Estava olhando pela janela do meu quarto, iluminada e cheia de prédios Capital, era bem bonito de noite.

Laara me chamou pela porta para o jantar. Ótimas e deliciosas comidas como sempre, até quando não quisermos mais. E pensar que isso é um pouco de crueldade, pois acabam nos acostumando com essas coisas e na arena não conseguimos nada que chegue perto. Deve ser a intenção deles, não acho que fariam isso para termos bons últimos dias de vida.

Ainda tínhamos algumas horas pela frente antes de dormir. Giulen fez a mesma coisa do dia anterior, se jogando no sofá e assistindo a programação da capital, eu estava deslocada nesse momento no meio da conversa de Pullker com Laara, sobre o treinamento e outras coisas, às vezes ela perguntava alguma coisa e eu respondia com poucas e curtas palavras:

–E o seu dia, foi como o dele?

–Foi.

Ela não ligava para minhas respostas, talvez pensasse que eu fosse meio desanimada com tudo, ou qualquer outra coisa do tipo, e ela sabia que tinha mais interação com o Pullker, por isso conversava animadamente com ele.

Já fazia um tempo que não entendia o jeito de mentor de Giulen, ele não tinha nada para nos dizer, nenhuma dica ou interesse? Percebi que os mentores não eram assim, normalmente demonstram alguma preocupação e auxiliam os tributos assim que os conhece, o que Este não fazia, embora sustentasse essa aparência de ótimo mentor para todos.

Deixei a mesa com os dois, e fui até Giulen, tentar conseguir mais algumas informações:

–Hei...- cheguei na frete dele e chamei sua atenção. Ele se sentou com uma cara de desanimado, devia já saber que eu ia fazer algumas perguntas.

–O que foi.

–Você não quer saber nada sobre a gente?!

Ele pensou um pouco com os cotovelos apoiados nos joelhos, e olhou para Pullker e Laara que já observam atentos a conversa e voltou a olhar para mim sentada em uma poltrona perto e disse calmamente:

–Na verdade, de Você não preciso saber de nada... e dele - voltou a olhar para o garoto na mesa- não me importa.

Minha expressão foi de estranhamento assim como a de Pullker. Ele é pior do que eu pensei.

–Não precisa fazer essa cara garota. Você podia pelos menos tentar me entender antes de achar qualquer coisa de mim.

–Então diga.

Ele suspirou, concordou e se recostou no sofá.

–Laara já sabe o que vou dizer... É sempre assim, uma hora vocês vem me perguntar. - Pullker se aproximou e se acomodou na outra poltrona para ouvir melhor as explicações do homem que não se importava com sua vida.

– Sabem... eu era como a maioria dos outros mentores nos meus primeiros anos, animado em fazer um vencedor e tentando ocupar minha mente... Cobrir a memoria do meu jogo, e não demorou muito para perceber que por mais que eu tentasse ajudar não adiantaria. Eu acabava me tornando amigo desses tributos e eles nem chegavam perto da fina, uma coisa que me deixava mal por um bom tempo. E aos poucos passei a me distancia desse tipo de relação, cada vez mais, até que eu desisti completamente desses tributos. Entendam há muitos poucos vencedores do nosso distrito e os tributos que vem, sempre estão “afetados” pelos que viram nos jogos anteriores.

Então é isso? Pensei comigo mesma. E perguntei pasma:

– E você acha isso de todos?- Giulen não respondeu apenas me encarava desanimado.

–Mas...com a gente pode ser diferente. - Disse Pullker, gesticulando nós dois, com esperança de mudar o pensamento desse mentor.

–Pode... Talvez. Se eu me animar quem sabe. Mas já não posso fazer muito... o que vocês tem? Alguns dias até a arena. Só posso dizer uma coisa agora, façam parte do show, deem o que eles querem, e talvez nem precisem de mim... há e querem uma “orientação”.- Nós prestávamos atenção a ele, talvez ele finalmente tivesse mudado de ideia.- Façam o que viram dos vencedores de outras edições.- e deu um sorrisinho fechado.

Nos retiramos com a mesma fala de Laara para mim de ontem, dando um fim a conversa:

–Acho melhor vocês irem dormir e descansar, pois amanhã tem treinamento de novo.

Não havia porque continuar ali, a conversa foi esclarecedora o suficiente e não tinha mais o que ser dito. Antes de nos perder de vista no corredor Giulen disse:

– Hei! Não se preocupem se precisarem da minha ajuda quando estiverem na arena, ainda farei o possível e o melhor que eu conseguir.