Leah 2 escrita por Jane Viesseli


Capítulo 10
Coisas de Mestiço




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Seria tudo tão mais fácil se ele soubesse utilizar seu faro e audição, como seus pais, mas tudo era muito barulhento e os cheiros se misturavam em suas narinas. Harry não conseguia isolá-los, nem tampouco captar o cheiro fresco e gostoso de Elena, e, por não encontrá-la, ele acaba se convencendo que já havia partido.

Harry entra em seu carro e vai embora, esquecendo completamente da namorada e da conversa que deveria ter com ela.

― Ele tem namorada – cantarola uma menina logo atrás de Elena, assustando-a e retirando-a de sua preciosa observação.

― Eu sei que ele é comprometido.

― Então por que está o observando?

― Ele é meu primeiro amigo nesta escola, achei que conseguiria conversar com ele de novo.

― Sei... – Estreita os olhos, desconfiada. – Então tome cuidado, é muito fácil se apaixonar pelo Harry... Eu sou Catarina – apresenta-se, mudando de assunto e estendendo a mão.

Elena aperta a mão da garota ruiva e de cabelos cacheados. Ela tinha delicadas sardas espalhadas pelo nariz e abaixo dos olhos, e sorria como se tivesse descoberto a América, tornando-a simpática e amigável.

― Você é Elena, certo? Ainda não tivemos nenhuma aula em comum, mas assim que cairmos na mesma sala, prometo não deixá-la sozinha. – Sorri. – Eu sei como é horrível ser a caloura.

― Obrigada!

Com uma nova amiga feita, Elena retorna para casa bem mais relaxada do que quando saíra, desejando que o segundo dia de aula fosse melhor que o primeiro...

Um tempo depois, Harry entrava em casa sorridente. Lucian ainda estava afastado do serviço e, por isso, encarava o garoto juntamente a Leah, ambos com cara de "que bicho o picou?".

― Vocês não vão acreditar no que aconteceu hoje!

― Ganhou na loteria? – chuta Lucian.

― Não pai, entrou uma garota nova na escola.

― E? – pergunta Lucian não entendendo o porquê de tanta empolgação.

― Como assim "e"? Esta é a novidade... Pai você precisava vê-la – narra, começando a andar de um lado a outro, gesticulando –, ela se chama Elena e se sentou atrás de mim na aula de História, o professor me deu a função de ajudá-la na tarefa, porque foi por minha causa que ela se perdeu na escola e chegou atrasada...

Harry não conseguia permanecer parado, e, tampouco, calado. Leah, que bebia um pouco de suco, fica a segurar o copo no ar, enquanto olhava para o garoto que falava como uma gralha. Ela faz menção de dizer algo, mas ele não deixava, e, quando finalmente se calou, ela soltou:

― Seria óbvio demais eu dizer que ele teve um imprinting?

― Como assim imprinting? – pergunta Harry seriamente. – Você quer dizer aquele treco que vocês tiverem? A tal magia de lobo? – O casal assente com a cabeça. – Isso é impossível, não senti nada do que a mamãe disse que sentiu... E eu tenho uma namorada, não posso ter um imprinting – finaliza, irritado e inconformado.

― E como ela é? – diz Lucian desconfiado.

― Ela é perfeita – responde sorridente, como se não tivesse se irritado alguns segundos antes. – Tem cabelos castanhos e ondulados, um corpo bem delineado, pele bonita e um cheiro muito bom... Sua voz é tão incrível como uma melodia e sua boca... – Pausa, tentando encontrar a descrição certa.

― Extremamente sexy e convidativa? – chuta o cherokee.

― Sim, isso mesmo – conclui o garoto sem pensar duas vezes.

― Caramba, você a aceitou!

― O quê? – pergunta Harry, confuso.

― É claro, por que não percebi antes? Você é meu filho, tem sangue de um alfa, isso quer dizer que tem a liberdade de escolha... Harry, você a viu, teve um imprinting por ela e a aceitou como sua companheira sem nem perceber.

Harry abre sua boca num perfeito "o" e desaba sobre o sofá, completamente pasmo. Ser um lobo de primeira viagem estava lhe rendendo muitos acontecimentos inesperados, como ele pudera ter um imprinting sem ter notado?

― É impossível que não tenha notado nada – diz Lucian ao ouvir os pensamentos do filho. – Quando Filhos da Lua tem um imprinting, são capazes de ver as lembranças mais marcantes de sua companheira, assim fica mais fácil aprofundar os laços.

― Eu não senti nada e não vi nada. Sabia que alguma coisa iria sair errado nesta mistureba toda que são os meus genes, vocês acham que meu imprinting é defeituoso? – cogita de maneira despreocupada.

― Não, nunca! – corrige Leah, levando as palavras do filho a sério.

― Isso não é muito normal, você age como um besta apaixonado, mas não sentiu o imprinting passar...

― Ei, eu não estou agindo como um besta apaixonado.

― Qual a cor dos olhos de Elena!

― Castanhos – responde prontamente, com um sorriso estampado nos lábios.

Lucian aponta a mão direita para o filho, como se quisesse mostrá-lo o quão bobo e apaixonado ele parecia naquele momento. Harry se repreende mentalmente por ter caído naquela armadilha, mas não tinha como evitar, falar sobre ela o deixava animado como se o seu lobo interior abanasse o rabo todas as vezes que ouvia o seu nome.

Ter um imprinting e não perceber poderia ser considerado normal para um lobo, sendo, no mínimo, bizarro. Mas uma coisa Harry tinha de admitir, nada nele era muito normal, nem mesmo para os padrões lupinos, e talvez o imprinting invisível fosse apenas mais um efeito colateral da junção das duas espécies.

― Pode ser – diz Lucian, levando seus pensamentos em consideração.

― O quê? – pergunta Leah confusa.

― Pra mim parece óbvio – diz Harry, dando de ombros.

― O que parece óbvio?

― Ou talvez ainda esteja para acontecer alguma coisa – complementa Lucian.

― Hein?

― É talvez. – De novo Harry.

― Do que vocês estão falando, afinal?

― Mas você precisa terminar!

― O quê? – pergunta Leah

― O quê? – repete o filho.

― Você precisa por um ponto final nisso.

― Um ponto final onde? – implora Leah levantando as mãos, odiando estar por fora da conversa.

― No imprinting?

― Não!

― De que droga vocês dois estão falando afinal? – grita Leah enfurecida.

― Sei lá, estávamos falando do imprinting e o papai começou a dizer coisas estranhas de repente, pedindo pra pôr um ponto final nele.

Lucian revira os olhos e puxa a esposa para o sofá, massageando seus ombros para que se acalmasse.

― Eu não disse pra colocar um ponto final no imprinting, disse para pôr um ponto final em seu namoro com Daniele – revela como se fosse óbvio.

― Oras, então por que não disse logo? – questiona Harry, pensando por alguns segundos. – Mas ela é minha namorada, eu gosto dela, não quero terminar!

― Você precisa terminar com ela – enfatiza Lucian. – Você não a ama de verdade, pois um alfa só pode amar verdadeiramente o seu impriting, ninguém mais. O que sente por ela é apenas atração carnal, daqui pra frente o imprinting tende a se intensificar, você vai querer vê-la todos os dias, vai querer que ela o note todos os dias...

― Vai querer conversar com ela sempre e saber o que ela pensa de você – continua Leah –, vai desejar fazê-la sorrir e matar quem fizer sua alegria desaparecer.

― Seu interesse por essa menina ficará cada vez mais forte e nítido. Se não terminar agora, vai magoar Daniele.

― Vou ver o que posso fazer – conclui um pouco abatido.

― Ei, ter um imprinting é uma coisa boa afinal – diz Leah num sussurro, mudando para o lado do filho. – Vamos lá, conte-me novamente: como ela é?

O rosto de Harry se ilumina novamente, esquecendo-se completamente de Daniele e do porquê estava abatido. O imprinting era tão nítido nos olhos dele, mas, ao mesmo tempo, tão anormal, que deixavam o cherokee a deriva.

Harry reconta toda a sua história a respeito de Elena, esquecendo-se até mesmo de respirar entre uma frase e outra. E depois, terminada a conversa, a família Clearwater se dirige animadamente para a floresta, a fim de ensinarem ao garoto as artimanhas de um lobo.

Lucian é quem começa, tentando ensinar à Harry de onde retirar a energia que o transformaria num lobisomem voluntariamente. Depois de aprendida a primeira lição – rasgando toda a camiseta e quase toda calça no processo –, vieram às explicações a respeito das garras e de como retornar à forma humana. Harry estava extasiado com seus primeiros feitos como um Filho da Lua, achando as coisas bem mais fáceis, depois de identificar a energia da transformação dentro de seu corpo.

― E então, quando começarei a fazer coisas legais como farejar e ouvir bem? Vocês sabem, precisei disso hoje, mas não sabia como fazer.

― Deixaremos isso para amanhã, sabichão, por hora vamos nos concentrar em sua transformação quileute – diz a loba cinzenta, tomando as rédeas da aula. – Primeiramente, deve tomar cuidado com as roupas, pois virar um lobo não deixará nem um trapo de calça para o cobrir.

Silêncio!

― O que foi? – pergunta Harry, ao perceber que os pais o encaravam.

― Está esperando o quê? Tire suas roupas para poder se transformar, ou, pelo menos, o que sobrou delas.

― Não vou tirar minhas roupas com vocês me olhando! – Gira o indicador, mandando-os se virar.

Leah e Lucian se entreolham e se viram, mas Harry ainda não se sentia a vontade para se despir no meio da floresta. E se tivesse algum lobo os observando?

― Não tem ninguém aqui – diz o cherokee –, ande logo com isso.

Harry resmunga em consentimento e começa a retirar sua roupa íntima e o que sobrou de suas calças.

― Pronto? – pergunta Lucian se virando.

― Ah, pai! – Tampa sua intimidade com as mãos. – Que porcaria, vira para lá!

― Já joguei talco umas quinhentas vezes no seu bumbum, que diferença tem eu te ver nu agora? – Ri, voltando a se virar.

― Eu sou jovem, você pode me traumatizar fazendo essas coisas, sabia? – fala dramaticamente. – O que tenho que fazer agora, mãe? E, por favor, permaneça de costas.

Leah não consegue segurar uma risada, porém, ainda de costas, começa a orientá-lo a sentir o fogo dentro de si, o fogo que mudaria sua forma humana para a de um lobo. Harry fecha os olhos e, com algum esforço, consegue sentir o tal fogo queimando dentre seu corpo e alma, notando com mais facilidade as duas magias habitando dentro de si. E era incrível, a "energia" cherokee e o "fogo" quileute podiam ser sentidas simultaneamente dentro dele, dividindo o mesmo corpo, mas sem poderem atuar ao mesmo tempo. Era dele a decisão de qual magia usar e isso o fazia se sentir realmente poderoso e especial...

Harry escolhe o fogo como a magia predominante e sente ele se alastrar pelos seus membros, modificando sua forma e, quando abre os olhos, percebe que já era um lobo.

Uau, isso é muito legal – abana o rabo.

― Realmente é muito legal – diz Lucian orgulhoso, pois acompanhara os pensamentos do filho a respeito das magias que habitavam seu corpo.

― Muito bem, Harry, controlar quando e onde se transforma é o primeiro passo na vida de um lobo – diz Leah sorridente.

― E controlar suas emoções é a parte mais importante na vida de um Filho de Lua, lembre-se sempre de liberar aquilo que lhe incomoda, pois isso pode influenciá-lo durante a lua cheia.

Algumas lembranças nada agradáveis lhe vêm à mente, da noite em que se transformou com a lua cheia e possui sentimentos horríveis contra Lucian. Ele conhecia bem os resultados de não controlar seus próprios sentimentos.

― Muito bem, filho, pode voltar ao normal agora, continuaremos amanhã – diz Leah.

Harry solta um ganido estranho, como se os estivesse repreendendo, porém, o casal logo percebe que ele os estava mandando se virarem novamente.

 


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Notas finais do capítulo

Capitulo fraquinho, como havia lhes falado... Mas achei importante mencionar algo sobre o imprinting diferente de Harry e sobre ele aprender a ser um lobo, afinal, ninguém nasce sabendo se transformar oO
.
A nova amiga de Elena não terá muita relevância em nossa história, só a criei para conseguir fazer aquele diálogo e outro que virá mais a frente... O imprinting do Harry foi diferente, mas os "sintomas" que o Lucian mencionou virão de maneira mais retardatária... Vocês sabem, coisas de mestiço :3