Logo depois de apresentado, Hunter fala mais dele e do que ele espera dos warblers como treinamento diário de duas horas (eu só fazia questão de uma) e uma alimentação perfeita para que não fiquemos gordos porque, de acordo com ele, 'gordos não nascem para serem estrelas'. Sério, esse cara só pode ser um Hitler dos corais!

Quando todos já saíram da sala, me incontro imóvel. Ainda não estou acreditando que aquele pé no saco vai ser o novo líder dos Warblers! Isso chega a ser uma humilhação levando em conta que fui substituído por... ele!

"Ei, Sebastian.. Pensando em mim?"

Me viro em direção a porta e vejo Hunter parado com as mãos nos bolsos e com o sorriso que parece ser tatuado na cara dele. Reviro os olhos e me levanto para ir embora mas assim que passo por ele, ele agarra o meu braço e me encara com seus enormes olhos azuis.

"Acho que começamos com o pé esquerdo ontem, não é mesmo?"

Ele pisca para mim e solta meu braço para se virar e ficar cara a cara comigo.

"Pois é... Eu não estou acostumado com pessoas invadindo meu quarto e roubando meu espaço."

"Não torne nossa relação mais difícil, Sebastian!"

"Olha, eu não sei se quando você era pequeno sua mãe te deixou cair de cabeça do... sei lá, OITAVO ANDAR, mas só quero deixar claro que nós não temos uma "relação"

"E você gostaria de ter uma?"

Assim que ele termina de falar ele dá um passo em minha direção, fazendo com que nossos rostos fiquem quase colados. Apesar da proximidade, eu não me afasto e continuo a encará-lo.

"Poderíamos até tentar se eu não tivesse vontade de vomitar toda vez que eu olho para você. E para ser sincero, o estilo 'Ken versão Malibu' não faz bem o meu estilo. Bom, se isso é tudo eu tenho que ir para a aula."

Aprecio a visão do Hunter com um olhar surpreso por alguns segundos até que me viro para sair da sala. Porém quando coloco a mão na maçaneta, ele dá uma gargalha e se aproxima de novo de mim.

"Se você quiser ter solos enquanto eu for líder, acho bom você ser bonzinho comigo, Smythe."

"Você está me ameaçando?"

"Ameaçando não... Estou te aconselhando. Te vejo às cinco, Smythe. Não se atrase!"

Ele passa por mim e coloca a mão sobre a minha(que ainda estava sobre a maçaneta) para abrir a porta e sair.

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Minhas aulas acabam às uma, o que significa que eu não tenho nada para fazer até o treino dos Warblers. Eu fazia parte do Clube de Luta mas fui expulso porque eu acidentalmente soquei o professor depois que ele falou que deveria socar que nem homem. Para falar a verdade, meu pai teve que mexer uns pauzinhos para não ser expulso da Dalton então só ser expulso do Clube de Luta já estava bom para mim.

Quando o sinal bate, mostrando que a última aula acabou de terminar, eu praticamente corro para o meu quarto para dormir. Minha noite não foi tão boa assim e eu espero recuperar minhas horas de descanço nesta tarde.

Assim que entro no quarto, me deparo com uma das coisas mais bizarras que já vi. Um gato todo branco com enormes olhos azuis olhando diretamente para a minha ALMA! Não é que eu não goste de animais mas esse daí parece mais a reencarnação do Hannibal!

Me assusto quando escuto a porta abrir e Hunter entrando no quarto.

"Sebastian, o que vo-"

Eu coloco uma mão no ombro dele impedindo sua passagem em direção ao gato.

Ele fica me olhando com a cabeça cheia de pontos de interrogação.

"Cara, é o demônio na sua cama!"

"Não fala assim do Mr.Puss!"

Ele se livra da minha mão e segue para a cama dele para poder segurar o tal "Mr.Puss"

"Ele não é lindo?"

"Para uma decoração de Halloween talvez."

Ele olha para mim e começa a rir.

"Você não está com medo dele, está?"

"Eu não sei você mas eu sinto que ele está planejando meu assassinato agora mesmo. Se livre dele."

"O que?"

"Se livre dele, dê ele para alguém, jogue na privada, eu não me importo. Só não quero dormir com o gato 'made in inferno' olhando para mim."

"Eu não posso me livrar dele, Sebastian! E você está exagerando... Ele não faz mal a uma mosca!"

"Claro que não... Ele guarda todos os planos maléficos dele para as pessoas."

"Sebastian, ele é inofensivo e eu não vou me livrar dele."

Ele olha para mim sério, ainda segurando o gato(que pelo olhar acabou de escolher o lugar para esconder meu corpo). Reviro os olhos e dou de ombros.

"Se ele subir na minha cama, eu terei um novo espanador. Entendido?"

Ele dá um sorrisinho tímido e não posso deixar de associar a uma criança que acaba de ganhar o que queria dos pais. Ele senta na cama dele e começa a brincar com o gato.

Fico o observando por uns minutos imagindo como ele pode mudar tanto de uma hora para a outra.. Será que ele é Bipolar ou alguma coisa do tipo?

Ele olha para mim e tento deviar o olhar mesmo sabendo que ele já tinha me visto encarando. Vejo pelo canto do olho o sorriso que cresce no rosto dele e como seus olhos correm pelo meu corpo.

"Então, Smythe... O que está fazendo aqui?"

"Então, Clarington... Esse é meu quarto!"

Reviro os olhos e me viro para tirar minha roupa. Começo a tirar meu paletó e depois desfaço o nó da gravata para tirar a blusa. Quando me viro vejo que ele ainda está encarando.

"Tire uma foto, princesa. Dura mais."

Lanço um sorrisinho na direção dele e logo depois começo a desabotuar a calça.

"Eu... Vou tomar um banho."

Ele coloca o gato na cama dele e se levanta desajeitadamente para o banheiro

"Nem pense em bater punheta pensando em mim!"

"Acredite em mim, pensar em você não seria o suficiente."

Reviro os olhos mas não deixo de dar um sorriso silencioso. Ele entra no banheiro e sinto um olhar quase furando minhas costas e me lembro que o gato ainda está no quarto.

"Nem pense em me sufocar enquanto durmo."

Demora um segundo para perceber a loucura da situação que me encontro: eu falando com um gato (demoníaco) no meio do meu quarto. Balanço a cabeça pela minha própria idiotice e tiro a calça, colocando um moletom muito mais confortável para dormir. Me jogo na cama e fecho os olhos nem percebendo quando caio no sono.

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Quando abro os olhos vejo Hunter com o uniforme e arrumando seu cabelo.

"Bela Adormecida! Pensei que ia precisar dar um beijo para você acordar!"

"Que horas são?"

"Quatro e cinquenta."

"O QUE? Porque não me acordou?"

"Eu não sou sua babá, Smythe. É melhor correr. Você tem dez minutos para se aprontar e chegar no ensaio a tempo."

Dito isso ele faz um carinho na cabeça da gata e pisca para mim antes de sair do quarto. Eu pulo da cama e me visto o mais rápido possível, deixando o nó da gravata para fazer no caminho do ensaio.

"Seb!"

Vejo Jeff e Nick andando em minha direção.

"Ei, vocês chegaram a ouvir aquela mulher gritando no meio da noite? Ah, não, pera! Era só o Jeff gritando durante o sexo selvagem de vocês... Falha minha."

Ambos reviram os olhos mas decidem que o melhor a fazer é ignorar o que eu disse.

"Então, você e Hunter estão numa boa?"

"Ainda estamos vivos, o que é um excelente sinal."

Eles acenam com a cabeça e entramos na sala de ensaios. Hunter está conversando com alguns caras mas assim que vê que todos estão presentes, ele começa com o ensaio.

Mesmo odiando aceitar isso, Hunter é muito bom. Ele sabe cantar, dançar e é muito claro em suas opiniões. Isso me irrita profundamente! Quero dizer, eu sou talentoso mas não sei se consigo ser assim tão... sério. Ele parece um velho no corpo de um adolescente.

"Sebastian!"

A voz do Hunter faz com que eu pare de viajar e volte a realidade.

"Hã?"

"Nós estávamos falando sobre os possíveis solistas.. Mas parece que você não está muito interessado."

"Nossa, relaxa.. Eu só me destraí."

"Ahh, ele se destraiu! Imagina se você tem uma dessas distrações enquanto você planta uma bananeira em uma competição? Você iria cair, quebrar o pescoço e teríamos que parar todo o nosso espetáculo que ensaiamos por meses só para tirar seu corpo sem vida do palco! Você acha isso legal?"

"Sei o que posso ou não fazer durante uma apresentação. Não sou um retardado!"

"Então pare de agir feito um!"

"Olha só, acho melhor você calar a porra da sua boca antes que eu cale para você!"

"Seb.."

Jeff segura meu braço mas eu puxo meu braço e me levanto brutamente.

"Não! Vocês acham mesmo que ele está certo?"

Eu olho em volta e vejo os olhares se dirigirem para o chão em completo silêncio.

"Ok. Sebastian, vamos tentar nos acalmar e-"

"Cala a boca, Hunter! Eu já estou de saco cheio de você e nem é seu segundo dia na escola! Para falar a verdade já estou de saco cheio de todos vocês. Eu desisto!"

Assim que termino de falar, Jeff pula do sofá e tenta me acalmar mas eu o impurro e saio da sala em silêncio.

Estou com tanta raiva que estou com vontade de socar uma parede nesse exato momento. Sei que não posso ir para o meu quarto porque é lá que sempre me procuram em primeiro lugar, sem contar que não quero ver a cara do Hunter tão cedo.

Quando me dou por mim estou na biblioteca sentado. Apoio minha cabeça nas mãos tentando me acalmar o mais rápido possível. Eu sei que não foi minha culpa.. O Hunter deve estar de TPM ou alguma coisa do tipo porque eu não fiz nada de mais! Sem falar que todos estão me tratando mal há algum tempo então sair dos Warblers era o mínimo que eu devia fazer.

"Sebastian?"

Quando olho para o lado vejo Hunter vindo em minha direção e se sentando na cadeira do lado da minha. Respiro fundo para não socá-lo aqui mesmo e quando estou prestes a me levantar, ele coloca a mão no meu ombro fazendo sinal para que eu me sente.

"Eu exagerei. Me desculpa."

Olho para ele e posso ver que ele está sendo sincero.

"Exagerou mesmo!"

"Eu já pedi desculpa, não?"

"Tanto faz..."

"Sebastian, eu vim de uma escola militar e às vezes eu acho que falar daquele jeito é a maneira normal de se conversar. Eu vou aprender como as coisas são aqui mas ainda é o segundo dia. Me dá uma folga."

Dou de ombros e ele suspira antes de se levantar.

"Te vejo mais tarde."

Depois que ele vai embora fico pensando no que ele disse e refaço tudo que eu falei também.

Merda! Eu empurrei o Jeff!

Me levanto e vou em direção ao quarto dele. Bato uma vez e escuto ele gritando.

"Se seu nome é Sebastian Smythe pode dar meia volta e ir embora"

Eu reviro os olhos e entro no quarto mesmo assim.

"Que bom que eu mudei meu nome para Molly hoje a tarde!"

"O que você quer, Sebastian?

Olho para o Nick e vejo que ele tão chateado quando Jeff.

"Ok, me desculpe. Eu não devia ter te empurrado, Jeff. Eu estava nervoso e descontei em você."

Jeff revira os olhos e fica em silêncio por alguns segundos me observando. Quando eu lanço o meu melhor olhar de "me desculpe, fiz merda" ele lança um sorriso sincero para mim.

"Tudo bem.. O que você faria sem a gente?"

"Sem exageros, por favor."

Demos uma gargalhada e ficamos conversando por mais um tempo. Quando eles começam com beijinhos e mãos mais pervertidas sei que está na hora de eu sair.

Vou para o meu quarto e Hunter já está lá brincando com o maldito gato.

"Acho que ele gosta de você."

"Acho que ele gosta de me imaginar sofrer."

"Você é muito exagerado!"

"Não, eu sou realista."

Pela primeira vez conversamos civilizadamente e começamos a contar mais sobre nós mesmos.

Hunter é de uma família tradicional de militares. É filho único e por isso seus pais sempre foram muito rígidos com ele. Quando assuimiu ser bissexual para seus pais aos 16 anos, eles o ameaçaram de ser expulso de casa por ser a vergonha da família. Ah, sim... Ele tem 18 anos e também está no último ano.

Depois que terminamos a sessão de Dr.Phill, Hunter pega um livro para ler e eu fico mexendo no computador.

Deve ter passado uma hora quando decido tomar um banho e me deitar. Depois que ele termina de ler o livro, ele apaga a luz e também vai deitar. Quando está silêncio por algum tempo (tempo suficiente para eu pensar que ele já estava dormindo) consigo ver pela luz da luz que passa pela janela que fica no meio das nossas camas, o rosto dele se virando para mim e seus olhos azuis mais bonitos que nunca.

"Você não falou sério, falou?"

"Sobre o que?"

"Sobre... Sair dos Warblers?"

"Eu.. Não sei ainda."

"Eu não queria que você saísse."

"Porque não?"

"Você é bem talentoso."

"Esqueceu de mencionar sexy!"

"Não seja atrevido, Smythe!"

Ele sorri e ficamos em silêncio por mais algum tempo apenas nos olhando.

"Boa noite, Smythe."

"Boa noite, Clarington."

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No dia seguinte, os warblers vieram até meu quarto e me pediram desculpas pela maneira que eles vem me tratando. Apesar de ainda estar chateado, eu aceitei voltar para os Warblers pelo simples fato de saber que eles estariam completamente perdidos sem o meu talento.