Leiam as notas finais

P.O.V Nathan

Quando Lucy saiu da garagem fiquei ali parado perdido em pensamentos.

Já haviam se passado quatro meses desde o dia em que ela me chamou para sair, desde então eu tento me aproximar dela, o que não foi fácil. Lucy é aquele tipo de pessoa que você olha nos olhos e vê refletido exatamente o que o coração está sentindo; no caso dela, dor e mágoa eram predominantes.

Dava para perceber claramente que algo muito ruim havia acontecido no passado dela e que isso a traumatizou de diversas formas, gerando sua personalidade fechada. Sempre fora um mistério o fato de Lucy namorar Sam dado que os mundos deles obviamente eram de galáxias distintas, mas nas poucas vezes que ela conversava comigo sobre isso, pude entender um pouco: ela queria uma fachada, queria ser alguém que não tivesse passado pelo o que o que ela passou.

Ah sim, não podemos esquecer a tendência que ela tem de usar a bebida como válvula de escape. De uns dois meses para cá venho tentando ajudar ela com isso, ajuda-la a pelo menos maneirar, porém não irá ser um trabalho fácil, já que para conseguir, preciso saber o que a leva a isso, preciso que ela confie em mim cem por cento, e isso vai demorar.

– Hey cara, pega aquele saco de batatinhas para mim? – Abri a porta e encontrei Jason esparramado no sofá como sempre.

– Você não ia dormir? – Perguntei irritado por ele ter atrapalhado quando erámos apenas eu e Lucy que ocupávamos o sofá, mas fui buscar as batatinhas.

– Até parece, é meia noite agora, mas você e a docinho estavam se comendo pelos olhos tão intensamente que eu cansei de segurar vela - Ele respondeu enquanto abria o saco de batatinhas.

Suspirei alto e me sentei na poltrona, acompanhando o jogo que ele assistia. Revirei os olhos, Jason sempre estava assistindo algum jogo.

– Hey, você não vai se formar nunca preguiçoso? – Perguntei e recebi uma batatinha na cara.

– A culpa não é minha ok?

– Ah claro, porque foi a força misteriosa que fez você passar quase dois anos pipocando de faculdade em faculdade – Eu ri e ele revirou os olhos.

– Eu só queria ter certeza do que gostaria de fazer. – Ele respondeu com os olhos ainda grudados na televisão – Mas sabe me magoa saber que você não me apoia – Ele limpou as “lágrimas” com o dorso da mão e eu taquei uma almofada nele – Hey! Mas não se preocupe logo você vai se livrar de mim se é isso que você quer.

– Deixa de drama Jason! – Eu ria enquanto ele se abanava exageradamente – Mas sério, não condigo imaginar você como um advogado... Sabe, seguindo regras e essas coisas.

– Obrigada pela parte que me toca – Eu ri mais uma vez enquanto via a expressão de Jason ficar séria - Mas mudando de assunto, a Lucy já procurou ajuda... Sei lá, Alcoólicos Anônimos?

– Olha quem fala.

– Não cara estou falando sério, ela parece que teve muitos problemas na vida.

– Desde quando você se preocupa? Agora a pouco estava entrando em guerra com ela – Disse tomando dele o pacote de batatinhas, que já estava no final.

– Ah, mas é divertido vê ela vermelha de respondendo a altura – Ele sorriu cínico - Mas isso não quer que sou um monstro frio e sem coração. – Ah claro, porque solidariedade é seu nome do meio pensei.

– Ela só... Passou por coisa demais – Olhei para o nada, não sabia se falara o correto, eu não sabia.

– E por acaso você sabe o que foi?

– Não, mas mesmo se soubesse não te contaria – Ele deu de ombros e eu o encarei sério – Desculpe, mas esse não é o tipo de coisa que que sairia contando, mesmo para você.

– Não, eu entendo, mas é só que ela não é o tipo de garota com quem você costuma sair – Ele me encarava como se fosse para provar algo a si mesmo.

– E agora eu tenho um tipo? – Perguntei sem entender o que ele quis dizer.

– Não trouxa, o que eu quis dizer é que ela é... Meio depressiva sabe... Das garotas que você já trouxe aqui nenhuma acabou com nosso estoque de cervejas. Ela só é diferente das suas ex’s. – Definitivamente Lucy era diferente, mas eu tinha medo do por que.

– Jason, eu entendo o que você está tentando dizer, mas de certo modo, eu me sinto responsável pela Lucy – Me via tentando explicara a ele algo que eu mesmo não havia entendido.

– Só porque você a salvou naquele dia não significa que você seja algum tipo de guardião dela – Agora ele estava sentando me encarando e a televisão desligada.

– Eu sei, mas... Eu quero, eu... Olha, eu não sei porque, mas eu só... Preciso.

– Você gosta dela – Jason disse isso na maior tranquilidade enquanto enchia a boca com mais batatinhas, que acabaram.

– Não é assim, eu só quero ajuda-la. Apesar de não parecer, nós somos amigos, e é isso que amigos fazem – Ergui uma sobrancelha na direção dele e recebi uma risadinha como resposta.

– Ah claro, aquele beijo que eu vi realmente era bem amigável.

– Não enche isso só aconteceu. Se por acaso eu e ela tivermos algo um dia, pode apostar que esse dia não é amanhã, nem tão em breve. Não antes de eu saber o que aconteceu com ela, não antes de eu ajuda-la e cara, vai demorar – Será que eu realmente estava disposto a ajudar Lucy, por mais que ela não me desse espaço para isso?

– Acha que é tão sério assim? – Ele perguntou e eu assenti com a cabeça – Bem, então toda a sorte do mudo para você.

– “Oh Nathan, eu sou sensível e me preocupo com os outros” – Tentei imitar sua voz.

– E sou, mas eu não me sinto responsável por ela – Ele deu um longo suspiro - Porém sou seu amigo, se precisar estou aqui.

– Obrigada, mas acho que agora eu vou dormir.

– Ah nem vem. Sério mesmo que você vai perder este jogão? – Jason parecia ultrajado por eu me recusar a passar o resto do segundo tempo assistindo – Ora vamos Nathan, a quanto tempo nós não sentamos e vemos um bom jogo?

Era verdade, até mesmo antes de eu conhecer Lucy fazia um tempo desde que eu e Jason não fazíamos esse tipo de coisa; ele ocupado em terminar a faculdade e eu ocupado com a firma de fotografia.

– Ok, eu assisto – Falei derrotado voltando para a poltrona – Mas então, Jason o pegador anda parado nesse tempo?

Jason riu e assim se seguiu uma longa conversa sobre as mulheres que tinha na faculdade e como metade já caíram em seus feitiços de Bad Boy, senti pena delas.