Assassinato Na Royal Opera House escrita por Dreamer


Capítulo 5
A solista




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A respiração de Irene estava rasa e tranquila. Seu corpo, mesmo durante o sono, buscava calor no dele. Sherlock esticou o braço para alcançar o seu casaco largado no chão, a cobriu ao mesmo tempo em que se desvencilhou do seu abraço, deixando-a adormecida sobre o tapete macio daquela sala de jantar.

Abriu a bolsa dela, silenciosamente, e apagou a mensagem que ela nunca leria:

" Venha para o Camarim da primeira solista", T.P.

Repassou em sua mente o conteúdo que lera da carta e verificou que ela fora plenamente memorizada. Fechou a bolsa sem precisar lê-la novamente.

Entendera que o assassino dera de graça para Irene duas pistas de possíveis vítimas. Mas, a própria vir a ser uma, era algo que tinha certeza que nem ela mesma percebera.

Sherlock vestia-se e raciocinava: o assassino já sabia que não estava mais com o controle da situação. Sua vítima seguinte, Irene, não aparecera...

Saiu da sala de jantar e apanhou o seu celular no bolso da calça – dessa vez ficou atento para não abandonar nenhum pertence pessoal em seu casaco deixado para trás.

—Lestrade—identificou-se o homem no outro lado da linha.

—Ponha o flautista principal que tocaria Flauta Picolo¹ sob custódia. Ele deverá ser a próxima vítima—pediu, lembrando-se do "homem da melodia fina e estridente".

—Sherlock? Onde diabos você esteve nas últimas horas?

—Por que?

—Lílian Posthan, a dançarina, confessou ter matado seu parceiro de cena.

Ele desligou o telefone. O camarim daquela mulher era o lugar onde Irene seria assassinada.

.o.

John, descansando verdadeiramente após Lestrade o ter informado três horas atrás que o assassino fora encontrado, recebeu a mensagem:

"Vá à Scotland Yard", S.H.

"O que aconteceu? Já outro caso?", J.W.

"E me traga um casaco", S.H.

.o.

—Atchim!

—Como você foi perder o seu casaco? —perguntou John, sem imaginar o tom inocente da sua pergunta.

—Essa mulher que confessou o crime. Ela não é a assassina.

—Não? O que descobriu?

—Eu vasculhei o camarim dela, quando eu soube da confissão. Além de não haver nenhuma prova a incriminando, eu percebi que o espelho estava marcado. Alguém deixou uma mensagem para ela usando, provavelmente, um delineador. Ela apagou a mensagem depressa, usando um lenço.

—Alguém deixou uma mensagem para ela?

—Provavelmente, uma ameaça.

Ambos caminhavam pelos corredores da Scotland Yard. Lestrade, não muito contente por ter de reabrir o caso, aguardava-os:

—Porque não é ela?

—Ela está ali dentro? —perguntou Sherlock, pulando explicações.

Lestrade afirmou, enquanto Donavan fazia uma careta quando os percebeu no mesmo ambiente que ela. John entrou após o seu amigo. A bailarina estava com uma postura encolhida, sentada na cadeira da sala de interrogatório, com os olhos muito vermelhos. Não era preciso ser Holmes para perceber que chorara por horas. Sherlock tirou o lenço sujo do seu bolso e o colocou sobre a mesa:

—O que dizia a mensagem que você apagou com este lenço?

John percebeu o susto na moça:

—Não! Você não entende! — dizia ela entre gaguejos: — Fui eu! Vocês precisam acreditar em mim! FUI EU!

—Quem deixou a mensagem para você, Srta. Postham?

—Ninguém! Fui eu quem matou Cristian. FUI EU!

A porta da sala de interrogatório foi aberta, Lestrade, consternado, avisou:

—Houve outro assassinato no teatro!

Num susto verdadeiro, Sherlock perguntou:

—Quem?

—O flautista!

John estranhou, mas poderia jurar que, por uma fração de segundos, percebeu uma expressão de alívio passar pelas feições do amigo.

—Por favor, vocês precisam me ajudar! —exclamou Lílian, apavorada, percebendo que falhara.

—Qual foi a ameaça que ele te fez? —perguntou Sherlock.

Donavan, já dentro da sala, interferiu:

—Acho que é hora dos profissionais lidarem com a situação.

—Donavan, vá até a cena do crime e se certifique que ninguém mecha nela até chegarmos lá.

O olhar de inconformismo não foi o suficiente para que Lestrade mudasse de ideia:

—Vai!

Ela saiu da sala bufando.

A moça, entre soluços, começou:

—Eu recebi uma carta, dois meses atrás, quando fui escalada para ser solista neste espetáculo. Ele... Sabe coisas sobre mim. Eu nem faço ideia de quem ele é! Não sei nada dele. E ele sabe tantas coisas sobre mim... Coisas muito pessoais... E ele prometeu divulgar, se eu não cooperasse com ele e me entregasse à polícia em seu lugar.

Sherlock estreitou os seus olhos:

—Se é assim tão sério, interferiria na sua carreira ou na sua vida pessoal de maneira desastrosa. Se for o seu trabalho, você pode ter trapaceado de alguma forma, pode ter mentido dados do seu currículo, pode estar grávida—ela deu um profundo soluço e ele percebeu o seu tremor. —Se você estiver grávida teria um grave problema, teria que se afastar por tempo demais e nunca mais conseguiria um papel principal.

—Eu não estou grávida! —praguejou a garota, com a voz trêmula.

—Não, não está... —percebeu a veracidade nas palavras dela. —Mas, esteve... Você fez um aborto. E alguém não pode saber. Um namorado, provavelmente.

Ela começou a chorar sem controle.

—Então era a sua vida pessoal que estava em jogo... Que entediante...

—Sherlock! —repreendeu John.

Lestrade deu um suspiro:

—Vamos, você terá que ficar presa por mais um tempo, até responder por ter interferido em investigação criminal e ser cumplice de assassinato...

Desconsolada, a moça saiu da sala levada por Lestrade.

—Estamos lidando com um assassino manipulativo com ampla possibilidade de obtenção de informação.

—Sherlock, você descobriu mais alguma coisa, não é?

—Que horas são, John?

—14h. O que aconteceu com o seu relógio?

—Temos sete horas até o assassino agir de novo. Vamos! Vamos depressa ver a nova cena do crime.

[1] = Flauta menor e com notas muito mais agudas que as flautas transversais comuns.


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