A Chave-estrela escrita por TaediBear


Capítulo 10
No qual há aquarianus de tons diferentes


Notas iniciais do capítulo

Holy shit, o título não coube ali e-e
De qualquer forma, desculpem a demora! Nem percebi que demorei DDD:
Aqui está um novo capítulo!
Boa leitura.



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Durante todo o caminho ao Reino do Lago, Io nada disse. Haru estava, em verdade, preocupado com seu melhor amigo, afinal nem mesmo seu ronco preenchia os ouvidos atentos do menino. Dava, de tempos em tempos, uma olhada para o capuz, a fim de saber se Io não caíra de lá, como já o fizera várias vezes, e sempre via os pelos roxos movendo-se à leve brisa da floresta. Suspirou. Desde que eles se reencontraram na entrada do Reino da Floresta, Io não estava mais se gabando da superioridade dos lumpy, mas não era apenas isso que assustava o garoto. O que mais o machucava, em verdade, era o fato de que havia algo acontecendo com seu melhor amigo, e ele não lhe contaria o que era.

Então, ele pôde ouvir o barulho de água um pouco mais a frente. Seus pés seguiram mais rápido pelo caminho, a fim de alcançar logo o lago que formava o próximo reino – como uma forma de distrair-se da preocupação que sentia por Io.

O corpo de água, a menos de cinquenta metros, brilhava sob a luz forte do sol. Os reflexos ardiam contra os olhos azuis do menino, que os estreitou. À beira do lago, havia alguém, uma criatura que nunca antes vira. Aproximou-se mais a fim de focar aquela imagem turva por causa do sol. Parecia uma mistura de peixe com humano. Sua pele era de uma tonalidade clara de azul, marcada por escamas brilhantes, e seu cabelo, de um tom aquoso de verde, estava preso, suas pontas a cair sobre o coque.  A criatura balançava os pés sobre a água, causando o barulho que Haru ouvira, e vestia um estranho tecido azul, que se enrolava em seu corpo, amarrado apenas por uma faixa escura com um complicado laço.

Haru não sabia se caminhava em direção àquele ser ou ficava a uma distância segura dele. Talvez fosse perigoso, como Ellyon ou Cravo, ou gentil, como Dandelion, Liam e Elvellon. Ele não conseguia dizer apenas ao olhar para aquela estranha criatura.

Então, olhos amarelos miraram-no, e Haru tentou esconder-se atrás de uma árvore. A criatura levantou-se da beira do lago e correu em direção à floresta. Havia certa agressividade em seu olhar amarelado, o que fez os pelos de Haru arrepiarem-se. Não parecia ser uma criatura amigável.

O ser aproximou-se da árvore em cuja sombra o menino encontrara abrigo. Haru mal respirava e tinha quase certeza de que ele podia ouvir seu batimento cardíaco. Seu coração parecia querer fugir de seu peito, tal era seu medo. Ouviu os pés escamosos pisarem na grama ao redor da árvore e fechou os olhos, esperando o pior.

Então, ouviu outra voz:

- Phelan?

Os passos pararam, e a criatura voltou seu rosto para o lago. Podia-se ver apenas a cabeça de outro ser parecido com ele, diferente em apenas dois aspectos: o cabelo esverdeado estava solto e o tom de azul que lhe marcava a pele era escuro. Phelan correu em direção ao lago e jogou-se de joelhos em frente ao outro. Seus dedos tocaram-lhe o rosto escuro.

- Keefe – murmurou, sorrisos estampados em ambos os rostos.

Keefe apoiou suas mãos na terra que rodeava o lago e impulsionou-se para cima, ao mesmo tempo em que Phelan abaixava o rosto ainda mais. Seus lábios encaixaram-se perfeitamente, como se fosse feitos um para o outro. Haru observava, ainda escondido, aquela cena com admiração. Assim como Liam e Elvellon, Phelan e Keefe amavam-se, e o menino conseguia perceber esse fato apenas por aquele encaixar de lábios. Io remexeu-se no capuz, a fim de descobrir o que estava acontecendo, e, quando seus olhos encontraram as duas criaturas no lago, sua antena balançou levemente, como se também entendesse a perfeição daquele momento.

Então, eles se separaram e sorriram.

Os olhos do lumpy estreitaram-se, como se ele estivesse tentando observar algo no lago. Haru estava tão distraído com as duas criaturas que não percebeu as ações de Io e de Keefe. Os olhos amarelados do ser voltaram-se para o garoto e arregalaram-se. Haru só percebeu quando o movimento brusco de Keefe saindo do lago espalhou água para todos os lados e Phelan virou-se para trás. O menino sabia que estavam olhando para ele e tentou esconder-se mais uma vez atrás da árvore. Contudo, quando se moveu de volta para a sombra, Io pulou de seu capuz e pousou no chão do caminho.

Haru tentou puxar o lumpy de volta para a sombra, mas Keefe e Phelan já estavam próximos demais. Os olhos amarelos deles observavam Io, e os três trocaram sorrisos, o que deixou o garoto deveras confuso.

- Keefe, meu bom aquarianu, há quanto tempo.

- Io! – ele ajoelhou-se no chão e abriu os braços, como se chamasse o lumpy para aproximar-se. – Senti saudades.

Io saltou contra o peito do aquarianu, que o abraçou com força. Então, colocou-o sobre sua cabeça, e eles começaram a conversar sobre acontecimentos do passado e sobre as vidas que seguiam. Phelan encostara-se à árvore que servia de esconderijo a Haru, que observava a tudo confusamente.

- Ei, garoto, pode sair agora. Se está com o Io, deve ser uma boa pessoa – murmurou.

Lentamente, o corpo pequeno de Haru surgiu, e ele olhou timidamente para Phelan. Naquele momento, em que estava mais próximo dele, podia perceber o quanto o aquarianu era mais alto que ele, tanto que Haru tinha que levantar o queixo para mirar seu rosto azul-claro. Os olhos amarelos dele voltaram-se ao menino.

- Você é baixo demais, não é?

Haru bufou.

- Desculpe por ter que fazê-lo abaixar a cabeça para me olhar – murmurou.

Phelan, então, sorriu amigavelmente. Não esperava por aquela reação por parte do aquarianu. Esperava que ele zombasse ainda mais dele – era o que os outros normalmente faziam.

- Phelan é gentil, garotinho. Ele não quis zombar de sua altura – a voz levemente fina do outro aquarianu invadiu os ouvidos de Haru. Meu nome é Keefe – estendeu a mão azul, com membranas entre os dedos -, e você deve ser o Haru.

O garoto voltou-se para Keefe. Diferente de Phelan, ele era mais baixo, e Haru percebeu o que ele tentava dizer sobre o outro aquarianu. Phelan não zombava de sua altura, ser baixo parecia ser um elogio por parte dele, pois Keefe era apenas poucos centímetros mais alto que Haru. Era como se Phelan o comparasse à pessoa que amava, o que fez o rosto do menino corar.

- Sim – ele entregou a mão a Keefe, que a apertou. – Desculpe por me esconder de vocês.

- Entendemos perfeitamente, Haru – respondeu, soltando a mão do garoto. – Nunca confie em ninguém que não conheça, certo?

O garoto balançou a cabeça positivamente. De alguma forma, Keefe parecia uma mãe falando com o filho. Ele possuía uma mistura perfeita entre amabilidade e dureza e sabia exatamente como ser amável enquanto aconselhava. Phelan, por outro lado, parecia um pai. Seu rosto revelava sua seriedade em relação a certos assuntos, enquanto seu sorriso, sua gentileza, e Haru pensava em seu pai e em como ele era daquela mesma forma.

Io saltou de volta para a cabeça dourada do garoto e voltou-se para os aquarianus, que estavam, mais uma vez, um ao lado do outro. Completavam-se, como peças de um quebra-cabeça, e Haru admirava-os por isso.

- Eu e Keefe nos conhecemos quando eu vim pela primeira vez ao Reino do Lago – Io dirigia-se ao menino enquanto falava. – Eu quase me afoguei e foi ele quem me salvou. Mas por que estão aqui, Keefe? Não deveriam estar no lago?

O aquarianu abaixou sua cabeça. Seus esverdeados cabelos longos caíram pelo seu corpo e esconderam seu rosto. Phelan puxou os fios para trás, pondo alguns atrás da orelha de Keefe, que agradeceu.

 - Pouco depois que nos encontramos, Io, o príncipe do Reino do Lago foi assassinado. Você sabe que a família real é formada por aquarianus de pele clara, certo? Então, descobriram que quem assassinou o príncipe tinha pele escura. Houve uma onda de julgamentos errados no reino. Os aquarianus azul-claros diziam que todos os aquarianus azul-escuros eram assassinos, ladrões e tudo o que era ruim. E, assim, o Reino do Lago começou a se dividir. São duas cidades agora: uma para aquarianus de pele escura e uma para os de pele clara, e nós não podemos nos misturar com os diferentes.

Io arregalou seus pequenos olhos negros. Na última visita que fizera ao Reino do Lago, viu os aquarianus como um povo deveras gentil e acolhedor. Mal conseguia imaginar que tudo aquilo pudesse acontecer. Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Haru indagou:

- Quer dizer que vocês dois estão tendo um romance proibido?

Pôde-se perceber o leve rubor que tomou as faces de ambos os aquarianus.

- Bem, sim – Phelan respondeu por Keefe, que estava envergonhado demais para falar.

Lembraram-se de que Haru presenciara o beijo deles.

Que destino horrível, o menino pensava. Phelan e Keefe foram feitos um para o outro, eram como peças de um quebra-cabeça! E, ainda assim, não podiam ficar juntos e tinham que deixar o reino para se encontrar. Havia uma pontada de raiva por toda aquela situação no peito de Haru, assim como havia determinação em seus olhos azuis.

Aproximou-se dos aquarianus com um sorriso estampado no rosto, uma expressão gentil que, de alguma forma, acalmava a tensão em Phelan e Keefe.

- Não se preocupem – disse. – Vou ajudá-los o máximo que eu puder! 


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Espero que tenham gostado, e até a próxima!
Takoyaki ~ o que acham de Phelan e Keefe em uma moita?