Assim que Ayane desapareceu pelas árvores junto com Jasper e Emmett para caçar, Renesmee me olhou maliciosamente, por cima dos vários desenhos de vestidos que estavam espalhados na mesa, e disse:

–Tá legal. Eu sei que você não gostou dela, então nem adianta tentar fingir.

Pude ouvir Rosalie, que estava no sofá vendo um programa de moda, dar uma risadinha indiscreta. Ignorei-a e encarei Renesmee.

–Eu não falei absolutamente nada, é você que está pondo palavras na minha boca.

–Ah, qual é? Quando Ayane falou que tinha conversado com Jacob, uma veia bem gorda pulsou bem no meio da sua testa. – ela gargalhou. – Parecia até que você ia ter um ataque ou coisa parecida.

–Renesmee! – Bella chamou sua atenção, um pouco divertida demais.

–Mas é verdade, mãe. – A garota insistiu.

Suspirei pesadamente. Não iria mesmo conseguir fingir que a meia vampira não tinha me incomodado; e como eu estava curiosa sobre mais informações sobre ela, resolvi abrir o jogo.

–Ok. Pode até ser que ela tenha me intrigado um pouquinho. – Renesmee sorriu convencidamente. – Mas é que ela me passou a impressão de ser um bajuladora, ou coisa assim.

–Sei do que está falando. – disse Bella. – Quando a conheci, também pensei que ela era meio...

–Fingida. – completei com a voz sem emoção.

–Eu não colocaria assim. – ela deu um risinho, mas depois ficou séria. – Mas depois conclui que Ayane é só uma menina que fugiu por tempo demais e, agora que finalmente encontrou um lugar, não quer estragar tudo. Então ela meio que força a barra, mas creio que seja apenas insegurança.

–Ou é isso que ela quer que você pense. – disse Rosalie cruelmente, tirando os olhos de seu programa.

Ouvimos o riso límpido de Alice, que descia as escadas com as mãos cheias de tecidos multicoloridos.

–Não ouçam Rosalie; ela tem seus próprios motivos para não gostar da nova habitante desta casa. É algo relacionado ao desgosto de não ser mais a única loira dos Cullen.

A loira perfeita trincou o maxilar dando um olhar gélido para Alice, e voltou sua atenção para a TV.

–Entretanto, acho que devemos dormir com um olho aberto perto dessa garota. – disse a baixinha sem se abalar.

–Vocês não dormem, tia Alice. – Renesmee revirou os olhos.

–Bem, neste caso – respondeu ela colocando os tecidos sobre a mesa em que estávamos, e depois apontando para mim e para a sobrinha. – Isso serve apenas para vocês duas.

***

As coisas que ouvi hoje na grande mansão branca ainda giravam em minha mente, enquanto dirigia pela estrada que levava a La Push. Estava quase anoitecendo, as linhas cinzentas do céu estavam sendo substituídas por nuvens azuis escuras e manchas roxas.

Meu pé estava firme no acelerador. Não queria chegar tarde em casa, de fato, eu nem deveria estar na rua ao anoitecer. Jacob estava sendo bem insistente sobre a minha segurança. Há algumas semanas, eu disse algo sobre querer ir à Port Angeles para fazer algumas compras e ele quase se engasgou com o cozido que Sue fizera.

Em pouco tempo, parei o carro na frente de casa. Saí do carro olhando distraidamente para a janela, tentando ver se tinha alguém em casa quando bati meu corpo em algo duro.

–Ah! – arfei cambaleando para trás. Mãos me seguraram pelos ombros e eu pude ver no que batera. – Jacob! Qual é? Você quase me matou de susto!

Ele me olhou severamente, tirando as mãos dos meus ombros e cruzando os braços sobre o peito nu.

–Sabia que eu estou te seguindo desde que saiu da mansão? Você nem sequer percebeu.

Fiz uma careta.

–É sério? Acho que eu tinha muita coisa na cabeça para prestar atenção...

Jacob cerrou os olhos.

–Agatha, é sério. Tem que ser mais cuidadosa. Eu não disse a você para não ficar na rua até tarde?

–Eu me distraí. – dei de ombros, sem entender a preocupação excessiva dele. – A conversa estava muito interessante lá nos Cullen.

–É. Aposto que sim. – ele murmurou, ainda de mau humor. – Sabe, se não conseguir chegar no horário, eu não vou mais deixar você sair.

–Não vai me deixar? – minha voz subiu duas oitavas. – Você sabe que esse é o século 21, não sabe?

–E você sabe que tem uma louca caçando você, não sabe? – ele rebateu.

Revirei os olhos e dei as costas para ele, seguindo em direção a porta. Ouvi-o bufar e logo as suas mãos agarraram a minha cintura, me puxando para o seu abraço.

–Você é tão teimosa... O que eu vou fazer com você? – seu hálito quente soprou em meu rosto, antes da sua boca tomar a minha com uma paixão voraz. As mãos dele subiam e desciam por minhas costas, à medida que sua língua explorava a minha boca docemente. Passei os braços pelo o seu pescoço, apertando-me mais contra o seu corpo. Ele nos separou com um risinho travesso e depois pegou a minha mão e puxou-me para a entrada da casa.

–Anda, baixinha. Eles estão nos esperando.

Assim que adentramos a porta, pude ouvir a voz de Charlie ecoando na cozinha. De lá também vinha o inconfundível cheiro de lasanha.

–Pelo visto chegamos na hora boa. – brincou Jake quando chegamos à cozinha. – Olá Sue. Charlie, como vai?

–E aí, Jake. – disse o outro.

–Oi Charlie. – cumprimentei sorrindo. Sempre gostava quando Charlie vinha aqui. Sue ficava mais feliz com a presença dele. As pessoas poderiam julgá-la por estar casando dois meses depois da morte da filha, mas eu entendia perfeitamente os seus motivos: ela não queria ficar sozinha. Quer dizer, Seth tem suas obrigações com a matilha e também passa metade do seu tempo com Renesmee. E eu... Bem, eu passo bastante tempo com ela. Mas essa história dela querer que eu me preocupe com o meu futuro acabou me fazendo evitar ficar a sós com ela. Não quero acabar deixando escapar que não dou a mínima para o futuro ou coisa assim.

Sue continuou fazendo jantar, e nós nos sentamos com Charlie. Era incrivelmente útil ter contato com um chefe de delegacia, pois poderíamos facilmente obter informações não reveladas a sociedade, caso os nossos amiguinhos sanguessugas resolvessem dar o primeiro passo.

–Então, Charlie como anda a delegacia? – perguntei em tom casual.

Ele suspirou cansadamente.

–Eu estava justamente falando disso antes de vocês chegarem. Foi uma semana cansativa...

–É mesmo? O que houve? – perguntou Jacob.

Charlie pareceu meio desconfortável.

–Bem, só não saiam espalhando por aí por que isso ainda não saiu nos jornais... Houve alguns desaparecimentos nas redondezas. A polícia está investigando cada caso separadamente por que ainda não temos evidencias que confirmem se tudo isto está interligado ou não, mas ainda não tivemos muitos avanços...

Percebi as mãos de Sue tremendo quando ela colocou os pratos na mesa. Olhei para Jacob; seu maxilar estava rígido.

–Tem algum padrão para as vítimas? – perguntei cautelosamente.

Charlie sacudiu a cabeça.

–Não. Homens e mulheres de diferentes idades e classes sociais. Talvez isso não seja obra de uma única pessoa, afinal de contas.

–É, talvez. – murmurou Jacob.

Sue pigarreou.

–Isso não é conversa para um jantar, não é? Vamos comer.

Não prestei muita atenção à conversa deles. Minha concentração estava toda voltada para a possibilidade de Joham ou Emily terem voltado para cá. E se tivessem, o que poderíamos esperar? Um novo exército? Essas pessoas desaparecidas poderiam muito bem ter sido transformadas em vampiros. Se bem que esse não é o estilo de Joham... Ano passado ele fez tudo na calada e quando nos demos de conta, lá estava ele com um bom número de sanguessugas prontos para nos atacar.

Nós não falamos mais sobre os tais casos, mas Jacob me olhava pelo canto do olho de vez em quando. Tentei parecer tranquila, mas por baixo da fachada, minha mente estava em um turbilhão de ideias e suposições. E conhecia Jacob o suficiente para saber que ele também estava compartilhando da mesma situação que eu.

Foi um alívio quando ele se despediu de Sue e Charlie, e pegou minha mão e me levou para a varanda. Fechei a porta atrás de mim para termos privacidade. Encarei-o seriamente com os braços cruzados sobre o peito. O vento estava frio.

–O que você acha? – perguntei. – Será que Joham já conseguiu reunir algum plano decente?

–Não sei. – respondeu ele com a testa enrugada. – Não parece muito coerente. Por que ele faria alguma coisa que fosse chamar a atenção de todo mundo? Mas de qualquer maneira, vou colocar os garotos sob alerta. – Jacob tocou meu rosto com a ponta dos dedos. – E seja lá o que for que estiver acontecendo você tem que tomar muito mais cuidado a partir de agora. Sei que gosta de passar seu tempo lá nos Cullen, mas realmente acho melhor diminuir um pouco as suas saídas.

–Mas eu tenho que ajudar Alice com o casamento! – protestei.

Ele suspirou.

–Tem mesmo?

–Eu sou a dama de honra, Jake. – respondi pacientemente.

–Tá legal. Mas quando quiser ir lá, eu te levo ok? E mesmo aqui por perto tenta não andar sozinha.

–Sério? Eu tenho que ter uma babá o tempo todo?

Ele gargalhou.

–Não uma babá. Está mais para guarda-costas.

–Engraçadinho.

Ele me beijou brevemente.

–Eu tenho que ir agora.

–Não... – choraminguei, prendendo-o em meus braços. – Quer dizer, você toma conta de toda a matilha agora. Não dá para colocar alguém no seu turno, não?

Ele sorriu.

–Hmmm. É o meu primeiro dia como único Alfa. Vou dar um tempo até começar a explorar eles.

Beijei-o mordendo seu lábio inferior.

–Tem certeza?

Ele gemeu baixinho.

–Você é um monstrinho.

–Eu sei. – sussurrei.

Ele teve que ir, afinal de contas. Com toda aquela história de desaparecimentos, eu nem sequer comentara que havia conhecido Ayane hoje. Mas ao ver Jacob se negar a ficar afirmando que tinha que garantir a minha proteção, tirou qualquer ponta de ciúmes que eu havia sentido mais cedo.

Eu sabia que ele me amava e me protegeria. E isso era a única coisa que importava.