O que foi isso agora? Snow está homenageando minha possível morte? Estremeço quando vejo todas aquelas pessoas voltadas para mim. O silêncio perdura e os carreiristas do distrito dois, não me desgrudam os olhos.

- Então, bons Jogos Vorazes e que a sorte esteja sempre ao seu favor. – Snow termina e vira as costas.  Ainda estou me sentindo desconfortável pela situação. Olho para os carreiristas que ainda estão me encarando. O garoto dá um sorriso até que desvio o olhar para Merle que se aproxima. Ele nota os tributos me olhando e diz para que eu o siga.

Seguimos para o mesmo andar, e ao entrar, um frio sobe pelas minhas costas arrepiando cada pelo restante em meu corpo. A presença de Michaella nesse lugar é brutal. Não suportarei ficar aqui por muito tempo. Enquanto Liz deslumbra o local, sigo direto para meu quarto e tranco a porta para evitar incômodos. Às vezes pergunto a mim mesmo se não sinto falta do antigo eu. Sempre alegre, mesmo sabendo que talvez estivesse a alguns passos da morte. E a resposta é sempre sim, sinto muita falta do antigo Kramer, pois agora o que resta dele é apenas ódio e amargura.

Na primeira vez, esse era o momento certo para chorar, mas a tanta amargura em mim que minhas lágrimas secaram. Meu sono é perturbado por pesadelos constates envolvendo Michaella e Kaitlyn, me fazendo acordar várias vezes durante a noite.

Levanto antes de todo mundo, sigo para a cozinha e preparo um café daqueles. Ainda me resta muito tempo antes de eu ter que me organizar para o treinamento. Escuto as batidas de Zyra na porta. Ela vem e leva um susto quando me vê já de pé.

- Oh, já está acordado. – Ela diz às gargalhadas. – Vou pedir para que tragam o seu traje de treinamento. – Retribuo com um sorriso e balanço a cabeça positivamente.

Esse ano os uniformes eram menos ridículos. Roupas de abrigo normais e confortáveis. Visto-me e passo pela cozinha sem ao menos dizer bom dia para os recém acordados e vou direto para o centro de treinamento. Sozinho, tenho espaço para fazer o que bem entender. Tento arremessar algumas facas desastrosamente, treino com o arco e flecha e depois vou treinar meus saltos. Estava meio enferrujado, pois na prisão não tínhamos esse espaço, mas nada que eu não pegue o jeito aos poucos.

Pouco a pouco, os outros tributos vão chegando, a mesma mulher do ano passado entra e começa a falar:

- Na arena a maioria pode morrer de... – Interrompo-a e termino sua frase.

-... Causas naturais, como fome, frio, ou por alguma infecção. – Digo em tom de deboche. A mulher me encara e se aproxima.

- Acha que está com a bola toda senhor Kramer? – Ela provoca. – Se acha o espertinho quando na verdade tem apenas sorte de estar aqui. Mas não se esqueça que um raio nunca cai duas vezes em um mesmo lugar. – Ela diz me olhando fundo nos olhos com uma cara de poucos amigos. Apenas fico em silêncio e com um gesto digo:

- Prossiga. – Ela termina seu discurso e somos liberados para fazer o que queremos. Entendi perfeitamente sua metáfora. “Um raio nunca cai duas vezes em um mesmo lugar”. Isso quer dizer que não terei a mesma sorte dessa vez. Não tenho Kaitlyn para se por em frente a uma flecha por mim, nem mesmo tributos como Seimor e Sílica para me acolher.

Treino meus saltos quando a presença da garota do dois me deixa desconfortável. Dou um salto mortal e caio a sua frente. Ela deixa escapar um sorriso e bate palmas.

- É meio que estranho para nosso distrito fazer isso, mas... Você seria bem vindo em nossa aliança. – Ela diz. Dou um sorriso e respondo:

- Foi mal, mas tudo o que eu preciso está bem ali. – Digo apontando o dedo para Liz. Ela franze a testa e retruca:

- Ela? – Apenas faço que sim com a cabeça. – Você é que sabe. – Ela diz e vira as costas. Lembrei dos conselhos de Merle sobre conseguir patrocinadores, mas não quero interagir com nenhum carreirista. Pois eu e Lizbeth seremos os carreiristas do distrito 10 do nosso jeito. Pois voltaremos para casa CUSTE O QUE CUSTAR.