Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 51
Entrelaços


Notas iniciais do capítulo

"Agora, mesmo que eu esteja tentando tanto
Estou tentando tanto
Este mundo pode me rejeitar mas eu
Não irei embora
E eu não vou me abaixar e fugir
Porque eu não fui feito desse jeito
Quando tudo se for,
Não há nada lá para temer
Este mundo não pode me derrubar
Não, porque já estou aqui, oh não
Já estou aqui
De joelhos"
—Duck and run (3 doors down)



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—Tudo bem, vamos comer alguma coisa saudável, certo? Só mais alguns minutos_ murmurei levando meu prato com frutas cortadas para o andar de cima. Limpa, confortavelmente vestida com um robe de seda e com a casa vazia desde que chegara a meia hora. Decidi curtir mais uns minutos de tranquilidade antes de mais tensão, estratégias de luta e planos de guerra.

Antes de chegar ao último degrau decidi que queria muito dar uma olhada no quarto de Anthony. Olhando-o da porta, tudo tão fofo e carinhosamente escolhido, pareceu estranhamente frio. Entrei e sentei na poltrona de amamentação, colocando o prato sobre o suporte, ao lado do abajur de ursinho, reclinando e esticando o apoio para pés, percebi as costas precisando de descanso, as horas dirigindo tinham seu preço.

Comi um pedaço de manga.

Sorri para a mínima deformidade em minha barriga enquanto o bebê acordava, recebendo a energia de que precisava. Olhei em volta mais uma vez, sem conseguir projetar muito bem um bebê habitando o lugar. Hesitei em deixar a sensação fluir, temendo que isso significasse que ele na verdade não chegasse a estar ali, fora de mim.

Envolvi minha barriga maior do que imaginei que ficaria e bem menor do que deveria para meu estágio técnico de gestação, pensando ao acaso que seria bom que ele nascesse naquele momento, aí então eu poderia olhá-lo, conhecer um pouquinho seu jeito, seu choro, o teria por 4 dias antes... De qualquer coisa que vá acontecer. Eu quis chorar, só para aliviar a estranha sensação de angústia, urgência e tristeza, mas não consegui. Coloquei duas pequenas uvas na boca e mastiguei mecanicamente.

Por outro lado, seria melhor que ele não nascesse, assim tudo o que ele conheceria até as coisas se decidirem seria o conforto e segurança de estar em meu ventre. Olhei seu berço e a babá eletrônica com câmera em cima da cômoda, de repente não gostei nada da ideia de tê-lo sendo vigiado através maquininhas. Ele devia estar sempre comigo, sendo amado de perto.

No entanto, se ele nascesse agora, poderíamos dar um jeito para que ele ficasse seguro, alguém o levaria para longe, Rosalie ou Leah, talvez as duas. Claro que um nascimento por via cirúrgica não era seguro para Anthony e as formas de indução poderiam desencadear uma cascata de intervenções que poderiam levar a necessidade de anestesia, que era justamente o que não era seguro para o bebê, o que devíamos à enorme quantidade necessária para ser funcional em meu organismo.

—Ei, Anthony, será que você não está entediado, aí? Você não está pronto, está? Tudo bem... Pode vir quando quiser, certo?

Mordi um pedaço de melão. Levantei e abri algumas gavetas, olhando as roupinhas minúsculas. Antes que pudesse me conter, desdobrei, dobrei e mudei de lugar algumas peças. De repente os lençóis pareciam melhor na gaveta de baixo, o que Alice pensou ao colocar no meio?

—Oi, Ruiva_ a voz rouca e muito baixa fez meu coração acelerar, não de susto, embora não tenha me dado conta de sua chegada, alguma parte de minha mente registrara a presença de forma que não foi surpresa vê-lo ali, recostado ao batente da porta, as mãos nos bolsos da calça, a camisa de malha gasta colada ao peito e aos braços de forma que me fez, literalmente, salivar. Meu corpo todo esquentando.

—Pensei que tudo já estivesse arrumado.

—Eu também... Mas estava pensando que não temos um mini berço para acoplar na cama em nosso quarto e, de repente, acho que deveríamos ter_ sorri percebendo que talvez lhe devesse desculpas.

—Podemos providenciar amanhã_ disse Jacob vindo se sentar no chão, comigo. Afagou a pilha de mantas e segurou minhas mãos, tendo toda minha atenção.

—Me desculpe. Eu deveria ter dito antes de qualquer coisa, o quanto estou orgulhoso de sua coragem e da forma como você protegeu a garota, tentou acalmou Alex...

—Só se puder desculpar ter gritado com você! Eu fiquei furiosa, não estou justificando, foi errado_ ele sorriu por um momento, mas então sua expressão ficou calculadamente neutra.

—Está mesmo cansada de estar grávida?_ uma mão soltou a minha e foi para minha barriga, a mão quente por  cima da seda provocando uma sensação eletrizante e reconfortante.

—Estou... Não me entenda mal. Eu estou lenta, dolorida e estressada. Eu gostaria de me colocar em ação e não precisar pensar em fugir ou me esconder, gostaria de não ter todos vocês redobrando esforços para me poupar de tudo.

—Desculpe não perceber_ a mão veio de minha barriga para meu rosto, inclinei a cabeça em direção ao calor da pele áspera.

—Tudo bem, tenho me esforçado para esconder e ser tolerante.

Jacob me olhou com um sorriso um tanto irônico. Fiz um muxoxo, mas nós sorrimos.

—Hoje eu temi que Edward tivesse razão_ disse-me.

—Você sabe sobre a conversa que tivemos?

Ele meneou a cabeça.

—Falei que ele era um idiota e que não devia ter incomodado você com isso. Perguntei quanto ele realmente entendia o que via em minha mente, ele sabe..._balançou a cabeça. _Ele me explicou que estava preocupado com as mudanças em você.

—Acho que ainda vamos mudar muito. Nós dois. E não tem problema nisso. Hoje eu percebi que eu amo ser independente, sair e ver o mundo. Mas que sempre que olhar você, eu estarei em casa. Terei certeza de meu lugar no mundo. Eu estive por bastante tempo tentando acreditar que não havia nada mais para conhecer ou desejar. Então você chegou e tirou tudo do lugar. Eu ainda não sei nada, mas quero aprender com você, Jacob.

—Tudo que você quiser _ sussurrou puxando meu rosto para o seu, nossas testas juntas.

Apoiei em seu peito para levantar o bastante para sentar em seu colo, envolvendo seu tronco com minhas pernas para abraçá-lo completamente. Rocei seus lábios com os meus e desci pela linha do queixo, segui a mandíbula sentindo o gosto da pele levemente salgada, mordisquei o pescoço sentindo água na boca com vários anseios. Jacob me apertou contra si e suspirou, o coração acelerando. Subi para sua orelha apreciando como ele estava já rendido.

—Eu quero que me leve para nossa cama e me..._sua boca cobriu a minha, com todo o calor e a vontade que eu queria.

*

Coloquei a vitamina nos dois copos e sentei esperando Jacob tirar os sanduíches da sanduicheira.

—Você parece cansado.

—O dia foi longo e muito, muito, cheio_ ele bocejou, olhou para o relógio na parede acima do micro-ondas, que marcava mais de oito da noite e pegou um copo, empurrando meu sanduíche no prato por cima da mesa.

—Desculpe contribuir pra isso_ reforcei, de repente me sentindo culpada.

—Estou me sentindo recompensado, no momento, mas depois do lanche talvez precise que você reforce suas desculpas_ não pude não retribuir o sorriso atrevido e derretedor de corações que ele lançou.

—Como ficou Alex, ele está bem?_ indaguei após engolir uma porção de frango, geleia e pão.

—Levou algumas horas até que ele conseguisse assimilar e se acalmar o bastante para voltar a forma humana. Claro que ter imprinting com a melhor amiga na primeira transformação e ver todos os seus pensamentos e sentimentos replicados não ajuda muito na hora de se acalm-

—Outro imprinting?!_ o interrompi. Ele sorriu e deu ombros, bebendo a vitamina em seguida. _Ele me pareceu sob controle quando saímos da floresta.

—Eu o subjuguei para que ficasse imóvel no chão_ uma sombra perpassou o olhar de Jacob no meu. _Teria sido terrível se ele ferisse gravemente dois imprenteds de uma vez.

—O dele próprio e o do Alfa_ ecoei seus pensamentos estremecendo ao lembrar do ódio do garoto emanando quase palpável.

Jacob não pareceu me ouvir, imerso em pensamentos sombrios, vi em sua expressão enquanto olhava o tampo da mesa, sem realmente ver nada. Imaginei se ele revivia o dia em que me feriu ou se as lembranças eram ainda mais antigas.

—E quem são eles? Quero dizer, de qual linhagem ele é? Ela é uma quileute também.

Por um segundo, me perguntei se ele havia me ouvido, mastigava lentamente, pensativo e distante, estava prestes a chamá-lo quando me olhou e murmurou:

—Ele é da família Quehpa, tecnicamente é um primo de Quil, de terceiro grau pela família materna, que pelo que consta nunca teve nenhum lobo, não descende de Taha. Ou é o primeiro lobo dessa linhagem ou tem gene Clearwater ou Black. Ou ainda, é possível que com a proximidade de vampiros a mutação esteja se manifestando em genes menos específicos, mais distantes de Taha Aki. É no que preferimos acreditar, mas isso é teoria de Carlisle.

Me inclinei sobre a mesa, interessada.

— Black ou Clearwater? Qual a linhagem de Embry? Porque não consideram as outras?

—Veja só: o homem que criou Alex morreu há 3 anos, ele era dos makah e até onde se sabe, não tinha parentesco com nenhum quileute. Se a mãe dele traiu o marido só pode ter sido com Harry, que morreu cerca de 1 ano antes que você nascesse, ou Billy. O pai de Quil morreu quando ele ainda era muito pequeno, há quase 20 anos. E o pai de Sam não aparece por aqui desde que ele era um bebê. Ao menos nesse caso, só eles são suspeitos.

Sustentei seu olhar esperando.

—A mãe de Embry sempre lhe disse que seu pai fora alguém que não chegara a conhecer realmente e com quem perdera contato, o que ficou provado ser mentira quando ele se transformou, principalmente se pensarmos no fato de que ela se mudou de Makah para La Push grávida... Claro, ela nunca imaginou que um dia haveria motivos para ele saber que era mentira.

Senti minha boca abrir, meu raciocínio chegando à conclusão:

—Embry pode ser seu irmão!

—Ou de Sam Uley. De Quil Ateara. Ou de Leah e Seth Clearwater. Todos os suspeitos muito bem casados à época. Entende porque nenhum de nós quer realmente saber a respeito? Além disso, todos somos irmãos, agora.

—É sério, você nunca quis saber?

Ele deu de ombros.

—No início, quanto a Embry, todos preferíamos pensar que fosse Uley, que todos pensamos como alguém cujo caráter não é dos melhores. Mas hoje, pensando como Embry e eu crescemos próximos, me inclino a acreditar que tenha sido Billy. Mas nenhum de nós pensa nisso. Claro, até a transformação de Alex trazer isso de volta. Bom, muitas coisas vieram à tona com essa transformação.

—Muito maduro da parte de vocês. E o outro? Leah disse que havia um garoto de mau-humor e com a temperatura alta.

—Linhagem Black. É filho caçula da irmã mais nova de Billy, só tem 13 anos. Billy foi conversar com ele e os pais hoje mesmo. Alex só tem 15.

—Isso o preocupa.

—São muito jovens, não temos tempo hábil para ensiná-los o necessário. Faremos como com Collin e Brady com a luta dos recém-criados.

—Quem?_ indaguei de boca cheia. Jake sorriu.

—Eles tinham 13 anos quando se transformaram, bem quando decidimos ajudar os Cullen contra a horda de Seattle. Os deixamos protegendo a tribo.

—Porque nunca ouvi falar deles?

—Estão na universidade, atualmente. Brady é parente de Quil e de Leah e Seth por parte de uma avó e Collin é minha prima. Eles respondiam a Sam e se transformaram muito pouco, continuaram na escola e levaram uma vida muito próxima do comum depois que conseguiram controlar a raiva... Com os Cullen fora da cidade as coisas ficaram muito calmas. Não sei se vão voltar algum dia.

—Eles não deviam ser chamados?

Jacob franziu o cenho.

—Você acha que eu deveria?_ Eu não queria me responsabilizar por mais duas vidas. Arrancá-los de suas vidas em algum lugar distante e obrigá-los a arriscar seus pescoços. E sabia também, que dizer que sim ou que não prenderia Jake às minhas palavras.

—Acho que você tem um bom motivo para não ter feito isso.

—Edward e Jasper acham que Alex e Peter (o outro garoto, se ele se transformar até lá), devem ir ao encontro dos Volturi. Acham que precisamos de números para intimidá-los e que eles podem sair de lá se as coisas...

—Entendo. Você não precisa. Eles são responsabilidade sua e se você acredita que eles não devem ir, então deixe que fiquem em La Push.

As sobrancelhas grossas ondularam sobre os olhos pequenos, uma amostra pequena dos milhares de pensamentos em sua mente enquanto ele me olhava.

—Pode me chamar de intrometida, mas... O que quer dizer com muitas coisas vieram à tona?_ tentei mudar de assunto. Jacob hesitou, temi ter tocado num assunto ainda mais delicado, percebi que ele não tinha certeza sobre me contar, eu estava prestes a pedir que deixasse para lá quando ele cedeu.

—Outro imprinting. Todos têm agora, exceto Leah. Bom, devia ser raro. Claro, nunca ouve mais que 3 ou 4 lobos por vez, agora há o suficiente para que uma matilha inteira possa se aposentar... Leah ficou bem incomodada.

Senti minha testa franzir.

—Um dia, Leah quis muito ter imprinting, sabe? Pra se livrar de todo o drama com Sam, e sempre a incomodou que apesar dela ter direito ao lugar de beta, como pertencente à 3, de 4 linhagens, ela não pareça se adequar a nenhum dos supostos motivos para um  imprinting acontecer: a teoria de levar o gene a diante ou gerar lobos mais fortes. Ela costumava se referir a si mesma como um beco genético sem saída.

—Nós nunca falamos a respeito_ me dei conta. Me incomodou saber que Leah, uma boa amiga para mim, se sentia mal com relação a isso, desejei que pudéssemos conversar sobre o assunto, embora eu não imaginava o que pudesse dizer.

—Já se deu conta de que os lobos com maior potencial genético, você por descender diretamente de Taha Aki e Seth por ter 3 linhagens tiveram, imprinting por híbridos? Talvez o fato de Anthony estar a caminho confirme a teoria de lobos mais fortes. Quão forte ele será, herdando as minhas características...? Veja, talvez num mundo paralelo, uma Bella humana fosse capaz de passar os genes de transmutação adiante, mas ela não seria capaz de fortalecer a próxima geração.

—Você quer mesmo olhar as coisas deste modo?_ sorri com carinho para seu rosto de criança aborrecida, era engraçado ver aquela expressão num homem. _Não sei se gosto de ver todo meu amor reduzido à genética.

—Olhar pela parte mecânica, não torna nosso amor menos real. Johan dissera uma vez a Carlisle que as mulheres cujo sangue era mais apelativo para ele sempre engravidavam com... Menos tentativas. Todos os romances do mundo possuem parte nesta base. Quanto maior a variedade genética, mais atraente costuma ser. Claro, é só uma teoria, mas têm bastante referências.

O lábio inferior de Jacob se projetou em sua expressão absorta em pensamentos, então seus olhos arregalaram.

—Acha que se Leah vir Nahuel, até onde se sabe o único homem híbrido...

Balancei a cabeça, decididamente, em negativa.

—Você teria ciúmes?

Rolei os olhos enfaticamente.

—Espécies híbridas não costumam ser férteis. Exceto, parece_ gesticulei para minha barriga_ híbridos vampiros. No entanto, Nahuel possui veneno, sendo capaz de transformar uma pessoa em vampiro, o que nem eu nem nenhuma de suas irmãs têm. O que, se considerar a base da fisiologia humana, pode ser o que me torna capaz de gestar, apesar de todos os outros empecilhos. Então...

—Nahuel não é fértil. _eu podia apostar que Jacob adorou essa conclusão. _Não acho que imprinting nos uniria a algo que pudesse nos matar, quero dizer, se ele tem veneno... É, não faz sentido que seja Nahuel.

—Além disso, se é para se dedicar completamente e perder grande parte do livre arbítrio, Lee merece muito mais.

Nesse momento algo indistinto e sem foco ressoou em minha mente, deixei que o silêncio se prolongasse enquanto tentava definir, mas eram muitas coisas em que pensar, muitas novas informações para absorver.

**

Acordei com a pontada já conhecida na base de minha coluna. Mudei de posição na cama e me aconcheguei a Jacob esperando que a dor passasse, como sempre quando eu mudava de posição ou caminhava. Foi aliviando, mas não da mesma forma. Havia algo diferente, não era mais dolorido, era mais pontual e seu avançar era lento enquanto cedia até não restar mais que a lembrança. Cogitei acordar, Jake, ligar para Carlisle, meu coração acelerando no peito, mas antes que pudesse me mover percebi que de qualquer forma era cedo demais.

Não foi difícil conciliar o sono, o dia fora longo demais.

Rolei na cama sabendo que era manhã, mas sem nenhuma vontade de levantar. Abracei Jacob, que me envolveu com os braços.

—Você não vai sair?_ sussurrei.

—Vamos descansar pelos próximos dias. Não faz sentido ficar zanzando na floresta sabendo exatamente quando seremos necessários_ sua voz me fazia acreditar que ele estava acordado fazia tempo.

Abri os olhos e assenti, de repente, me sentindo impaciente demais para tentar dormir mais.

—Não dormiu bem? Parecia agitada.

—Mesmo? Só despertei uma vez, mas não me sinto descansada, realmente.

—Durma um pouco mais. Vou ficar aqui, cuidando de vocês.

Ele afagou meu cabelo e beijou minha testa. Balancei a cabeça.

—Não quero. Quero..._ eu ia dizer levantar, mas pensei na louça que deixamos na noite anterior _Limpar a cozinha.

Jacob riu.

—Isso é tipo um desejo bizarro de grávida?

O empurrei de leve e saí da cama.

Cambaleei um pouco a caminho do banheiro ignorando o chamado preocupado de Jacob.

—É só uma contração de treinamento _ com uma dor aguda, embora leve, que eu tinha certeza se tratar de cólica, pensei controlando a respiração.

—Quer que eu chame Carlisle?_ sua voz veio detrás da porta.

—Não, tá tudo bem.

—Nessie... Pela última checagem o bebê pode vir a qualquer momento.

—Sim, mas infelizmente ele não vai escorregar tão facilmente, Jacob. _ouvi o chiar de um riso. _De qualquer forma, não precisamos encher a casa de vampiros preocupados fazendo perguntas e me deixando nervosa.

Ele não respondeu, mas pensei enquanto escovava os dentes que ele jamais teria argumento melhor que esse.

*

—Renesmee, se você quer tudo limpo, eu posso limpar. Não que vá ficar mais limpo que isso_ Jake estava me tratando cautelosamente, eu sabia. Também sabia que essa súbita vontade de fazer alguma coisa, qualquer coisa, o estava assustando e a mim também, para ser honesta

—Certo, pode remontar o forno_ falei olhando para a cozinha impecável, como se nunca tivesse sido usada. Ainda nem era metade da manhã, lamentei. Olhei Jake manusear os parafusos das grades do forno com destreza e montar tudo, incluindo os vidros, em menos de 3 minutos.

—Podemos fazer alguma outra coisa que não limpar tudo de novo, já que está tão cheia de energia?_ o olhei maliciosamente  e o puxei pela camisa quando se levantou. _Não estava pensando em nada disso, mas se é o que quer eu concordo_ ele me sentou no tampo de mármore do balcão.

—Vamos a Portland, procurar o mini berço?_ murmurei contra seus lábios, ele me olhou confuso, mas sorriu um sorriso que o iluminou. _Podemos fazer qualquer outra coisa com bastante calma depois.

—Claro-claro.

*

—Outra?_ Jacob indagou me oferecendo apoio. Aquiesci e esperei longos 40 segundos enquanto o rastro da dor desaparecia.

—Você está em trabalho de parto?_ perguntou a atendente com um sorriso afetuoso.

—Não tenho certeza, pra falar a verdade. Estão muito espaçadas_ minha voz soando ansiosa.

Ela sorriu compreensiva.

—Passei por dois. Minha barriga também era bem pequena na primeira vez, não tive a mesma sorte na segunda_ ela riu _Quando a dor vier, sei que é difícil, mas se mover alivia, controle a respiração. Tente dormir o máximo que puder antes que elas venham com tudo.

Senti meus olhos umedecerem com a disposição honesta dela.

—Vou tentar, com certeza_ sorri.

Ela me entregou o pacote e Jake foi ao caixa.

—Você tem muita sorte_ ela cochichou olhando de relance para as costas de Jacob. _A forma como ele olha para você... Bem, chamou atenção de todos. São um lindo casal.

—Eu sei. Obrigada _Olhei para o homem imponente se aproximando. _Muito obrigada_ acenei para a atendente antes de dar a mão para Jacob.

Chegando no carro, outra contração. Seguindo o conselho da atendente, o mesmo que vi se repetir muitas vezes nos relatos pela internet, eu meu movi, trocando o peso de um pé para o outro a levando um pouco o quadril. Aliviava mesmo.

—De 15 em 15 minutos, se a próxima vier em menos tempo, vou avisar Carlisle_ Jacob beijou a lateral de minha cabeça. A voz doce, mas algo em seu tom não me deixava espaço para contrapor.

—Tudo bem?_ concordei com a cabeça. _Pode entrar no carro agora?_ Neguei, inspirando profundamente e soltando pela boca, tentando não chorar. _Está doendo?

—Não.

—Ness... _Ele segurou meu rosto e se aproximou, a barriga tocando-o.

—Ele vai nascer, Jake. O que faremos com ele em dois dias e algumas horas? Não vou deixar que Aro coloque os olhos nele. Não podemos levá-lo até lá_ murmurei engasgada com as palavras e as lágrimas. _Ele precisa ficar aqui_ abracei a mim mesma. _Ele está protegido aqui.

—Ness. Nessie. Renesmee—ele tentava me trazer de volta, ter minha atenção, a voz rouca, baixa e firme. _Dentro de você ou aqui fora. Anthony e você. Os dois estarão seguros. Confie em mim.

Jacob me abraçou. Eu confiava nele absolutamente. Eu acreditava que ele faria qualquer coisa. Mas não conseguia me acalmar completamente, me perguntando a que preço manteríamos a segurança de nosso filho.

Era bem ruim aguentar a dor sentada. A pontada começava na base das costas e se dividia, aguda, ao redor do meu quadril para desaparecer num ponto em meu baixo ventre, toda a circunferência da barriga se retesando enquanto isso. Eu quase esquecia até 15 minutos passarem e ela retornar.

—Quanto tempo duram? _Jacob se dividia entre me oferecer a mão e palavras de conforto e dirigir de forma segura e eficiente.

—Um ano_ falei aborrecida. Ele não respondeu. Outra. Virei de lado no banco tentando encontrar uma posição confortável. Jacob o reclinou para mim, melhorou o apoio. Me senti cansada.

—Trinta e oito segundos_ avisou. Fechei os olhos e respirei fundo, me concentrando no som contínuo e baixo do motor do guardian.

A próxima coisa que percebi foi que estava muito confortável e não queria acordar, não queria me mover. Me concentrei para voltar ao sono, mas o murmúrio baixo de alguém falando não permitiu que eu submergisse completamente. A contragosto, espiei por entre os cílios. Estava na sala de casa e isso pareceu errado.

Com um sobressalto abri completamente os olhos, me percebendo ainda de meias e ainda de vestido, mas sem sapatos. Jacob virou-se para mim, afastando um pouco da janela enquanto desligava o telefone.

—Como está?_ ele caminhou até mim enquanto eu me sentava e bocejava. Parecia tão estranho, eu lembrei da dor e esperei por ela, mas não veio.

—Quanto tempo dormi?

—Pouco mais de quarenta minutos_ ele tocou minha bochecha, a expressão avaliativa, agachado na minha frente.

—Estou bem... _toquei na barriga como se para conferir que ela ainda estava proeminente. _Pararam..._ me ouvir dizer enquanto assimilava a surpresa de me sentir decepcionada.

—Eu falei com Carlisle e segundo ele podem voltar a qualquer momento. Pediu para avaliarmos os sinais vitais com o sonar portátil e que você descanse e se hidrate.

Aquiesci e o instruí sobre onde guardava isso e outros utensílios que segundo meu avô me ajudariam em momentos como esse.

Anthony estava bem, seu coração batia na frequência esperada. As contrações desapareceram. Eu ainda senti uma espécie de eco de dor, às vezes, acho que podia chamar de cólica, mas era fácil ignorar. No fim da tarde convenci Jacob a chamar sua matilha, Billy, Charlie e Matt para jantar conosco, podíamos pedir pizza.

 Havia semanas que Hannah e eu não nos víamos. Nos falávamos sempre por telefone, ela me dera a notícia de que estava oficialmente aprovada nas provas que a livrariam de repetir o colegial e que estava fazendo aulas de artesanato. Só durante o jantar descobri que era com a mulher de Sam, Emily. Me senti um pouco insultada, afinal Sam sugerira semanas atrás que meu bebê não deveria nascer. Jacob afagou minhas costas e me olhou com complacência, Hannah não notou nenhuma mudança, talvez nem soubesse desses detalhes.

De qualquer forma foi bom vê-la corada e com dois ou três kgs a mais, saudável. Sua perna completamente curada, ainda fazia fisioterapia, não mais com Rosalie ou Esme, com algum profissional em Port Angeles, uma vez na semana. Embry e ela pareciam muito apaixonados, orbitando em volta um do outro, tocando-se mesmo que minimamente, sorrindo e procurando um ao outro com os olhos. Perguntei-me se Jake e eu parecíamos assim aos olhos alheios. Ela parecia feliz.

Ao me despedir de Embry e abraçá-lo temi não ter outra oportunidade para lhe dizer, então murmurei em seu ouvido, de maneira que Hannah (imersa rindo com Jennifer e Seth) não pudesse ouvir:

—Não importa o que aconteça, volte para ela. Fique com ela e a faça feliz.

Ele me olhou com surpresa e emoção, assentiu infimamente e sorriu.

Jacob e eu trocamos olhares antes que ele abraçasse o amigo. Ele tinha ouvido e eu esperava que se as coisas não caminhassem bem, ele não impedisse Embry de sair de onde estivéssemos, assim como eu esperava que Embry pudesse deixar os amigos em perigo por Hannah; ela já perdera tudo uma vez, não merecia perdê-lo também.

Entre Seth e Jennifer as coisas pareciam ainda mais físicas, mas ela sabia se cuidar, era mais experiente que a maioria ali, mas é claro que eu esperava que ele pudesse viver sua história com ela. Não queríamos perder ninguém, é claro. Não havia ninguém que pudéssemos tolerar nunca mais não ter.

Abracei ao Charlie como sempre, mas foi especialmente difícil não cair em lágrimas.

—Vai ficar tudo bem_ murmurou Sue ao me abraçar, numa variação do que me disseram todos eles, exceto meu avô humano que nada sabia do que estava por vir. Sorri e me despedi de Matt, esperando poder vê-lo completar seu primeiro ano de vida, em breve.

Leah se foi prometendo voltar no dia seguinte para me fazer uma massagem, eu havia lhe contado sobre a experiência da tarde.

Saí do banheiro e encontrei Jacob esparramado na cama, ressonando enquanto cochilava; seu peito iluminado e sombreado pela luz difusa da lua parcialmente encoberta entrando pela janela, ressaltava os contornos de cada músculo. Qualquer dor ou preocupação ficando no fundo de minha mente.

Subi na cama, por cima dele, a fim de beijar a pele rija em seu peito e barriga. Me deliciei com o cheiro e a textura macia. Percebi seu despertar quando ele se retesou, sorri contra seu corpo arrepiado.

—Você estava com dor_ a voz soando abafada.

—Não estou mais_ outro beijo úmido.

—Não acho uma boa ideia_ sua respiração acelerada.

—Li que sexo estimula o trabalho de parto.

—Não acho uma boa idei..._ sua voz falhou no final.

—Eu tenho uma boa ideia_ murmurei descendo mais.

Despertei com a fisgada e não me surpreendi. Controlei a respiração e esperei passar. Adormeci novamente sem perceber e acordei novamente com a pontada. Eram duas da manhã, então esperei para tentar achar um padrão, estava quase voltando a dormir quando outra veio depois de 20 minutos da última. Completamente irregular.

Desci, bebi água e na subida: outra.

Dormi e acordei várias vezes. Até acordar num sobressalto que acordou Jacob, já ao amanhecer.

—As dores voltaram?_ ele murmurou em meu ouvido, afagando minha barriga.

—Sim, mas estão irregulares: as mais próximas em 9 minutos, mas às vezes demoram quase meia hora. Volte a dormir, estou tentando fazer isso.

Senti ele assentir e beijar meu pescoço. A próxima vez que despertei, a luz que entrava numa fenda entre as cortinas parecia muito forte para ser manhã. Eu estava sozinha na cama. Tomei banho e desci.

Leah e Jacob conversavam na cozinha, sorri ao vê-los, beijei Jacob e abracei Leah, que me serviu de suco.

Eles me contaram que além de Peter, mais 5 jovens entre 13 e 15 anos se transformaram na noite passada, incluindo uma garota de 14. Que todos estavam divididos entre ajudá-los com suas famílias e a acalmar os ânimos o bastante para que eles voltassem a forma humana (o que incluía Sam e os outros, como parte do concelho). Leah administrara tudo, como alfa na ausência de Jacob, sem querer afastá-lo de mim, mas ele fora falar com os novatos pela manhã. Além disso, Leah achava interessante a ideia de que eles estivessem no lugar onde, soube no momento, esperaríamos os Volturi, concordando com Edward quanto a ter números a nosso favor. Depois disso ela me ofereceu uma, providencial, massagem relaxante. Jacob perguntou, tentando espezinhá-la se ela não havia conquistado ninguém mais com suas massagens, ao que ela rolou os olhos teatralmente, antes de levantar e sugerir que a sala seria um bom lugar para nós.

No meio da tarde, as mulheres do clã Cullen me visitaram, cobrando-me pelo desaparecimento há dois dias e a falta de visitas. Jacob me deixou por duas horas e voltou no fim da tarde.

**

De repente o tempo parecia água passando numa ampulheta, rápido e contínuo. A sensação era de me preparar para um enterro, por exemplo ao pensar numa roupa que deveria vestir para uma ocasião a qual ninguém desejava comparecer. Precisava ser algo que não evidenciasse tanto meu estado, no entanto, que me possibilitasse correr, se necessário; algo sóbrio. Separei uma calça ao estilo montaria e uma bata bege, ficaria bem com botas sem salto, não chamaria atenção.

Foram 24 horas de contrações irregulares e uma tranquilidade arrastada e inquieta enquanto Jake e eu namoramos, conversamos e cochilamos sobre tudo o que viria como se realmente viesse; como se não houvesse uma mancha negra e incerta em nosso futuro. Eu disse adeus de todas as maneiras que se pode sem jamais dizer realmente, esperando com um desejo sem sentido que em algum lugar, de alguma maneira eu ainda pudesse ter a memória límpida de todos esse momentos.

De repente, parecia ter passado rápido demais. Às 3 da manhã despertei me sentindo energizada, não fosse pelas contrações a cada meia hora. Comi maçãs esperando que parassem, mas se mantiveram estáveis até às 6h. Quando ao perceber Jake acordando no andar de cima percebi que não poderia deixá-los saber que meu trabalho de parto estava efetivo.

Devíamos estar na clareira com o sol alto, em torno do meio dia, como prevera Alice. Se eu estivesse em trabalho de parto minha família ia querer me deixar em algum lugar, com quem pudesse me proteger e isso os desfalcaria, os tornaria vulneráveis. Eu não poderia falar às testemunhas de Aro, ele poderia usar isso como argumento para nossa culpa... Até dar à luz levaria horas, se eu pudesse aguentar e disfarçar, como eu faria isso com meus batimentos alterando a cada contração?

Só encontraria minha família no último momento, decidi. Se disfarçasse minhas reações, poderia mentir sobre a intensidade.

Só o que eu teria de fazer era impedir que um bando de vampiros e lobos me trancassem em algum lugar e me impedissem de fazer toda a droga pelo que todos vinhamos sofrendo há meses.

Precisava dar certo.


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Notas finais do capítulo

Olá.
Quero dizer que essa fic tem mais de 37 mil acessos, mesmo considerando o tempo em que ela está on line, acho muito louco tanta gente ter visto um pouco do que passa em minha cabeça.
O último caítulo tem 50. Vcs são ótimos ainda estando aí, mesmo em silêncio. OBRIGADA!
DEsculpem se esse parece meio repetitivo. Não achei possível enxugar mais.
Bjs



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