Ilusão escrita por Kah Moon


Capítulo 1
Irmão




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O paraíso.


Sempre ouvir falar sobre ele, mais nunca o vi.


Também nunca ouvi dizer que alguém tenha ido ao paraíso e voltado com vida de lá.


Todos falam dele.


 Mais ninguém sabe exatamente como ele é ou onde ele fica.


 Muitos sonham com ele, muitos pensam estar vivendo o paraíso.


Mais o que eu vejo a minha frente é apenas o inferno, sem nenhuma expectativa de um dia ser feliz.




Quando eu era apenas um filhote e ainda tinha uma alcatéia para seguir, acreditava no paraíso. Acreditava que um dia eu o encontraria.


Doce ilusão de um filhote.


Ilusão porque quando eu menos esperava a alcatéia foi atacada e eu não tive coragem.


 Não tive coragem para enfrentar meus medos.


 Fugi.


Corri o mais rápido que consegui deixando minha alcatéia para trás. Deixando todos aqueles que por muito tempo vivi lado a lado. Não fui capaz de enfrentar as tropas de Jaguará, não fui capaz de enfrentar meus medos.


Não olhei para trás enquanto corria para longe. Não pude ver os olhos de decepção dos amigos que um dia eu tive.


Mais quando tudo acabou eu voltei, voltei sem medo. E fui recebido pela indiferença e repreensão. Eu abandonei a alcatéia. Abandonei meu povo. Onde estava meu orgulho?!Eu consegui perde-lo em breves segundos, em breves momentos de covardia, enquanto eu corria pela minha vida.


Mas o que eu não sabia era que isso me custaria muito caro.


Minha honra!


O bem que eu mais estimava estava perdido e minha alma e meu corpo estavam marcados para sempre. Marcados com a vergonha em meu peito. A vergonha que eu sempre carregaria, por toda a minha vida. A vergonha de ter abandonado meu povo.


Passei a viver sozinho.


Estabilizei-me em uma cidade quebrada e cheia de humanos. Afinal se os lobos não me queriam mais, se já não me restava orgulho. Não me importava em viver com eles, lado a lado. Disfarçado.


Mais eu nunca seria como eles.


Jamais.


Embora eles me vissem como um humano comum, eu não o era.


Eu sou um lobo!


Lobo...


Por 200 anos disseram que estávamos extintos. Pobres humanos. Mal sabiam eles, que estávamos mais próximos do que eles podiam imaginar. Caminhando lado a lado com eles, desfrutando do mesmo espaço e também da mesma miséria.


Não suportava a idéia de ter humanos, alguns tão necessitados e outros tão exuberantemente ricos, com suas naves monstruosas, de barulho insuportável.


Achar comida naquela cidade era fácil. Mais eu não gostava de pedir. Tinha que fazer algo mais. Algo que me desse emoção.Algo que me fizesse sentir a adrenalina nas veias.Roubar.


Havia chegado o mais baixo que um lobo poderia. Pelo menos eu achava. Se disfarçar como humano e depois roubar.


Roubar comida que eu dividia com eles.


Mais uma coisa que eu aprendi é que quando se tem um bando de humanos juntos, não se existe honra, como em uma alcatéia.


Eles são falsos e traiçoeiros. Te apunhalam pelas costas, mesmo sendo seu amigo.


O mundo, cada dia mais, estava se tornando podre. E aquela altura eu já não pensava no paraíso.


Achava que a vida se resumia a tudo aquilo. Se resumia a viver entre os humanos mesmo não sendo como eles. Mesmo sendo tão diferente.


Mais foi o dia em que aquele lobo branco apareceu na cidade, que eu me dei conta que alguma coisa estava acontecendo. A principio nós lutamos. Como ele se atrevia a falar comigo daquela maneira. Logo comigo. Eu não era obrigado a ouvir aquilo. Só estava querendo explicar as regras da cidade a esse lobo.


Mais foi nesse mesmo dia que eu percebi que não podia mais continuar com humanos. Eu não era como eles. Nem ajudar eu era capaz. Nem ajudar uma simples criança humana eu era capaz.


Eu não era um humano e não podia viver entre eles e naquele dia eu tive certeza disso.


Depois de tantos anos sem ver nenhum lobo por perto, agora eu estava frente a frente com um pirralho.


Um lobo ainda jovem sem nenhum instinto ou coragem. Criado por humanos e aparentemente inútil. Senti-me na obrigação de ajudá-lo quando estava frente a frente com o perigo ou quando se revelou lobo para uma garotinha.


Ele ainda não sabia nada da vida.


 Estava sozinho em um lugar que não conhecia. Não sabia como viver entre os humanos disfarçado. E alguém teria que lhe livrar a cara.


Mesmo eu não o querendo por perto.


 Na verdade eu o queria por perto. Comecei a ter Toboe como um irmão, que eu teria que ensinar.


No começo eu o achei um garoto irritante mais como o tempo percebi que aquele garoto irritante era corajoso. Como eu nunca havia sido quando mais jovem. Toboe se tornou meu irmão.


E quando ele decidiu seguir Kiba não vi outra alternativa. Mesmo mostrando que não me importava que não gostasse de nenhum deles. No fundo eu via cada um como irmãos. Como a alcatéia que eu havia perdido.


Não me sentia na necessidade de demonstrar nada do que eu sentia a ninguém.


Mesmo Toboe achando que eu não me importava com ele.


Ele nem imaginava que eu o tinha como um irmão, que protegeria e ensinaria.


Como a um irmão.


 


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