O Outro Lado Da Lua escrita por Marie Caroline


Capítulo 33
Parte II: Memórias - Apenas mais um dia à espera




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(Ponto de vista: Ariane)

As luzes fluorescentes faziam meus olhos arderem. Ou talvez fosse o sono.

Resolvi ir até a máquina no fim do corredor pegar um copo de café. Isso me faria ficar mais desperta.

O barulho de meus pés ecoava no corredor vazio e claro. Eu não gostava de hospitais, pareciam de algum modo, agourentos. Quando meu pai ficara doente eu passara muito tempo em hospitais... Isso é claro antes dele falecer. Mas isso já fazia muito tempo.

O fato é que por Agatha eu ficaria aqui o tempo que fosse necessário mesmo que isso me desagradasse. Eu sabia que ela se recuperaria em breve. Precisava acreditar nisso, ou já não me restariam esperanças...

Encontrei dona Ângela pegando um café também. Em minha opinião ela deveria dormir um pouco. Haviam bolsas inchadas abaixo de seus olhos.

-Oi Ariane – ela disse abatida.

-Oi dona Ângela.

-Não sabia que viria hoje. – ela comentou.

Sorri um pouco constrangida. Eu não estaria aqui se não tivesse um recado para dar. Um recado que eu não queria passar, particularmente.

Há dois dias, eu estava na escola, em meu dormitório quando um número estranho chamou em meu celular. Hesitei dois segundos olhando para o visor luminoso antes de atender.

-Alô?

-Oi, Ariane? – saudou a voz melodiosa de um garoto.

-Quem é? – perguntei.

-Sou eu, Bernardo.

Reprimi um arfar de susto. Bernardo era o ex-namorado de Agatha que fora para os EUA há mais de um ano. O que ele poderia querer?

-O que você quer? – eu perguntei meio rudemente.

Ele hesitou com a minha falta de polidez. Mas o que ele esperava? Eu geralmente não era grossa com as pessoas, mas depois do que ele fizera com a minha melhor amiga, Bernardo não merecia esse meu esforço particular em ser educada.

-Eu fiquei sabendo que Agatha está hospitalizada... O que aconteceu? – ele perguntou aparentemente angustiado.

-Você não estava nos EUA? – perguntei tentando fugir do assunto.

-Eu voltei. Encontrei com Agatha há duas semanas num restaurante. – ele explicou. – Depois fiquei sabendo pelo Gustavo que ela estava no hospital. O que aconteceu?

Eu me lembraria de dar um chute em Gustavo na próxima vez que o visse. Ele não tinha nada que ficar falando de Agatha para esse garoto.

-Sim, ela está hospitalizada. Em coma. – minha voz falhou.

-Ah, caramba... Como isso foi acontecer? – ele perguntou, desolado.

-Eu não entendi muito bem. – respondi me lembrando de quando Felipe contara o acontecido. A história parecia confusa demais. – Parece que o pai dela a levou para fazer trilha, e ela caiu num buraco e bateu com a cabeça.

Ele ficou um tempo em silêncio.

-Eu quero vê-la. – ele disse firme.

Eu duvidava que a família de Agatha permitisse.

-Olhe, quanto a isso... – comecei.

-Em que hospital que ela está? – ele me cortou. Essa personalidade de Bernardo sempre me irritara.

Suspirei impaciente.

-Eu vou ser sincera: os pais de Agatha não vão gostar.

-Por quê? Eu ainda posso ser amigo dela, não? – ele disse com sarcasmo.

-Não sou eu quem decide isso. – rebati.

-Tudo bem, tudo bem. – ele se rendeu. – Pode perguntar a eles antes, então?

Ele não iria desistir e o pedido era razoável... Como se fizesse diferença, eles não iriam deixar.

-Ok, eu pergunto.

-Obrigada Ane. Te devo essa. Me liga quando falar com eles, tá?

-Tudo bem.

E fora isso que acontecera. Resumindo, eu não fazia ideia de como pedir isso a dona Ângela.

Pigarreei, preparando-me.

-Eu falei com Bernardo no outro dia. – ela me olhou alarmada.

-O que esse garoto queria? – ela gritou e alguns enfermeiros olharam feio para ela.

-Queria ver a Agatha. – soltei.

-Como é? Como ele tem coragem? – ela arfou.

-Ele pediu que eu perguntasse à senhora e ao seu marido que o deixassem visitar a Agatha. – eu disse atropelando as palavras.

Ela me olhou com frieza.

-Absolutamente não.

Dei um sorriso sem graça.

-É, eu meio que sabia que seria essa a resposta. Mas ele insistiu, então...

-Bom, não foi sua culpa, querida. Mas diga a ele que se afaste de Agatha. – Ângela disse energicamente.

-Claro. – concordei rapidamente.

Depois disso, o Sr. e a Sra. Medeiros tiveram que sair e pediram que eu ficasse com Agatha.

Entrei no pequeno quarto que já era familiar. Eu a visitava sempre que podia, até pedia licença da escola às vezes para ajudar os pais dela. Eles não podiam ficar faltando o trabalho, já que o tratamento de Agatha era muito caro.

Observei-a caída num sono profundo. Os bipes dos aparelhos ressoavam no ambiente. Sentei-me na cadeira ao lado da cama. Agatha parecia estar com a pele perolada e pálida. Segurei sua mão. Era fria. Ela estava muito diferente da última vez que a vira.

Eu me perguntava por que esse tipo de coisa acontecia. Era tão injusto! Agatha nunca fizera mal a ninguém, simplismente não fazia sentido ela estar numa situação dessas...

-Eu sinto sua falta. – sussurrei. – Por favor, volte...

Os batimentos dela aceleraram um pouquinho. Um rio de esperança jorrou em meu íntimo. Será que ela estava ouvindo?

Aproximei-me dela.

-Agatha, você está me ouvindo? – Esperei ansiosamente que ela fizesse algum movimento...

Nada. Soltei sua mão, decepcionada.

-Tudo bem, não foi agora. – disse a ela. – Mas eu vou esperar bem aqui. Todo mundo está lhe esperando.

Depois de duas horas, dona Ângela voltou. Contei a ela sobre o momento em que achei que Agatha estava ouvindo. Ela disse que tinha certeza que a filha iria se recuperar. Eu esperava que ela tivesse razão. Ela agradeceu e eu liguei para Kevin para ele vir buscar-me.

Kevin era o melhor namorado que podia existir. Nem acreditava que ele estava comigo. Ele sempre me apoiava e estava lá quando eu precisava. Antes de tudo ele era meu melhor amigo. Começamos a namorar quando Agatha sofreu o acidente, ele ficou comigo no hospital o tempo todo.

Fiquei na frente do hospital até ver a caminhonete de Kevin. Fui até ele e abri a porta.

-Oi Ane! – ele me deu um beijo. – E aí como foi? – ele piscou seus olhos negros.

-Bem, na mesma. – respondi desanimada. – Mas teve uma hora que eu achei que ela estava escutando!

-Sério? – ele ligou o carro. - Ela fez alguma coisa?

-Não, na verdade eu estava falando e os batimentos dela aceleraram. Isso é um sinal, não é? – perguntei esperançosa.

-É claro que é. É bem possível que ela esteja escutando. – era isso que eu adorava em Kevin. Ele sempre era otimista.

Sorri me sentindo mais confiante. Eu sabia que em breve veria Agatha bem e sorrindo novamente.


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