Final Destination 4: Case 180 escrita por VinnieCamargo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Enfim, um enorme agradecimento à todos que concordaram - e não concordaram pois ainda não sabem - em ter seus nomes nessa história.
Vale a pena.
Prestem atenção ao que o personagem está pensando e no que ele está falando. Não confundam pensamentos com diálogos.
Aproveitem!



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Eu nunca vim a um funeral antes.

Minha mãe nunca me deixou vir a um funeral. Eu não sei exatamente o motivo para essa proibição, mas acredito que venha do background supersticioso da minha vó. Eu até já fui a velórios, missas de sétimo dia, até mesmo fui em “guardas”, mas esse é o meu primeiro funeral. E ao mesmo tempo em que me deparo com esse pensamento de virgem de funerais, me sinto estranho, pois tenho dezoito anos.

Não é muito diferente do que eu imaginei. Na verdade, os filmes nos forçam a acreditar que todas as pessoas usam preto social. E que vai chover, pois o que é um funeral num filme ou desenho sem guarda-chuvas pretos, filmados de um ângulo de cima?

Mas muito além disso, nos filmes e desenhos existem as colinas verdes que se estendem por um horizonte sombrio e nostálgico. Mas o funeral que estou vendo é feito no Brasil. Pessoas com roupas coloridas se amontoam ao redor dos túmulos em questão. O padre reza, reza, e reza, até eu ter uma vontade insana de gritar – mas não posso, estou num funeral. As pessoas estão chorando. Elas não param de assuar o nariz e soluçar, como se fossem as únicas que realmente perderam algo, e agora eu realmente compreendo o sentido da expressão “groupie de enterro”. O fato é: não existem colinas verdes, muito menos chuva em câmera lenta. Essa é a vida real, e esse é um funeral no Brasil.

E basicamente, eu não gostaria de inaugurar minha cota vital de funerais enterrando minha namorada e meu melhor amigo.

Nada está fazendo sentido na minha mente, e isso – em partes - explica as minhas divagações sobre enterros e filmes.

Eu ainda não chorei. Acho que nem meu cérebro – muito menos meu coração – ainda não conseguiu digerir a informação que Carol e Will cometeram suicídio. Estou em piloto automático, e estou longe de querer voltar para o modo normal.

Sei que os dois últimos dias passaram num borrão. Sei que tenho andado meio zumbi pela casa, e sei que meus pais têm tentado manter um tipo de diálogo natural comigo, mas não está dando certo.

E estou aqui, observando os coveiros descerem os caixões. E sim, Carol e Will estão sendo enterrados lado a lado. Ambos os pais deles decidiram isso. Nossa amizade era muito maior do que qualquer rodinha de faculdade, e os nossos pais, conhecidos de anos, entendem isso. E agora Carol e Will vão ficar lado a lado para sempre. Na morte.

E minha mente insana com vontade de socar esse padre busca algo concreto para idealizar e dizer para alguém. E não encontra.

Ainda não conversei com as mães deles. Não que eu vá conseguir fazer muito sentido em diálogos, mas eu sei que elas estão esperando algo de mim. Não tenho força alguma pra dizer que sinto muito, e provavelmente elas esperam que eu saiba o motivo do suicídio de ambos.

E é exatamente isso que tem me perturbado.

Eu não sei por que eles se mataram. Não faço a mínima ideia, e muito menos algum dos conhecidos.

Tento encontrar alguma peça solta, um cabo desconectado no meio desse emaranhado de sentimentos, e não encontro.

Não faz sentido algum.

Sei que criei uma camada de gelo ao redor de mim. Ela está me isolando do mundo real. E sei que quando ela derreter, aí sim eu irei chorar. Aí sim eu vou me tocar de que minha namorada e meu melhor amigo não voltam nunca, nunca mais. Aí sim vou me dar conta de o quanto eu estou sozinho nesse mundo.

E essa sensação está me devorando vivo.

Mas enquanto essa camada não derrete, eu vou aproveitar o meu estado de insanidade zumbi e divagar sobre esses acontecimentos.

Minha mãe está do meu lado. Ela não para de grudar na minha mão esquerda e esfregá-la, dizendo que tudo vai ficar bem. E sim, eu concordo mãe, tudo vai ficar bem assim que eu entender o que aconteceu. Acho que é o poder dela que está me dando tanta segurança de que tudo vai ficar bem. E isso é bom pra mim, pois preciso acreditar que algo nessa minha vida miserável vai dar certo novamente. E eu me agarro nesse tipo de esperança fútil. E continuo.

Na minha mão direita está um buquê de flores – estava, acabei de jogar sobre o caixão de um deles. Não sei de quem, mas caiu. E Will e Carol, eu espero que no local em que vocês estão agora, isso faça sentido pra vocês.

Estou decepcionado com vocês dois. Por me deixarem aqui nesse mundo inóspito e surreal, onde amizades reais são difíceis de serem encontradas. E mesmo que eu encontre o motivo de tal ato, eu vou continuar decepcionado pra sempre.

Deveríamos fazer faculdade de Cinema. Deveríamos continuar juntos. E porra, vocês simplesmente rasgaram, passaram uma serra elétrica numa lista infinita de “deveríamos”. Carol, nós deveríamos casar.

E agora estou encarando os pedaços sangrentos dessa lista de “deveríamos”.

Sozinho.

Suspiro profundamente. Minha mãe esfrega a minha mão mais uma vez.

O vento aqui está forte. Ao correr pelos túmulos do cemitério, ele deixa no ar uma triste cantiga de “uuu”, quase como um lamento orquestrado. Quase como se fosse feita para mim.

Minhas vestes balançam incertas. Meu cabelo rebelde não pára mais que dois segundos no mesmo lugar. Encaro os caixões lá em baixo, esperando as lágrimas começarem a descer, mas elas não vem. Foda-se.

Não vou forçar um choro, esse é o fato. Consecutivas vezes, olhando ao redor, percebo os olhares em mim. Eles ainda me esperam. Esperam um último ato da minha parte. Para eles, minhas lágrimas – que ainda não estão caindo - não são suficientes. Pelo que eu conheço, eles esperam que eu pule sobre os caixões e grite pra descerem a terra.

Mas tudo o que eles irão continuar vendo hoje a tarde é um homem conformado. Sinto muito, groupies.

– Amém!

Quase caio para trás. O amém significa o fim. É isso.

E sim, estou certo. As pessoas secam as lágrimas e estão fazendo o sinal da cruz. E agora estão se virando e indo embora.

Ir embora.

É, eu também devo fazer isso.

Viro-me sorrateiramente em direção ao meu carro. É um Strada Adventure 2005, preto, duas portas. Ganhei do meu pai. Ele é lindo e droga, me lembra deles.

Droga.

E quando saio andando em direção a ele, ouço minha mãe me seguindo. Ah claro, ela está comigo. Minha mãe.

O caminho até o carro é longo e curto. Longo, pois meus pensamentos fazem o tempo diminuir, mas meus passos aceleram o curso. Acho que estou retomando o controle novamente.

Não. Eu não estou retomando o controle. Preciso entender.

Que seja. Apalpo minhas vestes até encontrar as chaves. Destravo o carro com um PLIM PLIM e abro a porta do motorista.

– Vini?

Meu nome. Esse é o meu nome. Na verdade é Vinicius.

Viro-me em direção ao grito.

Do local em que o funeral acabara de acontecer, está vindo André.

André (Dedé, como conhecido pelas periguetes do bairro) tem uns 16 anos, não tenho certeza. É o irmão mais novo do Will. Eu não tenho idéia do que ele quer, mas rezo profundamente para que ele não venha dizer que sente muito, pois eu sei o quanto ele sente.

E só eu sei quantas vezes ouvi “sinto muito” nas últimas 48 horas.

Deveria haver um tipo de ligação desproposital entre nós, devido ao que passamos nos últimos dias. Mas isso não acontece.

Eu nunca conversei muito com o André, mas sei que ele brigava muito com o Will. Isso é típico de irmãos. E enquanto ele se aproxima, percebo, o rosto dele está vermelho e moído, - como se já tivesse entendido o que eu preciso saber.

Amaldiçôo-me por ser insensível. Ok, André chorou. É claro que sim. Eram irmãos. Eu sou um idiota.

– Tudo bem, Vini? – ele pergunta ansioso e sem dar um sorriso.

– Tudo ok, - respondo.

Ouço minha mãe batendo a porta do carro atrás de mim. Ela sempre faz isso, me deixa sozinho para resolver minhas coisas. E isso é bom.

André agora esboçou um sorriso.

– Olha cara, eu sei que a gente nunca conversou muito...

Eu também sei disso, André.

– Mas eu sei, - ele continua – que você está atrás de uma resposta. Assim como eu estive.

Oh. Ele tem a solução dos meus problemas. Estou salvo.

Ele suspira. Eu suspiro.

– O que foi, André? – eu pergunto tentando manter um nível de controle. Não que eu esteja prestes a perder qualquer tipo de controle.

Ele tira do bolso uma caixa pequena. O suficiente para caber um case de CD, minha mente geek nerd relaciona.

Ele pega meu braço e alcança meu pulso. Eu apenas encaro isso. Ele abre meus dedos e encaixa o case quadrado e reluzente na palma da minha mão.

– Você precisa ver tudo isso até o fim, - ele disse determinado.

– Ok, mas o que é isso?

– Você vai entender.

Abro o case. Sim, acertei. Um DVD-R da Faber Castell está me encarando. Na parte de cima, existe um número "1" riscado de caneta azul. Balanço levemente o case e vejo mais três DVD's ao fundo com a sequência 2, 3 e 4.

– Você quer que eu assista a filmes?

– Não. Olha, você precisa me prometer, que não importa o quão ruim as coisas comecem a ficar, você vai ver isso até o fim.

André nunca pareceu tão doido e determinado antes. Estou tenso.

Estamos diante de um impasse.

– Tudo bem, - eu digo. – Não é nenhum tipo de pegadinha? – desconfio. Samarah e o poço, alguma merda do tipo?

Eu costumo desconfiar. Isso é típico de pessoas observadoras. De repente o André mudou? Agora ele é um cara legal que empresta filmes suspeitos?

– Não Vinicius, não é nenhum tipo de pegadinha. Olha, isso pode até ficar meio pesado... impossível às vezes, mas assista até o final. Não existe nenhum tipo de edição.

Concordo. Assinto.

– Tudo bem.

Ele me dá um aceno com a cabeça e se afasta. O vento sopra novamente. Observo que além de nós, o cemitério está vazio.

Estou confuso. Diante de um impasse comigo mesmo.

Que merda é essa?

– Vini, - minha mãe me chama de dentro do carro. – Tudo bem?

– Claro, - respondo. - Tudo bem.

Entro no carro e fecho a porta. Jogo o case no compartimento de trás. Dou a partida no motor.

Enquanto me distancio do cemitério, não olho para trás.


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Notas finais do capítulo

Quero reviews!
Próximo capítulo vai depender de como vocês irão responder a mim.
Obrigado por lerem!



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