O dia começou mal como sempre.

Não, não é por causa da chuva lá de fora, a neve que cai descontroladamente aparentemente sem motivo, já que nem no inverno estamos ou o fato deu ter dito um jantar ruim na noite passada.

Hoje começou ruim pelo fato deu ter que dividir o quarto do brutas montes do Patrick que roncava mais alto do que porcos no chiqueiro, um motor de trator ou até mesmo música eletrônica, ou seja, ele roncava muito e alto. Não comentei nada isso por que ele deve ter problemas e acho que seria humilhante jogar isso na sua cara, e como eu sou uma dama da sociedade (ata!) mantive-me calada.

Na hora de dormir foi um grande problema para nós, como sempre é. Sim, por que havia apenas uma cama e eu não estava nem um pouco adepta ao seu plano de dormirmos juntos na cama gigante mesmo com as promessas dele que não tocaria em mim. Claro que eu não aceito. Depois de nossas discussões ficou entendido que um dia para cada um dormiria na cama e o outro dormiria ou no sofá ou no chão, onde preferir. Joguei na cara dele aquela velha regra de “primeiro as damas” e acabei ficando com a cama para mim, pelo menos nesta noite.

O relógio do criado mudo ao meu lado começou a apitar exatamente às cinco da manhã. Tentei desligar ele a qualquer custo, mas o treco não calava a boca até que o joguei na janela e ele ficou quieto. Deitei-me novamente na cama e tentei voltar a dormir. Só que nesta mesma hora ouço uma voz ridiculamente modificada em alto e bom som.

“Bom Dia campista! Hoje está um belo dia de neve no nosso Acampamento. Levantem-se e se arrumem. Às seis horas será servido o café e nossas atividades irão começar.”

Revirei os olhos e deitei novamente a cabeça no travesseiro ignorando aquela voz idiota. Quem em sã consciência acorda as cinco da manhã animado assim? E ainda mais em um dia de neve? E que clima estranho neste acampamento, ontem estava calor do cão e hoje neve. Será que estamos nos Jogos Vorazes e aqui é uma arena modificada as necessidades dos Idealizadores*? Afastei essa ideia idiota da minha cabeça e me concentrei em dormir.

Pena que isso não aconteceu. Na mesma hora que fechei os olhos uma música começou alta, chata e sem letra. Levanto rapidamente e fico sentada na cama. Olho para o teto e grito “Já acordei!”. A música começa a diminuir até ela sessar de vez.

Patrick dormia tranquilamente no tapete perto da cama. Ele estava coberto até a cintura com um lençol que achamos. Sua cabeça estava deitada no travesseiro e seu braço esquerdo embaixo deste. Parece que ele não ouviu nem a música nem o chamado idiota daquele cara no alto falante.

– Patrick. – Falo tentando acordar ele. – Patrick cacete acorda. – Grito para ele acordar. O idiota apenas coça o nariz e segue dormindo.

Pego uma almofada que estava em cima da cama, na parte intocada e miro na sua cabeça. Bem, a almofada por sorte acerta-o que fica sentado rapidamente tentando entender a situação e o que acaba de acontecer.

– Porra Agatha. Eu estava dormindo! – Diz coçando seu olho e bocejando.

– Você é surdo? – Pergunto, mas não espero sua resposta – As seis horas será servido o café e temos até lá para nos aprontarmos.

– E dai? Achei que você gostava de burlar as regras e ficar dormindo. – Ele fala me olhando com a cara toda amaçada.

– Eu tentei fazer isso. Mas é quase impossível pelo que parece. – Eu digo – Sem mais conversa, vá se aprontar.

– Por que eu tenho que ir primeiro e não você? – Ele pergunta voltando a se deitar.

– Sei lá. – Eu digo pensando no por que eu ter acordado ele. – Então que eu vou primeiro.

– Adeus! – Diz Patrick se virando para o lado e fechando os olhos.

– Nem pense em dormir ou você não irá acordar mais. – Ameaço tomando coragem para sair da cama.

– Bom dia para você também. – Ele fala ironicamente e abrindo os olhos.

Levanto da cama e dou graças a Deus, por algum motivo àquela lareira estar ligada e nos esquentando. Esse lugar é muito estranho cara. Tenho que me lembrar de nunca mais voltar para esse lugar ou vou virar um robô se bobear.

Sigo até o guarda roupa e pego uma roupa para mim. Depois de pega a roupa ando até o banheiro. Lá faço minha higiene matinal. Despi a minha roupa ficando só com as roupas de baixo. Ligo o chuveiro para esquentar a água e quando entro lá dentro...

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Grito de desespero saindo do banheiro entrando no quarto assustando Patrick.

– O... – Ele tenta falar alguma coisa, mas me olha. Eu olho para ver o que ele estava olhando em mim e percebo que estou apenas de calcinha e sutiã. Ótimo! Bem, ignorei esse fato e pensei como se eu tivesse apenas de biquíni, é quase a mesma coisa, não é? Mais ou menos.

– Seu tarado! – A única coisa que eu consegui dizer.

Ele ainda me olhava sem conseguir dizer alguma palavra. O que ele estava olhando? Não quis pensar nisso. Puxei uma toalha das suas mãos que ele usaria e me cobri. Isso pareceu despertar Patrick.

– O que aconteceu Ag? – Ele perguntou.

– Não me chame de Ag. E tem um bicho horrível lá no banheiro. – Eu digo me lembrando do que eu havia visto. E comecei a pular de desespero.

– Eu não sabia que você tinha medo de bichinhos Ag. – Ele fala para me provocar indo até a porta do banheiro e entrando. Logo voltou dali dizendo – Santa mãe de Deus!

– Quem agora tem medo de bichinhos hein? – Digo para provocar.

– Aquilo não é um bichinho, é um titanossauro-rex. – Ele fala. – Nunca vi um sapo tão grande na minha vida.

Sim, estamos falando de um sapo anormalmente grande que decidiu tomar banho no lugar que eu tomo. E isso tem um grande problema já que eu morro de medo de sapos, tenho nojo só de pensar em uma coisa asquerosa daquelas.

– Se livra dele rápido... – Digo.

– E como acha que eu irei fazer isso? Não posso matar o bicho. – Patrick fala andando de um lado para o outro como forma de pensar.

– Mate, esfole e esquarteje aquele bicho horrendo. – Digo sentando na cama.

– Vou fazer melhor! – Ele falou por fim indo em direção do banheiro.

Em menos de um minuto ele estava batendo não sei no que, isso trouxe um novo problema... O sapo veio até o quarto. Eu comecei a gritar desesperadamente parecia que estavam me espancando, enquanto eu subia na cama e dava pulinhos de medo. Patrick não parecia muito diferente de mim tentando levar o bicho sei lá para onde. O sapo pulava de um lado para o outro e em um desses pulos parou na cama. Todos ficaram em silêncio até o sapo feio fazer aquele barulho e eu começar a gritar novamente correndo para fora da cama. Na hora deu descer Patrick se materializou na minha frente o que me fez tropeçar e cair em cima dele que caiu no chão batendo as costas.

Patrick estava caído no chão. Eu estava de calcinha e sutiã em cima dele. O sapo estava na cama nos olhando. Eu me levantei rapidamente de cima dele e corri para subir no sofá lembrando-se da situação de perigo que estava correndo. Patrick se levantou quase de imediato e foi para cima da cama fazer o sapo sair de lá. Funcionou, mas o bicho veio em minha direção novamente e eu não sabia para onde fugir sem passar por ele, então continuei no sofá gritando.

Nesta mesma hora abre-se a porta do Chalé e aparece uma menina que nunca vi na vida e entra no Chalé. Eu tremo onde estou por que lá fora estava muito frio. Ela fecha rapidamente a porta. Eu e Patrick trocamos um olhar inquieto e nos voltamos para ver a menina que parecia ter ignorado completamente a mim e a Patrick. Ela pega o sapo e o coloca no colo fazendo carinho no topo de sua cabeça como se fosse seu animal de estimação.

Desço do sofá onde estou e ando até Patrick que solta seus chinelos no chão como se nada tivesse acontecido. Eu e ele trocamos mais um olhar sem saber ao certo o que fazer naquele momento. Luiz faz um barulho com a garganta e isso desperta a menina entretida com o sapo.

– Olá! – Ela fala.

– Oi! – Respondo. – Você é a Jane, não é? – Disse me lembrando dela de ontem.

– Sim. – Ela fala com admiração por eu ter a reconhecido. – E vocês são...

– Agatha. – Respondo.

– Patrick. – Ele fala dando um aceno breve para a menina.

Ela era loira e baixinha como havia dito antes. Tinha olhos castanhos e várias pintinhas pelo rosto. Ela era bonita. Usava uma roupa feita para a ocasião (casaco grosso de pele de cor branca fechado, calça de veludo clara e botas nos pés).

– Então... Esse sapo é seu?

– Sim. Ela é a Jubiléia.

– Jubiléia? – Patrick pergunta reprimindo o riso.

– E como você entrou aqui? – Eu pergunto.

– tem uma chave reserva em todos os Chalés embaixo do tapete. – Ela fala com simplicidade.

– E como sabia que seu sapo... Ou sapa... Estava aqui? – Pergunta Patrick.

– Era o único Chalé que estava com uma grande movimentação aqui dentro. Vocês estavam chamando bastante atenção, sabiam disso? – Ela fala.

– Oh! – O único som que eu consigo emitir.

– Bem, eu vou indo... Acho que vocês... Hm... – Ela aponta para o que eu vestia e o que Patrick vestia (apenas uma bermuda). Eu tento dizer que não é nada do que ela estava pensando, mas ela logo diz. – Vejo vocês daqui a dez minutos!

E sai pela porta sem dar tempo de darmos adeus. Olho para Patrick perplexa com o que aconteceu aqui e ele me olha da mesma maneira. Ficamos assim por alguns minutos tentando entender o que havia acontecido foi mesmo real encarando a porta.

– Ela disse 10 minutos? – Por fim fala Patrick. Eu o olho novamente e olho para o banheiro.

– Não ouse fazer isso. – Digo correndo atrás de Patrick quando ele entra no banheiro, mas antes dele fechar a porta eu entro e o impeço. – Eu ia primeiro esqueceu?

– Isso foi antes do seu visitante aparecer. – Ele fala lutando para me empurrar para fora.

– Qual é Patrick. Para de ser criança e vamos fazer isso racionalmente! – Digo e ele para de lutar. – Par ou ímpar?

– Esse é o seu jeito de resolver racionalmente? – Pergunta ele rindo.

– Alguma outra ideia? – Digo irritada e ele nega com a cabeça. – Ótimo! Eu sou ímpar.

– Mas eu quero ser o ímpar. – Ele comenta fazendo bico.

– Então tá... – Digo revirando os olhos. – Par.

– Ímpar.

– Um, dois, três e já. – Digo e colocamos nossos dedos. Ele mostra 5 e eu mostro 3. – Ganhei seu idiota... Agora sai dai. – Falo tentando empurrar ele para fora.

– Isso foi injusto. Você roubou! – Ele fala me encarando. – Vamos fazer de novo.

– Não vamos não. Você vai arrumar essa bagunça do quarto enquanto eu tomo banho. – Eu falo.

– Não... – Ele fala passando por mim. – Se quiser tome banho comigo me arrumando no banheiro, ou se não deixe eu ir primeiro. – Ele fala cruzando os braços.

Olhei para ele e para o chuveiro. Espirei fundo e suspirei. Pensei em todas as alternativas para fugir daquilo e a única que me ocorrei foi...

– Tá. – Digo.

– O que? – Ele fala surpreso.

– O que? Você não vai sair do banheiro e eu não vou te dar a vez, já que eu ganhei... O que me resta é aceitar isso. – Digo passando por ele e indo em direção ao boxer. – Se você espiar eu faço um escândalo tão grande que será lembrado até a sua decima geração.

– Sim senhora! – Ele concorda com a cabeça.

Suspiro alto e entro para tomar banho.

Mal começou o dia e já passei por muitas coisas de barriga vazia. O que falta acontecer?

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* Idealizadores: Eles controlam os jogos, ora mudando a temperatura, ora lançando desafios. Eles comandam todos os perigos, paraquedas e tudo que dá vida aos Jogos Vorazes.