Fique escrita por Vanessa Fontoura


Capítulo 33
Capítulo 33. Babi


Notas iniciais do capítulo

"Em metáforas, meu coração estava cheio de hematomas feios e grandes, só que como todos os hematomas, uma hora eles saram e a gente nem lembra mais em que parte do corpo eles estavam, nós só lembramos que um dia eles estiveram na gente."



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– Bárbara! Babi! Pelo amor de Deus sai desse banheiro. – gritou Elisa comigo.

– só um minuto. – eu disse. – aliás, uns cinco minutos.

– o que tu tá fazendo?

– depilando as pernas, ou você acha que eu vou usar aquele vestido maravilhoso que está em cima da cama com as pernas de um lobisomem?

– suas pernas estão parecendo as de um lobisomem? Nossa amiga, que nojento. – brincou Elisa.

– cala a boca!

Aquela loucura toda estava sendo por que era 22 de dezembro, dia da nossa formatura do 3º ano. Eu já estava a meia hora no banheiro e não conseguia depilar todos os meus pelos a tempo de Elisa tomar o banho dela.

– é lindo esse vestido mesmo, seria uma pena se eu acidentalmente derrubasse esse suco de uva concentrado que eu estou tomando nele. – disse ela.

Nem pensei duas vezes, abri a porta do banheiro correndo e ela me olhou rindo e balançando as mãos, a cachorra estava blefando. Houve uma luta corporal entre nós duas que acabou comigo gritando rendição e Elisa indo tomar a chuveirada da vitória. Terminei minhas pernas na cadeira da escrivaninha e vesti o roupão pra não ficar andando de roupa íntima pelo quarto.

Depois disso, fiz a minha maquiagem e sequei o cabelo com o secador. Achei legal fazer uns cachos nele também, Elisa me ajudou. Fiz o penteado nela, um meio-coque maravilhoso que ficou lindo nos cabelos louros escurecidos dela.

No final estávamos ambas deslumbrantes, pelo menos a meu ver, tiramos várias fotos e paramos para nos olhar no espelho. Elisa estava usando um vestido vermelho atrai-vampiro, lindo, meio colado ao corpo, mas não vulgar como esses vestidos de piriguete em balada. Ela estava comportada para subir a passarela e pegar o canudo. E eu, eu estava vestindo a coisa mais perfeita do mundo, um vestido rosa antigo de renda com a saia armada e sapatos Chanel, eu nem acredito que eu estava vestindo Chanel, mas foi um dos presentes da tia Rosana para mim de formatura.

Prontas, fomos correndo para o pátio, onde estavam todos os nossos colegas de aula. Eu estava descendo as escadas quando tive um daqueles momentos “filme” com Leo. Ele estava parado no pé da escada me olhando com cara de quem via um anjo e quando eu cheguei até ele, ele beijou as costas da minha mão direita.

A cerimônia foi maçante, cinco discursos? Pra que tantos? Mas no fim todos choramos ao nos abraçar, e tiramos quinhentas fotos juntos. Houve uma foto, uma foto que ah! Eu vou querer guardar a vida toda. Eu sendo abraçada por Leo e Elisa, mais por Leo do que por Elisa, acho que ele ainda sente alguma coisa por mim, mas não quero pensar muito nisso. Meu pai não pôde ir a formatura, mas me mandou flores, Nando, Raquel e Gabriel estavam na plateia e foram os que mais fizeram barulhos quando eu fui chamada.

Houve uma festa naquela noite, onde todos nos divertimos muito, dancei com Leo e Gabriel a noite toda e fiquei feliz por que nenhum dos dois quis me beijar, nem mesmo para dar sorte.

Mas no outro dia pela manhã, esse sim foi o melhor de todos. Foi quando saiu o resultado do intercâmbio.

Estávamos na sala de computadores, apenas nos dois por que a maioria dos alunos já tinham ido embora. Leo abriu o site com os dedos tremendo.

– pronta? – ele me perguntou, estava com a seta do mouse posicionada para abrir a página de selecionados.

– estou. – falei. – não espera, não estou. – falei em seguida.

– o que foi?

– e se eu não tiver passado?

– somos tão jovens, Babi, ainda temos tempo. – ele falou me tranquilizando.

– é, você tem razão. – concordei.

Ele tomou folego. – posso agora?

– pode. Quer dizer, não!

– o que foi agora? – ele perguntou.

Grudei meus braços envolta de seu pescoço e dei um beijo de tirar o fôlego em seus lábios.

– beijo para dar sorte.

Ele sorriu e me puxou pela cintura. – quero que tu me deseje sorte sempre!

Eu ri baixo. – estou pronta para ver o resultado.

– ótimo, vou esperar pelo beijo de agradecimento. – brincou. 

Leo enfim clicou e eu fechei os olhos, foi um momento longo até eu abrir os olhos olhar para Leo e ver que ele estava sorrindo.

Ele me beijou outra vez.

– o que foi isso?

– beijo de agradecimento. – ele explicou.

Arregalei os olhos – isso quer dizer que...

Me atrevi a olhar para a tela do computador e lá estava minha foto e meu nome. Bárbara Ferazzo Marconi, aprovada para a bolsa de intercâmbio em Londres, Inglaterra. Dei um berro de felicidade e enchi o rosto de Leo com beijos. Ele me rodopiou pelo ar feliz, fora só aí que eu me dei conta de que eu não tinha visto se ele havia passado também.  

– e você Leo?

Olhei a tela do computador e ao lado da foto de Leo estava escrito: Candidato parcialmente aprovado.

– ah, não! O que isso quer dizer?

– que eu fiquei como suplente.

– ah, sinto muito. Mas ainda tem chance! – falei, tentando animá-lo.

Ele me encarou sorrindo. – está vendo essa minha cara? To feliz, to feliz por que tu conseguiu!

– mas, eu queria que você tivesse conseguido também. – revelei.

– por quê?

– por que eu queria que você fosse comigo pra Londres. Eu estava gostando de ter sorte e agradecimento. – respondi. Ele passou a mão bem levemente pelo meu rosto. – você ainda me ama, né Leo.

– amo. Bastante. – ele respondeu, embora eu tivesse confirmado e não perguntado. – e eu sei que tu vai embora e não vamos mais nos ver. Só que tu tá feliz, e te ver feliz depois de tudo o que tu passou é simplesmente lucro.

Senti lágrimas nos olhos e então abracei a cintura dele e fiquei com o ouvido no seu peito ouvindo o batimento acelerado do seu coração. Leo beijou minha cabeça e me balançou.

Engoli o choro. – acho que eu também amo você. – sussurrei, mas ele não ouviu meu sussurro.

Naquele momento em que minha vida estava finalmente se resolvendo, começando a começar, eu senti que tinham coisas que não iriam me deixar partir se eu não colocasse um ponto final nelas. A primeira delas era Eric. Eu não tive muito tempo de pensar nele durante esses meses que voltei. Mais uma vez o milagroso Leonardo fez milagres comigo e conseguiu finalmente me deixar caidinha por ele, claro, não tanto quando eu caía pelo Eric, mas a sensação que eu tinha quando eu estava com Eric era que eu estava sempre caindo e ele nunca estava por perto para me levantar. Em metáforas, meu coração estava cheio de hematomas feios e grandes, só que como todos os hematomas, uma hora eles saram e a gente nem lembra mais em que parte do corpo eles estavam, nós só lembramos que um dia eles estiveram na gente.

Eric foi o melhor professor que tive na vida. Ele me ensinou a amar alguém incondicionalmente e me ensinou que o amor se desgasta. Não sei se é certa essa história de que um dia irá chegar alguém que irá ficar pra sempre, mas é nela que eu estou acreditando agora. Leo não foi selecionado para o programa e vai tentar o vestibular em São Paulo com Elisa. Eu sei que estou me apaixonando por ele e que isso era o esperado, mas acho que não vou ter nem tempo de desfrutar essa paixão, vou embora no primeiro do ano para Londres. Já está tudo acertado. Só volto no inverno para o casamento do meu irmão.

 Acho que Deus está me dando a chance de ser outra pessoa em outro lugar. Uma chance de realmente viver um amor que valha a pena, mesmo que não dure. Ou Ele está apenas me dando uma chance. Só sei que antes de ir embora escrevi duas cartas que dariam o ponto final na minha história no Brasil. Uma a Eric, e outra ao meu pai.

Eu sei que eu não teria coragem de ir embora sem que eles soubessem os meus sentimentos. Entreguei as duas cartas ao meu melhor amigo no mundo inteiro, aquele que durante toda a minha história foi o estepe, que me segurou e não me deixou cair. Gabriel me garantiu que ambas seriam entregues em mãos e só assim que pude sentar na poltrona do avião e dar adeus ao Rio de Janeiro, ao Rio Grande do Sul, a tudo. Eu posso ter acabado a história sozinha, mas e daí! Há sete bilhões de pessoas lá fora! Há inúmeros países a se visitar, há inúmeras vidas pra se viver, e enfim, sou muito jovem para pensar que tudo tinha acabado. Na verdade, estava apenas... Começando.


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