Memories escrita por Kiyoka


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura espero que gostem. sz



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Aquilo sempre fora uma loucura não? Ele era um homem afinal, que espécie de homem tinha sentimentos como aquele? Viu-se, parado na porta do quarto do companheiro, dividido entre aquele sentimento que mais parecia esmagá-lo e seu dever. Ele, Okita Souji, um guerreiro extremamente honrado e centrado em suas obrigações, fizera uma promessa a Kondou Isami, abdicando de sua vida, iria segui-lo, iria caminhar e trilhar os caminhos da espada. E ele a cumpriu, mesmo quando lhe disseram que não lhe havia mais salvação. Ele morreria, poderia evitar, talvez não se curar, mas sabia que se desistisse de seguir os caminhos de um samurai, ele podia aumentar seu pouco tempo de vida, mas recusou-se prontamente. Não iria desistir, não iria fugir, sempre positivo, aquele homem não temia a morte. A aceitara com um sorriso, sabia que um dia ela chegaria e o faria lutando. Mas existia algo que martelava-lhe a mente e nada tinha a ver com morte ou com o fato de deixar de ser um samurai. Havia apenas uma pessoa, alguém que por mais que ele tentasse evitar não conseguia. Hajime Saitou tomara conta de seu coração e mente, pouco a pouco. No inicio, aquela existência pacata e praticamente invisível o intrigou, por que ele nunca sorri? Perguntava-se toda vez que encarava aquela máscara fria, mas nunca tivera sequer coragem de indagar o companheiro sobre isso. E não devia, não era de sua conta, se aquilo o intrigava, o que o fez realmente se admirar foi ver o capitão da terceira divisão chorar, um dia, ele o pegou chorando e então a partir daquele momento não pôde mais descansar. Sempre lembrando daquela face alva, manchada pelas lágrimas, por quê? Por que ele chorava?

- Okita-san? - A voz calma e branda o despertou, estava com a mão parcialmente erguida, quase tocando na porta de correr, bateria? Entraria sem avisos prévios? Então, virou-se, deparando-se com a expressão séria do capitão. Ele apesar de manter sempre uma expressão impassível, ligeiramente curioso com aquela ‘visita’. Okita como era costumeiro usou um de seus melhores sorrisos, irônico é claro, sorriso este que fez a expressão do outro mudar quase imperceptivelmente, ele se incomodava, Okita Souji era irritante de certo modo, sempre sorrindo, sempre debochado, por que ele gostava de importunar? Sempre com uma brincadeira maldosa ou tentando tira-lo do sério, imaginou se o capitão da primeira divisão teria algo contra ele. - O que faz aqui esse horário? - Insistiu tentando arrancar uma resposta da boca do companheiro, mas ele apenas deu os ombros, analisando criticamente sua face, ele se sentia incomodado, por que ele sempre o olhava daquela maneira?

- Hajime-kun... - O castanho começou, sem ao menos pensar no que diria a seguir e então o silêncio tomou conta do ambiente, podiam ambos sentir o vento gélido cortando a noite escura, as luzes já estavam todas apagadas, afinal, naquele horário não haveria ninguém fora da cama. Exceto por ambos que de alguma maneira tiveram uma idéia de ‘passear’ a noite. Saitou, saíra para pensar, lembrando-se de alguns fatos que o incomodavam, sempre pensando em Souji, em como ele pudera ser tão imprudente, sabia o quão adoentado o outro estava, mas mesmo assim insistia em continuar ali. Era fato que o Shinsengumi era um caminho sem volta, mas nenhum deles, nem mesmo Kondou Isami-san faria questão de manter o homem ali da forma que estava, mas ele insistia em lutar. Ele teimava em continuar mesmo sabendo que aquilo seria seu fim. Aquilo era loucura, imaginava, sempre que via o capitão erguer sua espada, apesar de muitas vezes sentir o peso dela como ninguém, parcialmente indisposto, corria apesar de mal se agüentar, mas ele não parou uma vez sequer. Não fez menção em desistir e aquilo de alguma forma o deixava curioso. E quando soube da verdade, quando soube que aquela criatura radiante encontraria seu fim rapidamente, algo dentro de Hajime Saitou mudou, sentiu algo que não imaginou ser capaz de sentir, aquilo doía, sem aviso prévio as lágrimas escorrem-lhe a face, viu-se frágil e fraco como uma criança. O amava, sem dúvidas amava Okita Souji, um amor que ele até então tinha dúvidas, seria como a um irmão? Um companheiro? Não, era mais que isso, de algum modo a figura debochada o conquistou de uma forma indescritível. Ele, que nunca tinha o que dizer, ele que nunca demonstrava sentir absolutamente nada, fora completamente fisgado por aquele sentimento.

-... - Ambos se encaravam sem dizer absolutamente nada, Saitou, por curiosidade, esperando que Okita tomasse a iniciativa e dissesse o que queria dizer e Souji, imaginando como o outro era previsível, sempre quieto e taciturno, ele mais uma vez sorriu, enquanto o outro mexeu a face, contorcendo-a em algo semelhante a ‘irritação’. O cenho parcialmente franzido, suspirou, deixando o ar sair devagar, talvez fosse cansaço, talvez fosse indignação, não sabia ao certo, mas as facetas de Hajime sempre o encantavam de algum modo.

- Okita-san, você deveria parar. - Hajime começou, enquanto o outro arqueava uma das sobrancelhas, estava curioso, com o que deveria parar? Moveu os lábios formulando aquela pergunta, mas antes mesmo que pudesse fazê-la o companheiro se adiantou terminando aquela observação. - De lutar... Se você insistir nessa loucura, você vai acabar se destruindo. Um guerreiro não deve quebrar suas palavras, Souji, jamais deve hesitar, mas sempre com prudência, sempre valendo-se de sabedoria. - Viu a face de Souji contorcer-se em irritação e surpresa, talvez ele não esperasse isso dele, talvez ele não esperasse que ninguém fosse ter coragem de contestar sua decisão, mas ele não estava arrependido, de forma alguma. Não queria ver aquela existência se apagar, não assim, não daquele modo. Okita Souji havia chegado ao ponto de consumir o ochimizu, mesmo em uma situação ‘normal’ o corpo do usuário sofreria mudanças e sua vida seria consumida a cada transformação, mas Souji já estava há muito se deteriorando, aquilo seria seu fim. Rapidamente ele se extinguiria. Ele se auto destruiria, sentiu uma pontada no peito naquele momento, um vazio. E então desviou o olhar, talvez tentando evitá-lo, ou talvez tentando evitar chorar novamente.

- Você acha que eu devo parar? - Souji riu deixando o outro surpreso, Hajime pensou em se mover, mas antes mesmo de fazê-lo fora capturado pelos braços de Okita que o empurrou contra uma das paredes, fazendo-o arregalar os olhos. - O que você sabe sobre qualquer coisa? Você que nem ao menos demonstra sentir coisa alguma... - Cuspiu aquelas palavras acidamente, o outro apenas desviou o olhar, analisando uma parte qualquer do ambiente, não haviam mudanças consideráveis em sua face, apenas permanecia olhando para o ‘nada.’ Escutando aquelas palavras, Okita não poderia saber, mas aquela pergunta o feria internamente, ele tinha sim sentimentos, sentira medo, dor, agonia, mas todos aqueles sentimentos eram focados em apenas uma pessoa; Souji. O outro aproximou perigosamente o rosto, analisando-o, ele ainda permanecia quieto, observando coisa alguma, Souji sentiu-se furioso com aquela atitude, forçando-o a olhá-lo nos olhos. As esmeraldas e o as safiras se fitaram e por um momento pode ler ali algo semelhante a preocupação, ele temia algo, sim, tinha certeza que ele estava temeroso, talvez aquela fosse uma péssima idéia, com aquilo em mente, Souji afrouxou aquele aperto, libertando o outro capitão, mas antes que pudesse se virar, já decidido a deixar para lá o que queria dizer, sentiu o outro agarrando a manga de seu kimono. Saitou levara uma das mãos até o rosto do castanho, tocando aquela pele frágil, um toque sutil e carinhoso, ele próprio se admirou por fazê-lo tão calmamente, como se quisesse decorar cada detalhe, afim de eternizar e memorizar aquela feição com os dedos. Num ímpeto deixou todas as dúvidas de lado, agarrando-se ainda as roupas do companheiro aproximou os lábios tocando os dele. Esperou que ele sentisse repulsa e que fosse arredio, mas ele permaneceu parado, apenas encarando-o, surpreso. Queria poder ficar ali para sempre, sentindo a textura daqueles lábios, mas não podia, afastou-se subitamente.

- Talvez... - Começou, enquanto Okita ainda o encarava incrédulo, ele sentia algo por Saitou sim, um sentimento que ele gostaria de descobrir, mas em momento algum imaginou que o outro sentisse alguma coisa e muito menos algo tão semelhante. Imaginou que seria tolice indagar o homem sobre aquela questão, pois ele certamente o acharia imoral, sujo, louco... - Eu seja capaz de sentir muito mais do que pensa... - Complementou, Souji não parecia ouvir absolutamente nada, moveu-se apenas quando Hajime se afastou dele, saindo de perto da parede, pronto para se enfiar no próprio quarto, longe dele, longe de suas confusões.

- Saitou... - Murmurou chamando a atenção do capitão que virou-se encarando-o mais uma vez, Okita se sentiu estupefato com o que vira ali, Saitou estava sorrindo, não um sorriso qualquer, um sorriso capaz de deixar qualquer pessoa fora do sério. Um sorriso belíssimo, mas havia ali tristeza. Tão logo aquela percepção o acometeu a face do companheiro contorceu-se, uma lágrima solitária rolou por aquela pele clara, fazendo-o paralisar, de imediato tinha vontade de aproximar-se, abraçar aquele homem e dizer a ele que tudo ficaria bem. Que eles poderiam ficar juntos, que ele estaria ali, para apoiá-lo, para cuidá-lo. Mas ele não poderia, não é? Não, ele não poderia, porque sua vida estava por um fio, sentiu o próprio peito doer, cerrou os punhos desviando o olhar por alguns segundos e quando o observou novamente o outro já havia se livrado daquela lágrima. - Eu não posso... - Murmurou enquanto Saitou olhava-o esperançoso, sentiu a decepção do outro, visando que ele o olhava como se o mundo fosse acabar. Um sentimento de derrota tão palpável que seria capaz de agarrar com as próprias mãos; decepção.

- Não importa, Souji. - O outro sorriu novamente, um sorriso sincero, não haviam tristezas ou arrependimentos, talvez em muito tempo aquele fora o primeiro sorriso sincero que havia dado. Não importava mesmo, talvez fosse doer, talvez ele fosse sentir uma dor tão profunda que fosse capaz de gritar, capaz de destruir a si mesmo, mas ele não queria, de forma alguma, perder a chance de estar com ele. Os olhares se cruzaram e promessas mudas foram feitas ali, Souji aproximou-se, abraçando-o e quando ele se sentiu envolto por aqueles braços todos os seus medos e temores se extinguiram, ele sabia, que mesmo sem uma palavra sequer, aquela era uma promessa, sabia que mesmo que Souji não dissesse literalmente o que sentia, o sentimento era válido e real. - Não importa... - Murmurou novamente e então ambos se afastaram, mas somente o suficiente para que pudessem se olhar de novo, ambos se aproximaram, sentindo a respiração um do outro. Sabiam que aquilo era abominável, que aquilo era errado, mas nada mais importava, porque o que sentiam era verdadeiro. E então já não havia mais visão alguma, pois ambos cerravam os olhos, entregando-se há um beijo intenso, beijo este que fora tão bom que o tempo parecia parar. Não havia mais vento, não havia mais frio, não haviam mais duvidas e nem dores, apenas ambos, amando-se sinceramente e sem nenhuma espécie de represalha. Não havia tempo ou qualquer outra coisa, separaram-se, somente para unirem-se mais uma vez num beijo mais intenso e então ambos desapareceram do corredor, embrenhando-se no quarto de Hajime e ali ambos se entregaram totalmente um ao outro, tornando-se um só.

In this world you tried
Not leaving me alone behind
There's no other way
I prayed to the gods let him stay
The memories ease the pain inside, now I know why

All of my memories keep you near
In silent moments imagine you be here
All of my memories keep you near
Your silent whispers, silent tears

Made me promise I'd try
To find my way back in this life
I hope there is a way
To give me a sign you're ok
Reminds me again it's worth it all, so I can go home


- Aishiteru. - Murmurou entre as lágrimas, observando o túmulo frio, ajoelhado sobre a terra seca, tocava o nome que ali estava escrito, sentindo a tristeza consumi-lo. - Aishiteru... - Murmurou novamente como se aquelas palavras pudessem por fim alcançar aquela pessoa, abraçando-se a lápide, rezando para que ao menos ele pudesse ouvir, escutar aquela confissão, já que em vida ele jamais havia dito. Ele não poderia, não queriam que a despedida fosse ainda mais triste e ele nem ao menos pudera vê-lo. Separados por uma guerra, separados por uma barreira intransponível, a morte prematura do capitão chegara aos ouvidos de Saitou, mas ele não podia fazer nada, ele nem sequer teve a chance de dizer o quanto o amava. Mas ele sabia, sabia que Souji era o que era e ele o aceitava daquela maneira. Teimoso, indomável, mas era honrado. E fora justamente aquela ‘honra’ que o fizera continuar, mesmo sabendo que ele não poderia sair vivo daquela batalha. Por mais doloroso que fosse ele se orgulhava, sim, ele se orgulhava profundamente.

All of my memories keep you near
In silent moments imagine you be here
All of my memories keep you near
Your silent whispers, silent tears

Together in all these memories
I see your smile
All the memories I hold dear
Darling, you know I will love you 'til the end of time


A perda de todos os membros do Shinsengumi haviam sido dolorosas, mas aquela era sua pessoa especial, a única capaz de enxergar através de sua máscara, alguém que talvez pudesse enfim entender o que ele pensava com apenas um simples gesto. Um olhar, seu silêncio, Souji o completava, sua partida deixara uma marca no ex-capitão. Uma marca que ninguém poderia apagar, algo nele havia mudado, ele estava incompleto, vazio. Totalmente preso em suas lembranças, seus arrependimentos, mas não podia mudar o passado. E tampouco o faria se pudesse retornar, sabia que palavras não iriam mudar os ideais e a índole do outro. Ainda de olhos fechados fizera uma prece, rezando para que o vento pudesse levar aquelas palavras diretamente ao companheiro, almejando que talvez em outra vida pudessem enfim se encontrar. Talvez em outras formas, talvez num ambiente diferente e então aquela história poderia ter um final diferente. Ergueu-se com dificuldade, caminhando lentamente para longe, parou, por fim se virando e olhando mais uma vez para onde ficava a lápide simbólica, sorriu, sentindo algo o aquecer. Abraçou o próprio corpo, sentindo-se quente como há muito não se sentia, ele podia sentir, de algum modo ele sabia, Souji estava ali, abraçando-o. Fechou os olhos enquanto aquele sentimento o tocava profundamente e tão rápido como começou, se findou. - Sayonara Souji... - E então partiu.


All of my memories keep you near
In silent moments imagine you be here
All of my memories keep you near
Your silent whispers, silent tears

All of my memories....


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Notas finais do capítulo

Eis o final... Espero que tenham gostado. Eu escrevi essa história já faz um bom tempo, mas achei por bem postá-la hoje. Deixando claro que ela já está em outro site, mas é de minha autoria, portanto, não se preocupem se acabarem vendo por aí. xD