O Décimo Terceiro Espírito escrita por Roni Ichiro


Capítulo 2
A força mais poderosa




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Lucy já lera livros sobre todos os espíritos celestiais, e só encontrara informações sobre Serpentarius em apenas um deles, cujo autor foi logo taxado de louco e sua história se perdeu por completo. Agora lá estava ela, frente a frente com o espírito que todos julgavam ser irreal.

- São... Reais...? – Lucy perguntou, mas não pensou antes de falar. Que tipo de pergunta era essa a ser feita a respeito da pele escamosa de um espírito celestial ?!

Felizmente, Serpentarius apenas riu, e esticou o braço.

- Certamente não uso isso porque acho que é a última moda. Vamos, pode tocar.

Com as mãos tremendo, Lucy tocou seu braço direito. Era frio e tinha uma tonalidade que contrastava entre preto e branco, que à luz do sol era algo bonito de se ver. E ao contrário do que ela pensou, era lisinha, lisinha.

- Há quanto tempo você possui esse espírito, Marco ? – Lucy perguntou, embasbacada.

- Recebi sua chave do meu pai quando tinha nove anos.  Desde pequeno ele me ensinou sobre os espíritos, e quando ele morreu, passou o legado para mim. – ele sorriu nostálgico

- Puxa... – Lucy ainda estava fascinada – Mas pelo que eu acabei de ver... Você não parece precisar de ajuda nas lut...

E antes que ela pudesse terminar a frase, Marco desabou no chão, totalmente desacordado.

- AAAH !! ELE MORREU ?! – Lucy gritou, com o coração quase pulando para fora.

Serpentarius riu levemente e segurou-o.

- Ele está bem, só precisa descansar. Não está acostumado com essa quantidade de poder mágico liberado de uma vez. – ela o ergueu e o colocou nas costas

- Oh. – Lucy suspirou, aliviada. – Minha casa não fica muito longe daqui, podem ficar lá enquanto ele descansa.

- Seria ótimo, obrigada.

E depois de alguns minutos de caminhada, os três chegaram até a casa de Lucy. Serpentarius, ao entrar, tentou com o maior cuidado não tocar em nada, mas ao ver aquela quantidade de livros sobre magos celestiais não conseguiu evitar de esbarrar na mesa e quase deixar o desmaiado Marco cair.

- A-acho melhor colocá-lo na cama. – Lucy a guiou até seu quarto e Serpentarius o deitou.

- Nós viemos de muito longe para vê-la, Lucy. – ela disse, em um tom calmo – Gostaria que passasse seus ensinamentos para ele também. – e olhou para Marco, que dormia tranquilamente.

- É muito lisonjeiro, mas... – Lucy se sentou ao lado do espírito – Eu realmente não sei o que dizer. Vocês já são fortes...Tudo o que falta é deixá-lo mais resistente, sem que ele esgote seu poder tão rápido.

- É justamente isso que eu gostaria que ensinasse a ele. – ela vidrou seus olhos dourados nos olhos castanhos da maga – Você consegue agir tão bem com seus espíritos... Acho que falta um pouco disso para nós. – ela suspirou.

- Bom... – Lucy pensou um pouco – Acho que consigo ficar em tanta harmonia com meus espíritos... porque sinto que nossas almas se juntam em uma só quando lutamos.

- E como fazem isso ?

- Não tem um jeito exato para se fazer... Eu simplesmente amo todos os meus espíritos. De verdade. E eles me amam também. Acho que isso é uma força muito poderosa. – ela se aproximou – Então, você ama o Marco ?

Serpentarius não esperava por isso. Seu rosto ficou vermelho feito um tomate e, em uma tentativa em vão de não ser notada, enroscou seus braços elásticos em volta dele, o que deixou a situação ainda pior.

Lucy deu um risinho.

- Não perguntei se o amava desse jeito. – ela ergueu uma sombrancelha – Mas se é esse o caso... Bom, acho que já temos meio caminho andado.

- N-não ! Não é o que você está pensando ! – Serpentarius se atrapalhou

- Sei...

- Ah... – ela suspirou e encarou o chão – Então basicamente, para que fiquemos em harmonia, preciso que ele me ame...?

- Acho que sim. Basicamente.

Serpentarius levantou a cabeça levemente e acariciou o rosto de Marco, sorrindo.

- Não conte isso a ele, está bem ?

Lucy estranhou a pergunta, mas assentiu com a cabeça.

- Bom... – Serpentarius levantou – Já está na minha hora. Se eu continuar aqui vai demorar ainda mais tempo para ele se recuperar. Até logo ! – uma luz cercou todo seu corpo, e um segundo depois ela tinha voltado para sua chave.

Lucy sorriu. Mesmo sendo uma boa guerreira, Serpentarius ainda tinha seu lado tímido e inseguro, e pra ela isso era uma gracinha. Lucy se levantou e se direcionou ao banheiro para escovar os dentes, mas de repente, uma voz atrás dela a fez dar um pulo de susto :

- A força do amor, não é ?

- AAAAH !! – ela se virou, mas ficou aliviada quando viu que a pessoa não iria lhe fazer mal. – Loki ! Não apareça do nada assim !

O espírito deu uma longa gargalhada.

- Desculpe. Essa foi a última vez, prometo.

- Hmpf. – ela fez bico – O que veio fazer aqui ?

- Estou sabendo que tem uma chave nova por aqui. Serpentarius, não ? – ele se aproximou da cama, analisando a chave na mão de Marco.

- Sim. Estavam mentindo a respeito dela ser falsa.

Loki assentiu com a cabeça, depois seu olhar atingiu o rapaz desacordado na cama de Lucy.

- Suponho que esse seja o mago dono da chave. Agora posso saber por que ele está na sua cama ? – ele disse, com um tom um tanto enciumado.  

- Não é nada disso que você está pensando, seu bobo ! – ela o socou de leve, envergonhada. – Ele veio para aprender comigo algumas coisas sobre a conexão entre mago e espírito.

- E você se saiu bem dando sua primeira dica. – ele a envolveu em um braço, deixando-a ainda mais vermelha. – Se precisar de um assistente para ensinar sobre o amor, já sabe quem chamar. – ele deu uma piscadela.

- Hmpf, está bem, pode deixar. – ela se desvencilhou dele – Amanhã começaremos o treinamento, quando eu precisar vou te chamar. Mas agora você tem que ir porque eu preciso me trocar ! – ela colocou as mãos na cintura.

Loki cruzou os braços, dando um sorriso de lado.

- Ok. Mas vou ficar de olho nesse cara. – ele se virou para Marco e de repente franziu a testa.

- Ah, meu Deus, não precisa de tanta implicância ! Eu já disse que...

- Espera. – Loki fez sinal de silêncio com as mãos. Se aproximou lentamente da cama de Lucy, e sua expressão foi ficando cada vez pior.

- O que houve ?

- Sinto... Algo...Estranho vindo dele.

Lucy encarou-o, confusa.

- É uma espécie de... energia ruim. Ainda está fraca, mas... Eu definitivamente consigo sentir.

- Do Marco ? – Lucy estava incrédula – Tem certeza ?

- Absoluta. – ele fechou os olhos, para se concentrar melhor.

- Mas...  por quê..? Não consigo imaginar o Marco fazendo mal a ninguém.

- Você não o conhece tempo o bastante para tirar esse tipo de conclusão, Lucy.

“Bom, nesse ponto ele tem razão.”, ela pensou. “Mas mesmo assim... Não consigo imaginar !”

- Tem como revertê-la ? Tirá-la dele ?

- Não sei... – ele colocou a mão no queixo, pensativo. – A energia ainda não se manifestou, mas que ela existe, definitivamente existe. Agora mesmo que vou ficar de olho nele. Hoje você não vai dormir sozinha de jeito nenhum.

- O quê ?! – Lucy arregalou os olhos.

- Sem discussão. – ele segurou os ombros dela e a virou em direção ao banheiro – Vá lá fazer o que precisa fazer, vou estar praticamente invisível, você nem vai me ver.

Sem capacidade de discutir, Lucy não viu outra saída senão concordar. Mas aquilo era definitivamente estranho. Marco, que parecia tão gentil, tão simpático, tinha magia negra crescendo dentro de si ? E pior, nem ele próprio deveria saber disso.

E Serpentarius ? Como ela ficaria se descobrisse isso ?! Não, ela não podia saber. Não por enquanto. Precisava primeiro entrar em harmonia com ele. Quem sabe ela conseguiria tirar aquilo dele ?!

Por causa de tanta coisa correndo por sua mente, Lucy demorou um bom tempo para dormir. 


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