Diferente de Matheus, os exercícios de Beatriz consistiam em treinos mentais.

Todos os dias ela jogava muitas partidas de xadrez com seu “colega” Tadeu e aprendia cada vez mais sobre mecanismos de bombas.

Tadeu estava olhando friamente para ela, com seus olhos escuros e calculistas. Moveu vagarosamente um peão de madeira e esperou o contra ataque de Bea.

Beatriz estava cansada daquela expressão rígida de Tadeu, sempre a repreendendo e humilhando-a, com a desculpa de ser mais velho. Ela queria desesperadamente fugir daquele lugar, encontrar o seu dobermann e libertar Matheus.

O quarto em que estava confinada não possuía janelas, mas era constantemente iluminado por lâmpadas fluorescentes tubulares. Qualquer um diria que seus aposentos pareciam um quarto de hospital.

Tadeu era o responsável por ela. Acordava-a todas as manhãs, e ia embora somente quando Beatriz já estava dormindo. Tudo para que não conseguisse encontrar a saída, pois além de não ter janelas, não tinha uma porta aparente.

Beatriz se sentia constantemente observada. Suspeitava que alguém a observava do lado de fora daquele quarto pequeno.

— Joga logo, sua anta. — disse Tadeu, despertando Beatriz de seus pensamentos.

Beatriz moveu um bispo, mas não capturou o peão de Tadeu. Ele ganhou confiança, pensando que Bea não tivesse visto sua estratégia. Em cinco jogadas Tadeu foi derrotado.

— Quem é a anta agora, Tadeuzinho? — provocou Beatriz.

Tadeu ficou irritado com a petulância de Bea, e derrubou o tabuleiro de xadrez no chão. Beatriz riu do escândalo daquele garoto mimado, deixando Tadeu ainda mais irritado.

— Sabe Beatriz, você está me deixando cansado. — disse ele, claramente ameaçando uma assassina.

— Como se eu fosse temer você. Você me enoja. — Beatriz sorriu de orelha a orelha. Fazia tempo que não via sangue correr, e aquela parecia a oportunidade perfeita: Tadeu a atacaria, ela o mataria, alegaria legítima defesa e talvez recebesse algum monitor mais simpático.

Como previu, Tadeu avançou em Beatriz. Tirou Rafael da bota e colocou-o gentilmente entre as costelas de Tadeu. Ele vomitou sangue, e caiu no chão, de barriga para baixo.

Havia uma faca nas costas de Tadeu. Aquilo confundiu Beatriz. De onde veio essa faca? Quem matou Tadeu?

Alguém se aproximava de Beatriz. Quando desviou seu olhar de Tadeu, se deparou com Matheus, bem a sua frente.

— Matheus? — sussurrou Beatriz.

— Hum... Não. Eu sou um alienígena que possuiu esse lindo corpo masculino. — disse Matheus, sorrindo.

Por que eu gosto dele mesmo...?

Beatriz estapeou o rosto de Matheus e abraçou-o bem forte.

— Seu idiota. Você está bem? — disse Beatriz, quase explodindo de felicidade.

— Depende do que você considera estar bem...

Matheus se virou, e Beatriz ficou horrorizada. Suas costas estavam cobertas de sangue.