Kramers Torment escrita por Marcos Rafael


Capítulo 14
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Andamos pelos becos da vila em silêncio por mais ou menos uma hora. Assim que tomamos certa distância da cornucópia seguimos diretamente para onde Kândice correu.

Ainda não entendi o motivo pelo qual aceitei um aliado logo de cara. Lembro que na primeira vez encontrei Kait apenas no terceiro dia dentro da arena. Sabia que desta vez teria mais chances de fazer alianças pelo motivo de estar alí novamente, mas tenho o pressentimento de que arranjei aliados antes mesmo de saltar da minha plataforma e correr para a cornucópia.

Lembrando da cornucópia, a garota com o arco me veio na cabeça, tenho certeza absoluta que ela atraiu aquele bestante para me dar a oportunidade de correr. Mas isso não teria sentido algum, sendo que estamos aqui para abrir a garganta um do outro.

– Ahn... Onde é esse ponto de encontro mesmo? - Gerard interrompe meus pensamentos.

– Como posso ter um ponto de encontro se nem mesmo conheço o lugar? - Digo friamente. Ele apenas me olha confuso e coça a cabeça. Gerard era um cara grande até mesmo para uma pessoa de 18 anos. O rosto demonstrava força e brutalidade porém pouca inteligência. Os cabelos claros e arrepiados pareciam refletir a luz do sol.

– Ela é sua namorada? - Ele pergunta.

– O que? - Digo seguindo em frente e sem ao menos olhar para trás.

– A garota. A gente está procurando por ela. - Ele faz uma pausa. - Não é?

– Ela não é minha namorada. E sim, estamos procurando por ela.

– Sei. - Gerard suspira profundamente. - Isso soa como uma coisa boa. Sabe... ter uma namorada aqui diante desse perigo todo...

Não deixo ele terminar e ergo a mão gesticulando por silêncio. Até que os tiros dos canhões representando os mortos na cornucópia soam por toda a arena. Um, dois, três... Seis tiros de canhões.

– Apenas seis?!- Digo para mim mesmo.

– Isso ainda é pouco? -Intervem Gerard.

– Você nunca assistiu...? - Faço uma pausa e suspiro. - Ah, deixa pra lá. Você só deve saber que quanto mais mortos, menos inimigos. - Ele parece notar meu tom de deboche mas dá de ombros.

Um pouco mais adiante vejo que a vila terminava dando espaço para grandes pinheiros quase que entrelaçados formando um grande bosque. Meu nervosismo apenas aumentou pelo fato de ainda não termos encontrado Kândice.

– Ah! E voltando para o assunto da sua namorada...

– ELA NÃO É...! - Noto que me alterei. Baixando o tom da minha voz termino entredentes. - minha namorada. - Paro de andar e novamente deixo escapar um suspiro. - Olha, Gerard. Não estamos aqui para ser amigos. Quanto menos soubermos um do outro melhor será. Vai por mim, falo por experiência própria. Se eu e Kândice seremos namorados ou não, tudo depende se vamos sair daqui vivos, e para que isso aconteça, você vai ter que estar morto.

Ele parou e ficou ali me fitando com um par de grandes olhos azuis. Fiquei esperando uma resposta porém tudo o que recebi foi o silêncio.

– Qualé, agora você pode... - Ele não deixou eu terminar. Tampou minha boca com a mão e me puxou para trás de uma pequena varanda em ruínas me segurando por trás entrelaçando os braços em meu corpo. Tentei alcançar minhas facas porém a força dos braços de Gerard ao meu redor é esmagadora. Me contorcia feito um peixe fora d'agua tentando se livrar do seu abraço de urso até que sinto seu Hálito quente na minha orelha.

– Alí, veja!. - Ele cochicha em meu ouvido apontando o dedo para frente. Relaxo o meu corpo e sinto que a pressão de seus braços sobre mim diminuía. Meus olhos seguiram o caminho apontado por seu dedo que levava aos pinheiros. Entre eles alguma coisa se movia com velocidade, e quanto mais eu observava, mais aquele vulto cinzento ia ganhando forma até que reconheci um dos horrendos bestantes. Me livro dos braços de Gerard e me aproximo um pouco mais para ter uma melhor visão, claro, nunca saindo do esconderijo. Um grito feminino de pavor se misturou a rugidos ensurdecedores enquanto o vulto da criatura tentava relutantemente alcançar algo entre as árvores. Um tiro de canhão se seguiu. "Kândice" pensei temendo o pior.

– Você não acha que...

– Não sei! - Cortei Gerard quase de imediato. Não queria pensar na possibilidade de ser a Kândice. - Vamos esperar.

Algum tempo passou e a criatura parecia satisfeita. Ruídos estranhos começaram a ser emitidos do fundo de sua garganta. Parecia que a coisa estava prestes à vomitar. E não deu outra! A criatura vomitou algo e correu desaparecendo no meio das árvores. Lancei um olhar confuso para Gerard que apenas deu de ombros.

– Vamos lá. - Falei sacando uma das facas e tomando a dianteira.

– Porque você não me dá uma delas? - Gerard me questiona.

– Não confio em você o bastante. - Paro de andar e lanço um olhar sobre o meu ombro para o alto tributo e completo. - Ainda. - Parecendo satisfeito com a resposta ele me lança um sorriso.

Chegando onde a criatura estava, não fiquei muito contente em saber o que tinha voltado do estômago daquele bestante. No chão aos nossos pés estava uma bola gosmenta de roupas, pertences e ossos humanos. O cheiro era simplesmente insuportável. Puxei a minha camisa sobre o nariz e com a ponta da faca revirei o vômito em busca de alguma coisa. E alí estava ela, uma mochila. Kândice não tinha mochila alguma a não ser que tenha matado outro tributo, o que eu acho muito improvável. Uma onda de alívio repentina tomou conta de mim e fui obrigado a sorrir.

– Não é ela. - Digo olhando para Gerard. - Ah! Mais uma coisa. - Me aproximo dele e jogo o meu punho fechado sobre o rosto dele. Senti todos os meus dedos estralarem com o impacto.

– O que foi isso agora?! - Ele questiona com uma certa surpresa no rosto que seria até engraçado. Embora o soco não pareça ter tido tanto efeito.

– Por ter tocado em mim ser avisar. A propósito, boa observação. Eu jamais teria visto o bestante a tempo.

– De nada. - Ele diz sarcasticamente ainda com a mão pressionando o rosto.

– Agora só precisamos saber para onde Kândice foi.

– Eu posso te levar até ela. - A voz não era reconhecível, ergui o facão e olhei em volta atento a qualquer movimento. Quando da escuridão sai uma bela menina com a pele clara como a neve e os cabelos negros como a noite. Ela estava mancando de uma perna que continha um trapo ensanguentado amarrado. Em uma mão ela levava um arco enquanto com a outra ela apoiava-se em um pinheiro.

– Ela e a garotinha não estão tão longe.


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