–Shh, você vai acordar o Seth. – eu disse.

–Aquele ali é uma pedra dormindo. – Jacob disse rindo.

Era quase uma hora da madrugada, Jacob e eu estivemos deitados no sofá conversando até agora. Seth desmaiara na outra poltrona há um tempão, mas antes os dois me contaram tudo o que houve desde que parti. Até a história com os Volturi.

–Sue não vai ficar preocupada se ele não for pra casa? – perguntei aos sussurros.

–Não. Ele dorme aqui de vez em quando. – disse ele beijando meu pescoço. Ele terminou me dando um longo beijo.

–Uau. – eu disse sem fôlego. – Se restasse alguma dúvida do que você sentia por mim, você está provando o contrário.

Ele riu, rouco.

–E você tinha dúvidas? – sua voz era brincalhona, mas percebi que a pergunta tinha um fundamento importante pra ele.

–Claro que eu tinha. – respondi sinceramente. – Garotas sempre têm dúvidas.

–Garotas... – ele revirou os olhos e continuou me beijando.

E falando em dúvidas, eu tinha uma que me surgira no momento em que Seth disse que havia tido imprinting com Renesmee: como Jacob superara seu amor por Bella?

Eu queria muito perguntar isso a ele, mas não queria causar nenhum clima estranho.

–O que foi? – ele estranhou meu silêncio.

–Nada não.

–Qual é? – ele riu. – Será que você ainda não percebeu que não consegue mentir?

Fiz uma cara de falsa revolta.

–Fala. – ele pediu depois de outro beijo.

–Tá bem. – me rendi. – Mas promete que não vai ficar bravo, tá?

–Prometo. – ele disse fixando seu olhar no meu rosto com atenção.

–Eu sei que naquela época, que eu estive aqui... Você amava a Bella, então...

A compreensão surgiu em seu rosto, mas ele me instigou a continuar.

–Você... Conseguiu esquecer ela? – terminei com uma careta hesitante. Ele se endireitou no sofá, sentando-se. Continuei deitada olhando-o e esperando uma resposta.

–É estranho, mas... No momento em que o coração dela parou de bater, eu senti como se estivesse mais ou menos livre, eu acho. Por que mesmo naquele dia que você foi, eu me sentia preso a ela.

–Mas naquela época você sentia alguma coisa por mim? – perguntei lentamente.

–Sentia sim. – ele respondeu prontamente. – Mas eu não conseguia saber bem o que era. Até você partir.

Seu rosto adquiriu uma tristeza profunda e eu quis imediatamente esquecer aquele assunto. Sentei-me à sua frente e coloquei minha mão em seu rosto.

–Quer saber? Isso não importa mais. Eu tô aqui.

Ele levou minha mão em seus lábios.

–Eu sei. E não vai ir a lugar nenhum.

–Não vou, não. – ri e beijei-o.

Ficamos algum tempo quietos. Eu decidi deixar as outras perguntas para depois. Fechei os olhos e me aconcheguei no peito de Jacob. A última coisa que senti foi seu beijo quente em minha testa.

–Ei dorminhoca. – alguém me chamava. Estava deitada numa cama tão macia que não quis abrir os olhos. – Acorda vai.

Senti um beijo na ponta do meu nariz. Abri os olhos devagar.

–Oi. – cumprimentei Jacob. Seu rosto era sereno e carinhoso.  Minha voz estava rouca. – Que horas são?

–Dez e meia.

–Nossa que tarde. – comentei levantando-me. Espreguicei-me e arrumei meus cabelos num coque desarrumado. Olhei a volta. Agora que eu percebera que estava no quarto de Jacob.

–Você dormiu no sofá e eu te trouxe pra cá. – ele disse seguindo meu olhar. Olhei de esguelha pra ele.

–O que seu pai vai achar disso?

Ele riu.

–O velho está tão feliz que ele nem vai ligar pra isso.

–Ah, é mesmo! O casamento é hoje, não é?

–É sim. Então é melhor você se arrumar. – ele se levantou batendo as palmas das mãos.

–Me arrumar? Eu nem tenho roupa nenhuma! – disse esganiçada.

Ele sorriu despreocupadamente.

–Relaxa; tá tudo certo.

Jacob me levara para fora de casa, mas no caminho pegara dois bolinhos, ele me deu um e engoliu o outro de uma vez só. Ele foi até a garagem e eu o segui.

–Onde estamos indo? – perguntei dando uma mordida no bolinho.

–Ah! – ele se virou para mim com um largo sorriso. – Agora que você voltou, vai poder pegar o seu presente!

–Que presente?

Ele cerrou os olhos.

–Você esqueceu do seu presente? – Então ele foi até um carro coberto com uma capa prateada e a retirou, revelando um camaro antigo.

–O carro! – sorri ao lembrar que ele havia concertado o carro para mim. – Você guardou esse tempo todo aqui?

–Claro. – disse ele abrindo a porta do motorista. – Quer fazer a honra?

–Hã, eu não sei... Já faz um bom tempo que eu não pego num volante...

–Ué, tá na hora de reaprender, então. – disse ele me trazendo pela mão até o carro. Eu ainda não estava muito segura, mas entrei mesmo assim. Jacob deu a volta e entrou também.

–Tá legal. Segura o meu bolo. – eu disse cheia de segurança ao olhar para o volante. Jacob pegou o bolinho e enfiou-o todo na boca fazendo graça.

–Ei! – reclamei.

–Não temos tempo pra isso. – ele disse de boca cheia. – Pega aqui a chave.

Ele me ensinou tudo passo a passo, e me elogiou por que eu sabia mais ou menos o que fazer. Consegui sair da garagem e ir até a estrada razoavelmente bem. Mas, depois pedi para ele pegar o volante, por que eu não queria causar estragos na estrada.

–Então, pra onde? – perguntei enquanto ele conduzia o carro.

–Pra casa da Sue. Alice vai dar um jeito na questão da roupa.

–Alice Cullen? – perguntei ceticamente.

–É, ela tava sem nada para fazer ou coisa parecida e quis ajudar no casamento. Ah você vai conhecer Renesmee, ela também quis ajudar. É óbvio que Seth adorou ter ela por perto. – ele girou os olhos.

Eu ainda não estava acostumada com toda essa história de Seth e Renesmee. Pra mim ainda era estranho o fato de que toda a história original mudara. E mais estranho era o fato de Jacob estar falando de um Cullen tão normalmente.

–Então... Você ainda fala com os Cullens? – essa pergunta era aceitável, mas ainda continha a sua importância.

–Claro que falo. – ele respondeu distraidamente. – Nós nos damos bem agora. Quer dizer, depois de tudo o que houve com os sanguessugas reais...

–Como?

–Ah. – ele disse como se tivesse esquecido que eu não sabia da história. – Os Volturi. Longa história. Depois te conto.

Chegamos até a casa de Sue rapidamente. Abri a porta do carro e Jacob fez a volta para me encontrar e pegar minha mão.

Quando entramos, Seth estava vestido com um terno preto e Sue estava ao seu lado toda orgulhosa. Ela olhou para a porta e sorriu abrindo os braços.

–Agatha! – ela me deu um abraço forte. – Que bom te ver, querida! Quando Seth me contou eu quase não acreditei.

–Oi Sue, é muito bom te ver também! – eu percebi que os anos que tinham se passado deixaram marcas em Sue. Ela estava mais velha, assim como Billy. – Senti sua falta.

–Dessa vez você veio para ficar, certo? – ela perguntou num tom de alguém que não aceitaria não como resposta.

–Claro que ela vai. – Jacob respondeu por mim. Eu ri.

–Ei mãe! – chamou Seth. – Eu tenho mesmo que usar isso?

–Claro que sim, filho. – ela foi ajeitar a gola da camisa dele. Seth remexia em sua roupa, incomodado.

–Mas você está lindo! – disse uma voz melódica. Olhei para ver quem era e meu queixo caiu. Aquela era...?

Uma garota com os cabelos castanho-ruivos e pele pálida sorria para Seth com aquele olhar de adoração. Ela tinha a aparência de uma garota de dezesseis anos e era linda.

–Renesmee, essa é a garota de quem eu te falei: a Agatha. – Seth me apresentou. Tive que me recuperar do choque rapidamente.

–Oi Renesmee. Prazer em conhecê-la. – me adiante e apertei sua mão. Ela sorriu docemente.

–Ah o prazer é meu. Seth me falou muito de você. Oi Jacob! – ela acrescentou.

–Oi baixinha. – ele respondeu.

–Gente, vocês ainda não estão arrumados? – ouvi uma voz estridente falar ao pé da escada. Era a baixinha Alice que estava com uma expressão alucinada no rosto. – Não temos tempo! Vamos Renesmee vá colocar seu vestido. Ah finalmente você chegou Jacob! Sua roupa já está pronta. – ela veio dando ordens a todo mundo e parou à minha frente. – Eu me lembro de você! Você não é a garota que apareceu do nada em nossa casa há... O que?

–Aparentemente seis anos. – respondi com um sorriso. – Oi Alice. 

Ela sorriu também, mas logo reparou em minha roupa. Eu ainda vestia jeans surrados e uma camiseta preta.

–Oh! Você não vai vestir isso no casamento, vai?

–É Alice, foi por isso que vim aqui. – disse Jacob. – Ela acabou de chegar e não tem nada pra vestir então...

Ela deu um gritinho.

–Vai ser ótimo! Vem! – ela me estendeu a mão. – Eu vou te arrumar!

Alice me levou até o quarto de Seth. Estava irreconhecível com todos os cosméticos e roupas por cima de cada superfície disponível.

–Então, quando você voltou? – ela perguntou ao remexer numa pilha de vestidos. Eu observava isso com certa desconfiança.

–Ontem, na verdade.

Ela se virou para me observar.

–Que bom. Jacob já estava ficando particularmente ranzinza. – ela riu com a própria piada. Imaginei por que as pessoas faziam comentários assim. Ontem Paul falou algo parecido... Alice escolheu um vestido curto e preto e colocou-o na minha frente imaginando como ficaria. Ela deu um sorriso. – Ficará perfeito! Experimente-o!

Peguei o vestido, já mais aliviada. Achei que ela escolheria algo bem mais extravagante. Ela me deu licença para eu me trocar e depois voltou com Renesmee.

–Nossa. Você está linda! – disse Renesmee.

–Obrigada, você também. – ela estava com um vestido vermelho muito bonito. Alice pigarreou.

–Ah sim tia Alice, você tem um ótimo gosto para moda! – Renesmee deu os créditos à Alice.

–Ai, eu sei! Agora está na hora da maquiagem e do cabelo! – cantarolou Alice vindo até mim.

Enquanto eu era feita de boneca nas mãos da Alice, Renesmee me contou um pouco mais sobre sua vida com Seth. Ela disse que nós seriamos meio que cunhadas a partir de agora, já que Seth me considerava uma irmã.

Ela contou sobre como ela descobriu que estava apaixonada por ele quando fez dezesseis anos e só então Seth lhe contara sobre o imprinting.

–Você não sabia desde o início? – perguntei.

–Bom, eu sabia que nossa ligação era muito forte para uma amizade normal e acho que no fundo eu sempre soube. Mas ele não falava nada sobre o assunto por que ele achou que seria melhor eu saber sobre o compromisso quando eu fosse mais velha. Acho que meu pai teve algo a ver com isso. – ela revirou os olhos.

–Ah, pode apostar que Edward teve sim. – disse Alice.

Depois de prontas, fui até a sala onde Sue aguardava já pronta com um vestido prata.

–Você está linda Sue. – adiantei-me para dar um beijo nela.

–Ah, que isso... Você é que está linda.

–Ah, muito obrigada! È o meu trabalho!

Depois de tantos elogios Alice estava radiante. Olhei para a porta procurando Jacob.

–Onde está o Seth? – Renesmee perguntou ao mesmo tempo em que eu iria perguntar onde estava Jacob.

–Ele e Jacob foram se vestir, já estão voltando. – respondeu Sue. – O casamento será à uma hora e já é meio dia e trinta.

–Bom, então eu já vou indo. – disse Alice.

–Você não vai ficar para o casamento? – perguntei. Ela me olhou como se eu estivesse deixando algo óbvio escapar.

–Não acho que os seus outros amigos vão gostar muito da minha presença. – ela entortou a boca. – Eu só estou aqui por que Jacob me autorizou para atravessar a fronteira.

–Tia Alice não tem os privilégios de um objeto de imprinting. – disse Renesmee num tom de brincadeira. Mas vi pelo seu olhar que deveria ser difícil para ela ver sua família ser impedida de certas coisas.

–Bom de qualquer maneira, tchauzinho meninas! – disse Alice jogando um beijo para nós. – Divirtam-se! – Ela logo saiu flutuando pela porta.

Alguns minutos depois Seth e Jacob passaram pela porta. Meu queixo caiu quando eu vi o quão deslumbrante Jacob estava. Ele vestia um blazer e uma camisa branca por baixo. Criava um belo contraste com a sua pele morena. Ambos sorrimos quando nossos olhos se encontraram.

–Seth e Renesmee venham comigo. Jacob e Agatha podem ir juntos. – disse Sue.

–Por que eu não posso ir ao meu carro com a Renesmee? – Seth questionou.

–Por que eu prometi aos pais dela que cuidaria dela. Vamos, vamos. – respondeu Sue empurrando-os para fora, apressada. Eu ainda ouvia Seth reclamando e Renesmee rindo do lado de fora. Jacob se adiantou.

–Você tá muito linda, sabia? – ele me abraçou pela cintura.

–È, você não tá nada mal também. – ri.

–É mesmo, é? – ele sussurrou chegando mais perto.

–Ahan. – eu disse já totalmente embriagada com seu hálito quente. Colei meus lábios nos deles com uma ânsia e saudade como se nós não tivemos nos visto ainda essa manhã. Era como se eu sempre quisesse um pouco mais dele.

–A gente tem que ir. – ele disse quando nos separamos ambos ofegantes.

–Tá. Ok.

Quando chegamos lá o pátio de Billy já estava cheio. A decoração estava mesmo linda, os postes que ontem vi armados estavam decorados com algumas flores que eu reconheci do bosque que tinha aqui em La Push. Alguns rostos eu conhecia, outros Jacob ia me apresentando. Todos começaram a se dirigir para as cadeiras no centro do pátio.

–Já vai começar. – Jacob disse. – Eu vou lá para frente, eu sou o padrinho.

–Ah, ok. Até depois. – ele beijou minha testa e foi acompanhar sua irmã Rebecca. Ela viera aqui pela primeira vez depois de muitos anos que ficara sem visitar sua casa.

A cerimônia fora simples. Mas especial em seu próprio modo, pela maneira como eles disseram seus votos. Era tão verdadeiro que era impossível não querer algo como aquilo que eu estava presenciando. Olhei para Jacob, e percebi que ele era tudo o que eu queria e talvez mais. É. Eu tinha certeza de que ele era muito mais do que eu havia pedido na vida. Seria possível que há menos de vinte e quatro horas eu estava desolada por pensar que nunca mais o veria? Ele me fitou também e sorriu daquela maneira de tirar o fôlego.

A cerimônia foi encerrada com o beijo do casal e todos levantaram para bater palmas. Seth, Renesmee e eu fomos até os noivos para dar os parabéns.

–Parabéns Rachel, Paul. Foi lindo! – disse abraçando-os.

–Obrigada, Agatha. – Paul agradeceu.

–Obrigada, querida.

Jacob veio até mim e deu um abraço na irmã e no novo cunhado.

–Parabéns. Muitas felicidades!

–Logo, logo vocês podem ser os próximos! – Paul falou fazendo um sinal com a cabeça apontando para mim.

–Haha. Muito engraçado, Paul. – eu disse abraçando Jacob. Ele beijou o topo da minha cabeça.

–É, porque não? – ele sussurrou.