Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 44
Planos


Notas iniciais do capítulo

"Não preciso de mais nada
Agora que
Me iluminou seu amor imenso
Dentro e fora
E você se transforma em um quadro
Dentro de mim
Cobrindo paredes brancas e cansadas"
~Viveme, Laura Pausini.



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Novamente, Jacob acordou cedo para se despedir antes de voltar a Forks e eu decidi levantar sem querer perder mais um dia de aula.

Antes de chegar à metade do quarto, corri para o banheiro, agora familiarizada com a sensação; depois de pôr para fora meus fluidos estomacais, permaneci no chão do banheiro, ofegante e preocupada. Sentia-me melhor que ontem, mas não seria problema voltar para a cama. Eu sabia que alterações hormonais às vezes causavam sintomas bruscos, e só havia duas opções para meu mal-estar: TPM (pré ou pós) ou... Resolvi que ligaria para Carlisle, agora pela manhã. No entanto, eu havia tido minha primeira menstruação há 3 semanas, um ciclo de dois dias, mas eu não poderia esperar que isso tivesse o mesmo padrão humano, não é?! Então uma conversa que parecia ter sido um século atrás soou em minha mente, uma conversa com Jeniffer, irmã de Nahuel.

Levantei abruptamente, correndo pelo quarto em busca do meu celular, descobri uma farmácia perto e liguei fazendo um pedido. Não custava verificar...

Tomei um banho rápido e escovei os dentes mais rápido ainda. Eu terminava de abotoar meu vestido quando ouvi o entregador da farmácia entrando no pátio. Desci correndo, ansiosa. Paguei, agradeci e voltei correndo para o quarto, nervosa lendo as instruções do teste de gravidez.

Sem suportar ficar parada enquanto aguardava os 5 minutos liguei para meu avô, que se prontificou a vir imediatamente quando falei que não me sentia bem, sem dar muitos detalhes, não fazia sentido falar de minhas especulações.

Peguei o teste e sentei na cama; as instruções diziam que uma linha era negativo, e duas: positivo. Olhei acovardada para o aparelhinho.

Duas linhas.

Positivo.

Eu estava grávida.

Não poderia ser... Com certeza era só meu corpo se adaptando a alteração hormonal. Fui para cozinha, de repente louca de fome. As aulas do dia perdendo toda a importância enquanto eu me convencia cada vez mais de que era mais uma mulher agraciada com uma TPM absurda, eu não me sentia grávida, a ideia me parecia ridícula. Exceto o cansaço anormal, eu me sentia como sempre.

No fim da manhã Carlisle, chegou.

—O que você está sentido?

—Nada. Quero dizer, acho que é tensão pré ou pós menstrual, mas..._ falei colocando o teste em cima da mesa. Vovô pareceu respirar fundo lentamente.

—Certo. Quais os sintomas?_ indagou pondo a maleta em cima do balcão.

—Cansaço. Fome humana também, mas acho que é só a influência de Jacob. Tive uma espécie de tontura um dia desses..._ lembrei de quando “inauguramos” a cozinha. _Jacob pediu pizza ontem à noite e odiei o cheiro, mais que o habitual_ senti minha boca salivar repugnantemente, ao lembrar. _Ontem dormi o dia inteiro e ainda estava cansada. Eu vomitei quando acordei hoje... _minha voz morreu.

Listar as coisas fez parecer um tanto óbvio de repente, mas eu não era óbvia ou normal, talvez para uma humana essas coisas fossem significativas...

—Você e Jacob não têm usado preservativos?_ o olhei incomodada. _Preciso perguntar, querida, sou apenas seu médico, neste momento.

Respirei fundo, sentando na cadeira da cozinha:

—Nós tentamos, sempre rasgava, não sei se é nossa temperatura, ou..._ dei de ombros, ele assentiu. _No final eu não achei que... _ minha voz embargou, senti meus olhos arderem.

—Preciso examiná-la, pode se deitar na mesa?

Desabotoei meu vestido até o quadril, fazendo dele uma saia e deitei na mesa, minhas pernas balançando para fora.

Carlisle tocou abaixo do meu umbigo, levemente, depois com mais força e pude sentir que (em relação à pele dele) minha pele cedia em alguns lugares e outro não, parecia haver um ponto mais sólido no centro em meu ventre. Minha garganta se apertou com uma emoção conflituosa. Doeu um pouco, uma dor aguda, quando ele comprimiu com certa pressão.

—Tudo bem, querida_ vovó me estendeu a mão me ajudando a sentar. Abotoei meu vestido concentrando-me em não chorar. _Ah, Renesmee, vai ficar tudo bem_ Carlisle me abraçou por um momento e beijou minha testa.

—Alguma alteração nos seios?_ perguntou ao se afastar buscando a agenda que eu sabia que ele usava para anotar coisas sobre mim, seu tom profissional voltando.

Neguei com a cabeça.

—Por minha experiência, posso dizer que você está grávida, amor, eu não tenho dúvidas. Preciso de um pouco de seu sangue apenas por convenção. E quero que compre, hoje mesmo, os remédios que vou receitar, também vai precisar tomar vacinas. Vou providenciar.

Eu ouvia mecanicamente, o mundo inteiro havia ficado mudo, mesmo os meus pensamentos eram estáticos.

—Os remédios são para enjoo e algumas vitaminas. Vai melhorar o cansaço, mas provavelmente vai aumentar a fome_ ele sorriu. Não consegui esboçar uma reação, não sabia se devia entrar em desespero ou pular de alegria. Estava chocada de mais para qualquer coisa. Ele sustentou meu olhar seriamente.

—Como seu avô agora: você está bem?

—Acho que sim... Eu... Não sei, estou confusa.

—Você não o ama? Ao Jacob?

—Não é isso... É que... Tudo aconteceu tão rápido! Nunca fiquei doente, minha experiência com dor física é...

Para minha surpresa meu avô riu. Continuei:

—E o que essa criança vai ser?_ isso pareceu tocá-lo. Ele ainda não estava sério, mas os olhos dourados eram condescendentes. _Ela será alguma coisa? Como vou mantê-la? Eu não mudo, vovô.

—Meu bem, não é como se você estivesse jogando fora sua juventude, você tem todo o tempo do mundo. Talvez não seja o ideal, mas não acho que você seja imatura o bastante para não lidar com isso. Inexperiente nós sempre somos em relação a algo, em algum momento da vida.

Ele sustentava meu olhar, a sabedoria de mais de 3 séculos fluindo através do ouro em seus olhos.

—Sobre o que essa criança será, sugiro que lidemos com isso quando for o momento. Mas, honestamente, não acredito que teremos problemas como quando você estava sendo gerada.

—Eu sou imutável_ murmurei novamente. _Não pode ser um engano? Eu menstruei há poucas semanas...

—Renesmee_ Carlisle tocou meu rosto com as duas mãos, fazendo-me olhá-lo. Eu provavelmente estava entrando em pânico. _O exame hormonal poderia estar errado, mas eu posso senti-lo, um médico humano talvez não, mas eu posso. Sobre o sangramento, é mais provável que tenha sido porque o embrião se fixou ao útero.

“Querida, toda gestação tem riscos e complicações, faremos de tudo para que corra tudo bem. Mas não estou tentando convencer você de nada, estou me certificando que você saiba que tem todo o apoio e segurança de que precisar. Você ainda fará o que acreditar ser melhor para si mesma.”

Lancei-me para os braços de meu belíssimo e sábio avô. Lágrimas estranhas me enchendo os olhos.

—Obrigada_ murmurei. E depois de um segundo: _Juro que não pensei em interrupção... Pelo contrário! Na verdade eu só estou apavorada.

—Há alguns meses atrás você estava pronta para subir ao altar e, quem sabe, ter sua própria família.

—Por isso não casei: não estava pronta_ falei deixando os braços de Carlisle e enxugando as lágrimas, me sentindo de repente muito aliviada. _Na verdade, é uma coisa boa, não é? Se houvesse marcado o casamento um mês antes... Não consigo imaginar meu futuro, como quer que seja, sem Jacob ao meu lado.

Carlisle sorriu.

—Então não há nada de errado aqui. Não se preocupe com nada, certo? Exceto em tomar todos os remédios, se alimentar corretamente e, em hipótese, alguma deixar passar nada, nenhuma cólica ou sangramento, qualquer desconforto que seja, diga-me. Só nos preocuparemos com os problemas que surgirem.

Assenti.

—Você pode não dizer nada a ninguém por enquanto?_ pedi.

—Tenho um plantão voltando a Vancouver, então, você tem pouco mais de 24 horas até que seu pai saiba.

—Acho que é o suficiente. _sorri um pouco.

—Também é necessário que você seja examinada mais... Invasivamente. Mas podemos falar com Sue, acho que ela pode fazer isso, se você se sentir mais a vontade.

Concordei.

Carlisle tirou amostras de sangue e partiu.

De repente todo o itinerário do dia estava desfeito, na verdade todos os planos que eu tinha para anos a frente haviam mudado. Eu nem ao menos conseguia pensar. Não conseguia me imaginar sendo mãe. A única coisa que eu conseguia pensar era em Jacob.

Comprei todos os remédios e um lanche natural antes de me pôr a caminho de Forks.

Jake não estava na oficina e resolvi esperar. Os rapazes, Quil e Seth, ficaram preocupados ao me verem em plena terça à tarde em Forks, mas garanti que estava tudo bem, eles não pareceram acreditar, mas deixaram passar.

Eu conversava com Seth, ele me falando dos planos para depois da formatura, que pretendia viajar um pouco, conhecer outros lugares, nós dois estávamos escorados em um capô quando um senhor entrou perguntando alguma coisa, Quil o atendeu; fiquei zonza tão forte era seu perfume. O senhor me olhou curioso e admirado, fingi não ver virando minha careta de nojo em direção a Seth, meu estômago revirando, e Argh!

Não pude correr. Só consegui me curvar um pouco, o que minimizou os danos. Desculpe-me, tentei dizer recuperando o fôlego, mas o cheiro ainda estava ali, Seth se afastava chocado e sujo, outra sombra se aproximava.

—Você está doente_ rosnou a voz muito perto enquanto eu era içada e levada para a calçada, a chuva fina que caía parecia fantástica em minha pele.

Curvei-me, soltando dele, em direção ao cercado com plantas, em espasmos ruidosos. De alguma forma ele ainda mantinha meu peso e segurava meus cabelos para trás. Não havia nada mais em meu estômago e o cheiro só estava em minha memória. Endireitei-me, respirando fundo, deixando o ar frio e molhado limpar minha mente.

—Melhor?_ Jacob pôs um braço em minha cintura segurando-me. Aquiesci. _Está pior.

—Já falei com Carlisle._ Droga. Não era enquanto vomitava que tinha planejado contar para ele. _Preciso me lavar.

Jake virou me arrastando para dentro no exato momento em que o senhor saía. A sensação passou rapidamente, mas prendi a respiração até chegar lá dentro; Seth tinha uma mangueira em punho limpando o chão e já estava fora de seu macacão.

Lavei o rosto, a boca e usei o enxaguante bucal no pequeno banheiro do apartamento nos fundos.

Duas horas de viajem e eu não fazia ideia de como dizer, sempre que pensava em dizer de uma vez, engasgava. Não queria que ninguém mais soubesse por enquanto.

Jacob ajudava Seth a secar o chão, quando saí já recomposta.

—Desculpe-me, Seth_ falei constrangida. Antes que alguém falasse algo: _Vou estar na casa da praia.

Saí rápido demais para alguém questionar. E quase tão rápido eu estava na casa de Jacob, deixei o carro na entrada e dei a volta, seguindo pelo quintal em direção à praia depois dos metros de árvores.

Havia alguns barcos de pesca a distância, na direção oeste, tudo esteve silencioso, exceto as ondas, enquanto eu descobria que o cheiro de maresia afastava os resquícios de meu enjoo, ironicamente; então ouvi os passos soturnos no cascalho atrás de mim. Não olhei para trás, sentada no chão úmido. Senti o calor antes que ele me tocasse.

—Sente-se bem agora?_ foi a primeira coisa que Jacob disse ao me alcançar, sentando ao meu lado, uma mão em minhas costas. Assenti.

—Gosto do clima, acalma meu estômago. Seth está muito furioso?

Jake riu, os dentes claros reluzindo, na luz difusa do dia nublado.

—Seth não está furioso. Está preocupado. Como eu_ suas sobrancelhas se uniram por um momento. _O que a trouxe aqui, o que Carlisle falou?_ sua voz vacilou com temor.

Novamente as palavras não saíram, senti que podia chorar a qualquer momento. Movi-me de forma a tirar o pequeno canudo do bolso do jeans. O estendi mostrando-lhe a pequena tela.

—Isso é...? É seu?_ a voz baixa ainda mais rouca.

—É um teste de gravidez. Passei mal depois que você saiu. Fiz antes de Carlisle chegar a minha casa_ murmurei.

Jacob se ajoelhou a minha frente, os olhos escuros brilhavam cheios de lágrimas emocionadas. Ele segurou meu rosto entre suas mãos e beijou-o todo por um momento. Se afastou bruscamente:

—Você não poderia me fazer mais feliz! Você está bem, não está? Quero dizer, todo o mal-estar é normal? Você não corre nenhum risco, não é? Carlisle examinou você?

Resfoleguei um riso fraco e nervoso.

—Muitas perguntas! _ ri, uma lágrima me escapando. Jacob sentou-se me puxando para seu peito e me aninhando ali, entre suas pernas; encolhi-me em uma bola sentindo seu calor. _Ele me receitou alguns remédios e me examinou superficialmente, garantiu que há um baby-wolf aqui_ Jake riu me apertando contra ele_ Me fez prometer que não vou deixar passar nada e que lhe contarei tudo o que houver comigo. Pediu que não me “pré-ocupasse” com nada, deixasse para quando e se chegasse a hora.

—Você não muda mais... _sussurrou Jacob. Pude ouvir a tristeza e o medo em sua voz. _Como você se sente?_ sua voz comedida. _Quero dizer, emocionalmente, não parece muito animada.

Hesitei, buscando a coisa certa a dizer, mas (como sempre) fui impelida a dizer exatamente, ou o que eu entendia, o que estava acontecendo.

—Eu estou apavorada. Quero dizer, eu vou saber ser mãe? E como vou gerar uma criança saudável quando não sabemos se meu corpo é capaz de comportar um feto?_ me afastei um pouco, a fim de olhá-lo nos olhos. Jacob enxugou o próprio rosto. Meu coração murchou.

—Eu deveria estar feliz, e estou, adoro o fato de que seja você, o pai, mas... _suspirei. _Carlisle disse que o que pensávamos ser um ciclo foi o embrião se fixando_ pela primeira vez desde o início daquele dia louco, tive vontade de sentir aquela vidinha frágil dentro de mim, minhas mãos livres tocando meu ventre, plano e aparentemente estéril. Jake tentou falar e pareceu desistir por um minuto, desviando os olhos de mim, isso me atingiu como uma ofensa, não estava acostumada a seus olhos me evitando.

Mas suas mãos tocaram as minhas, pegando-as e as levando ao seu peito, entre as dele; Jacob inspirou profundamente e seus olhos vieram para os meus.

—Não há nada que me fizesse mais feliz que ter um filho seu, alguém para levar meu legado adiante um dia, uma pessoinha para mostrar a todos que você é minha e que a amo com minha vida, mas não vou colocá-la em risco, porque nada me faria mais infeliz do que vê-la sofrer ou perder você_ ele respirou fundo, contendo as lágrimas. _Vou apoiar você no que decidir_ olhando em seus olhos enquanto ele falava eu pude ver algo se partir. Uma nova dor pareceu começar a existir a partir daquele momento.

—Não estou dizendo que quero abortar_ suspirei. Eu devia parecer muito desesperada. Eu tinha mais horror à essa ideia do que tinha medo do restante. _Por que...? Carlisle também pensou isso.

Balancei a cabeça.

Jacob me abraçou, mais forte que antes; senti-me tão consolada e tão protegida, o apertei contra mim também. Inalando em sua clavícula.

—Vamos lidar com o que quer que seja, vai ficar tudo bem, eu prometo. Confio em meu próprio sangue. Você é mais que a mulher que eu amo, é literalmente minha vida, não posso acreditar que entre nós dois, algo poderia fazer mal ao outro.

Suas palavras me deram absoluto alívio, houve tanta ternura dentro de mim, como lava correndo, lenta e irrestrita. O calor afetuoso se converteu em algo eletrizante, atordoante enquanto seu corpo quente me apertava contra si. Busquei seus lábios, ansiosa; Jake me recebeu como se buscasse consolo. Em alguns segundos eu já havia esquecido o medo e a incerteza, foi fácil tirar sua jaqueta enquanto sua boca devorava a minha, nós dois num encaixe perfeito. Suas mãos me puxavam para si e me apertavam, em meus quadris, na base de minhas costas, por baixo de minha blusa. Eu quase podia sentir o suor em minha pele pelo calor que vinha de dentro. Eu precisava dele, não era apenas o desejo aterrador que eu sentia por ele, havia mais. Como se minha pele fosse se romper se ele não me tocasse. Não era o bastante.

—Nessie..._ tentou. Deixei passar para ele todas as minhas sensações. Ele quase rosnou e muito rápido eu tinha as costas contra a areia molhada. _Eu quero muito tê-la aqui e agora, mas não vou fazer isso com minha mulher grávida se temos uma casa quente e confortável há alguns metros._ sua voz e palavras me pareceram muito apelativas, ele sorriu contra minha clavícula.

Não fomos muito longe: nossas roupas cheias de areia ficaram na varanda dos fundos e nos contentamos com o chão da sala.

*

—Sabe o que é engraçado?_ perguntou-me afagando meus cabelos enquanto eu traçava linhas, com os dedos, em seu peitoral, deitados de frente um para o outro, sua voz continha uma risada. Ergui a cabeça de encontro aos olhos escuros que brilhavam de alegria. _Você não quis ser minha namorada ou noiva... E acabou com o maior título que alguém pode ter.

Rolei os olhos para ele, que gargalhou. Não pude não sorrir para o som de pura alegria.

—Certo, pode esfregar isso na minha cara, Black Você conquistou esse direito_ suspirei resignada. Jake balançou a cabeça, só sorrisos, rolando sobre mim.

—A mãe do filho de Jacob Black. A mulher que eu amo, por quem darei minha vida, para sempre.

Meus olhos marejaram, ficou difícil enxergar seu rosto.

—Você sabe que eu amo você, não sabe? Mesmo que nunca tenha dito.

—Prefiro que você diga_ sussurrou beijando-me os olhos.

—Eu amo você. De todas as formas que se pode amar alguém. E não é porque você é uma boa ou a única opção. Eu amaria você mesmo que tivesse todas as opções que o resto do mundo tem. Por que eu não conseguiria ver nenhuma mais depois de ver você.

Jacob me tomou num beijo comovido que pareceu tocar minha alma; de repente eu tinha uma. Do que quer que essas coisas fossem feitas, as nossas tinham a mesma fórmula.

*

—Você tem o resto do dia de trabalho_ lembrei.

—Devia ter..._ a voz era chateada, ele apertou minha cintura e beijou minhas costas. Então ele riu: _Principalmente agora que tenho uma boquinha para alimentar.

Sorri achando engraçado, mas ainda compreendendo como muito distante.

—Já contou para seus pais?

—Não... Só Carlisle sabe, por enquanto_ falei preocupada, sentando-me para olhá-lo. _Temos 24 horas para contar, é quando meu avô termina um plantão e meu pai, provavelmente, vai saber.

Para minha surpresa Jacob sorriu.

—Isso vai ser divertido.

—Não vai, não, Jake!_ franzi o cenho.

Ele sentou me olhando com indulgência, um sorriso bobo, e pegou meu rosto entre as mãos.

—Vai ficar tudo bem.

—Você está feliz, não é?_ minhas mãos sobre as dele.

—Acho que vou estourar a qualquer momento... _ ele se inclinou colando nossas testas.

***

Eu havia mandando uma mensagem para minha mãe, pedindo que ela privasse nossas mentes assim que chegássemos, não queria que meu pai pirasse antes do tempo, ela me respondeu com: casamento? Não respondi, não queria dar dicas.

—Acho que vou vomitar..._ murmurei. Eu estava enjoada, mas era diferente, puramente psicológico, apenas medo. Jake me olhou preocupado.

—Quer que eu pare?_ ele dirigia meu carro pela estrada de terra que levava a base da montanha onde minha família morava. Balancei a cabeça. Ele tocou minha barriga antes de pegar minha mão e beijá-la, segurando-a sobre sua perna depois.

Quando estacionou na frente da casa eu pude ver algumas cortinas se moverem nas janelas. Desci do carro relutante sob o olhar super protetor de Jacob. Ele me deu a mão e subimos a escada da frente.

Eu estava surtando, queria sair correndo; a mão de Jacob era o que me impedia.

Esme abriu a porta para nós, por sobre seu ombro só não vi Jazz e Emmett. Edward estava nervoso, provavelmente por não nos ouvir. Depois dos cumprimentos e farpadas (no caso de Jacob e Rose) vieram as perguntas.

—O que está havendo?_ perguntou meu pai, impaciente, os olhos de ouro líquido passeando, desconfiados, de Bella a mim.

—O que vieram fazer?_ indagou Rosalie deixando de lado sua revista de moda.

—No meio da semana..._ especulou Alice, irritada por não saber.

—Jacob... Renesmee?_ Bella incitou.

Eu estava tentando controlar minha respiração desde que paramos em frente à casa, naquele momento tive certeza que não aspirava ar o suficiente, a sala ficou muito quente repentinamente, eu me sentia tremer. Estava aterrorizada, meus olhos pinicaram ficando úmidos e minha garganta se apertou. Eu não realmente percebi que havia algo errado até as mãos de Jacob me tocarem, em minha cintura e ombro.

—Nessie?_ acho que ele disse, mas havia um zumbido indistinguível em meu ouvido e a sala girava num ângulo que seria engraçado, não fosse vertiginoso. Então, o mundo apagou para mim.

*

Suspirei de gratidão ao sentir a frieza em minha testa. Abri os olhos e me deparei com Jacob, os olhos ansiosos; mas ele sorriu para mim.

—Hey, meu amor_ ergui uma mão para tocar seu rosto, ele estalou um beijo em minha palma. Estava sentado no chão diante de mim, percebi. Girei a cabeça e me dei conta que estava no colo de Bella, sua mão aliviava a estranha sensação em minha cabeça, ela sorriu.

—Sente-se melhor? Mais calma?_ a voz doce de minha mãe soava enquanto eu observava meu pai se avultando sobre nós por trás do sofá onde eu estava deitada. Afaguei seu punho dizendo-lhe que sim.

—E agora, como vai ser, o que pretendem fazer?_ a voz de Edward era baixa, mas dura. Franzi o cenho confusa.

—Eu já contei_ disse-me Jacob. Dei graças por estar inconsciente no momento, mas me perguntei o que meu pai havia dito a ele e lamentei deixá-lo sozinho.

Ousei olhar em volta. Esme e Rosalie tinham expressões de quem chora de emoção, Alice tinha um sorriso enorme, evitei olhar meu pai (que suspirou pesadamente em resposta ao meu pensamento), voltando meus olhos para Jacob à minha frente. Ele levantou e sentou comigo, colocando meus pés (que percebi estarem descalços) em suas pernas.

—Vocês vivem há quilômetros de distância um do outro. Não dá pra ficar de um lado para o outro com uma criança_ continuou Edward, a voz mansa agora. _Ou mesmo grávida.

Eu me sentei, depois de avaliar que tudo parecia estável, me sentia bem, o nervosismo passado. Sabia que Edward ia tocar no ponto prático de tudo; eu não conseguira cogitar nada disso antes, presa à ideia de meu pai furioso comigo.

—Edward, os tempos são outros, não pode obrigá-la a casar por que vai ter um filho_ Rose afirmou.

—O.K!_ interpelei antes que eles entrassem numa discussão sobre a minha vida. _Não...

Nesse momento um carro estacionou, esperamos poucos segundos até que meu avô irrompeu, sorridente, pela porta.

—Então, parece você já deu a notícia, querida_ perguntou-me brincalhão, tentei sorrir. _Olá, Jacob. Parabéns.

Jake sorriu enormemente murmurando um agradecimento.

—Carlisle já sabia?_ a voz de meu pai era ultrajada.

—Eu tinha que ter certeza_ murmurei, tomando a mão de Jacob na minha enquanto me escorava em seu braço e olhava suplicante para minha mãe, encolhendo minhas pernas no sofá.

Meu pai deu a volta por trás de nós, sentando-se na poltrona mais perto de Jacob enquanto Carlisle cumprimentava Esme e desaparecia pela casa.

—Então, Jacob?_ cutucou Edward.

O homem ao meu lado fez um som gutural, quase um rosnado.

—Você está agindo como se eu a quisesse grávida e descalça, à beira de um fogão! Renesmee vai fazer qualquer coisa que queira e eu a seguirei aonde for_ Jacob puxou a mão que não estava entrelaçada na sua, entre nós, para seu peito, afagando-a lá. _Ela ainda vai ser formar e vai trabalhar na NASA se quiser, eu estarei lá.

Eu devia ter perdido alguma pequena discussão anterior, pensei por menos de um segundo enquanto suas palavras me alcançavam fazendo-me sentir a mulher mais amada do mundo, toda a verdade na voz de Jacob fazendo pequenas lágrimas umedecer meus olhos. Credo, eu estava mais chorona que o habitual! Mas eu não faria isso, eu não queria obrigá-lo a fazer isso; levei um segundo para decidir.

—Eu vou para Forks_ murmurei, a voz quase não saindo com a emoção contida. Jacob me olhou, nossos rostos bem próximos. Movi-me, afastando um pouco para que a voz saísse mais clara: _Me mudo para Forks. Não digo que estou me casando, mas você tem razão_ olhei para Edward.

—Não posso dirigir 4 horas por dia com uma criança _todos os olhos em mim. _E Jacob não pode deixar Billy, deixar La Push. A oficina está crescendo e não vai ser bom para os negócios que ele deixe outra pessoa à frente disso, não por enquanto.

—Eu pos...

—Não, Jake. Eu não quero. Não quero que você jogue tudo para o alto.

—Você está abandonando a universidade?_ indagou Edward.

—Não é muito diferente do que minha mãe fez. Ela também desistiu_ afirmei.

—É diferente. Você crescia a cada segundo! Cinco anos na Universidade seria perder toda sua infância_ disse-me Bella.

— Não sabemos como será. Não estou abandonando, de qualquer forma. Posso trancar um ou dois semestres. Além disso, sei que podem providenciar os documentos necessários para que eu consiga um bom emprego em Forks, enquanto isso. Posso dar aulas de artes ou história.

De repente eu me sentia muito presunçosa por ter um plano que me parecia brilhante. Continuei:

—Jacob tem uma casa confortável o bastante para três _ procurei os olhos de Jacob, eles encontraram os meus com encanto.

Não havia o que discutir, eu estava decidida. Ou talvez eles não quisessem me irritar por causa da reação que tive ao nervosismo. Eu tinha certeza que só estivera muito sensível às emoções, não havia sido um sintoma gestacional. Aos poucos as conversas tomaram direções amenas e alegres. Carlisle me entregou os resultados dos exames sanguíneos pré-natais que ele havia feito no hospital, dizendo-me que tudo estava muito bem, mas que eu precisava comer melhor. O que significava comer mais coisas que eu detestava e experimentar coisas a que eu nunca dei chance.

Meu avô pediu que eu fosse ao hospital com ele ao anoitecer para tentar um exame com ultrassom.

Fomos Jacob e eu apenas, para não chamar muita atenção. Eu não estava exatamente ansiosa, na verdade temia que identificássemos algum problema. Jacob e eu esperamos no corredor alguns poucos minutos, então Carlisle nos chamou à sala de ultrassom. Fiz tudo mecanicamente: deitei, posicionei a roupa e senti meu avô passar o gel frio em mim.

Jacob estava ao lado de minha cabeça, sentado em um banco, segurando minha mão com uma e afagando meu cabelo com outra. Na tela não havia nada além da massa avermelhada e falha nas bordas, que era minha pele ao ultrassom. Vovô suspirou.

—Doutor?_ Jacob se moveu inquieto.

—A pele de Renesmee é quase tão impenetrável quanto à de vampiro, mesmo o ultrassom não consegue passar. Vê nesse ponto?_ ele indicou a parte mais densa na tela. _É o útero e o saco gestacional, juntos são espessos demais, mesmo para um ultrassom 3d como esse. Se Renesmee concordar podemos tentar um exame interno.

—Quais os benefícios?_ Jacob estava ansioso.

—Poderemos identificar más-formações e problemas genéticos com mais precisão que com o anterior, se pudermos ver algo.

Não o olhei, mas sentia os olhos de Jacob em mim.

Aquiesci me levantando e tirando a roupa enquanto meu avô preparava o equipamento.

Apertei a mão de Jacob com o desconforto, tentando ignorar o constrangimento e lembrar que na forma humana eu poderia machucá-lo. Na tela a imagem que surgiu não era nítida, mas havia contornos e levíssimos movimentos. Jacob arfou e resfolegou um riso; deu um breve beijo em minha cabeça. Carlisle sorria.

—A imagem deveria ser mais nítida, o saco gestacional parece mais resistente que o comum, mas aí está. A placenta parece bem posicionada e acho que isso é o cordão umbilical. O computador está calculando 14 semanas, os tamanhos estão de acordo, a curvatura da nuca parece ideal e tudo mais parece perfeito. 

Eu encarava a tela atônita e ao mesmo tempo ansiosa para ver mais detalhes. Jacob beijou meu rosto, deixando o dele junto ao meu por um momento, sua respiração inquieta em meu ouvido.

—Tanto tempo? Eu não devia ter algum volume abdominal?

—Não necessariamente, querida. Cada mulher reage a seu tempo, além disso, não sabemos como seu corpo vai lidar com a novidade. _ Carlisle tentou me tranquilizar. _Também não sabemos com que rapidez ele está crescendo de forma que, talvez, ele tenha menos idade.

—Já dá pra saber se é menino ou menina?_ virei o rosto para olhá-lo; Jacob estava tão feliz que era impossível não ficar também.

—Ele ou ela não está numa posição muito favorável e não acho que a imagem vá colaborar, mas podemos fazer um teste sanguíneo para isso.

A coisinha na tela se moveu, pareceu empurrar e virou de lado. Eu sorri, incrédula sobre aquilo estar acontecendo dentro de mim, um arrepio percorrendo-me enquanto lágrimas quentes escorriam pelo rosto, lamentei não conseguir sentir.

—Vamos ver se escutamos o coração..._ murmurou Carlisle mexendo e alguns botões. Nada. _Acho que hoje não...

—Está tudo bem?_ Jacob e eu perguntamos ao mesmo tempo.

—Sim, tudo parece perfeito. Meu bisneto é muito saudável, é possível ouvir nesse estágio, mas é comum que não ouçamos, fiquem tranquilos. Acho que por hoje é só, querida.

Depois de vestida e recomposta do choro Carlisle me indicou que voltasse na sexta para termos certeza de como ele estava se desenvolvendo. Jacob e eu concordamos.

Eu estava emocionada, sentindo o ceticismo ir embora. Eu não duvidava mais, embora ainda temesse, até mais que antes.

Não havia mais dúvidas.

Um pedacinho do homem que eu amava imensuravelmente crescia dentro de mim.


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Notas finais do capítulo

Bom, bom... Sei que isso é clichê e pensei realmente em terminar a fic sem incluir um baby, mas acho realmente injusto que Jacob não possa ter filhos com Nessie, ou que Billy não possa conhecer um neto que seja filho de Jacob.
Além disso quando fiz o enredo básico da fic, não era tão clichê assim...! (Faz tempo)
Muito obrigada a todas.

(http://www.fm.unb.br/morfologia/images/phocagallery/Fotos-Museu/Colecao/Anatomia-do-desenvolvimento/thumbs/phoca_thumb_l_mahf24_feto%20humano%20de%2014%20semanas.jpg)
(http://www.netmoms.es/revista/fileadmin/_migrated/pics/110722_semana_14_embarazo_03.jpg)