Final Destination 4: Case 180 escrita por VinnieCamargo


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Enfim, obrigado pelos comentários.
Eu sei que isso é bizarro de ser escrito, mas não existem mortes aqui.
Apenas desenvolvimento barato de personagens.
Enfim, muito sangue em breve. E acreditem, muito sangue mesmo.
Vocês sabem que eu sou violento com meus peões.



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Sinto as primeiras gotas de chuvas caindo contra minha costa enquanto recolho-me pra dentro do quarto. Fecho a varanda e o som da chuva é abafado instantaneamente. Tiro o fone de ouvido e jogo-o com o notebook numa cadeira. Ando em direção a cama.

Sento na cama. Estou encarando a chuva começando a cair. Mas minha mente está distante – como sempre esteve nos últimos dias.

Não sei se estou mais chocado com a morte – e com o corpo – de Léo ou o fato de que Carol se afogou num pesadelo – no mesmo instante em que Léo morreu afogado.

Eu gostaria que ela estivesse viva pra perguntar sobre isso. E se ela também teve algum tipo de... sensação, assim como Emery?

Então porque ela se matou?

Existe uma conexão além de que ela e Léo quase morreram na balada. E eu espero que possa compreender melhor com o resto dos DVD's.

Carol, Will, Rafa, Léo, quatro jovens que morreram muito antes do que deveriam. Merda, o que está acontecendo?

Eu sinto que posso divagar por horas em relação a filmes slasher sobrenaturais.

Eu sinto que posso escrever uma história sobre isso.

Eu me sinto vazio.


Estou ansioso em relação ao resto do footage. Estou exausto e não fiz nada de manhã. Acho que somos muito moles pra lidar com a morte.


As pessoas simplesmente vivem com seus objetivos e com suas crenças. Os objetivos serão alcançados, as crenças continuarão sendo alimentadas. Ok.

E qual é o sentido de alcançar um objetivo, alimentar uma crença para suicidar-se repentinamente?

Acho que estou ficando sem idéias.

Parou de chover a algum tempo e estou andando pela calçada do meu bairro. Ouço o som do notebook e dos meus trecos revirando em minha mochila pesada, quase como se tentassem acompanhar meus passos. É um tipo de ironia safada: você tem coisas com você/você não tem pessoas a seu lado. Acho que só eu entendo esse lance.

Tudo é asfaltado, mas ainda sinto um cheiro de terra molhada. Não é nostalgia Sandy e Júnior, muito menos um anseio de reviver um momento da minha vida. Mas o que mais me arrepia é que eu nunca vivi perto de terra pra sentir o cheiro dela após a chuva. E eu sei exatamente como é.

Acho que isso pertence aos anos em que minhas memórias não eram guardadas. Sim, é isso, fim do arrepio.

Estou feliz, pois nenhum carro jogou uma poça de água em mim. Pois só falta isso pra acabar com o meu dia.

Oh sim, lembro-me de Léo. Minha mente é uma puta safada em relação a coisas mórbidas.

Eu simplesmente sei que tal imagem irá me assombrar, irá revirar os conteúdos em minha pança, mas minha curiosidade é muito mais forte do que o meu estômago. Acho que os filmes de terror afetaram minha mente.

Quando eu tinha catorze anos, Will me chamou em sua casa. Ele ligou o computador e disse que ia me mostrar um trailer de um filme que ele estava esperando.

Ele soltou o trailer, e nele, um homem com uma motosserra usava um saco preto com dois furos na cabeça. Havia uma moça toda ensanguentada, amarrada, e gritando pra caralho. Eles estavam num tipo de cabana, ou pelo menos um quartinho de madeira, só sei que não entendi nem um pouco do que o negócio se tratava.

O trailer encerrou com o homem correndo em direção a moça e enfiando a motosserra na barriga dela. Ela gritava que nem uma exilada. Após o homem tirar a motosserra, seus órgãos caíram no chão e ela parou de gritar e tombou pra frente.

E só depois de ver isso até o fim, Will me contou que aquilo era real. Ele tinha encontrado num site, tipo Assustador.com, alguma droga do tipo.

Will tinha o estômago forte pra coisas reais. Meu estômago forte só aguenta filmes de terror. E eu sei que eu devo ter feito uma cara terrível, pois Will me olhou preocupado ao invés de rir.

Eu apenas fui embora. E pelas duas semanas seguintes, toda maldita noite, eu me lembrava dos órgãos caindo no chão com um splash, e dos gritos da moça parando no meio do caminho. E ela tombando pra frente.

Eu não fiquei traumatizado, mas depois desse acontecimento, sempre que eu ouvi falar de "vídeo de alguém morrendo", eu me afastava. Muitos caras gostam de se provar assistindo esses vídeos até o fim, mas eu? Eu sou um banana.

E isso passou. Mas agora, vendo o vídeo de Léo, percebo que não estou tão traumatizado por ele, mas sim, pois agora que me lembrei do fato, lembro exatamente dos órgãos caindo e da moça morrendo.

Viro à esquerda e ando em direção a um parquinho antigo. Ele tem meia-dúzia de brinquedos que são pintados apenas uma vez por ano, e eu não sei como, mas só ferve de pirralhos por aqui nos fins de semana.

Esse parque fez minha infância. Mas não fico me lamentando muito, pois não passei muito tempo com Carol e Will aqui. Mas olhar pra ele me lembra da época em que não tinha preocupação nenhuma, então parece o lugar perfeito para continuar os DVD's.

É um local calmo, e não existem marginais por aqui. Então eu sento-me num banco gelado embaixo de uma árvore – que não está derrubando gotas geladas de chuva em cima de mim - e tiro meu notebook mais o DVD #2 da minha mochila.

Ligo-o. Coloco o fone. Coloco o DVD #2.

Aposto que estou parecendo muito importante agora.


PLAY



Tela azul. Tela azul.


Rafa está sentado numa cadeira, encarando a câmera que parece ter sido posicionada acima de uma mesa. Seus olhos estão vermelhos e ele me parece com sono.

Oi,– Rafa disse.

Oi Rafa.

Meu nome é Rafael Araújo, - ele continuou. – Eu honestamente não tenho ideia do que estou fazendo, então se você estiver vendo isso, é por que algo deu errado. Pois eu não tenho coragem de espalhar esse DVD por aí.

Eu estou vendo seu DVD agora, Rafa.

Ele suspira.

Ontem uma garota chamada... – ele ficou alguns momentos tentando lembrar-se do nome dela, - ... Emery, avisou que o clube em que eu estava com alguns amigos iria explodir.

Ele pausa, processando as informações, quase que censurando a si mesmo. Ele está sério.

– A gente saiu do clube e uma explosão aconteceu. Tudo isso está gravado na minha câmera. Nada disso foi editado ou algo do tipo.

Fico feliz em saber, Rafa. Continue.

Quando eu estava voltando pra casa, - ele continuou, - houve um acidente em que um carro chocou-se com o tanque de um caminhão pipa. O tanque rompeu para o outro lado liberando uma quantidade enorme de água.

Rafa ensaiou essa parte.

A onda d'água gerada pela batida atingiu os carros do lado oposto a batida. Ela atingiu o carro de um conhecido, e o matou.

Não sei se quero ouvir isso. Tudo parece tão ensaiado. Qual é o seu joguinho, Rafa?

O fato é que, esse conhecido foi retirado momentos antes da explosão do clube.

Ah, estamos chegando a algum lugar Rafa.

– Eu varei a madrugada na internet, procurando sobre esse tipo de caso. E eu encontrei muitas coisas relacionadas a visões...

Aperto o ouvido contra o fone.

–... E mortes estranhas. Existe uma lenda urbana muito conhecida em países da Europa, em que pessoas escapam de um acidente, só para morrer em outro ainda pior. Foi levantada a hipótese de que elas deveriam ter morrido no primeiro acidente, mas por algum motivo colateral o evitaram.

Vejo um reflexo estranho e azulado nos olhos de Rafa. Ah claro, Rafa escreveu todo esse depoimento no PC pra depois falar. É por isso que tudo tá fluindo.

Eu te peguei seu roteirista filho-da-mãe.

– E se for isso que aconteceu com a gente? – Rafa perguntou num tom sério. Esse tipo de pergunta me faz questionar se Rafa já imaginava que...

Isso faz sentido. Merda. Rafa, Carol, Léo e Will escaparam do acidente no clube. E estão mortos. E se não fosse o aviso de Emery.

Não quero pensar nisso agora. Não por favor. Não.

E se, - Rafa continuou, - e se algum tipo de ameaça resolver seguir a gente?

Merda. Merda. Merda.

– Bom, de qualquer jeito, eu, Rafa, estou pensando nisso. E estou muito tenso nesse exato momento.

Somos dois, Rafa.

– E agora, - Rafa continuou, não parecendo estranho ao fato de que estava falando com uma câmera naquele momento – eu digo que vou conversar com os outros sobreviventes do acidente no clube. Pois se algo do tipo acontecer, então eu vou saber que essa lenda da internet é real.

Rafa parou de falar. Ele segura um riso, estranho, quase como se não tivesse acreditando no que estava dizendo.

– E vocês vão saber que eu estava certo.

Rafa, se você estiver certo, você é um mito. E tudo que eu confiei como filmes de terror durante uma vida toda, irá embora.

A tela escurece. Câmera desligada. Eu pauso o DVD.


Acho que estou problemático demais pra pensar ou começar a acreditar em lendas urbanas.


Não percebi que algumas crianças apareceram e estão virando a casaca nos brinquedos do parquinho. Agora que me desconcentrei do filme, não sei se vou conseguir retomá-lo aqui...

PLAY


Existem passos apressados na frente da câmera. Rafa está andando por uma calçada. É bem similar à que eu estava andando minutos antes de chegar aqui no parquinho.


Não sei por que ele está gravando isso.

Rafa era um cara popular e tão similar aos atores de comerciais de margarina. Ele terminou o 3° ano junto com Will, Carol e eu, mas não na mesma escola.

De qualquer jeito, eu sempre tive a impressão de que assim como eu, Rafa iria trabalhar na indústria de filmes. Ele tem andado com essa câmera pra cima e pra baixo desde que eu o conheço. Nas últimas semanas, ele tinha andado junto conosco. Não sei, acho que ele percebeu uns gostos particulares em comum com Will e adaptou-se.

Ele também era um ótimo designer. Ele fazia aqueles pôsteres fanmades incríveis em que você só consegue se perguntar: como esse cara ainda não é famoso?

Todos os amigos dele foram embora fazer faculdade no final de 2011. E ele ficou sozinho. E da minha sala, todos – os mais próximos - também tinham ido embora, e agora nós quatro começaríamos faculdade no segundo semestre de 2012.

Eu sei que eu deveria estar muito arrepiado. E eu estou, mas não tanto como uma coincidência desse tipo exige. E droga, não aguento mais pensar em coincidências.

Rafa parou repentinamente.

– Tudo bem cara? – ouço Will perguntando fora do frame.

– Tudo, - Rafa responde. – E quanto a você?

– Tudo ok também.

– Porque você tá com a câmera? – Will perguntou.

A câmera focou em Will. Ele está muito sério, encarando Rafa e a câmera.

– É só um teste...

Um silêncio.

– Você ficou sabendo do Léo? – Rafa perguntou. Fico feliz por ter perguntado isso, Rafa.

Quem?

Léo, - Rafa explicou calmamente. – Aquele cara purgante que passou ontem num conversível ouvindo Kesha.

Ah, - Will disse dando de ombros. – O que é que tem ele?

– Ele morreu, - Rafa disse isso num único fôlego

Will franziu a testa.

– Morreu? Tipo, morreu de verdade?

Rafa deve ter concordado com a cabeça, pois Will fez uma cara de espanto.

– Como foi isso?

Rafa suspirou.

– Eu e o meu irmão, a gente tava voltando do... – Rafa gaguejou – do clube, quando um carro atravessou a carroceria de um caminhão-pipa.

Rafa pausou, esperando Will comentar a estranheza do fato.

– E? – Will perguntou. – O carro que bateu foi...

Não, - Rafa respondeu rapidamente. – Sabe, a onda de água que o caminhão liberou...

Will se aproximou, os olhos brilhando bizarramente, ansioso pelo detalhe mórbido.

Will, você não presta.

– Então, essa onda bateu de frente com o carro do Léo.

Will abriu a boca em choque.

– Puta que pariu, velho, - Will exclamou pausadamente.

– É. Estranho pra burro.

– Eu até gravei com a minha câmera... Eu não esperava, eu me aproximei e...

Will olhou com um pouco de pena para Rafa. Presumo que Will conhecesse o estômago fraco do amigo.

– E você vomitou? Não foi?

Aham.

– E você, você apagou a filmagem?

Ah... ah não, - Rafa disse. – Eu não tive coragem de olhar pra aquilo ontem à noite. Talvez de tarde.

– Você poderia faturar uma grana boa em cima desse material.

Como assim Will?

Rafa deve ter olhado com uma cara estúpida pra Will, pois Will tratou de se explicar logo.

– Eu quero dizer, você viu os jornais?

– Eu fiquei a noite toda na Internet. Não busquei notícia alguma...

Rafa está chegando ao ponto da lenda urbana. Quero ver o que Will tem a dizer sobre aquilo.

Pois é, - Will continuou, - eles só tem imagens depois da explosão.

Will parou um pouco, raciocinando.

Espera, isso é arquivo de polícia.

Eu sei que é, - Rafa completou um pouco chateado, - espera, pára de falar um pouco, eu tenho que te contar um negócio.

Will concordou.

Eu andei buscando na net informações sobre essa visão da garota... e cara, eu encontrei muita coisa.

Que tipo de coisa? – Will perguntou coçando o queixo, - Boa ou ruim?

Engraçado você perguntar isso, - Rafa disse rindo. – Coisas ruins.

Will fez uma cara estranha.

Que tipo de coisas ruins? Algo fora da lei ou tipo, sobrenatural?

Sobrenatural, - Rafa completou.

Rafa. Eu te desejaria sorte nesse assunto.

Percebo só agora que, mesmo após o acontecimento no clube, Will está bem. Arrepio-me com a ideia de que a teoria de Rafa esteja...

Não. Eu estou pirando. Isso não é real.

Will fez uma cara de dúvida total. Ele não estava entendendo nada.

É o seguinte, existe uma lenda em que, as pessoas escapam de um acidente devido a um aviso...

Will acenou, esperando Rafa continuar.

– E essas pessoas que se salvam, acabam morrendo alguns dias depois. Pois elas não deveriam ter escapado do primeiro acidente.

Will olhou pro chão, remoendo as informações e entendendo.

Você tá querendo dizer o quê?

– Eu não tô querendo dizer nada, - Rafa disse. – Mas é estranho pra caralho um cara que escapou da explosão ter morrido ontem, horas após o aviso da Emery. Assim como na lenda urbana.

Will concordou.

– Mas... cara, você tem noção do quanto isso soa doido?

– Tenho sim.

Will pensou um pouco.

– Olha cara, eu também estou como você.

– Como eu o quê? – Rafa perguntou alarmado.

Eu estou meio voado hoje, - Will continuou - Essa é a terceira vez que saio de casa hoje e esqueço o que estava indo fazer.

– Não é isso... – Rafa começou a dizer.

– É isso sim. Todos nós estamos afetados demais pelo que aconteceu ontem. Relaxe cara, vai se distrair que tudo isso vai passar logo... Essa coisa de lenda urbana, cara, você tem noção do quanto isso soa besteira? Eu sei que tem.

– É, – Rafa concordou. – Eu rezo pra você estar certo.

Will lançou um olhar desconfiado para Rafa, então ajeitou as roupas e o encarou com um olhar confiante novamente.

– Deixa eu voltar de onde vim, pra ver se eu consigo me lembrar o que eu tava indo fazer.

Ok, - Rafa riu.

Rafa continuou filmando Will se afastando até o mesmo desaparecer numa esquina.

– Eu rezo de verdade, - Rafa disse baixinho.

Tela preta.


Pause.



Ok, Will não comprou aquela merda. Eu não compraria. Não sei como eu reagiria se Rafa viesse com esse assunto pra cima de mim.


Levo um baque na cabeça e viro-me para descobrir duas meninas arregaladas trepando na árvore atrás de mim.

– Merda! – eu exclamo sem pensar. Mesmo pensando, um palavrão desse tipo viria.

As duas garotas apenas me encaram fixamente. E eu juro que estou esperando os olhos de umas delas escurecer totalmente e ela dizer com uma voz de demônio: “você vai morrer”.

Filmes de terror me perturbam às vezes. Eu vejo cenas reais e as interpreto ou comparo com cenas que aconteceram em filmes. Eu confundo as coisas. Eu imagino coisas que vão acontecer e não acontecem – o oposto a Emery.

Acho que sou dramático demais.

Nenhuma das crianças me ameaçou de morte ou mesmo lançou-me um olhar escurecido.

Jogo o computador na mochila e quando me dou conta, já estou na calçada novamente. Acho que preciso encontrar um lugar.

Sim claro. Vou pro café.


Estou encarando a cafeteria que passei inúmeras tardes com Will e Carol. E isso é triste. Eu só consigo pensar que nunca mais vou vê-los novamente, e isso é tão...


Isso é desestimulante. Isso beira o cúmulo do sofrimento. Mas não estou chorando. Só tenho uma sensação estranha de fome.

O café tem um visual simples e está localizado num bairro simples, próximo a algumas fábricas e florestas. Um cruzamento de trilhos de metrô em horizontal, literalmente cruzando a rua. Ele tem duas mesinhas solitárias esperando na frente da entrada. Um letreiro anunciando "Café quentinho" pende esperançoso sobre a tal entrada. É um tipo de prédio comum no caos colorido e cinza de São Paulo. E tem Wi-Fi.

Atravesso a rua apertando os passos. A chuva começa a cair novamente, e então mesmo se eu não estivesse pretendendo ir ao café, eu teria de me esconder por lá.

O ar-condicionado passa uma vibe bizarra no meu corpo quando entro no local. Algumas pessoas estão espalhadas pelas mesinhas com copos de café e notebooks. Bom, eu vou ser o próximo.

Sento-me numa das mesas e retiro o notebook da bolsa. Puxo a fonte de energia e conecto-a numa tomada próxima.

– Vini?

Viro-me em direção ao chamado. É Emily.

Emily é uma conhecida minha, ex-colega de Carol. Ambas faziam junto um curso de Inglês há alguns meses atrás.

Emily tem um visual sério, notável, carregando uma pasta preta em um braço, um copo de algo quente na outra mão. Acho que eu não reconheceria na rua se passasse por mim.

– Oi Emily, - eu digo automaticamente. – Como você tá?

– Eu tô bem, - ela responde tão automática quanto eu. – E você?

Eu forço um sorriso.

– Estou ok.

Ela me lança um olhar de pena, quase como compaixão, e senta-se ao meu lado.

Ela olha pra mesa e bebe um gole de seu... hmm... cappuccino?

– Eu descobri pelo jornal, sabe? – Ela ainda não olha para mim.

Eu apenas concordo com isso. Eu não tenho o que dizer.

– Eu fiquei tão sem chão na hora. Eu simplesmente não acreditei...

– Muito menos eu, - eu ri, brincando com a seta do mouse na tela.

– Eu sei que muitas pessoas já disseram isso pra você, e sei que dizer novamente não vai adiantar em muita coisa, mas eu sinto muito.

Eu concordo novamente.

– Pois ninguém realmente sente a dor que você sente, - ela continua.

Há uma pausa longa de ambos. Ninguém respira. Ninguém suspira. Estou constrangido.

– Vários momentos piores virão.

Eu olho pra ela, esperando ela terminar essa frase.

– Eu digo isso pois já passei por uma situação como essa... Escuta, você já chorou?

Em situações normais eu estranharia alguém me perguntando se eu já chorei sobre a morte de uma pessoa. Mas isso não está soando diferente ou estranho. Está parecendo normal.

– Ainda não, - eu sussurro.

Ela passa a mão num gesto rápido sobre a minha.

– Acredite, quando você entender, tudo vai melhorar. Olha, eu sou boa em observar as pessoas, e tô vendo o emaranhado que tá na sua mente.

Sinto-me afundando na cadeira macia.

– E não adianta disfarçar, eu apenas vejo. Uma vez Carol me disse que uma das coisas mais importantes da vida dela eram os amigos. E "amigos", eu tenho certeza que ela estava mencionando alguém em especial.

Ela dá um outro sorriso e se afasta.

Eu não tenho ideia do motivo, mas estou me sentindo um pouco melhor. Um pouco solto dos emaranhados.

– Obrigado, - eu digo sem pensar em direção à ela.

Ela vira-se na porta e sorri simpaticamente para mim.

– Imagina.

E ela foi-se.

Ouvir isso dela, uma desconhecida, me deixou melhor. Muito melhor do que meus pais me deixaram. Muito, muito melhor do que repetir "sim, eu era o namorado dela", "é, ele era meu melhor amigo" até querer morrer.

E obrigado Emily, por aparecer aqui hoje.

Ajeito-me no banco. Encontro o ponto em que estava.

Play.


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Notas finais do capítulo

Enfim, não quis revisar o capítulo pois precisei postar hoje.
Reviews? Eu amo.
Até a próxima!
Muito sangue está vindo, se acalmem!



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