E então as pétalas me envolveram e eu pude finalmente me lembrar dele. O homem que eu amava. Era como se depois de tudo, aquele pedacinho de memória que eu tinha guardado no fundo do meu peito, me fizesse perceber.

– Estou de volta. – disse em meio às lágrimas - De volta para a minha pessoa mais importante!

– Você me fez esperar tantos anos... – ele disse, com os olhos levemente marejados e um sorriso. Sim, um sorriso. Parecia que pela primeira vez em tanto tempo, ele estava feliz em me ver. – Você está terrivelmente atrasada, sabia?

Eu...não tinha palavras. Aliás, estas não me pareciam suficientes. Nada parecia. Gritei seu nome e o abracei, como se minha vida dependesse disso. E sinceramente, dependia.

Sorri feito boba. Como sempre fazia. Era isso que eu era... uma boba. A mais feliz do mundo. Ioryogi estava certo. Queria que ele estivesse aqui para ver isso.

Fujimoto me abraçou mais forte e beijou o topo de minha cabeça.

– Isso é um sonho? – perguntou

– Sonhos são como desejos, - dirigi meu olhar para a cerejeira, em frente à nossa janela - então eu diria que sim.

–Minha pequena – sussurrou – casa comigo?

– O quê? – a pergunta tinha sido repentina demais

– Certo – ele me segurou fortemente, fazendo meus pés saírem do chão e me sentou no banquinho do piano, se ajoelhando e pegando minha mão em seguida – Hanato Kobato?

– Sim? – respondi da mesma forma que fazia quando Ioryogi me chamava pelo nome completo

– Aceita se casar com esse cara chato, mal-humorado e ranzinza?

– Sim! - queria dizer algo mais, mas minha voz falhou, e as palavras pareciam se esconder na minha garganta

– Eu te amo. Não sei como fui burro o bastante para não perceber...

Ele se levantou e avançou direto para meus lábios, em um beijo desesperado. Nos separamos por falta de ar, e enquanto me tocava a face, eu me perdia na  imensidão de seus orbes verdes.

Lhe depositei um selinho e vi seus olhos se fecharem com o ato, seu rosto sendo tomado por um largo sorriso.

Aproveitei a oportunidade para abrir a porta e correr pelos vastos campos floridos. Fujimoto percebeu um pouco depois,  quando gritou pelo meu nome e passou a me perseguir.

Eu era lerda, mas a distância entre nós era tão grande que eu não deveria me preocupar, né? Engano meu. Apenas senti os braços fortes contornando minha cintura, me fazendo parar. Quando pensou que já havia me acalmado,  deslizou as mãos até meus ombros e aconchegou a cabeça entre meus cabelos.

Fugi denovo. Achava extremamente atraente a ideia de fazê-lo me persiguir, afinal, era eu quem sempre o seguia, para onde quer que fosse. Mas desta vez não fui muito longe: mal dei dez passos, e já tropecei. E Fujimoto-san caiu em cima de mim. Parecíamos um casal de idiotas.

Rolamos pela grama, ofegantes, e ele novamente passou os braços pelo meu corpo, firme.

- Desta vez - sussurrou no meu ouvido -  eu não tenho a intenção de te deixar fugir.