O Décimo Terceiro Espírito escrita por Roni Ichiro


Capítulo 9
Esse céu estrelado




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Fiore, X789



Marco não encarava mais o espírito que o prendera em seus braços e se voltara contra ele com raiva, e sim estupefato. Lembrou-se de todas as vezes em sua vida que perguntara a Serpentarius sobre seu passado, e ela sempre dizia que quando chegasse a hora certa, contaria.

“Essa foi a hora que você escolheu...”

Após sibilar a última palavra de sua história, os braços que seguravam Marco firmemente se afrouxaram e ela caiu para trás, esgotada. A adrenalina que tomou conta de seu corpo agora estava abrindo lugar para a dor lancinante que o ataque de Loki lhe causava. Sentia que não conseguia mais mover nenhum músculo, no entanto, se esforçou ao máximo para não fechar os olhos e perder a consciência.

– Serp ! – Lucy gritou, indo de encontro a ela. Loki veio logo atrás.

– Agora eu entendo.... – Loki comentou, cruzando os braços – Por que Capricorn e eu não conseguíamos reconhecê-la direito. Ao fazer o contrato com o Rei dos Espíritos, sua presença foi afetada em nossas memórias. – ele arregalou os olhos – Ela desistiu de parte de sua vida e de...habitar o mesmo local que nós no mundo espiritual.

– Então, esse tempo todo... Depois que Jonah morreu... Ela ficou... sozinha...? – Lucy disse, as lágrimas começando a se formar em seus olhos.

Marco, agora no chão, estava paralisado. Flashbacks irromperam sua memória, lhe trazendo a sensação de que acabara de levar um soco no estômago.

Lembrou-se de quando tinha dez anos, de que no momento em que seu pai deixou esta vida, sentiu um calafrio, como se os dois não fossem os únicos sozinhos naquele quarto. E também, todos os dias antes de dormir, ao olhar para as estrelas, uma delas em particular chamava a sua atenção : seu brilho era...esverdeado ? Todas as vezes achava que era loucura de sua cabeça sonhar com uma mulher de cabelos verdes trançados, que não dizia nada, não fazia nada, apenas o encarava com seus enormes olhos dourados.

Sentiu vontade de chorar ao se lembrar de quando a viu pela primeira vez. Poucos dias depois da morte de seu pai, quando encontrou o livro que ele escreveu em uma das prateleiras empoeiradas de sua pequena casa. Sem saber direito o que fazer, apenas cochichou o chamado ao espírito enquanto segurava a chave dourada, e em um piscar de olhos, a protagonista dos seus sonhos surgiu diante dele. Na época não entendera o porquê de os olhos da moça se encherem d’água em seu primeiro contato, mas agora tudo estava claro em sua mente.

Serpentarius havia dado parte de sua vida por ele.

Se não fosse por ela, ele estaria morto, junto com sua mãe.

Dando passos lentos, Marco chegou até onde Serpentarius estava caída e esticou os braços em sua direção. Seus olhos estavam tão vidrados nela que ele nem reparou que Loki já preparara seu ataque para afastá-lo, mas foi impedido por Lucy, que cochichou : “Ele não vai machucá-la.”

– S... S... – as emoções eram tantas que ele não conseguia nem mencionar seu nome – Por que.... por que desistiu de tudo isso...por que trocou sua vida...pela...m-minha ?

O espírito, agora com os olhos abertos e respirando ofegantemente, respondeu :

– Porque... Eu te amo, Marco. Desde que o vi pela primeira vez, eu soube que iria te amar para sempre.

E pela primeira vez em sete anos, Marco chorou. Chorou por perceber todas as atrocidades que fizera, que Serpentarius havia trocado parte de sua vida pela de um criminoso ganancioso. E como isso custou sua vida quase por completo para ele finalmente perceber isso. Ficou com ódio, nojo de si mesmo, desejando em vão, apagar todos aqueles anos de trevas de sua vida.

– SERP !! – ele gritou, abraçando o corpo fraco da moça. – Desculpe... Desculpe... – disse, por entre soluços, depois levantou o rosto em direção às estrelas e berrou – Por favor, não a deixe morrer ! É tarde demais para mim, mas ela tem o coração puro ! Por favor, DEIXE-A VIVER !!

Depois de alguns segundos em silêncio, Marco sentiu um toque suave em sua bochecha, e reconheceu a textura das escamas.

– Não é tarde demais para você. Você fez escolhas erradas, mas pode consertá-las agora. Eu acredito em você. – e sorriu com dificuldade.

“Que nostálgico...”, Serpentarius pensou, quando uma lágrima do rapaz caiu em seu rosto. Depois disso, seus olhos se fecharam.

– Marco. – Lucy disse, trincando os dentes. – Ela não vai morrer, mas precisa voltar ao mundo dos espíritos para se recuperar.

– Está tudo se repetindo... – Marco disse, abaixando a cabeça – É a segunda vez que ela quase morre para me salvar...

– Mas...ela vai se recuperar. – Lucy respondeu.

Ele limpou o rosto, olhando para a moça desacordada em seus braços.

– Você sempre esteve comigo. Sempre que eu precisei, você me defendeu. Achava que um dia, durante nossa viagem que iria encontrar as pessoas que admirava e que achava que eram os mais incríveis magos do mundo, e não vi que a mulher mais incrível e corajosa que eu já conheci estava do meu lado esse tempo inteiro. Desculpe ter que chegar a esse ponto para dizer que... eu também te amo. – Dito isso, colocou a franja de Serpentarius para trás de sua orelha e beijou seus lábios frios. Depois, tirou de seu bolso a chave do espírito, que se envolveu em uma luz esverdeada e desapareceu. – Fique boa.

Marco se levantou, olhou para a chave dourada em sua mão com um aperto no coração e esticou-a para Lucy.

– O quê ? – ela disse, confusa – Por que está me dando...?

– Eu sei o que tem que ser feito. – ele disse, calmo. – Serp disse que eu ainda posso ser salvo, e está certa. Vou me entregar para as autoridades ao nascer do sol.

A maga arregalou os olhos.

– É uma pena que tenha que passar mais um bom tempo longe dela... Mas é preciso. Agora ela merece estar com um mago digno, e não há ninguém melhor do que você para isso, Lucy.

– Marco... – ela pegou a chave a analisou-a, depois encarou-o novamente.

– Espero que algum dia você possa me perdoar, Lucy. E que a memória que você tenha de mim seja sempre daquele moleque sonhador e atrapalhado que você conheceu sete anos atrás.

A loira sorriu.

– Eu já te perdoei, Marco. O importante agora é que você encontre um meio de perdoar a si mesmo. E quando isso acontecer... – ela estendeu a chave – Ela estará esperando por você.

Marco sorriu também, o coração batendo com força, depois de passar tanto tempo como se estivesse congelado.

– Promete que... Vai cuidar dela ?

Ela assentiu com a cabeça.

– Prometo.

– Obrigado, Lucy. – ele olhou para o céu – Não é um adeus. Um dia voltarei para te buscar. Eu desapontei muitas pessoas, mas prometo que vou tentar concertar isso.

– Jonah e Marion devem estar orgulhosos agora. – Lucy tocou o ombro do rapaz. – No fim você fez a coisa certa.

Ele se emocionou ao lembrar dos pais.

– Acha mesmo ?

– Tenho certeza.

Marco soltou um longo suspiro. O sol estava começando a nascer por entre as árvores.

– É minha deixa. Mais uma vez, agradeço do fundo do meu coração, Lucy. Até logo. – ele deu meia-volta e caminhou em direção ao horizonte, até sua silhueta ficar tão longe a ponto de desaparecer na luz do astro.

Loki sorriu, envolvendo a maga emocionada com um de seus braços.

– Também farei o melhor possível para fazer os outros espíritos se lembrarem dela.

– Serpentarius... Marco... – a maga disse baixinho, enquanto guardava a chave com cuidado. - Eu sabia que encontrariam sua força algum dia.



Semanas depois



A noite estava quente e agradável em Fiore. Uma leve brisa soprava nas árvores, e o céu estava sem nenhuma nuvem. Marco sabia disso porque sua cela possuía uma pequena janela, a qual ele passava a noite inteira observando, perdido em pensamentos.

– Ei, moleque. – seu companheiro de cela, um senhor de seus 70 anos, gordo e mal-encarado, chamou sua atenção.

– Sim ? – ele se virou para o velho

– Por que você passa todas as noites encarando essa janela, quieto, quase imóvel ?

Marco sorriu, de leve, e respondeu :

– Nunca havia reparado como o céu fica bonito estrelado à noite.

– Hmpf. - o velho resmungou, virou as costas e deitou-se para dormir.

O rapaz voltou a encarar a janela, avistando de relance um breve brilho esverdeado naquela grande constelação.

“Você está comigo. Sempre esteve. Minha serpente. Minha amiga. Meu amor.”, e fez como seu companheiro, deitou-se e deixou o brilho daquela noite estrelada guiá-lo para seus sonhos.




FIM.


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Notas finais do capítulo

Bom gente, espero que tenham gostado ! Novamente, desculpe pela demora para postar ! Me diverti muito escrevendo essa fic ! Obrigada por acompanharem e por comentarem ! Me deixou muito feliz !

Kissus :)



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