O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 45
Último dia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/295164/chapter/45

A culpa estava me consumindo. Todos achavam que eu havia tentado me matar, a preocupação de todos eles era minha culpa. E tudo por que eu quis ter alguns minutos de alucinação.

Eu havia visto Jacob, não sabia como, mas havia. E quase me afogara na banheira ao fazer isso. É claro que não poderia contar isso a ninguém, então por ora eu era a louca suicida.

Ariane viera aqui mais cedo, ela teria ficado, mas disse a ela que queria ficar sozinha e ela respeitou minha vontade. Meus pais não vieram falar comigo, apenas Felipe. Foi bom ele ter vindo. Ele conseguia me fazer rir. Perguntei a ele o que nossos pais haviam dito e sua resposta me assustou um pouco. Disse que eles estiveram conversando a sós por um bom tempo.

Agora era quase seis horas da tarde, estava morrendo de fome, mas fiquei com medo de descer e falar com meus pais.

Por fim, a fome falou mais alto e desci as escadas devagar. Dei de cara com meu pai ao entrar na cozinha.

-Oi. – murmurei.

-Resolveu sair do quarto? – vacilei quando ouvi a decepção em sua voz.

-Eu fiquei com fome.

-Tudo bem – ele assentiu. – Mas depois venha até a sala. Sua mãe e eu queremos falar com você. – dito isso ele passou por mim para sair da cozinha.

Antes de começar a ficar nervosa com a conversa tratei de comer alguma coisa. Demorei-me de propósito, mas quando minha covardia começou a ficar vergonhosa fui até a sala. Eles estavam sentados, os dois com expressões tensas.

-Queriam falar comigo? – perguntei hesitantemente.

-Sente-se querida. – disse minha mãe.

Sentei-me cruzando as mãos. Papai prosseguiu.

-Agatha, sua mãe e eu conversamos bastante e chegamos à conclusão de que faz um bom tempo que você tem mostrado um comportamento diferente do que você tinha. – ele tinha os olhos atentos em mim, esperando uma reação minha. Só o que consegui foi esboçar uma expressão confusa.

-Nós achamos que seria bom para você voltar a fazer terapia. – minha mãe disse cuidadosamente. Fiz uma cara de indignada e ela explicou rapidamente. – Só algumas sessões. Sei que você não gostou da última vez, mas quem sabe se...

-Eu não preciso de um psicólogo! – guinchei. – Vocês ficaram doidos?

-Agatha. – papai interveio. –O que aconteceu ontem não foi normal.

-Eu não tentei me matar! – gritei levantando-me. – Por que vocês não acreditam em mim?

-Se acalme querida. – disse mamãe. – Foi apenas uma sugestão, não queríamos...

-Tá, eu sei mãe. Mas eu não preciso disso ok? Eu estou bem. – assim que disse isso alguém bateu na porta da frente. Eu queria me livrar daquela conversa então disse que iria atender a porta.

-Ok, mas volte. Não encerramos o assunto ainda. – disse papai.

Quando abri me dei de cara com Bernardo. Ele pareceu surpreso ao ver-me atender.

-Ah, oi Agatha.

-Esperava outra pessoa? – disse acidamente. Aquela conversa dos meus pais me deixou de péssimo humor.

-Hã... Na verdade sim. Achei que você não me atenderia, então ia pedir explicações aos seus pais. – ele falava baixo, como se estivesse constrangido.

-Explicações? De quê?

Seus olhos lampejaram. Algo o incomodava.

-Bem, você saiu correndo do carro, não atendeu minhas ligações...

-Agatha quem está na porta? – gritou minha mãe interrompendo Bernardo.

Esbocei um meio sorriso quando tive uma ideia.

-Bernardo, você pode fazer um favor para mim? – ele assentiu. – Me leva pra qualquer lugar.

-Como assim? – ele perguntou confuso.

-Só me tira daqui! – sussurrei desesperadamente. Iria adiar o mais tempo possível aquela conversa de psicólogo.

-Tá, tudo bem. Vem pro carro. – Sabia que ele toparia. Se você precisasse de alguém para fazer idiotices era só chamar Bernardo.

Corremos para o carro e ele arrancou. De relance vi meus pais saindo da porta e gritando meu nome. Fiquei um pouco culpada então mandei uma mensagem de texto dizendo com quem estava e que não iria fazer besteira, mas não podia lidar com eles naquele momento.

-Então que loucura foi essa? – Bernardo perguntou rindo enquanto fazíamos uma curva que nos tirava do meu bairro.

-Meus pais vieram com uma conversa estranha e eu quis fugir.

-Que conversa? – lembrei-me que ele não sabia do falso suicídio e não seria eu a contar.

-Hã... Não importa. Então, para onde podemos ir? – mudei de assunto. Vi que ele quis perguntar mais coisas, mas resolveu fazer minha vontade. Ele sabia que era preciso um passo errado para eu sair correndo dele novamente. Talvez eu fosse um pouquinho manipuladora... De repente me senti meio culpada por primeiro ter beijado-o, depois o deixado sozinho no carro e agora pedindo sua ajuda para fugir...

-Sei lá. A escolha é sua. – ele deu um sorriso zombeteiro. – Você é a fujona aqui.

Ri.

-Tudo bem então. Mas eu não faço ideia de pra onde ir!

-Posso fazer uma sugestão? – ele pediu.

-Claro. Vá em frente.

-Lembra do nosso primeiro encontro?

-No jardim de infância? – disse em dúvida.

-Claro que não. – disse ele impaciente. – Nosso primeiro encontro de verdade. Como namorados.

Puxei a lembrança de quando eu tinha quatorze anos. Eu estava muito nervosa por ter meu primeiro encontro de verdade. Estava completamente apaixonada por Bernardo, meu melhor amigo na época. E ainda assim ele fez meu nervosismo desaparecer assim que me levou para um lago lindo. Era primavera e as flores cobriam toda a grama.

-Claro que lembro. – sorri. – Aquele lago é um dos lugares mais lindos que eu já vi. Quase me afoguei quando entramos, era tão fundo... – ri.

-É verdade. Não vamos repetir o feito dessa vez. – ele riu também.

-Mas tirando isso aquele dia foi ótimo. – salientei.

Ele sorriu ternamente, porém não disse nada. Acelerou o carro e tomou o caminho para fora da cidade.

Ele ligou o rádio e tocou uma música animada. Comecei a cantarolar baixinho. Ele sorriu e aumentou o volume começando a cantar alto. Gargalhei e o acompanhei cantando também. Estávamos nos divertindo muito. Aquele era um momento raro na minha vida, principalmente com Bernardo. Eu brigava muito com ele ultimamente.

Eu não queria voltar para casa, não queria enfrentar meus pais. Mas sabia que era inevitável. Eu teria de voltar para a minha vida. Escola, família, amigos, Bernardo... Isso tudo esperava por mim e eu estava estragando tudo. Bom, pelo menos eu tinha concertado minha relação com Bernardo com esse passeio. Mas o resto... Eu teria de dar mais de mim para voltar ao normal. Estava na hora de crescer e esquecer o passado que tive em La Push. Seria doloroso, mas era melhor do que continuar com um pé aqui e outro lá. Eu tinha de escolher.

Estava tão absorta em pensamentos que não entendi muito bem o que aconteceu. Bernardo freou o carro bruscamente e vi de relance um cachorro no meio da estrada. O carro derrapou perigosamente. Gritei em desespero quando olhei pela janela de Bernardo e vi que íamos bater na lateral da ponte.

-Não...! – ele gritou, mas já era tarde demais. Estávamos caindo de encontro ao lago. Batemos com um baque estrondoso e a água inundou o carro. Olhei para Bernardo, ele estava desmaiado.

-Bernardo! – tentei gritar, minha voz estava fraca. – Acorda! Acorda! – batia com as mãos nele tentando reanimá-lo. Não consegui. – Não... A gente tem que sair...

Tentei abrir a porta do carro. Estava emperrada pela pressão da água que continuava a subir. Dei socos na janela soluçando e tremendo de frio.

-Não! – gritei. – Abre! Abre! Por favor... – lembrei-me do meu celular. Disquei o número dos bombeiros, mas a água me inundou por completo me impedindo de completar a ligação. Prendi a respiração com força enquanto ainda tentava abrir a porta. Bernardo continuava desacordado...

Era isso então. Morte. Eu me recusava a aceitar isso. Não podíamos morrer agora... Tão jovens e por minha culpa! Tudo por que eu quis fugir dos meus pais. Eu condenara a nós dois... O ar começou a faltar, eu quis inspirar, mas só o que faria era encher meus pulmões de água...

Por favor, diz que alguém nos viu cair... Por favor, salvem o Bernardo... Eu pedia para Bernardo ser salvo. Eu sabia que quanto a mim era o fim. Devia ter um limite de vezes que uma pessoa poderia ser salva. E eu atingira o meu. Era o fim da linha.

Olhei para Bernardo uma última vez. Desejei poder ver seus olhos, era o que eu mais gostava nele... Pensei em Jacob também. E quase sorri ao saber que ele estaria bem, que estaria feliz. Queria poder dizer o mesmo de Bernardo. Eu não tinha essa mesma certeza de que ele ficaria bem.

Já não aguentava mais. Meu corpo ficara completamente dormente, meus pulmões ansiavam por ar, então com um último esforço traguei uma quantidade imensurável de água. Minha garganta ardeu em brasa. Pelo menos esse é o fim, disse a mim mesma. A dor vai cessar... Vai cessar...

(Ponto de vista: Bernardo)

Abri os olhos, a luz forte me incomodou um pouco. Levei um tempo para lembrar o que havia acontecido. Sentei-me rapidamente quando a imagem do nosso carro caindo no lago me ocorreu.

-Calma, meu filho está tudo bem. – minha mãe estava ali. Olhei para os lados. Estávamos num quarto branco de hospital.

-Mãe... – minha voz estava fraca e rouca. – O que aconteceu? Cadê a Agatha?

Ela estava com os olhos inchados. Raramente a via assim.

-Filho, você sofreram um acidente. Caíram no lago...

-Cadê a Agatha? – repeti forçando um pouco mais a voz.

-Você está muito fraco, não pode passar por muita...

Levantei-me impacientemente. Se ela não quisesse dizer, iria ver pessoalmente.

-Bernardo, não. – ela me segurou e eu cambaleei. Que droga, eu estava mesmo fraco. Tinha de ver Agatha. Não lembrava de nada depois do carro cair... Ela tinha que estar bem. – Eu tenho que vê-la, me solte!

-Filho, pare! – ela pegou meu rosto forçando-me a fitá-la. – Você não pode vê-la!

-Por quê? – perguntei com um misto de fúria e medo.

-Por que ela... Ela está morta. – sua voz falhou.

Parei de lutar ao ouvir suas palavras. Meu corpo ficou dormente, todo o meu sangue se congelou. Isso não era verdade, não podia ser...

-Não, não... – Saí do quarto correndo, procurei pelos corredores algum sinal da família de Agatha. Recusava-me a aceitar que ela havia... Não, não dava.

Avistei os seus pais e Felipe, eles estavam chorando. Corri até eles.

-Não... Por favor, diz que não... – implorei a eles para me dizerem que aquilo não parecia ser o que era.

-Ela se foi! – Dona Ângela disse entre soluços. – Ela se foi!

Naquele momento meu mundo caiu. Era como se algo estivesse me puxando para baixo, as paredes pareciam estar se fechando. Por que a razão de tudo, de toda a minha vida se fora.

Tudo acabara.

Fim do livro um.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tá legal, antes que vcs me matem através do computador, eu preciso dizer que estou escrevendo a segunda temporada e a partir de agora meus posts talvez não sejam diários, tá. É pq o enredo do livro dois é meio difícil de escrever, então eu preciso escrever uma boa parte antes de postar caso eu queira mudar alguma coisa. Eu já tentei postar o livro dois no orkut sem a historia estar pronta e foi um desastre total então preciso da compreensão de vcs para esperar dois ou três dias pra eu colocar tudo em ordem, ok? Eu venho aqui depois para esclarecer qualquer dúvida
beijos