Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 31
Quero Ser como Você




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/298372/chapter/31

Passo após passo, Carlos se aproximava de Elena, mas ela permanecia firme e sem demonstrar medo. No fundo, ela sabia que sua mãe estava em sua retaguarda, com a arma apontada para o inimigo. Se ele tentasse qualquer outra coisa, Lyssa atacaria sem hesitar.

Carlos parecia ser indestrutível, porém, a situação não passava disso, de um "parecer". Apesar de bom caçador, ele não passava de um humano e seu corpo já demonstrava estar no limite. Seu pulmão perfurado se enchia de sangue pouco a pouco, impedindo que o ar permanecesse dentro dele, deixando a respiração cada vez mais difícil, seu corpo começava a ficar trêmulo e sua vista já perdia o foco... Ele estava morrendo.

O caçador estava a apenas dois metros da filha, quando suas pernas desistem de trabalhar e seu corpo desaba sobre seus joelhos. Elena o olha atentamente, decidida a colocar fim àquele sofrimento dando-lhe o tiro de misericórdia. Ainda que lhe dissessem que era um mostro e que merecia a morte, Carlos ainda era o seu pai, o homem que amou e que foi seu referencial por muito tempo, ela queria poupá-lo de mais dores

Pacientemente ela carrega sua arma e a aponta para o coração de seu oponente, que mal conseguia respirar. Matar pela primeira vez era algo difícil e Elena não sabia se conseguiria puxar o gatilho, carregar o sangue de seu pai em suas mãos era um fardo muito pesado e, partilhando deste mesmo pensamento, Lyssa decide assumir o lugar da filha.

― Eu faço isso! – sussurra a mulher, baixando lentamente a arma de sua filha.

Elena prende seus olhos nos de sua mãe por alguns instantes, mas logo procura por Harry, encontrando-o aos cuidados de Lucian, que averiguava o ferimento de seu maxilar. O cherokee parecia bastante exausto, com ferimentos em diversas partes de seu corpo e uma pequena flecha em sua panturrilha, se ele fosse um humano comum certamente já teria sucumbido. Leah, por sua vez, também tinha vestígios de sangue em sua pelagem, já que muitas projéteis também a atingiram, contudo, a preocupação por sua família lhe dava forças para continuar de pé.

A menina sente seus olhos marejarem. Quanta coisa poderia ter sido evitada se a verdade tivesse sido dita logo no início, se ela tivesse tido paciência para escutá-lo, se Carlos não lhe tivesse escondido certas informações. Harry e sua família não precisariam passar por tantas desventuras, sua mãe não teria sofrido tanto e ela própria não teria derramado tantas lágrimas.

― Posso fazê-lo em seu lugar – diz Lucian ao perceber a demora de Lyssa em executar a tarefa, recebendo alguns rosnados receosos de Leah.

― Matar um ser humano é mais difícil do que imaginava – desabafa Lyssa –, mas eu mesma quero fazer.

Lyssa respira profundamente, preparando-se para dar fim àquela história caótica. Não havia amor e nem afetividade entre ela e Carlos, apenas o respeito, visto que o matrimônio era algo arranjado por suas famílias. Contudo, depois de atirar em sua única filha, até mesmo o respeito evaporara, não restando mais nada entre eles.

A caçadora aponta, mira e, em questão de segundos, a bala atravessa o peito do homem, silenciando-o para sempre. Nunca mais aquela boca ofenderia alguém e suas mãos nunca mais machucariam outro lupino. Carlos Noolan estava morto, entretanto, por que Lyssa franzia a testa, confusa? Por acaso não estava feliz pela perseguição finalmente acabar? Sim, ela estava feliz, mas também estava confusa... Sua arma ainda estava inteiramente carregada, porque não fora ela a puxar o gatilho.

― Acabou! – sussurra Elena, deixando uma lágrima rolar de seus olhos.

Ela logo sente os braços quentes de Harry a envolverem e suas mãos amolecerem, deixando a arma ir ao chão. Todos os pesares e possíveis remorsos se esvaem de sua cabeça com aquele aperto quente e aconchegante, Harry não queria que tivesse sido ela a matá-lo e fez a única coisa que sabia fazer desde que a vira pela primeira vez: amá-la.

Jacob lança um olhar ríspido para o mestiço e parti sem dizer nada, deixando apenas um pensamento a respeito de Nessie escapar de sua cabeça e ordenando que todo o bando fosse consigo. A esta altura, os lobos feridos já estavam quase curados e puderam retornar a reserva com tranquilidade, mesmo que mancando.

Lucian o observa partir, cogitando se aquele mero pensamento estava relacionado a sua insistente agressão a Harry. Será que ele estava com ciúmes? Mas por qual motivo? Harry nem sequer conhecia a meia vampira...

Lucian!— chama Leah. – Vamos para casa...

― Ainda temos que decidir o que fazer com o corpo, como explicaremos os ferimentos a bala? – questiona Lucian. – Nem sequer podemos simular um ataque animal...

Posso cuidar disso!— propõe Nicolas, que se recusara a partir com o bando, tendo suas palavras traduzidas por Lucian. – Se levá-lo para um lugar bem menos habitado, os animais selvagens poderão desfazer-se do corpo.

― Obrigado pela ajuda, mas ainda precisamos explicar o fato a polícia – explica Lyssa. – Aquele tal de Charlie estava responsável pela investigação de Carlos, depois do dia em que atirou em Elena em plena luz do dia...

― Daremos um jeito! – diz Lucian com confiança.

Assim como foi sugerido, Nicolas retorna à sua forma lupina e arrasta o corpo ainda quente de Carlos para algum lugar bem longe dali. Harry pensa em lhe agradecer pela ajuda, mas o Uley parecia entretido demais com sua tarefa para conversar, ou talvez apenas o estivesse evitando, afinal, na última fez que conversaram o pobre lobo terminou com várias flechas fincadas em seu corpo.

Lucian e Leah retornam para casa, seguidos por Lyssa, que havia se disponibilizado a retirar os projéteis que os machucavam, enquanto conversavam a respeito de Charlie. E assim, a floresta ficou novamente silenciosa, somente com as marcas da destruição e o jovem casal enamorado.

Elena vira-se para Harry, ainda sob seu abraço, chocando-se com o ferimento em seu maxilar e o pescoço manchado de sangue. Era nítido o espanto e a preocupação em seu rosto.

― Eu estou bem, daqui a alguns minutos estarei curado e sem nenhuma sequela. – explica, colando a testa na de Elena. – Vamos voltar...

― Não! – rebate com veemência. – Você disse que me mostraria, precisa ser agora, Harry, por favor...

Por que tanta insistência? Era tão importante assim conhecer sua outra metade? Ou Elena tinha um objetivo a mais naquilo tudo? Realmente ela tinha outro objetivo, mas Harry o desconhecia completamente. Na verdade, a morte de Carlos começava a lhe pesar sobre os ombros e ela desejava não ser mais uma caçadora, ansiava por ser uma pessoa diferente e inteiramente nova.

Silenciosamente, Harry conduz Elena para outra parte da floresta, uma parte que não os lembrasse da terrível briga que tiveram e que oferecesse melhor cobertura, para o caso de alguém desejar espioná-los.

― Acho melhor se virar – disse por fim, parando e se colocando à frente dela. – Isso pode ser meio...

― Quero ver tudo! – declara o interrompe. – Eu preciso ver!

Elena tinha um imenso pavor da fera em que Harry se transformaria, mas não queria ser assim, não queria amá-lo pela metade e, pensando dessa forma, a caçadora queria ver todo o processo de transformação para romper com todos os paradigmas criados por sua família.

Harry retira os trapos de sua camisa, que já não serviam para nada, respira fundo e deixa que a magia lupina preencher o seu corpo, expandindo-o e esticando sua pele, ao mesmo tempo em que os pelos surgiam por toda parte. A reação inicial de Elena fora espanto e pavor, mas o mestiço esperou pacientemente até que ela tivesse coragem de se aproximar...

Ela se aproxima lentamente da fera, que não fazia mais nada além de respirar, analisando sua altura, seus braços imensos e de músculos salientes, arriscando um leve toque em suas garras afiadas e não deixando de imaginar a facilidade que elas teriam em rasgar uma humana como ela. Elena caminha em círculos ao redor do lobisomem cinzento, sentindo-se cada vez mais calma e familiarizada com aquela criatura.

― Você é muito bonito – comenta de repente, incomodada com o silêncio, fazendo-o virar o rosto em sua direção. – Vi muitas fotos de lobisomens, mas nunca tinha visto uma pelagem assim.

Harry fica satisfeito e, por alguns segundos, Elena se perde em seus olhos dourados, estendendo a mão em direção ao seu rosto. Ele se abaixa sutilmente, até que as mãos femininas tocassem seu focinho gelado e acariciassem toda a superfície de seu rosto.

Bastaram apenas alguns minutos, para Elena sentir-se inteiramente a vontade com a fera, brincando com suas orelhas e dizendo que pareciam as de um coelho, recebendo uma babenta lambida no braço, como castigo.

― Isso é tão nojento! – Ri.

Pouco a pouco o lupino se desfaz, deixando que sua estatura diminuísse e devolvesse a Harry sua forma humana habitual. Ele sorria e a olhava com expectativa, esperando uma opinião final.

― E então? – incentiva ele.

― Você é incrível!

― Legal – comenta abobalhado. – Espere só até ver minha outra forma.

― Outra forma? Como assim outra forma? – pergunta confusa, necessitando de algumas explicações a respeito antes que pudessem continuar. – Isso é impossível.

― Espera e verá – provoca Harry –, mas você realmente precisará se virar desta vez. A transformação quileute é um pouco desproporcional para roupas humanas, então terei que retirá-las antes de virar um lobo.

Totalmente convencida pelos seus argumentos e com as bochechas coradas pelos pensamentos impróprios que brotaram em sua mente, Elena se vira. Seu corpo tremia com a ansiedade de conhecer o pedaço de Harry que não sabia que existia.

Utilizar a forma quileute ainda lhe trazia certo constrangimento já que precisava se despir, por isso quase nunca a usava. Envergonhado, Harry se desfaz do que lhe restara de roupas e se concentra no fogo que habitava dentro de si, deixando-o se estender e modificar novamente o corpo, até que o lobo cinzento tomasse o lugar de sua forma humana. Como Elena reagiria a essa novidade?

O lobo deita-se de barriga para cima, soltando um rosnado engraçado para chamar a atenção da humana, que se vira lentamente, não sabendo o que encontraria. Elena observa o lobo ao chão, comportando-se como um cãozinho de tamanho GG, e não consegue contar as deliciosas gargalhadas que brotaram em seu interior.

Por alguns segundos, ela imaginou se tratar de um truque, que algum outro lobo do bando tivesse tomado o seu lugar para lhe pregar uma peça, entretanto, aquele era mesmo o seu Harry, pois as roupas dobradas no chão, seus pelos mesclados e olhos dourados desmentiam qualquer outro pensamento que tivesse.

― Sempre quis ter um cachorro gigante – brinca ela, acariciando a barriga do lobo, considerando aquela a melhor das transformações, a menos assustadora e a menos perigosa.

Harry também nota sua preferência por aquela forma, fazendo uma nota mental de que deveria repensar o seu favoritismo dali para frente.

Elena distribui carinho por todo o colarinho do metamorfo, fazendo-o arfar com algumas risadas. Ela para de repente, focando a íris dourada do lobo com intensidade.

― Quero ser como você! – pede ela, fazendo o lobo sentar-se adequadamente para encará-la. – Filhos da Lua são venenosos, mas você já deve saber disso... Quero ser uma pessoa diferente – Houve um rosnado em protesto. – Eu quero ser como você, Harry, uma lobisomem!

Choque!

O mestiço não conseguia assimilar aquelas palavras com perfeição. Será que ela estava falando realmente sério? Ele seria capaz de corresponder a tal pedido? Seria forte o suficiente para mordê-la e transformá-la numa lupina?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam de nossa Elena se transformar numa loba? Será que Harry conseguirá mordê-la?