Livro 1: Fogo escrita por Dama do Fogo


Capítulo 4
A prisioneira Dobradora de Água - Parte 4




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— Mayumi, continue — disse Aang.

— Certo — disse a jovem, respirando fundo antes de voltar a puxar da memória ao ano sombrio, conforme ela mesmo denominava.

 

Início da versão da história por Mayumi

 

Passaram-se dois dias desde que a família real esteve no restaurante de Oggi e tudo permanecia inalterado. As pessoas continuavam a jantar ali, e a fama da boa comida continuava a se espalhar.

Mayumi ainda ajudava sua mãe a servir, e desde o incidente, tornou-se ainda mais cuidadosa.

— Umi, leve o lixo para fora, querida.

— Sim, mãe — respondeu a jovem, arrastando o saco para os fundos do estabelecimento.

Assim que o encostou em um muro, alguém a segurou pelas costas, tapou sua boca e a arrastou para fora da propriedade. Ao chegar lá, a largou e se afastou.

— Fique longe — disse ela, assustada. — É sério, eu sei me defender.

— Eu realmente gostaria de ver isso — disse Zuko, retirando o capuz que cobria sua cabeça. — Mas garanto que eu levaria a melhor.

— O senhor? — perguntou ela, estática. Imediatamente fez uma reverência, e o príncipe a retribuiu.

— Não me chame de senhor. Eu sou Zuko.

— Não devo chamá-lo assim. O senhor é o príncipe coroado e futuro Senhor do Fogo, é uma falta de respeito.

— Não quando eu dou total liberdade para isso. — Ele sorriu, e a garota concordou com a cabeça. — Ainda não sei seu nome.

— Mayumi.

— É um belo nome. Combinou bem com você. — A jovem tentou segurar um sorriso, mas não conseguiu.

— O que faz aqui, senhor? — ela encarou o jovem que franziu o cenho. —... er... Zuko?

— Vim tranquilizá-la, assim como sua família. — Ele respirou fundo. — Meu pai não fará nada. Eu resolvi tudo, como prometido. — Conforme as palavras iam saindo da boca do jovem, Mayumi suspirava aliviada. Estivera esse tempo todo achando que sua família pagaria caro por causa do que fizera e entrara em uma situação lamentável.

— Eu não acredito. — Na euforia, a jovem abraçou o príncipe com força, que gemeu de dor por causa das feridas em suas costas. — Desculpe, eu não percebi que tinha apertado com muita força.

— Não apertou. — Zuko ficou sério. — É que estou com as costas machucadas.

— Deixe-me ver? — falou a jovem indo para trás do príncipe.

— Não. Não é sério — tentou desviar, dando a volta e ficando de novo em frente a ela.

— Claro que deve ser. Está tão sério a ponto de ninguém poder tocar — os olhos azuis arregalados pareciam assustados.

— Esqueça.

— Não mesmo. Eu quero ver como está para fazer alguma coisa. É o mínimo que posso fazer depois de ter conversado com seu pai e poupado a minha família.

— É, conversado... — Mayumi tentou novamente, outra vez fazendo Zuko se esquivar, mas retirando a capa que o escondia.

— Estou bem. — falou por último antes que a garota fizesse uma manobra de blefe, fazendo-o crer que ela iria novamente tentar ver e ele se aproximou dela ao invés de fugir. Ela então conseguiu segurar em suas vestes e erguer a camisa, ficando horrorizada em seguida.

— Ai, meu Deus. — Tapou a boca com a mão.

— Está tão horrível assim? — Zuko perguntou, tentando fazer graça.

— Quem fez isso? Por quê?

— Não importa.

— Foi por nossa causa, não foi? — Mayumi encostou-se ao muro. O rapaz concordou com a cabeça, e a jovem pareceu se desesperar. O tronco subia e descia enquanto tentava respirar, os olhos correndo para todas as direções sem sequer de fato ver nada, enquanto a mente trabalhava acelerada. Segurou o príncipe pela mão. — Venha comigo.

— Para onde?

— Eu vou cuidar de você. — Ela puxou o rapaz por um caminho de areia até que chegaram em sua casa. Mayumi acendeu as lamparinas da sala e trouxe um colchão.

— Tire a camisa e deite-se de barriga para baixo — Mandou a garota enquanto seguia para a outra sala. Zuko ficou envergonhado com a situação, mas fez como ela pedira.

— O que vai fazer?

— Minha avó me ensinou a fazer um unguento poderoso, mas para que ele funcione, preciso que esteja completamente relaxado. — Ela encarou o jovem. — Se possível, feche os olhos.

Zuko obedeceu, apoiando a cabeça em um travesseiro quadrado que a jovem trouxera e relaxou completamente.

Ao perceber que ele não estava mais prestando atenção nela, Mayumi, usando a dobra d’água, apanhou uma quantidade e envolveu sua mão. A água começou a brilhar, e então ela iniciou o processo de cura.

Permaneceu nisso por alguns minutos e depois guardou a água de volta no vaso, se levantando em seguida para descartá-la.

— Prontinho — falou quando retornou. — Garanto que as dores vão passar.

— Já me sinto novo — respondeu, mexendo os ombros e percebendo que a dor diminuiu consideravelmente. Mayumi abaixou o olhar ao vê-lo seminu, da cintura para cima. Ele imediatamente tratou de vestir a camisa ao notar as bochechas vermelhas dela. — Você tem mãos mágicas. Obrigado.

— De nada — falou ela.

— Agora eu preciso ir. — Zuko se adiantou, pegando a capa que esconderia sua identidade no retorno para o palácio. — Ninguém pode me ver aqui.

— Entendo.

— Não é por essa razão que está pensando. — Se aproximou de Mayumi. — É que meu pai não sabe que estou aqui, no vilarejo, e nem quero imaginar se ele descobrir.

— Não se preocupe, não pensei em razão alguma. — Ela permanecia de vistas baixas, até que Zuko lhe deu um beijo na bochecha.

— Obrigado mais uma vez. — O príncipe agradeceu, sorrindo ao ver o rosto de Mayumi adquirir uma coloração vermelha que combinava com ela. — Quisera eu ter esse unguento em casa, com certeza curaria mais rápido.

— Se quiser, pode voltar amanhã.

— Se você me permitir voltar.

— Claro que pode vir, é um prazer ajudar. — Ela sorriu.

— Então te vejo amanhã?

— No mesmo horário, em frente ao restaurante — confirmou Mayumi, finalmente encarando o rapaz. Zuko fez a referência de agradecimento e cobriu a cabeça com a capa. Deixou a pequena casa rapidamente, tinha que chegar ao palácio o quanto antes.

Não havia se passado nem mesmo cinco minutos desde que Zuko havia ido, e Oggi chegou em casa com os irmãos de Mayumi.

— Procurei você por toda parte, onde se meteu? — perguntou a mulher, visivelmente preocupada.

— Desculpe, mãe, não me senti muito bem, por isso vim para casa — ela falava melosamente. — Eu deveria tê-la avisado. Sinto muito. — Abaixou a cabeça e ficou em silêncio.

— Tudo bem. — Oggi abraçou a filha.

— Se a senhora me permite, quero ir dormir, estou cansada.

— Pode ir, amor. — A mãe beijou a testa de Mayumi, e a menina foi para o quarto. Deitou-se em sua cama, encostou a cabeça no travesseiro e suspirou. Não sabia por que havia suspirado, mas o fez ao pensar em Zuko.

 

Fim da versão da história por Mayumi

 

— Você se apaixonou — Suki olhava para Mayumi, como se tivesse encantada. — Que conto de fadas.

— Contos de fada? Tá brincando? — bufou Zuko.

— Seja um pouco compreensivo, Zuko — falou Sokka, apoiando-se no ombro do Senhor do Fogo. — As meninas se derretem com essas histórias.

— E então, para quem eu marco? — falou Toph, pronta para entregar mais um ponto ao placar.

— Essa rodada empatou — constatou Katara.

— É, empatou.

— Ainda preciso contar o resto da história — falou Mayumi, séria.

 

Início da versão da história por Mayumi

 

O sol havia acabado de se pôr, e o restaurante estava lotado. Na hora marcada, Mayumi saiu escondida e aguardou Zuko. Ela já estava ficando impaciente quando ouviu o psiu no escuro. Ela encarou o lugar por um tempo até que Zuko apareceu, chamando-a.

— Por que não veio antes? — perguntou ele.

— Porque eu não tinha certeza se era você. — Ela cruzou os braços. — E se fosse um sequestrador?

— Esperta — falou Zuko e sorriu.

— Eu trouxe os ingredientes para o unguento. — Mayumi levantou uma vasilha coberta com um pano de prato.

— Eu trouxe algumas coisas para a gente comer. — Zuko levantou uma cesta.

— Só tem um problema, não poderemos fazer isso lá em casa hoje.

— Não é problema algum, eu conheço um lugar que é tranquilo, e ninguém nunca vai lá.

— Perfeito — falou Mayumi e sorriu.

— Quer que eu leve? — o jovem perguntou apontando para a vasilha na mão dela.

— Não se preocupe — respondeu apertando ainda mais o embrulho contra o corpo e forçando um sorriso. Não podia deixar que Zuko visse que havia apenas água ali, descobriria imediatamente o que ela era.

Ao chegar ao lugar, Mayumi viu uma casa grande e abandonada aos pés do vulcão, onde era a capital da Nação do Fogo. Havia toda uma exuberância de uma casa que provavelmente pertencera a alguém de classe.

— Aqui era a casa da minha avó. Minha mãe nasceu e viveu aqui até se casar com meu pai. — Ele olhava um quadro com a foto da mãe e de sua tia. — Quando minha avó morreu, a casa foi fechada para sempre.

— Eu sinto muito — falou a jovem e tocou o ombro de Zuko.

— Não sinta, foi muito antes do meu nascimento. — Pegou a mão da garota e subiram as escadas. — Deve ainda haver algum lugar onde possamos nos acomodar lá em cima.

Os dois correram até o quarto da avó do príncipe, e lá encontraram um colchão. Zuko o apanhou, e eles subiram até a sacada do último andar e lá se sentaram.
Zuko fez como sempre fazia: tirou a camisa e se deitou.

— Está com os olhos fechados? — perguntou Mayumi.

— Sim — respondeu ele. — Na verdade, durante esses sete dias, eu sempre fechei os olhos, mas ainda não entendo por que devo fazê-lo.

— Minha avó dizia que quando fechamos os olhos e relaxamos, ficamos mais propícios à visita dos espíritos. Se uma pessoa que estiver muito machucada for visitada por um espírito conhecido como Kiron, a força dessa pessoa é recuperada em dobro.

— Interessante — falou ele. Enquanto Mayumi conversava com Zuko, ela começou outra sessão de cura. Depois de alguns minutos, ela recolheu a água e jogou fora.

— Acabei.

— Mas já? Eu nem senti nada. — Ele se sentou. — Mesmo assim, me sinto ótimo.

— Então, o que trouxe? — Mayumi apontou para a cesta.

— Algumas coisas para a gente fazer um piquenique. — Ele abriu a cesta e sorriu. — Assaltei a cozinha do palácio e consegui alguma comida. — Zuko pegou uma tigela com tampa e mostrou para Mayumi. — Mas a minha melhor aquisição foi... flocos de fogo.

— Eu não acredito. — Ela pegou um. — Adoro esse doce. É uma pena que não se encontre com facilidade.

— Tá brincando? Eu praticamente como isso todo dia no palácio. — Zuko pegou um bocado e colocou na boca. — Sempre que eu vier, trarei para você. — Mayumi, que até o momento mantinha um sorriso no rosto, ficou triste de repente. — O que foi? Eu disse algo errado?

— Não é isso. É que... — ela parou de falar e encarou o jovem que permanecia com uma grande interrogação no rosto. — Os seus ferimentos estão quase curados, e logo não precisará de mim. Então não virá mais.

— É claro que eu venho. — Ele a encarou seriamente. — A menos que você não queira que eu venha.

— Eu quero, mas... — Ela olhou dentro dos olhos de Zuko. — Qual será sua desculpa?

— Você será minha desculpa.

— Como? — perguntou Mayumi, e o príncipe lhe tocou o rosto.

— Nessa semana, eu descobri que gosto de você.

— Não diga uma besteira dessas.

— Não é besteira. — Zuko chegou mais perto. — Eu fico contando as horas para ver você. Fico vendo seu rosto antes de dormir e sinto tanta sua falta que chega a doer.

— Zuko...

— Eu acho que me apaixonei por você, Mayumi. — A jovem abaixou o rosto e deixou uma lágrima correr, e igual como da primeira vez que Zuko esteve próximo dela, ele aparou a lágrima antes que caísse. Ele se aproximou dela e então a beijou. Após alguns minutos, eles se separaram.

— O que foi isso?

— Meu pedido de namoro. — falou ele e sorriu. — Mayumi, quer ser minha namorada? — A jovem o encarou e então sorriu, ainda incrédula com toda aquela situação.

— Quero — respondeu e novamente os dois se beijaram, mas dessa vez foi mais curto, afinal, já havia passado da hora de Zuko ir embora.

— Preciso ir.

— Amanhã quero lhe mostrar um lugar.

— Que lugar?

— Saberá na hora certa — Zuko ficou curioso, analisando cada traço da garota em sua frente.

— Vou esperar ansioso. — Lhe deu outro beijo e se levantou, vestiu a camisa e colocou a capa.

...

Naquela noite, Mayumi não conseguiu pregar o olho, e assim que o sol nasceu, ela se levantou da cama. Queria se livrar de todas as suas responsabilidades antes que Zuko chegasse à noite.

Ajudou a mãe no restaurante, arrumou toda a casa e deu comida às galinhas-porcos e aos cavalos. Lavou toda a roupa da casa e então, quando acabou, foi se arrumar. Lavou os cabelos compridos e escolheu sua melhor roupa, porque aquele era um dia importante.

Olhou o relógio e faltava apenas cinco minutos para a chegada de seu namorado. Ela correu pelo caminho de areia e chegou à porta do restaurante, sentou-se em um banquinho e aguardou.

Deu o horário combinado e muito tempo após ele, mas nada de Zuko aparecer. Mayumi respirou fundo e se desesperou, achando que talvez alguma coisa muito grave tivesse acontecido.

Ela esperou preocupada pela noite seguinte, e ele também não apareceu, e assim foi durante os seis meses seguintes.

 

Fim da versão da história por Mayumi

 

— Seis meses? — falou Katara. — Você foi um cafajeste, Zuko.

— Com certeza. — Toph deu uma pisada forte na terra e um traço se formou embaixo do nome de Mayumi. — Essa ela levou.

— Como estamos no placar? — falou Sokka enquanto voltava para perto do grupo, ele havia saído para ir ao banheiro.

— Zuko 2 x 1 Mayumi — respondeu Toph.

Onde esteve?! — gritou Aang.

— A natureza me chamou — respondeu o guerreiro da tribo da água e se escondendo atrás de Suki.

— Aang, sente-se aqui — Katara mandou, apontando uma parte do tronco ao lado dela. — Eu comando isso agora, você precisa relaxar. — Ela se levantou e seguiu na direção do Senhor do Fogo. — Zuko, é a sua vez de se explicar.

— Ela ainda não terminou — sussurrou, como se o que viria a seguir o ferisse profundamente. Por um momento, seu olhar e o de Mayumi se encontraram, e Zuko pode jurar que uma lágrima escorreu pelas bochechas dela, mas ele não poderia fazer como antigamente. Agora, oficialmente, ela estava fora de seu alcance.


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