Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 16
Mais Poderoso do que Esperávamos!




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Harry retornava para La Push tranquilamente, quando os faróis de seu carro o alertam de que havia algo na pista. A noite já começava a cair, o lobo não conseguia identificar corretamente o que obstruía seu caminho e, parando o veículo, desce para averiguar.

Ele se aproxima de maneira descuidada da bola de pelos encolhida na estrada, fazendo o pequeno bolo erguer a cabeça rapidamente, ao se dar conta de sua aproximação, revelando se tratar de um cachorro. Era fácil para ele se afeiçoar aos caninos, ainda mais depois que se transformara numa "espécie de cão" – um pouco grande, feroz e de força colossal, mas um cão.

O cachorro parecia ter sido abandonado a pouco tempo. Era sadio e bonito, mas, no momento, tremia com o frio, e a julgar pelo local onde estava, Harry pôde perceber que o animal aguardava que seus donos retornassem e o levassem para casa... Ele se aproxima da bola de pelos branca e encardida, estendendo a mão para tocá-lo e levando uma mordida como resposta.

― Ai – pragueja. – Calma garoto, só quero ajudar.

Ele tenta outra aproximação, contudo, o cachorro não parecia querer colaborar e começa a latir sem parar. Por um instante, Harry pensa em desistir, mas a chuva que começara a cair em seguida o fizera insistir um pouco mais, afinal, uma vida é uma vida, e não merecia ser abandonada daquela forma.

O mestiço senta-se à frente do animal e curva o tronco em sua direção, recebendo rosnados furiosos como retorno, mas conseguindo manter um contato visual seguro com o canino.

― Acalme-se, eu não vou te machucar – pede baixinho, mas sem resultado.

Harry fecha os olhos e respira profundamente, pensando em outra estratégia, e, quando abre os olhos novamente, mal percebe que sua íris dourada cintilava em seu rosto.

― Eu sou como você! – O cão se cala subitamente. – Também sou uma espécie de... Cachorro grande. – Ri internamente com a piada. – Não vou te machucar... Seus donos não vão voltar, mas se você quiser, posso cuidar de você agora!

Ele se achava um tanto ridículo naquele momento, por falar com um animal irracional como se ele realmente pudesse entendê-lo. Porém, surpreendeu-se quando o cachorro se levantou, tremendo com o frio, e deitou-se sobre suas pernas, como se aceitasse a sua ajuda. Harry sorri, ele era um bom cãozinho afinal. E, depois de colocá-lo no carro, ele o leva para casa, onde tentaria convencer seus pais a aceitarem seu novo animal de estimação.

Um tempo depois de Harry ter chegado em casa e se acomodado na sala, Lucian, que estava no quarto, estranha os ruídos e falas desconexas que ouvia do outro cômodo, e decide verificar.

― De onde veio isso? – Aponta para o cachorro espantado.

― Eu o achei na estrada, estava abandonado... Posso ficar com ele? – Sorri forçadamente, tentando convencê-lo.

― Ah, droga, tem um cachorro na minha sala – Assusta-se Leah, ao seguir o marido e ver o animal, recebendo alguns latidos em troca. – Essas são as minhas toalhas? – Repara nos tecidos que envolviam o animal.

― Eu o achei na estrada, mãe, estava com frio e molhado... Posso ficar com ele? Por favor... – cantarola de maneira manhosa.

― Nem pensar, ele é feio, fedido, estranho e está usando as minhas toalhas – rebate.

― Eu posso cuidar disso, o deixarei limpo sempre e lavarei suas toalhas. Ele é adestrado e não causará tantos problemas.

― E que nome pretende dar a essa coisa? – pergunta Lucian.

― Não é coisa, é um cachorro... O nome dele será Doritos.

― Isso não é o nome de uma guloseima?

― Sim. – Leah e Lucian fazem cara feia. – Era isso ou Hambúrguer.

― Não pode arranjar um nome normal pra ele? – questiona Leah.

― Por quê? Ele tem cara de Doritos, olha. – Vira o rosto do cachorro para que pudessem vê-lo.

― Você me convenceu, fico com Doritos – declara a loba, achando o gosto do filho bastante duvidoso para nomes.

― Muito bem – continua Lucian –, você disse que ele era adestrado, o que ele sabe fazer?

― Sentar, deitar, rolar, ele sabe fazer tudo! – empolga-se.

― Vamos testar. Doritos senta! – Não houve reação. – Senta! – insiste, mas, ainda assim, sem resposta.

― Estranho, ele estava fazendo tudo antes de vocês chegarem, deve estar com vergonha.

― Harry, ele não pode estar com vergonha, é um cachorro. Mostre-me como você fez...

Harry assente com a cabeça e se ajeita no sofá, chamando a atenção do canino para si, e, antes que pudesse dar a sua ordem, a coloração de íris tornasse dourada novamente, diante dos olhos de Lucian.

― Senta! – O cachorro obedece. – Deita! – Obedece novamente.

Ele olha para os pais, animado, porém, eles estavam embasbacados demais para prestarem atenção aos truques de Doritos.

― Você sabia que seus olhos estão dourados? – pergunta Leah.

― Não sabia! – alega, surpreso, fechando os olhos com força para que voltassem ao normal.

― Se importaria de tentar de novo, mas, dessa vez, sem os olhos lupinos?

― Eu não estava usando os olhos lupinos – explica.

― Apenas faça, ok? – insiste Lucian de maneira compreensiva, já com uma teoria em sua cabeça.

Harry repete suas ordens a Doritos, sem preparar-se ou concentrar-se demais para a tarefa, mas ele nada fazia, apenas o olhava como se não entendesse nada. O cherokee pede uma nova tentativa utilizando os olhos de seu lobo e, para sua surpresa, o cachorro responde aos seus comandos como se compreendesse cada uma de suas palavras.

― Animalia! – conclui Lucian.

― O quê? – perguntam mãe e filho ao mesmo tempo.

― O cachorro não é adestrado... Isto se chama animalia. – Vira-se para o filho. – Este é o seu dom, Harry, o dom de falar com os animais. – Ri abobalhado. – Isso é incrível, você realmente herdou a linhagem sanguínea pura dos Filhos da Lua.

― Verdade? – questiona Leah. – Ele pode falar com qualquer animal?

― Não sei, é preciso testar primeiro... Ouvi dizer que, em alguns casos, a animalia funciona apenas para uma determinada espécie.

― Isso é tão legal – vibra ele, usando seus olhos de lobo para conversar com Doritos.

Poderia o seu dia ficar mais perfeito? Ele conquistara o coração de Elena e agora descobria possuir um dom, assim como seu pai e sua tia Hana, e, para melhorar, sua família comemorava junto com ele todas as novidades.

Harry leva Doritos para um banho, curtindo a cada momento a sua nova descoberta. Lucian e Leah permanecem na sala, sentados um ao lado do outro, pensando em quão especial e poderoso o filho era, quando duas batidas na porta arrancam o casal de seus pensamentos.

Leah caminha até a porta e a abre, dando passagem para que Hana entrasse.

― Tenho algo importante para lhes dizer... É sobre Harry e sobre o imprinting – fala um pouco afoita.

― Harry, poderia vir até aqui, por favor? – pede Leah, em tom normal de voz, fazendo-o voltar para a sala logo em seguida, retirando a camisa que já estava molhada.

― Comece, Hana – pede Lucian, fazendo todos se sentarem.

― Eu conheci Elena hoje, ela é muito simpática e bonita...

― Direto ao ponto, por favor – insisti o cherokee.

― Seu imprinting não é normal, Harry. – Encara o menino que nada entendia. – Talvez seja pela mistura de espécies, mas seu imprinting não é normal.

― Disso nos já sabíamos. Tudo com ele acontece diferente – explica Leah.

― Vocês não estão entendendo... A magia do imprinting já é forte por natureza, mas a dele não é normal – desata a falar –, é mais forte, é estranha e até mesmo Elena foi afetada por ela, como se parte da magia também a invadisse. – Choque. – Quando os vi na praia pude sentir um amor muito forte os envolvendo, algo além do normal para humanos ou lobisomens. – Encara Harry com olhar preocupado. – Tenho medo do que esse imprinting é capaz de fazer...

Harry engole em seco e ninguém tivera coragem de dizer mais nada. Hana era sensitiva às emoções, é lógico que ela sabia e tinha certeza do que estava dizendo. Mais duas batidas na porta retiram cada um de seus pensamentos individuais e, quando Harry a abre, Sam invade o cômodo afobado, apontando o dedo para o garoto e fazendo-o recuar.

― O que você fez com Nicolas?

― Não fiz nada!

― Sam, o que pensa que está fazendo, invadindo minha casa dessa forma e apontando o dedo para o rosto do meu filho? – Se enfurece Leah.

― Me desculpe, Leah e Lucian, mas ele fez alguma coisa com meu filho!

Sam olha para trás e, somente aí, é que os Clearwater percebem a presença de Nicolas na porta. O jovem Uley estava amuado, recostado no batente da porta, seu olhar não ousava se dirigir à Harry e o simples tom de sua voz fazia seu corpo tremer involuntariamente... Lucian olha para Hana sugestivamente e ela começa a analisá-lo.

― Não vejo nada de errado, ele só está sobre um comando alfa! – relata Hana sem muito espanto.

― Eu sou o alfa do bando quileute e não fui o responsável por nenhuma ordem... Se não fui eu, quem foi? – rebate Sam.

― Eu não sou um alfa, por que me acusa de ter feito alguma coisa com ele? – pergunta Harry, confuso.

― Isso é ridículo, Sam – diz Leah, em defesa do seu filho. – Mesmo que Harry fosse um alfa atuante, como poderia dar ordens à Nicolas se ele pertence ao seu bando? Isso é impossível!

― Isso é possível, sim – intromete-se Lucian, finalmente entendendo a situação.

― Como isso é possível? – questiona o alfa quileute.

― Ainda a pouco, descobrimos que Harry tem um dom especial: animalia. Ele fala com animais. É possível que ele tenha falado com o lobo de Nicolas. – Pensa, amadurecendo um pouco mais a sua teoria. – E como ele herdou o sangue alfa, suas palavras soaram como uma ordem.

― Está dizendo que Harry pode mandar em qualquer um do bando? – pergunta Hana, fazendo todos olharem para o mestiço.

― Sim.

― Isso está saindo do controle – diz Sam. – Como manteremos o bando unido se ele sair dando ordens a todos eles?

― Não vou fazer isso! – defende-se Harry. – Confesso que realmente mandei que Nicolas ficasse longe de Elena, mas nunca me passou pela cabeça mandar nos lobos do bando. Nem sequer sabia que podia fazer isso, até agora.

―Administrem esta situação! – pede Sam de maneira compreensiva. – Ele é mais forte do que esperávamos e Jacob não gostará de saber que temos um alfa interbando em nosso meio...

Leah assente com a cabeça, assistindo o quileute partir, levando o filho consigo. Hana se despede logo em seguida, seu recado estava dado e ela sabia que a família tinha muito a conversar e refletir.

― Harry, termine de dar banho em seu cachorro – pede Leah, para que o garoto se retirasse. – O que faremos? – pergunta para Lucian em seguida.

― Não sei. – Esfrega o rosto. – É muita coisa para assimilar.

― Sam tem razão, precisamos administrar isso logo... Harry tem duas transformações, fala com animais, pode dar ordens para lobos de outros bandos e tem um imprinting mais forte que qualquer outro. Ele é mais forte do que qualquer um neste lugar.

― Já não sei se fico orgulhoso pelo nosso filho ou com medo.

― Tenho medo de Jake não aceitá-lo – confessa Leah.

― Não vamos pensar nisso agora, afinal, Jacob nem está mais por aqui. – Pausa. – Harry?

― Sim? – diz ele do banheiro, de onde ouvia toda a conversa.

― Está proibido de usar seu dom com qualquer lobo do bando, ouviu?

― Ouvi. Não precisa pedir duas vezes, pai, não quero causar problemas.

O silêncio predomina a casa dos Clearwater. Leah e Lucian não sabiam como reagir às novas descobertas e Harry estava com medo de ser expulso da reserva por ser tão anormal, quando comparado aos outros... Ele estava apreciando o fato de ter duas transformações e um imprinting distinto, mas, agora, não estava tendo graça ser tão diferente dos outros, pois tinha medo do que poderia lhe acontecer!


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Notas finais do capítulo

PRESENTE DE NATAL 1/2
Feliz Natal pessoal, aqui está a primeira parte do presente de vocês, espero que tenham gostado! Eu sinceramente ri todas as vezes em que chamaram o cachorro de Doritos, kkk, nome ridículo xD
.
Nosso lobinho é incrível não acham? Mas até que ponto os lobos aguentarão tantas anomalias? Sam foi compreensivo até agora, mas será que Jake faria o mesmo?
Próximo capitulo: Família Noolan