Shiver Um Conto De Inverno escrita por Jana Lopes


Capítulo 1
Conto (Sem capítulos)




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Arrepio_ Um conto de Inverno

Eu podia ter morrido.

Se eu não tivesse olhado para o lado naquele momento, minha vida teria sido rasgada em pedaços. Como minhas roupas, que já estavam por um fio.

Minha pele sentia o impacto do gelo cortante como se me avisassem que não havia mais nada que eu pudesse temer, a não ser esperar pelo ataque final.

A morte. Um ultimato nas condições nas quais eu me encontrava.

Eu não tinha grandes chances de sair dali viva ou inteira.

Tudo o que eu via era neve e sombras a meu redor. O branco frio da neve transformava meu medo em algo corpóreo, físico. Tudo era neve e sombras.

Eu havia saido para uma caminhada sem grandes preocupações, afinal, aquele era o bosque que praticamente era o meu quintal. Aquele bosque, agora me engolia, me destroçava, transformado em algo hostil e macabro.

Não o bosque... o que havia nele.

Como se eu não esperasse, o bosque já havia me trazido surpresas dignas de minha eterna admiração antes. Mas agora que eu estava diante de olhos famintos, presas e garras afiadas, era hora de eu começar a duvidar da minha própria escolha.

As coisas que eu mais amava no mundo tinham a tendência de se voltarem contra mim. Como agora.

Eu estava acostumada com os moradores do bosque. Os lobos. Os lobos sempre foram os meus mehores amigos- se bem que eles eram os únicos.

Eu jã tinha sentido admiração por eles.

Eu gostava da compainha deles, do modo como os olhos me encaravam, cheios de expectativas, brilhantes, lupinos. E eu amava mais ainda, saber que eles correspondiam.

Sempre que eu estendia a mão eu recebia o toque acolhedor de volta. Eu nunca quis machucá-los.

Por que eu estava rodeada por tanta ferocidade quando eu era única que morreria por todos eles?

Os meus lobos. Eles eram uma partde de mim. E eu estava me tornando uma parte do bosque onde eles viviam.

Se eu morresse... Eu não ia cogitar essa possibilidade. Não antes de ter certeza de que meu lobo ia me encarar nos olhos e me mostrar o que eu precisava ver.

O meu lobo tinha que me mostrar, se não quisesse me defender.

Eu me encolhi com a força do golpe. Meu rosto se virou contra o tapete frio de gelo embaixo do meu corpo já ferido, e garras afiadas me destroçavam ao ritmo do vento glacial. Eu não ia impedir.

Eu prefiria morrer a ter uma vida sem o meu lobo.

Eu vi o par de olhos cinzentos que me encaravam após cravarem suas presas em meu pescoço. A mensagem era clara, ele incentivava os lobos a me dilacerarem definitivamente.

Um segundo par de olhos, agora marrons-bronze, cintilaram raiva e sede ao encontrarem minha pele, em profundo deleite. Uma longa linha vermelha desceu até meu punho fraco.

Sangue.

Meu corpo.

Os lobos.

O bosque.

Eu queria ter forças para lutar e correr. Mas por mais que eu precisasse da fuga, de uma trilha na floresta, o meu lado passional queria ficar. Eu precisava entender.

Aquele comportamento não era comum nos lobos. Lobos eram criaturas dóceis. Eles jamais atacariam um humano por nada.

Lobos podem fazer muitas coisas. Mas não podem... sentir.

Foi no exato momento em que eu decalrei mentalmente essa teoria que, milagrosamente, um rudio se fechou atrás de toda a matilha sanguinária.

Eu olhei adiante, desistindo de acreditar que veria algo além da morte em cada olhar, mas ele estava lá.

Perto de uma das árvores, no final da clareira, meus olhos encontraram um novo par de olhos. Eles pertenciam a um lobo cor de caramelo.

Eu já tinha me apaixonado por ele antes, por motivos insignificantes... e agora ele estava me observando morrer.

Uma imagem triste demais para aquele bosque.

O lobo deu um passo na direção da selvageria. Um rosando baixo, contido, sussurrante, deslizava até meus ouvidos. Mas por pior que fosse o som de um rosando, para mim era como uma música linda. Seu caminhar lento avançava até nós.

Sem espaço, o lobo atirou-se sobre o grupo. Apenas uma matilha faminta e uma garota deitada sobre a neve.

Eu estava seminua, à espera da morte certa, quando o lobo, enfim, atacou o lobo que me mantinha em sua posse.

Latidos e ganidos altos subiram ao céu e ambos rolaram pela neve, digladiando-se ferozmente.

Houve um pequeno segundo para eu me livrar das garras que se soltaram do meu braço direito. Os lobos estavam distraidos quando os dois maiores começaram a lutar. Era uma questão de honra para eles, qualquer um deles, vencer.

Eu só queria sobreviver.

Meus braços procuraram alguma pedra ou um pedaço de madeira pelo solo. Mas a única coisa que me importava agora era sair dali.

Eu consegui firmar meus pés e me levantar, depois corri para uma parte mais clara atrás das árvores. Eu ainda queria saber se meu lobo venceria.

Então, eu escapei. Atrás de um tronco , eu me mentiva distante. Os outros lobos farejavam o ar à minha procura, e eu me detive, antes de voltar à cena selvagem.

Para que eu não corresse o risco de perdê-lo para sempre, eu atirei uma parte das minhas roupas com sangue para longe, e corri na direção oposta à dos lobos.

Enquanto os dois digladiavam-se, eu tive tempo para pegar uma pedra e, finalmente, atingir a cabeça do lobo cinza que lutava contra o meu lobo de olhos dourados.

A matilha, mais raivosa que antes, apenas recuou. Não havia mais nada a ser feito.

Se os lobos me tiraram algo naquele dia, eu também tinha tirado algo deles. A vitória.

Eu estava ferida, cansada. Mas meu coração insistia em permanecer.

E eu esperei.

Os olhos daquele lobo, do meu lobo, me encaravam. Eles eram dourados, aterrorizantemente apaixonados. Como uma preciosidade perdida.

Eu apenas o encarei de volta.

Após os breves segundos que duravam para a transformação se concretizar, eu soube.

A selvageria que rasgara o meu suéter favorito não era o bastante para eliminar o que havia entre nós.

Sam.

O corpo do meu amor estava quase todo dilacerado, como o meu, e por isso mesmo, nós nos abraçamos na neve. Sua pele quente e nua em mim.

Ele sempre ia querer estar comigo novamente.

E, mais uma vez durante o inverno, eu me apaixonei por ele. E ele por mim.

Sam...”

Grace... Eu...” Mas não haviam palavras para descrever o amor que eu sabia que ele sentia por mim. E que sempre o traria de volta para mim.


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