Alexithymia escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 25
Capítulo 24 — Nunca confiar.


Notas iniciais do capítulo

O título desse capítulo acaba comigo, mas ok. Economizem seus lencinhos para o próximo capítulo, sim? E ah, eu quero dedicar isso para Juliana e Olivia que me fizeram ter uma super ideia para Alex ♥ obrigada, meninas! ♥ e obrigada também à quem comentou. Eu não vou desistir de Alex ♥



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Minha mente pifou de vez naquele momento em que reconheci as costas das pessoas mais importantes em toda a minha vida. Pifou, parou como se tivesse tomado um choque. Isenta de emoções, apenas senti o chão desabar sob meus pés como se fosse feito de um tipo de papel frágil que não aguentava meu peso. No entanto ao sentir minha cabeça bater no chão percebi que não fora o chão que desabara, e sim eu.

A última coisa que eu escutei antes de desmaiar foi a risada doentia de John que ecoou da escada. Eu queria ter morrido, mas depois eu percebi que esse pensamento era no mínimo egoísta já que eu só estava pensando em mim e não nos meus pais. Talvez eu pudesse salvá-los. Talvez fosse a última coisa que faria em minha vida, mas faria. Eles só estavam aqui por causa de mim, eu destruía tudo que amava.

Minha cabeça estava doendo como se eu tivesse caído mil vezes no chão e a chocado todas as vezes contra ele. Gemi de dor ao me levantar da cama que era macia demais para ser a minha e franzi o meu cenho para o lugar amplo e claro que era o quarto. Toquei meu ventre com os dedos como se aquilo me garantisse que meu bebê estava bem, mas… tentei dizer a ele que estava tudo bem, era só mais um dia normal. Tentei mentir para minha própria mente.

Acariciei minha barriga por um tempo e limpei minhas bochechas quando as lágrimas escorreram por elas. Eu sabia, eu sabia, não iria conseguir salvar mais uma vez um bebê meu… e só Deus sabia o quanto eu queria pelo menos ver o rostinho dele, só para ter a sensação que eu quem tinha tido a capacidade de gerar aquela coisinha pequena e linda. E minha.

Eu queria dizer a Edward que eu estava grávida, mas não confiava inteiramente nele. Na verdade, não tinha um pingo de confiança vinda de mim e direcionada a ele. Nada, nada, nada. Queria ter um pouco de fé, um pouco de esperança, diziam que fazia bem ter pensamentos positivos em ocasiões perdida. Porém eu era incrédula demais para isso, eu sempre fui a primeira pessoa a entregar os pontos quando a situação apertava.

Iria morrer e já estava conformada. Iria perder mais um bebê por consequência de minha morte e eu também já estava conformada… mas isso não acontecia quando o caso era a morte de meus pais. Fechei meus olhos, em um ato desesperado, e tentei acordar do pesadelo em que eu estava. Nada aconteceu porque isso era a realidade. Eu estava em um cativeiro e meus pais iriam morrer porque eu não sabia da maldita senha.

Agora eu entendo que quando o ex-diretor da Wilder me passou esse cargo não era porque ele gostava de mim. Ele me odiava. E tinha razão quando empregou o “maldito” antes de “cargo”. Era exatamente isso. Isso não foi a melhor coisa da minha vida, foi uma desgraça disfarçada que me aconteceu, não tinha nada de bom nisso. Ele morreu por causa da empresa e aqui estava eu completando o seu legado.

Morrendo e levando meus pais juntos. Que criatura mais deplorável eu era.

— Eu te trouxe um remédio para dor. — Murmurou Edward assim que entrou no quarto e me viu acordada.

— Por que meus pais estão aqui? — Indaguei no fio de voz que me restava. — Se você me ama como diz… tire-os daqui, Edward, por favor.

— Eu tentei. — Ele se ajoelhou perto da cama e pegou minhas mãos. — Eu juro que eu tentei.

Baixei meu rosto quando as lágrimas deslizaram lentamente por minha bochecha e funguei, pressionando meus dentes para parar com aquilo. Por que somente com Edward eu não conseguia fingir que era forte? Por que eu sempre tinha que chorar quando ele estava perto de mim? Era patético. Odiava o quão frágil eu era perto dele.

— Você precisa dizer a senha, Bella. — Ele sussurrou, procurando meus olhos. — Senão seus pais e você vão morrer, está me entendendo?

— Eu não sei de senha nenhuma. — Choraminguei. — O Sr. Wilder disse que, para me proteger, eu não saberia mais de nada…

— Inferno! — Exclamou ele.                            

Ele olhou para o outro lado e me indaguei se ele estava procurando um jeito de me tirar de alguma forma daqui ou tirar meus pais — que eram as prioridades de tudo. Perguntei-me se todas as suas preocupações comigo eram verdadeiras e logo desisti. Minha mente se tornou incapaz de acreditar em uma mísera palavra que o Edward dizia, queria que eu parasse de amá-lo também, mas não tinha como.

Deixei que ele pousasse uma mão em minha nuca, exatamente daquele mesmo modo do elevador quando eu me afastei, assustada. Agora, no entanto, não. Eu estava familiarizada com o toque suave e morno de Edward, estava familiarizada com os arrepios de minha pele e com o seu olhar hesitante. E sim, mil vezes sim, eu queria que ele se aproximasse e me beijasse. Eu deixaria.

Bem, aquele era o Edward e mesmo a minha confiança nele sendo zero, ele continuava ser o Edward quem eu ainda amava. Diziam que o amor era feito de confiança e se assim fosse, eu continuava o amando de qualquer jeito. Eu o amei confiando cegamente nele e agora que a bendita confiança se foi continua a mesma coisa de sempre porque eu tinha a sensação que não conseguiria parar de amá-lo.

— Sinto muito por te colocar aqui, Bella. — Seus lábios se aproximaram de minha testa e atordoada, só fiz ficar parada, a minha respiração acelerando-se na medida em que ele depositava um beijo no alto de minha cabeça e abaixava o rosto, a ponto de meu nariz estar tocando o seu levemente. — Não duvide quando eu digo que te amo, por favor… — Pediu ele. — Eu nunca amei ninguém como eu amo você.

Meus olhos arderam e quando as lágrimas caíram deles, os dedos de Edward gentilmente capturou e as limpou de minha bochecha. Seus lábios se prensaram contra os meus pelos míseros quatro segundos que se passaram e seus braços envolveram minha cintura e abraçou levemente o meu corpo. Chorei desesperadamente em seu ombro pelos minutos que nos foram permitidos até escutarmos alguém bater a porta.

Funguei e limpei meu rosto com as palmas das mãos. Edward deixou o remédio em minha mão me olhando significativamente e foi até a porta. Eu tomei o remédio antes da voz alta de John atingir meus ouvidos e em pânico, fiz a única coisa que me era permitida no momento: eu me encolhi de medo quando ele invadiu o quarto e me puxou pelo braço, assim como todos os outros fizeram. Bruscamente.

Seus dedos eram duros contra a minha pele e ele andava rápido demais, fazendo-me assim tropeçar várias vezes em meus próprios pés. Edward tentava falar alguma coisa para ele, mas o rosto de John era resignado demais para que ele desistisse do que ele iria fazer agora. Tentei imaginar que ele aceitaria a minha proposta de que se ele deixasse meus pais saírem, eu lhes diria a senha. Perguntei-me se ele seria bobo o bastante para aceitar isso.

— Você vale um bilhão de dólares, sabia, Preciosa? — Ele indagou sorrindo maliciosamente e entrando em um quarto.

Riley e meus pais estavam amarrados a cadeiras de ferro. Tentei novamente acordar do pesadelo, mas era realidade. A maldita realidade que era cruel demais para comigo e todas as pessoas que eu amava. Não pude definir a expressão de meus pais porque meus olhos estavam esborrando lágrimas.

Depois de me prender na cadeira e se certificar que minhas mãos e meus pés estivessem imobilizados, o olhar doentio de John fixou-se em meu rosto por um tempo. Um longo e torturante tempo. Ele acabou sorrindo, afinal e levantou uma mão para meu rosto, acariciando-o e me fazendo estremecer de nojo.

— Eu poderia ir para um quarto agora mesmo com você. — Sussurrou ele.

— Tire suas mãos nojentas de mim. — Falei no mesmo tom de voz que ele.

— Eu gosto de garotas raivosas, sabe. — Sorriu e desceu a mão por meu ombro, passando por minha clavícula. John olhou para mim maldosamente enquanto escorregava a mão por meu seio esquerdo e a deixava lá.

— Tire as mãos dela, seu desgraçado. — Escutei a voz raivosa de Riley irromper o silêncio nojento do quarto.

John revirou os olhos e tirou sua mão de mim, levantando-se e olhando para Riley com os olhos pegando fogo. Queria dizer a Riley que ficasse quieto, que não falasse nada… eu realmente não o queria machucado ou morto. Ele parecia não ter medo mais de nada do tanto que seu olhar se mostrava corajoso e ousado na direção de John que pegara uma arma e a olhava, um sorriso malicioso nascendo novamente nos lábios.

— Você será o primeiro a morrer. — Disse ele.

— Nos encontraremos no inferno, então. — Respondeu.  — Você é covarde o bastante para me prender aqui em vez de me soltar e ver que não daria conta se nós estivéssemos em situações iguais.

O murro de John em seu rosto fez meus olhos marejarem. Eu simplesmente não aguentava ver aquilo, ver Riley apanhando por minha causa. Eu iria tentar acordar do pesadelo de novo quando percebi que se não deu certo uma vez, com certeza não daria certo outra vez. Eu não me importava comigo — poderia morrer mil vezes por eles — só queria que Riley, meus pais e Edward saíssem vivos daqui.

— Edward! — John gritou. — Cuide desse daqui.

Esperei que Edward tivesse falando a verdade, esperei que tudo cujo ele tivesse me dito fosse verdade e que não batesse em Riley ou qualquer outra coisa. Segui com os olhos eles dois até que saíram de meu campo de visão e eu não podia mais me virar por causa dos braços presos a cadeira.

— Desculpem-me. — Sibilei para meus pais.

Tratei de acalmar as minhas emoções e me concentrar em o que eu poderia fazer. Nada de fechar os olhos e pedir para que isso fosse um pesadelo, a realidade era dura e me prendia aqui. Isso era real, meus pais e eu estávamos prestes a morrer… Respirei fundo e olhei para o rosto de minha mãe que tinha os olhos arregalados e marejados, assim como meu pai. Mas Charlie sempre foi durão demais para deixar seus olhos marejados, então ele só estava com uma expressão temerosa.

John sorriu quando eu olhei para ele e novamente, ajoelhou-se ao meu lado. Odiava o modo como seus olhos pareciam controladores e insanos, odiava como ele parecia estável a ponto de a qualquer momento pegar uma arma e me matar somente por raiva. Agora, sim, eu podia visualizar o John matando a mãe de Riley com uma expressão raivosa no rosto, apenas por sua maldita raiva.

— Muito bem, vamos começar, Bella. — Ele apoiou as duas mãos em suas coxas e me olhou sorrindo. — Me diga a senha do cofre e eu prometo que você e seus pais sairão vivos daqui. E o Riley também… se o Edward já não o tiver matado.

— Eu não sei.  — Sussurrei, prensando meus lábios para reprimir um soluço de alta impotência.  

— Mentir é feito, Isabella. — Ele suspirou e olhou para baixo. — Olhe só, eu estou tentando fazer as coisas na maior calma possível e você não está facilitando para mim. Eu posso matar os seus pais em um piscar de olhos, Isabella, está me entendendo? Em um piscar de olhos.   

— Eu não sei essa maldita senha. — Bufei e olhei desesperada para os lados, como se estivesse procurando alguma coisa que esclarecesse a minha mente. — Por que eu esconderia? Você tem tudo que me importa em minha vida aqui e eu diria se eu soubesse, juro que diria, mas… mas… eu não sei.

— Eu não acredito em você. — Sussurrou ele. — De qualquer jeito… vou lhe dar um incentivo para que você se lembre.

Ele andou calmamente até uma mesa de ferro enferrujado e voltou com uma faca para perto de mim. Tentei não mostrar medo, fragilidade ou qualquer outra coisa, mas foi instantâneo me encolher quando John se abaixou novamente perto de mim. John olhou para a faca com um sorriso orgulhoso na cara asquerosa e voltou os olhos maliciosos para mim.

— Se não quiser que seus pais morram sangrando, você tem de me falar a senha, entendeu? — Senti uma enorme vontade de bater sua cabeça contra o chão até ele morrer de traumatismo craniano do tanto de ódio que eu tinha dele agora.

— EU NÃO SEI! — Gritei, tomada pela fúria e pelo impulso do momento. Eu simplesmente não podia continuar escutando seus planos de morte para meus pais e ficar sussurrando quando minha vontade era gritar em sua cara para se danar. — Eu não sei nenhuma maldita senha — Murmurei com os dentes trincados.

— Então parece que teremos de ir pelo caminho mais difícil… — Virou seu rosto para os meus pais e sorriu novamente.

POV EDWARD.

— Tudo bem — Riley respirou fundo assim que eu fechei a porta atrás de mim e soltei seu braço bruscamente. — você pode realizar seu grande sonho e me dar um soco só para o John achar que você…

— Acredite, esse não é nem de perto o meu grande sonho, Riley. — Respondi, revirando meus olhos. — Soco é uma coisa muito boba.

Riley esbofeteou a si mesmo já que eu me recusei a o fazer só para ter o prazer de executar uma coisa que eu já queria há muito tempo. Bella não gostaria, eu pensei enquanto recusava a oferta com todo o esforço que me sobrava. E eu estava com dívidas demais com ela para simplesmente ignorar e bater em Riley — não que eu achasse que Bella me aceitasse de volta depois de tudo.

Eu era realista sobre tudo que aconteceria depois que arrancasse a minha garota das mãos nojentas do John e tudo cujo eu queria era que ela ficasse bem. Não imaginava que teria alguma chance de ficar com ela depois de tudo que fiz, mas se acontecesse eu seria a pessoa mais feliz do mundo. Eu rastejaria no chão pelo perdão de Isabella Swan se fosse preciso… e eu ainda me surpreendia o quanto miserável eu estava.

O amor faz isso com você — eu podia lembrar claramente da voz de minha mãe falando isso para mim enquanto acariciava meus cabelos. Era quando eu ainda era uma pessoa conversável, lá pelos 16 anos de idade. Ela estava falando aquilo só por falar, só porque gostava de expor o quanto seu relacionamento com meu pai era perfeitamente orquestrado. Ela gostava de falar comigo sobre essas coisas, apesar de Alice ser a filha dela, eu era seu ouvinte preferido.

Ainda me arrependia por não ter a escutado mais vezes ou até mesmo falado dos meus problemas com Bella, ela saberia sim o que fazer. Eu fui idiota o bastante para ser orgulhoso nesses casos, não precisava de ninguém para me ajudar com meus problemas, eu sabia o que fazer. Sempre soube acabar com tudo que eu tocava. E um exemplo ótimo era a situação em que eu estava agora.

A vida de Bella parecia tão frágil nessa situação que às vezes chegava a pensar que eu estragaria tudo com a minha ânsia de tirá-la daqui, às vezes pensava que não iria conseguir salvá-la e esses pensamentos vinham acompanhados por uma raiva imensa a qual tinha de mim mesmo. Como eu pude? Como? Alice tinha razão, eu tinha errado em tudo, desde não contar-lhe sobre a vida dupla que levava a me apaixonar por Isabella e não fazer de nada para protegê-la.

Depois de mandar Riley comer e pegar comida e esconder para Bella dentro do quarto, eu tive de inventar uma mentira para sair. Tinha algumas coisas que eu tinha pensado outro dia que não tinha como adiar se eu queria mesmo que Bella e seus pais saíssem bem. Eu não a dizia, mas a prioridade era ela, por mais que me implorasse para tirar seus pais daqui… era impossível.

Tive que passar por um batalhão de capatazes — leais — que John conseguira para si para finalmente conseguir sair da casa. Era mais difícil do que parecia tirar os pais de Bella e ela própria daqui, podia ser facilmente caracterizado como impossível já que tinha capatazes demais para eu mesmo dar conta. Nem contando com a ajuda de Riley conseguiria. Trinta contra dois era impraticável.

Talvez se eu matasse John eu conseguiria, no entanto sempre tinha alguém perto dele, pronto para defendê-lo de qualquer ameaça. Então Riley — que até agora só servira para aquilo sem ser falar no quanto me odiava — deu a ideia de fazer algo que atinja a todos menos a Bella, Renée, Charlie, e claro, ele mesmo. Pensei imediatamente em qualquer tipo de veneno que seria colocado na comida que era distribuída para os capatazes e para o próprio John.

Enquanto dirigia até uns tipos de feira, liguei para Alice. Ela estava bem na Alemanha, só alegava estar com saudades do seu namorado que tivera de deixar para trás. Tudo por minha culpa e claro que ela não falara aquilo, apenas foi um pensamento óbvio que chegou a minha mente. Prometi a ela que em breve ela poderia voltar e nesse caso, Alice foi bem compreensiva. Disse que esperava os dias que fossem… contanto que a Bella saísse bem disso tudo.

Alice sugeriu chamar a polícia e era realmente uma boa ideia se eu não conhecesse John e soubesse que ele mataria Bella antes de conseguir capturá-lo, faria ela de refém como o perfeito covarde que érea. Eu poderia eu mesmo matá-lo, com minhas próprias mãos e teria o maior prazer em fazer isso se eu não soubesse da ordem que ele deu para matar Bella assim que fosse constatada sua morte.

O plano de John era perfeito porque, afinal, psicopatas pensavam em tudo antes de dar o primeiro passo. Perturbado com o pensamento que Bella talvez estivesse nas mãos de um descontrolado mentalmente, voltei o mais rápido possível para perto da minha garota. Tentei voltar, na verdade. O trânsito da tarde estava infernal e fiquei preso por mais de duas horas em uma mesma estrada.

Quando estacionei o carro na garagem, pude escutar o inferno que estava dentro de casa. Gritos desesperados e doloridos ordenava que parassem de fazer sei-lá-o-quê e quase que temeroso, reconheci a voz de Bella. Era ela quem gritava para pararem de fazer aquilo com eles porque ela não sabia, jurava que não sabia.

Gelei ao escutar o som abafado de tiros de armas com silenciador e por um momento a minha mente pifou. Parou por alguns segundos até eu ordenar para que aquela merda parasse e funcionasse normalmente. Corri até a porta de entrada e a bati com força atrás de mim, sem me preocupar em ser cauteloso com essas amenidades.

— Se livre deles! — John gritou para um dos seus capatazes que estava estatelado na frente da porta do quarto.

Pude ver Bella encolhida, tremendo e sangrando quando subi os primeiros lances de escada e quase me descontrolei e acabei de uma vez com todas com John. Quase. Eu tinha aprendido a ser bem paciente com o passar do tempo, assim eu não colocava tudo a perder com o meu antigo temperamento explosivo. Tinha algo no modo como a minha garota pousava um braço em cima de sua barriga, como se estivesse protegendo algo acima de si mesma. De qualquer jeito, não tive muito tempo para avaliar aquilo quando vi os dois cadáveres sendo puxados do quarto branco.

Renée e Charlie estavam mortos. Minha culpa. Eu dei seus nomes para John e agora isso aconteceu… era minha culpa que suas cabeças estivessem perfuradas por balas, era minha culpa o sangue deles que manchavam o chão, minha culpa que Bella estivesse chorando sem parar encolhida em um canto. Tudo era minha culpa e não, não, eu não estava sendo exagerado ou qualquer outra merda. Essa era só a verdade. A realidade.

— Por que você fez isso?

— Ora, Edward, em tantos anos você nunca me fez essa pergunta. — John virou-se para mim com as sobrancelhas erguidas em descrença. — Eu sei o que eu faço. Agora seja uma boa pessoa e limpe Isabella, quero que ela desça para o jantar, cheirosa e bonita. Use o seu banheiro, o do outro quarto é horrível demais para o que eu quero.

Travei o meu maxilar para não acabar falando besteira e assenti, virando-me na direção de Bella. Seus olhos assustados desviaram-se para mim e eu quase me bati ao perceber que eles não tiveram alteração nenhum, eles continuavam temerosos como se eu pudesse espancá-la a qualquer segundo. Suspirei ao lhe olhar e abaixei-me para colocar uma mão em sua cintura para tentar erguê-la.

Bella gemeu baixinho, cambaleando para o lado e se segurando em minha camisa para tentar se firmar.

— É o seu tornozelo? — Perguntei.

Ela assentiu e sob os olhares constantes de John, levei-a para o meu quarto, fechando finalmente a porta atrás de mim. Quase pude escutá-la suspirar, mas o breve alívio que eu escutara em sua voz sumira rapidamente e seus olhos estavam amedrontados, os lábios tremendo como se ela fosse chorar. Aproximei-me da cama onde ela desabara cuidadosamente, não querendo assustá-la com qualquer movimento brusco demais.

Impossivelmente ela se encolheu mais ainda e fungou, seus olhos voltando a ficarem marejados. Eu queria me aproximar mais ainda e limpar suas lágrimas… mas eu não sabia como ela reagiria e tudo que eu menos queria no momento era fazer que ela se retraísse mais ainda. Se aquilo fosse possível.

— Seu tornozelo dói? — Indaguei, o tom de voz na medida certa para que ela não se assustasse.

Ela assentiu com o rosto e envolveu seus braços nas pernas, encostando o rosto em seus joelhos e soluçando baixinho. Odiei perceber que agora seus soluços estavam contidos e não do jeito que eram normalmente: desesperados e nem um pouco contidos. Isso somente acontecia quando ela não tinha medo de mim. Eu também não fiz nada para que ela se sentisse protegida comigo, quando pensei em algo já era tarde demais.

— Bella… — Toquei seu braço com as pontas dos dedos. — Eu sinto muito.

— Não, você não sente. — Ela soluçou. — Foi você quem os colocou aqui, John me disse, foi você quem matou meu bebê, você fez tudo de ruim que um dia poderia me acontecer, Edward. Como espera que eu acredite que sente muito pelas mortes das pessoas que matou?

— A vida de Alice corria perigo… — Tentei lhe explicar.

— Eu sei! — Ela sussurrou, levantando o rosto e me encarando com os olhos vermelhos e inchados. — Riley escolheu sua própria mãe ao ir embora… você escolheu Alice. Já percebeu que sou eu que sempre sobro? Ninguém me escolhe!

— Você sabe bem que não é desse jeito…

— Então como é? — Perguntou. — Você me colocou aqui porque me ama? É isso?

— Não…

— Por favor, Edward, por favor… — Ela iria continuar a falar, mas engoliu em seco e parou por alguns segundos, correndo para o banheiro rapidamente, com a mão pressionada contra seus lábios.

Levei um momento para entender o que estava acontecendo e assim que me levantei da cama fui para o banheiro. Estava fechado e trancado de chave e mesmo que eu batesse e pedisse para que ela abrisse aquela merda de porta, ela sequer respondeu ou deu algum sinal que estava bem. Raivoso, comecei a socar a porta e deixei que a minha raiva fosse liberada naquele momento. Eu precisava descontar em alguém ou alguma coisa.

Parei de bater na porta quando a escutei tossir e ligar a torneira da pia. Tentei chamá-la e novamente foi em vão já que ela agiu como se não estivesse me escutando. Tudo que eu sabia era que odiava aquela maldita indiferença e medo cujo ela estava impondo para mim, quantas vezes eu precisava provar que eu a amava e só queria seu bem? Eu sabia que tinha feito coisas as quais anulariam qualquer tipo de amor cujo ela achava que eu sentia, entretanto eu estava sendo mais que sincero quando a falava aquelas coisas.

Tão sincero quanto nunca fui toda minha vida.  Tão sincero quanto eu só me permitia ser com ela.

— O que aconteceu? — Perguntei assim que ela finalmente saiu do banheiro.

— Eu tenho o estômago fraco para essas coisas… — Murmurou.

Ela mancou até a cama e desabou por lá, limpando o rosto com as mãos trêmulas. Eu quase estava conseguindo sentir a força que ela estava fazendo para não chorar e, para variar, odiei aquilo também. Odiei o modo como ela parecia não confiar o bastante em mim para se deixar chorar na minha frente. Ela tinha razão em estar com medo — as coisas não muito agradáveis que eu fiz contribuíram para isso —, mas eu tinha dito tantas vezes…

Abri uma das gavetas da cômoda e tirei de lá remédios, faixas para o tornozelo machucado de Bella e algodão com álcool para limpar os machucados em seu rosto e em seus braços. Toda vez que eu olhava para as pequenas e significativas escoriações dela eu sentia vontade de colocar tudo a perder somente para matar John. Eu o tinha dito que era pra fazer essa merda sem violência… e ele joga tudo para o alto e espanca a minha garota. E mesmo que eu sequer me importasse para Bella, isso daria errado no final, a polícia iria entrar nisso.

E sim, eu sabia que tinha uma boa chance de eu também ser preso, mas não me importava verdadeiramente com isso. Tudo que eu queria era que Bella e Alice saíssem bem.

 — Eu consigo fazer isso sozinha. — Ela disse, retraindo sua perna quando me abaixei para tentar fazer seu tornozelo parar de latejar.

— Tudo bem, então… — Dei de ombros e deixei em seu colo tudo que peguei dentro da gaveta.

Ela tentou enfaixar seu tornozelo, tentou. Toda vez que ela soltava uma ponta da faixa, a outra soltava, e então pacientemente e com os lábios trêmulos ela tentava novamente apertá-la. Bella estava prestes a começar a chorar quando me aproximei dela com cautela e peguei a ponta da faixa solta, colocando-a junta com esparadrapo para que não soltasse. Minha garota também não mostrou aversão alguma quando ergui seu queixo para limpar o alto de sua bochecha machucada com o algodão.

Seus lábios tremiam como se estivesse prendendo o choro por muito tempo e sua testa franzida confirmava isso. Ela sempre fazia isso quando não queria chorar. Eu meio que já tinha decorado como ela escondia suas fraquezas — um ponto ao meu favor. Arrisquei aproximar meu rosto do seu e para a minha felicidade, ela não se afastou quando meus lábios pousaram em sua testa.

Também não me foi surpresa nenhuma quando ela se agarrou ao meu pescoço e chorou.


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Notas finais do capítulo

Vocês devem estar se perguntando o porquê de a Bella estar sendo tão maleável para o Edward... bom, ela não está tão maleável assim. O estado psicológico dela está frágil demais e meio que criou essa forma de defesa. É complicado... espero que gostem! Beijos ♥