Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 23
Sonhos que Desmoronam




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― Eu não sabia que elas estavam lá, Sam – explica Lucian, depois que o susto com Harry havia passado. – Não senti cheiro algum, realmente achei que estava sozinho. Se tivesse percebido a presença delas, com certeza teria lido suas mentes e descoberto seus planos.

― Como puderam inibir o próprio cheiro? Elas são apenas humanas...

― Elas são caçadoras – sussurra. – Caçadoras de lobisomens.

― Isso explica muita coisa! – suspira Sam. – Se forem experientes, com certeza encontraram algo para camuflar-se ao ambiente e enganar o olfato de suas presas.

― Quando segurei em sua mão – diz o cherokee, lembrando o momento em que mirou a besta de Elena para o seu próprio peito –, sua pele estava viscosa... Com certeza passaram algo no corpo para causar este efeito.

― Droga! – esbraveja o quileute. – Jacob chegará com Carlisle e não gostará de ter tantas novidades para assimilar.

― Jake está voltando? – pergunta Leah.

― Sim. Bella e Edward querem rever Charlie, Nessie virá junto e ele seguirá seu imprinting.

Mais alguns assuntos foram conversados a respeito de seus novos inimigos, assim como do retorno de velhos amigos, e, na manhã seguinte, Lucian saiu cedo para buscar a transferência do Harry. Contudo, se o cherokee soubesse da desventura que aconteceria naquela manhã, certamente não teria saído de La Push...

― Bom dia, Dona Leah – começa Nicolas timidamente. – Harry está? Preciso muito falar com ele.

― Está sim – responde com semblante desconfiado –, vou chamá-lo.

Leah entra na residência sem ao menos convidá-lo para entrar e Nicolas não se atrevera a tal ato, percebendo que sua presença não era tão querida quanto fora na infância.

― O que você quer? – diz Harry com pouco humor.

― Preciso conversar com você, sem piadas, eu prometo!

Harry analisa o rosto do Uley por alguns segundos, vendo seu semblante sério e decidindo dar-lhe uma oportunidade, um pequeno voto de confiança. Nicolas se afasta alguns metros da casa para conseguir certa privacidade e o mestiço o segue, pacientemente.

― Me desculpe pelo que lhe disse ontem, falei sem pensar...

― E espere que eu acredite? – rebate, cruzando os braços.

― Eu juro, Harry, saiu sem querer! Sei muito bem o quanto toda esta situação é delicada... – Suspira. – Meu pai me repreendeu ontem e desde então não falou mais comigo. Ele está desapontado.

Nicolas desvia o olhar, fazendo Harry perceber rapidamente o que se passava em seu interior.

― Dói, não é? – pergunta o mestiço, fazendo Nicolas ficar confuso. – Achar que ele não o ama mais. Foi isso o que senti quando meu pai se recuperou da mordida. Isso dói.

― Sim – concorda. – Eu quero mudar, Harry, quero me tornar alguém mais maduro. Alguém que meu pai possa se orgulhar e, para isso, preciso que me desculpe.

― Eu o perdoo, mas em troca terá de vir comigo para a floresta! – propõe, fazendo os olhos de Nicolas se arregalarem.

― Não! – nega prontamente. – Não acho uma boa ideia e se você surtar? – pergunta, se referindo às crises do imprinting de Harry.

― Você estará comigo, o que poderia sair errado? Vamos, como nos velhos tempos.

― Velhos tempos? Quer que eu o largue na floresta de novo? – pergunta irônico.

― Não, você pode pular esta parte! – Ri, já caminhando em direção à mata. – Minha vida está em suas mãos.

― Não brinque com isso! Eu quero mudar, mas não sei se serei capaz de te ajudar se começar a ter um troço.

― Está brincando? Você é filho de um alfa, tenho certeza que está capacitado para qualquer coisa.

Nicolas sorri com o voto de confiança e segue Harry floresta adentro, com olhos, ouvidos e nariz bem atentos. Mal sabia ele que aquilo não seria o suficiente para protegê-lo, e que ele também pagaria o preço daquela ida a floresta.

Depois de andarem por quase meia hora, Harry e Nicolas finalmente param. O Clearwater olha por entre as árvores tentando encontrar algo mais do que folhas e troncos, enquanto o Uley andava ao seu redor, averiguando se o ambiente estava seguro.

Um pequeno "tlic" chega aos ouvidos de ambos. Nicolas empurra Harry com força e recebe no braço direito, a flechada que fora dirigida para o mestiço. Ele rosna para as árvores de maneira furiosa e deixa o fogo percorrer o seu corpo, transformando-o em um imenso lobo negro, como o pai.

O lobo quileute uiva em alerta, porém, seu aviso é brutalmente interrompido pelo forte golpe que o acertara do lado direito do corpo. Ele observa a região com cautela, assustando-se com o arpão fincado entre suas costelas. Mais duas flechas cortam o ar em direção à Harry, porém, como seu guarda-costas naquele momento, Nicolas salta em sua frente e as intercepta, recebendo-as em seu próprio corpo.

― Nicolas!

Isso dói pra caramba, sabia?— brinca ele, sabendo que Harry não conseguiria entendê-lo. – Você precisa sair daqui agora.

― Não vou fugir e deixá-lo aqui sozinho! – diz Harry, recebendo um rosnado em troca.

Aguente firme Nick, já estamos chegando­— grita Sam em sua cabeça.

O bando quileute salta dentre as árvores minutos depois, mostrando o quão numeroso eles eram. Um silêncio estranho se fez na floresta, os caçadores estavam assustados com o tamanho da matilha, constatando que o equipamento que tinham não eram suficientes para aniquilar todos eles.

Escondido nas árvores estava toda a família Noolan: Carlos, bem à frente dos lobos quileutes, Elena um pouco mais à direita e Lyssa na lateral do grupo lupino. Era nítido que estavam em desvantagem e que precisavam fugir, mas como?

Depois dos relatos da esposa, Carlos estava vendo os lobos gigantes com seus próprios olhos e reconhecia precisar refazer sua estratégia de ataque. Ele vê Harry sendo empurrado por um dos lobos da matilha, provavelmente para um local seguro, e isso o deixou bastante irritado. Antes de fugir, ele tinha que matá-lo!

― Você não vai fugir! – grita Carlos, apanhando seu arpão sobressalente e atirando sem excitar.

Quil empurra o garoto com o focinho, jogando-o contra uma moita e fazendo o caçador errar o alvo. Os quileutes se agitam com a ofensiva, os caçadores estavam os atacando abertamente e eles nada podiam fazer contra eles, pois eram protetores e não matavam humanos.

― Faça alguma coisa que preste, Elena! – ordena o caçador enfurecido. – Ele é a sua presa, ataque-o!

Elena estava com seu antigo arco em mãos, visto que Lucian destruíra sua besta. Ela possuía o mestiço na mira há um bom tempo, mas não conseguia liberar a flecha, sentindo como se houvessem cordas amarradas às suas mãos, impedindo-a.

Ela queria esquecê-lo para sempre, queria que ele saísse de seus sonhos, de seu coração e de sua mente, mas nada estava acontecendo. E depois que o vira sofrer daquela forma, no dia anterior, perdera completamente o rumo e já duvidava se deveria mesmo caçá-lo. Se Elena estava ali, naquele momento, era unicamente por causa de seu pai.

Lyssa, percebendo que a filha estava perdida em seus pensamentos, decide atirar em seu lugar para que o marido não se zangasse, pois sabia que ele a trancaria novamente e que aplacaria sua ira em outra surra em sua filha.

― Essa é pra você, moleque! – diz Lyssa, apontando e atirando sua última flecha em Harry.

― Não! – grita Leah, correndo em direção ao filho e colocando-se à sua frente.

A quileute ouvira o uivo de Nicolas, notando também o sumiço de seu filho. Preocupada, ela correu para a floresta em busca de Harry, e, depois de muito correr, o encontrara sendo retirado por escanteio pelo focinho gelado de Quil. Leah pretendia puxá-lo pelo braço e retirá-lo dali rapidamente, mas quando ouviu as palavras de Lyssa e o zumbido da flecha sendo lançada, seu coração de materno fez a primeira coisa que veio em sua mente: o protegeu.

A flecha perfura a pele quente da quileute, na altura de seu ventre, fazendo-a arcar para frente e o sonho de sua família desmoronar com o sangue que lhe escorria. Seu novo e ainda minúsculo filhote estava morto, ela podia sentir isso em cada célula de seu corpo e um grito angustiado salta de sua boca, arrepiando o corpo de sua agressora.

― O que vocês fizeram? – grita Harry em prantos. – Ela está grávida!

Lyssa sente o mundo desabar debaixo de seus pés e tudo o que se passou em seguida, pareceu acontecer em câmera lenta diante de seus olhos. Ela também era mãe, sua filha era seu bem mais querido, e, agora, ela acabara por matar os sonhos de uma outra mãe... Lágrimas saltam de seus olhos e suas mãos largam a arma com que atirara rapidamente, ao ver o horror que havia feito... Naquela história, Lyssa é que se sentia a monstra, a assassina, arrependendo-se amargamente por ter atirado aquela flecha.

Carlos desce de seu esconderijo para fugir, aproveitando o momento em que os lobos socorriam os feridos. Elena o vê fugir e se enfurece, como ele ousava partir e deixá-las ali? Lyssa vê a retirada do marido e desce de seu próprio esconderijo sem se importar em ser vista, seus olhos se cruzam com os olhos molhados de Leah, e, ali mesmo, a caçadora decide nunca mais entrar naquela floresta com um arco em mãos.

Nenhum quileute os perseguiu, pois eram humanos e nada poderiam fazer contra eles. Naquele dia, Harry não tivera nenhum problema com seu imprinting, pois nem sequer lembrara-se de Elena. Sua mente estava em sua mãe e na raiva que sentia da família Noolan. E quando o Sol estava a pino, Lucian retornou.

Seth o chamara ainda do lado de fora da casa, fazendo o cherokee desmoronar em lágrimas. Ele adentra a casa visivelmente triste, encontrando Harry trancado em seu quarto e Leah sobre a cama do casal, repleta de ataduras e focando o teto pensativamente.

Ele se aproxima ainda em silêncio, tomando Leah nos braços fortes, senta-se na cama e a aninha em seu colo de maneira confortável. O buraco da flecha ainda estava ali, o processo de cicatrização ainda estava começando e logo o recuperaria por completo, mas as cicatrizes no coração da família Clearwater com certeza não sumiriam.

― Você está chorando – sussurra Lucian.

― Não estou chorando – afirma Leah confusa, pois realmente não derramava lágrimas naquele momento.

― Está sim. Eu posso sentir, seu coração está chorando!

Ele a aperta cuidadosamente em seu abraço, alcançando a parte mais profunda de seu coração. Não podendo mais conter a sua tristeza, Leah afunda o rosto na curva de seu pescoço e ambos choram baixinho, apoiando-se um no outro e deixando que as lágrimas lavassem suas almas.


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Notas finais do capítulo

Feliz Ano Novo 2/2
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Começamos o ano cheio de tensão e adrenalina hein!? Estou vendo muita gente fula da vida com a Elena, kk, mas peço que tentem entendê-la, ela passou a vida toda aprendendo que lobisomens são maus, mesmo que ela ame o Harry é impossivel jogar toda sua crença no ralo, assim do nada. Ela tera que ver por si só, que a filosofia de sua família não é verdadeira...
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Enfim, espero que gostem do capitulo...