Percy, Acampamento.

Acordei com mais sono do que antes de ir dormir. Me forcei a me levantar e fui até o banheiro. Me despi e entrei debaixo da água gelada e fiquei sentado no chão do box abraçando os joelhos. A água me deu um pouco mais de energia, mas ainda estava com sono. Provavelmente porque havíamos chegado tarde e eram sete horas da manhã.

Me sequei e fui até o quarto. Estava frio – o que eu estranhei, já que ontem estava calor – então coloquei uma calça jeans, blusa azul, moletom branco e all star também branco. Coloquei contracorrente no bolso e fui até o refeitório. Sentei na mesa de Poseidon e pedi café para o meu copo (N/A: Lembrem-se que lá os copos são encantados para lhe darem o que você pedir). Fiquei tomando até Thalia chegar.

– Você e Nico hein? – Lhe pergunto sorrindo.

Os olhos dela brilham.

– Eu decidi ser ousada, ele não tomava atitude nunca – Ela diz aborrecida e eu rio.

Logo depois Nico e Annabeth – que estava com os olhos meio vermelhos e inchados – chegam e sentam na nossa frente. Annabeth pede café e começa a tomar.

– Bom dia – Ela diz sorrindo, mas o sorriso dela logo se transforma em uma expressão furiosa quando ela vê algo atrás de mim.

– Annie, amor, precisamos conversar. – Ouço a voz de Luke falar atrás de mim.

Previ uma discussão vindo, então continuei tomando meu café e comendo meu croissant. Não iria participar dessa novela mexicana.

– Não me chame de amor, Luke. E não temos nada para conversar – Annabeth fala já se levantando e se afastando.

Luke vai atrás dela e a puxa pelo pulso.

– Você vai mesmo acreditar nela? Você nem a conhece. Nos conhecemos a onze anos Annabeth (N/A: Bastante né, gente?). – Ele diz suplicando. Agora o acampamento todo estava olhando.

– Foda-se. Acabou tudo Castellan. E vê se me esquece – Ela diz entredentes.

Luke olha para trás – para a platéia que viu ele levanto um pé na bunda – e depois olha para Annabeth furioso. Eles ficam ali naquele contato visual por alguns segundos e depois Luke sai dali em direção a Arena.

Annabeth trinca o maxilar e olha pra mim.

– Isso é tudo culpa, seu idiota – Ela grita – Se você não tivesse nos levado até lá jamais teríamos terminado.

– Minha culpa? – Falo me levantando e jogando o café no chão – É minha culpa se o seu namorado é um babaca que não se contenta com somente uma só mulher? – Começo a gritar – Você devia me agradecer por fazê-lo mostrar as caras mais rápido. Quem não te garante que ele já não te traiu com alguma filha de Afrodite antes de eu voltar pra esse acampamento? – Grito mais alto – Eu nem te levaria lá pra começar. Eu iria lá para encontrar a Mellanie. Nós dois, apenas. Você e aquele babaca filho de Hermes resolveram ir. Azar o seu se você escolheu o cara errado. Não me culpe por você ter sido burra, Annabeth. – Completo e dou as costas a ela indo em direção a Colina Meio-Sangue.

– Onde você está indo? – Annabeth pergunta enquanto me segue – Se acha que pode me esculachar e sair assim está muito enganado Perseu Jackson.

– E quem vai me impedir? – Pergunto parando de repente e me virando pra ela. Caminho devagar até ela e a quando estou a 30cm dela me agacho para ficar cara-a-cara com ela – Hein Annabeth? Quem vai me impedir? Eu se fosse você teria mais respeito. Eu sou um deus agora. Posso te transformar em pó com um mísero estralar de dedos. E se pensa que cinco anos de amizade vão me fazer hesitar você está muito enganada. – Dou as costas para ela e continuo andando.

– Percy. Aonde você vai? Não é seguro sair dirigindo por aí irritado desse jeito. – Thalia pergunta.

– Vou a casa da Mellanie – Respondo sorrindo malicioso para Annabeth – Ela sabe me acalmar.

E com isso dou as costas ao acampamento e entro na Ferrari acelerando.

Annabeth. Colina Meio-Sangue.

Eu ainda podia ver a Ferrari de Percy virando a esquina. Como ele pôde falar tudo aquilo pra mim? Como ele pôde me ameaçar?

Eu estava tão confusa ultimamente. Desde que Percy voltou ao acampamento eu havia começado a sentir coisas estranhas. Havia momentos em que eu via Percy treinando e meu corpo esquentava. Ou como ontem, por exemplo, que ele havia me abraçado e eu senti aquela sensação de segurança. Eu achava que era saudade, mas depois de Percy ter dito que havia transado com Mellanie no banheiro feminino, ou que estava indo à casa dela – e sejamos sinceros, sabemos o que ele foi fazer lá – eu senti raiva. Queria esmurrar Mellanie até ela ficar com o rosto deformado. Queria esquartejá-la e queimar os pedaços (N/A: Desculpem pela tentativa fail de descrever o ciúme, é que eu nunca senti, então...). E eu conhecia aquele sentimento. Eu senti nos primeiros meses de namoro quando via Luke conversando com alguma garota. Aquilo era ciúme. O que me deixava ainda mais confusa. Não tinha sentido eu sentir ciúme de Percy.

Depois que a confusão sumiu a raiva se apossou do meu corpo. Percy era um babaca, idiota, energúmeno e acéfalo. Eu o odiava.

Eu estava tão furiosa que quando vi estava dentro do chalé de Poseidon, sem camisa e beijando Luke avidamente.

Eu precisava esfriar a cabeça, e nesse momento Luke era o melhor para aquilo.

(N/A: Não pensem que Annie é uma vadia que só usa os outros, ok?)

Percy, Casa da Mellanie

Havia acabado de chegar. Estava furioso com Annabeth.

Ela o escolhe, me faz sofrer – mesmo não sabendo – e depois me culpa pelas merdas que ele apronta?

Saio do carro e caminho até a porta. Toco a campainha e segundos depois ela se abre revelando uma Mellanie com os cabelos desarrumados – mesmo estando muito sexy – e pijamas – uma regata soltinha e um short que mais parecia uma calcinha – segurando uma xícara de café.

– Percy? – Ela pergunta confusa – O que faz aqui tão cedo?

– Precisava conversar com alguém, aí vim aqui – Respondi dando de ombros.

– Entre. Quer café? – Ela pergunta depois que já entrei.

– Não, obrigado – Respondo me sentando em um sofá. Ela se senta no outro com as pernas encolhidas e fica me olhado.

– O que aconteceu, Percy? – Ela pergunta depois de algum tempo.

A olho mordendo os lábios. Conto ou não? Suspiro e sem pensar conto tudo – o que aconteceu depois que saímos do bar e o que aconteceu hoje no café.

– Você a ama – Não era uma pergunta – É por isso que você parece odiar esse Luke.

– Luke conhece Annabeth desde que ela tinha sete anos. Ele havia fugido de casa e um tempo depois ele conheceu Thalia. Ela também havia fugido, então eles viraram amigos. Alguns meses depois eles encontraram Annabeth. Ela era somente uma criança. Depois que eles encontram um acampamento eles começam a morar lá. Foi aí que os conheci. Aos doze anos eu passei a frequentar esse lugar nas férias de verão. Annabeth – que também tinha 12 anos agora – não gostava de mim, porque segundo ela nossos pais se odiavam e eu virei muito amigo de Luke. Só que Luke acabou fazendo coisas erradas e traiu todo mundo que o conhecia, inclusive a mim e Annabeth – que já gostava dele a algum tempo – e Annabeth virou minha amiga. Durante cinco anos ele a machucou muito. Em todos os sentidos. Mas a questão é que em algum ponto desses cinco anos eu me apaixonei por ela. Desisti de coisas importantes por ela. Fiz coisas erradas por ela. Tudo porque a amava e a queria perto de mim. Só que quando eu achei que íriamos ter algo mais, Luke alega que se arrependeu – o que eu acredito – e no mesmo dia eles começaram a namorar. Meu pai percebeu que eu estava apaixonado por ela e que estava sofrendo com aquele namoro e me convidou para morar com ele.

Ela coloca a xícara na mesinha ao lado do sofá e senta ao meu lado.

– Eu vou fazer você ser feliz, Percy – Ela diz baixinho – Você não vai mais sofrer, ok? – Ela completa e me beija.

Eu deito no sofá e coloco a cabeça no colo dela enquanto ela liga a TV. Juntos começamos a assistir um desenho animado enquanto ela fazia um carinho gostoso na minha cabeça. Adormeço minutos depois.

Acordo com um barulho que parecia vir da cozinha. Levanto com cuidado para não acordar Mellanie – que de algum jeito dormiu do meu lado e com a cabeça no meu peito – e caminhei até a cozinha.

Quem fazia o barulho era um sujeito de aparentemente quarenta anos, por aí. Ele tinha cabelos loiros e lisos e era um pouco mais alto que eu. Seus olhos – que eu só pude ver porque ele se virou pra mim – eram de um azul. O mesmo azul dos olhos de Mellanie. Logo concluí que ele era pai dela. Os dois eram um pouco parecidos.

– Ah, me desculpe se acordei você – Ele diz enquanto segurava algumas panelas – É que estou fazendo o almoço. Aliás, sou Daniel Gilbert, o pai da Mel – Ele diz largando as panelas e estendendo a mão.

– Sou Percy Jackson – Digo apertando – E não sei o que sou da Mel – Completo corando.

Ele da uma risadinha e pega alguns ingredientes na geladeira – tomate, cebola e coisas assim.

– Hm, quer ajuda? – Pergunto – Só aviso que não sou bom na cozinha – Falo mordendo o lábio.

– Ah, pode cortar os tomates então? Seria de grande ajuda.

Vou até a pia e lavo os tomates.

– Então... Mellanie disse que é historiador, hm? Ela herdou o amor por mitologia grega de você? – Pergunto enquanto cortava o tomate.

– Ah sim. Sou apaixonado por mitologia grega – Ele diz enquanto enchia uma panela de água – E você? Gosta?

– Conheço poucas coisas, mas sou apaixonado pelo o que sei – Falo terminando o tomate e cortando o próximo tomate – Mitologia grega é meio que parte da minha vida, entende?

Ele assente com o cenho franzido, como se estivesse pensando em algo.

– Minha deusa preferida é Atena, e a sua? – Ele pergunta fazendo com que aquilo parecesse ter mais de um significado – Passe os tomates e corte a cebola, por favor?

– Eu gosto bastante de Atena – Admito enquanto passava os tomates a ele e cortava a cebola – Ela é realmente legal. Mas se eu tivesse que escolher um preferido, escolheria Poseidon pela sua personalidade. Ele é um pouco egocêntrico, mas também é altruísta e meio romântico. Ou talvez Afrodite, pelo seu jeito amável, embora eu ache que entre Afrodite e Atena eu preferisse Atena.

Ele dá uma risadinha.

– Você fala como se os conhecesse pessoalmente, hm? – Ele diz me olhando de um jeito profundo – Você diz que gosta de mitologia, mas acredita nela? Acredita que os deuses existam e possam estar andando entre nós?

Aquela conversa parecia ter milhões de significados, mas supus que fosse paranóia minha.

– Sim – Respondo.

– E se eu dissesse que já conheci um?

Arregalo os olhos e antes que possa abrir a boca pra falar, Mellanie – agora já devidamente vestida – entra na cozinha assustando nós dois e abraça o pai.

– Oi papai – Ela diz lhe dando um beijo na bochecha.

– Olá querida. Pegue o macarrão no armário, por favor?

Meia hora depois estávamos nós três na mesa, almoçando. Eu ainda estava com aquilo na cabeça. O que hades ele quis dizer? Como assim ele conheceu um deus?

Percebo que estou olhando Mellanie e começo a olhar seu rosto. Ela tinha os lábios levemente carnudos e avermelhados. Os cílios eram grossos e longos e emolduravam os lindos olhos azuis. O nariz era fino e levemente arrebitado. E os cabelos. Os cabelos eram longos, lisos e – só agora fui perceber – meio ondulados nas pontas. Mas o que era mais bonito ainda era o tom de dourado do seu cabelo, ele era lindo. Só havia visto em duas pessoas: Annabeth e... Arregalo os olhos e me engasgo com a saliva,

– Ah. Meus. Deuses – Falo pausadamente.

– Você está bem, Percy? – Mel pergunta.

Fico encarando-a por alguns segundos.

– Claro. Estou sim. Estou ótimo – Respondo e começo a comer, nem acreditando na quantidade de azar que eu tinha.

Depois do almoço Mellanie alega que como nós fizemos o almoço, nada mais justo do que ela lavar a louça, então ficou na cozinha.

Peço pra falar com Daniel, e ele meio relutante aceita. Me leva para a biblioteca/escritório e senta em uma poltrona enquanto eu sento em algum sofá.

– Mellanie – Eu digo a ele – Ela é filha de Atena, não é?