Naquela manhã eu não tinha me levantado muito
bem da cama.

Olhei para o relógio.Eram três da manhã e já era a quarta
vez que eu despertava do mesmo pesadelo horrível que vinha me perseguindo.

Eu
estava em um beco escuro.Tão escuro que eu estava tateando ás cegas,tentando
achar a saída mais com medo de sair do lugar.Depois de horas e horas caminhando
lentamente em vão,usando as paredes invisíveis para os meus olhos como apoio,eu
ouvi um grito.

Com
o susto inesperado,me abaixei,com os braços em volta dos joelhos,me abraçando
com força.Como dali eu fugiria se não conseguia vez minha própria sombra?

Ouvi
outro grito.Dessa vez ainda mais agoniante.

-Kate!-Alguém
gritou desesperada.-Fuja!

Como?Eu
tentei gritar de volta,mais o medo fez as palavras saírem como um sussurro.

Olhei
á minha volta.O silêncio se aponderou do lugar.De repente,vi uma fraca luz
surgir no fundo do beco.Segui-a,pronta para encontrar a saída.Andei com um
pouco de dificuldade.Minhas pernas estavam trêmulas.

Quando
cheguei perto da luz vi uma sombra.Uma sombra de um homem.

Parei
instantaneamente.

Antes
que eu pudesse imaginar,vi a face iluminada de Henry,o garoto da livraria,vindo
até mim.Sem saber porque,suspirei de alivio.

-Estou
perdida.-eu disse,tentando olha-lo melhor,mais a luz envolta dele era muito
forte.-Você sabe onde fica a saída?

Ele
começou a rir.Uma risada histérica e alta,que ecoava pelo beco escuro em que
nos encontrava-mos.Comecei a dar passos involutários para trás.

-Eu
não sou sua saída,Kate.-ele disse,com uma voz maliciosa-E você tem que
fugir...de mim!

Então
a luz que estava no rosto de Henry se foi,junto com ele.

E agora,graças a esse pesadelo horrível,eu estava cheia
de olheiras enormes envolta dos olhos verdes acinzentados,sob a pele de
marfim.Meus cabelos castanhos-avermelhados estava todo emaranhado em grandes
cachos.Eu teria aula daqui a pouco e estava com medo de voltar a dormir.

Resolvi ir tomar um banho demorado.eu não entendia muito
bem o porque desse sonho tão estranho e sem sentido.Talvez eu tivesse sonhado
com esse garoto porque ele apareceu e depois sumiu assim,de repente.E eu nunca
mais voltaria a ver ele novamente.Deixei a água morna do chuveiro cair sobre o
meu corpo e lavei os meu cabelos.Foi um custo fazer um penteado descente que
controla-se a rebeldia dos meus cachos enormes.Amarrei-o em um
rabo-de-cavalo,incapaz de conseguir prender os pequenos fios que se soltavam
involuntariamente na frente,formando uma pequena franja tapa-olhos.Vesti jeans
e uma blusa,com um casaco por cima.Hoje estava meio frio.

Daqui a pouco eu teria aula.

Já estávamos no segundo semestre do ano e eu não tinha
feito nenhum amigo.Claro,uma garota estranha e completamente sem graça,em uma
cidade nova,em uma escola nova.Obviamente,eu tinha um pequeno grupo de amigos
com que eu fazia as refeições na hora do intervalo e os os trabalhos em
grupo.Claro que isso não me fazia ser uma pessoa,digamos ‘popular’,o que em
varias situações fazem com que as pessoas te considerem uma nerd que só pensa
nos estudos.

E eu provavelmente era isso mesmo.Mais o que eu podia
fazer?Eu não tinha como ocupar meu tempo,e,a única coisa que me restava
fazer,era dedicar meu tempo ás minhas notas.Pelo menos alguma coisa eu era,ou
achava que eu fosse:inteligente.

Entrei na sala com o mesmo desânimo de todos os
dias.Algumas pessoas da minha classe ainda tentavam,inexplicavelmente,se
aproximarem de mim.Não sei o que as faziam acreditar que eu poderia,algum
dia,mudar o meu  comportamento.Uma dessas
pessoas era Victoria Welmer.Ela sempre fora muito gentil comigo e,além de
tudo,era a minha dupla nas aulas de biologia e aritimética.

Ela é ruiva e possui sardas marcantes no alto das maças
do rosto.Os olhos,grandes e verdes,destacavam sua pele branca,quase tão albina
quanto a minha.Não chegávamos a ser grandes amigas,mais sabíamos nos sentir bem
em nosso próprio silêncio.Afinal,Victoria parecia ser tão sozinha quanto eu.

Tinha também o lindo Marcus Gilbert.Era impressionante
como ele parecia mesmo gostar de mim.no começo,eu achei que ele apenas queria
uma nerd que fosse obrigada a fazer seus deveres de casa.Mais não tinha nada a
ver.Ele me olhava diferente.Mais isso não fazia diferença nenhuma para
mim.Nenhuma das vezes em que ele segurava a porta da classe para mim entrar ou
puxava minha cadeira no refeitório para me dar o lugar me fazia sentir frio na
barriga ou coisa do tipo.Eu apenas me sentia grata por ele ser tão legal comigo
ou gostar de mim sem ao menos me conhecer direito.

Era aula de história no primeiro tempo.E eu já me senti
esquivada.O meu professor de história,Sr.Hector,não parecia se simpatizar muito
comigo.Álias,todas as vezes em que eu abria a boca para falar algo em sua
aula,num esforço enorme de conseguir notas extras,ele ignorava-com muito
talento-as minhas tentativas frustadas.

Sentei-me no lugar de sempre,no fundo da sala.Os lugares
já estavam quase todos ocupados e o Sr.Hector já estava escrevendo alguma
matéria relacionada a “Romeu e Julieta” no quadro negro.Deixei os meus cabelos caírem
sobre o rosto,pois assim me sentia mais confortável e abri o meu caderno.

Involutáriamente,fitei a porta para onde todos olhavam.O
que havia ali que chamava tanta atenção?

Eu não podia acreditar.

O que ele estava fazendo aqui?

Era ele.