A deusa perdida escrita por Nina C Sartori


Capítulo 21
Esclarecimento




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O garoto me encarava totalmente perplexo. Depois ficou vermelho, demonstrava raiva.

— Por que só aparecer agora? Por que só atender ao meu pedido agora?

Suspirei. Tenho que ter toda a paciência e calma do mundo para ter essa conversa.

— Não podia aparecer, tinham outras coisas em jogo.

— Outras coisas? E quanto a mim? Não sente nada a respeito do seu filho?

— Claro que sinto algo por você, mas não poderia arriscar a sua vida e a de seu pai. Tinha que os proteger. Por isso me mantive distante, só observando de longe.

Ele estava analisando o que eu tinha dito.

— Não sei se acredito. Eu sei que os deuses não podem ter contato com seus filhos com mortais, mas sempre ouvi meus amigos falando que o seu pai ou mãe davam um jeito de falar com eles, estar perto. Mas comigo isso nunca aconteceu.

— Nunca? Estou bem em sua frente! – Elevei um pouco a voz.

— Agora! Mas antes nunca tive se quer um sinal seu ou outra coisa vindo de você. Nunca se importou comigo. – Ele usou o mesmo tom que o meu. De raiva.

Eu estava começando a perder a paciência. Fechei os olhos e apertei a ponte do nariz.

— Se eu não me importasse, não te convocaria para o meu palácio e você continuaria vivendo sua vida, fazendo orações para mim, pedindo que te reconhecesse e continuaria mandando recadinhos com insultos para uma deusa que não estava se importando.

Percebi que ele ficou calado, então resolvi abrir os olhos e observa-lo. Agora estava com uma expressão mais controlada.

— Então me conte o porquê de todos esses anos não aparecer.

— Eu sei que você é um garoto esperto e sabe que estamos num momento delicado. É perigoso andar sozinho. O inimigo ganha forças a cada dia, temos que ser cautelosos e essa cautela que estou usando, tentando mantê-lo vivo. Não posso reconhecê-lo como meu filho e nem ter contato direto com você. Os outros deuses não podem saber que você é o meu filho, isso acabará em um desastre. – Tentei dizer o máximo que podia. Os problemas de um deus ficam com ele. Envolver seus filhos semideuses é muito perigoso.

Will ficou calado por muito tempo, sua expressão era séria e algo o incomodava muito. Então ele me olhou friamente.

— Sei que não quer me contar a verdade.

— Você não entende o que está em jogo...

— O quê está em jogo? – Ele gritou e deixou os braços um pouco levantados ao lado do corpo – Se me contar com certeza irei entender. – Um redemoinho começou a formar em seus pés.

— Controle os seus poderes, não podemos chamar atenção. Não posso contar. – Respondi cautelosa.

— Não pode ou não quer? – Ele passou a mão no cabelo e riu sem emoção – Todos esses anos e nenhum sinal. Todos esses anos e nenhum vestígio da minha mãe. Depois de quinze anos ter passado, ela aparece como uma fugitiva em meu sonho, tentando pedir o meu perdão por estar longe. E agora que tenta explicar, não me diz a verdade.

Fecho minhas mãos com força ao lado do meu corpo. Toda aquela situação estava aumentando a minha raiva.

— Quer tanto a verdade? Então terá, garoto insolente. Fiquei perto de você até os seus dois anos de idade. Não poderia mais vê-lo, tinha que voltar aos meus ofícios como deusa, se eu não voltasse iria chamar a atenção demais para mim e os meus passos estavam sendo vigiados de perto por Zeus. Depois disso só pude acompanha-lo de longe. Satisfeito? – O fuzilei com os olhos.

Ele não deu o braço a torcer, continuava com a mesma expressão.

— Por que você estava sendo vigiada por Zeus?

— O que um deus faz ninguém precisa saber, só se ele permitir.

Na realidade eu não queria contar as minhas ações do passado. Tinha me rebelado um pouco das regras e abusado demais da sorte, até ser advertida e vigiada. Will riu.

— Burlou as regras. Entendo. Mas até agora não me deu uma justificativa convincente de você não me reconhecer como seu filho.

Passei a mão pelo meu rosto e depois fui me sentar em meu trono. O meu bastão vibrava em pé ao lado do trono. Ele sentia a minha raiva.

— Creio que está ciente que não deve abusar da sorte quando está perto de um deus. Ainda mais uma deusa das tempestades. Dose suas palavras.

— Sei disso, mas também sei que você não irá fazer nada comigo, afinal sou o seu filho. – Ele encarou os meus olhos e depois chegou mais perto do meu trono, sorrindo de canto – A propósito a sua informação fora útil, há muito tempo estava querendo saber de que deusa eu era filho e acabo de descobrir que sou filho de uma deusa menor, mais conhecida como Alexis.

Levantei uma sobrancelha. O garoto estava mesmo abusando da sorte.

— Então já ouviu falar de mim?

— Responda a minha pergunta primeiro que depois irei responder a sua. – Sorri.

— Vejo que tem bastante do meu temperamento em você. Estou sendo caçada e pretendo não arriscar aqueles que amo.

Ele ficou um pouco surpreso com o que acabei de dizer, mas voltou para a expressão séria.

— Já tinha ouvido falar de você antes. A sua fama não é das boas, mas dá para aceitar certas atitudes.

— Típico. Cada deus faz o que quer de sua vida e poder, então não me importo e nem me arrependo do que já fiz.

— Frase de uma verdadeira orgulhosa.

— Orgulhosa e mandona. Agora que já sabe de tudo, pode ir.

Ele olhou a sala do trono, parecia que queria guardar cada detalhe. Depois me olhou, estava com a expressão mais suave.

— Nem tudo.

— O que quer saber?

— Tenho algum irmão?

— Não. Você é o meu único filho, Will.

Ele assentiu e ficou em silêncio um pouco, parecia que não queria ir embora. Quando espiei em seus pensamentos, percebi que não queria. Ele estava gostando da minha presença. Se referia a mim em seus pensamentos como sua mãe. Sorri depois que vi a pergunta contida ali.

— Não sei se poderemos nos ver novamente, mas se tivermos chance, te verei em seus sonhos.

Ele concordou e sorriu. O primeiro sorriso de felicidade depois daquela conversa perturbadora.


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Notas finais do capítulo

Será que tudo ficará tão bem?
Beijos.