meu pai. Ah, o que eu não faço por você, Caroline... Saio do carro, tranco-o e vejo que a igreja está cheia de gente. Meus poucos parentes vem me cumprimentar, e eu me sento na última fileira. Espero alguns minutos, e a missa começa. Falam, falam, falam, rezam pelo meu pai, falam mais e eu já não aguento ficar aqui. A missa finalmente acaba e eu vou buscar Justin e Carol na outra igreja. Os deixo em casa e vou pro meu apartamento.

Chegando lá, almoço qualquer coisa e tomo um banho demorado. Visto uma roupa comum e vou andando até a casa deles. Carol abre a porta, e me dá um beijo. Entro e me sento no sofá.

- Cadê o Justin? – Pergunto.

- Tomando banho – Carol responde se sentando ao meu lado.

Ela passa os canais e eu vejo que em um deles, está dando o filme Poseidon.

- Ah, eu quero ver esse! – digo empolgado.

- Por quê? – ela me olha assustada.

- Porque eu só vi o começo desse filme. Não cheguei a ver o navio afundando.

- Não, mas eu não quero ver – ela muda de canal.

- Por quê? – Insisto fazendo cara de cachorro pidão.

Ela revira os olhos e volta pro canal do filme. Abraço-a feliz e assistimos ao filme.

Carol fica séria durante o filme inteiro. Acho que ela está com raiva de mim... Olho pra ela e ela faz cara emburrada. Dou um beijo nela e continuamos a ver o filme em silêncio. O filme termina e Carol muda de canal na hora.

- Pronto, já acabou – ela se levanta e entra no banheiro.

Por que ela está tão irritada? É só o filme! Justin finalmente desce as escadas e vai pra cozinha.

- Por que a Carol se irritou comigo só por que nós assistimos Poseidon?

- É aquele filme do navio? – Justin pergunta enquanto coloca suco de laranja no copo.

- É.

- Da última vez, ela assistiu Titanic e chorou.

- Ah, entendi.

Ela sai do banheiro e volta pro sofá. Ela não olha pra mim.

- Vai ficar brava comigo? – pergunto carinhoso.

- Não. – Mesmo assim, ela não me olha.

Cruzo os braços no sofá e faço bico. Ela continua sem olhar pra mim. As horas passam, e nós jantamos.

- Vocês vão mesmo no aniversário do Daniel? – Pergunto tentando acabar com o silêncio.

- Não sei. Se vocês quiserem ir, eu vou – Justin diz.

- Eu não sei se quero ir... – Carol olha pra mim.

- Mas por quê?

- Ah, não sei... Só não quero ir.

Me lembro do dia da festa aqui em casa. Ela beijou o Daniel. Será que ele fez alguma coisa com ela que a deixou mal?

- Prefere ficar sozinha em casa? – Justin a pergunta.

- Tá bom. Eu vou – Carol se rende.

Fico mais um tempo lá, e vou embora. Carol nem pede pra eu ficar. Ela deve estar com raiva mesmo. Chego em casa já com sono e vou pra minha cama. Fico girando na cama a noite toda e só às 4h30 eu pego no sono.

Acordo tarde e vou comer alguma coisa. Tomo um banho gelado e quando olho no relógio, já é 18h. Eu dormi demais... Coloco uma camisa branca sem mangas, uma bermuda listrada e um chinelo. Dirijo até uma loja de rua e compro dois presentes pro Daniel. Um por mim, e outro pelo Justin. Compro uma camisa listrada e uma capa pro iPhone dele.

Assim que saio da loja, vou até a casa de Carol e Justin, e Justin abre a porta. Ele está com roupas parecidas com as minhas. Só que sua blusa é azul, e sua bermuda é branca.

- Comprou dois presentes? – ele pergunta.

- Um é meu, e um é seu.

- Ah, cara, você me salvou! Deixa eu pegar o dinheiro. – Ele quase sai, mas eu o seguro.

- Nada disso. Você não precisa pagar. Eu tenho tanto dinheiro que não sei o que fazer com ele. Relaxa.

Ele assente e ficamos esperando Carol descer as escadas. Ela está de vestido laranja e com um chinelo. Seu cabelo está preso em um coque. Ela pintou o cabelo hoje. Ela olha pra mim sorrindo e me abraça.

- Gostou? – ela me pergunta.

- Você está linda.

- Eu não gostei da ideia no início, mas... – Justin dá de ombros.

- Admita, Justin. Está legal – ela levanta uma sobrancelha pra ele.

- Está sim – ele concorda.

Entramos no carro e eu começo a dirigir em direção à praia. Ligo o rádio e uma música triste está tocando. Olho para o lado e Justin está cabisbaixo olhando pela janela. Olho pelo espelho, e Carol também está triste. Mudo de rádio, e tocam só músicas conhecidas.

Depois de 1h45 de viagem, chegamos à praia. Demoramos pra estacionar, e procuramos por Daniel e nosso grupo de amigos. Assim que encontramos, vamos até eles e os cumprimentamos. Avistamos Daniel, e vamos falar com ele.

- Parabéns, cara! – Entrego meu presente e o abraço.

- Parabéns! – Justin entrega o dele e dá um abraço nele também.

- Parabéns – Carol diz e dá um sorrisinho.

- Valeu gente. Muito obrigado por terem vindo. Mesmo – Daniel agradece – Fiquem com o pessoal. O luau já vai começar.

Sentamos em uma rodinha dos nossos amigos, e amigos do Daniel que não conhecemos, e ficamos conversando. Um deles pega um violão e começa a tocar. Ficamos cantando várias músicas, quando me vem uma ideia. Pergunto no ouvido do garoto que está tocando violão, se ele sabe tocar A Thousand Years, a valsa que eu dancei com a Carol. Ele diz que vai tentar, porque a música é piano, mas quando ele começa a tocar, ele consegue.

Olho pra Carol e sorrio. Volto ao meu lugar e começo a cantar. Todo mundo está olhando pra mim. Mas eu não estou nem ai. Eu só estou cantando. Eu nunca tive vergonha de dançar, cantar ou fazer qualquer coisa. Eu gosto disso. Continuo cantando e olhando pra Carol. Ela sorri muito. Ouço alguns sussurros pela roda, mas continuo cantando. A música acaba e ela me abraça muito forte. O pessoal bate palmas e eu agradeço. Continuamos cantando músicas, e fazendo brincadeiras, até a hora em que cantamos parabéns. Comemos um bolo salgado e Daniel aparece na nossa frente.

- Estão namorando?

- Por que a pergunta? – Franzo a testa.

- Pelo jeito que vocês se olharam quando você cantou pra ela – ele olha pra baixo – e pelo anel no dedo da Carol – ele dá um sorriso sarcástico.

- É só um anel – Carol cruza os braços.

- Tudo bem – Daniel levanta os braços em sinal de rendição, e sai.

O garoto que eu não conheço que está com o violão, chega perto de mim e pergunta se eu sei cantar You Need Me, I Don’t Need You do Ed Sheeran. Descobri essa música há três meses, em um site de músicas. Desde que eu ouvi, gostei. Assinto e ele pede pra que eu cante.

- Cara, é rap – digo rindo – E se eu errar alguma coisa? Onde eu enfio minha cara?

- Você não disse que sabe a música? Você não vai errar – ele bate no meu ombro.

Ficamos em pé ao lado da roda e ele começa a tocar a música. Quando sei que a parte que eu começo a cantar está chegando, suspiro forte e começo a cantar. A música é rápida e a letra é complicada, mas eu estou indo bem. Chego ao refrão e logo depois, a música começa a ficar mais rápida. Canto o refrão de novo, e na terceira parte da música, ela fica muito mais rápida. O garoto loiro, que eu ainda não sei o nome, começa a tocar bem mais rápido, e eu canto muito mais rápido. Espero não embolar nenhuma palavra. Essa música é muito difícil! Não acredito que estou conseguindo! Mereço um prêmio! Assim que a música acaba, todos batem palmas e assoviam. Agradeço sorrindo.

- Ah gente, batam palmas pra ele também! Ele foi demais! – Aponto pro garoto com o violão.

Ele sorri sem graça e agradece.

Carol diz que eu fui muito bem, mas que Justin não está se sentindo bem, então vai com ele até perto do mar. Assinto e deixo que eles vão.

Estou conversando com o garoto do violão. O nome dele é Sam e ele tem 18 anos. Fez aula de violão por cinco anos, e toca qualquer música que você pedir. Ele é um cara legal. Nossa conversa é atrapalhada por Kate, que me cutuca e me olha com uma expressão preocupada.

- Posso falar com você por um instante? – ela pergunta.

- Claro. – Olho pra ela, depois pro Sam. – Já volto – me levanto e a sigo – O que foi?

- Sinto muito pelo seu pai.

- Ah, que isso.

- Não é só isso que eu tenho pra falar. Você lembra da festa na casa do Justin? – ela me olha com medo.

- Sim. Estava bêbado, mas lembro – rio fraco.

Ela fica quieta por um tempo, e abaixa sua cabeça. Quando levanta, vejo lágrimas nos seus olhos.

- Eu estou grávida.