Dusk (Sombrio) escrita por MayaAbud


Capítulo 26
O Despertar


Notas iniciais do capítulo

Não me matem, eu finalmente resolvi e amarrei tudo o que eu precisava neste capítulo aqui, ele é corrido e sem taantas resoluções, porém era exatamente o que eu precisava fazer, por mais que não esteja muito explícito.



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Renesmee

Eu dirigia eufórica pela rodovia Pan- Americana em direção ao Canadá, esperando muito que nenhum guarda me parasse e esperando ser descarada o bastante para usar meus genes vampiros a fim de que ele me liberasse logo se parasse. Uma coisa em que eu era tão boa quanto um vampiro era em dirigir, assim eu arranquei em poucas horas o que Bella não tirou em anos do uso de sua Ferrari.

Desci do carro em velocidade sobre- humana subindo a varanda da casa de meus avós, a porta se abriu no momento exato em que precisei; Rose e Bella estavam lá e me abraçaram por um segundo enquanto eu respirava afoita. As duas riram, uma em cada um de meus ouvidos.

—Hannah?_ perguntei.

—No andar de cima, é claro_ respondeu Bella hesitante e me segurou quando fiz menção de voar até o outro andar. A casa parecia vazia, exceto nós três, Carlisle e Hannah. Parei fitando-a.

—Filha, entenda que não faz nem 4 horas ela estava em estado vegetativo. Não tem acesso e controle a todas as suas funções motoras, acordou confusa e chorando, Edward disse que lembrava dos pais, e Hannah não lembra do que aconteceu_ eu assenti enquanto minha mãe falava, os olhos de topázio cheios da calma e da doçura com que sempre falou comigo.

—Tudo bem, posso vê-la?_ olhei para Rosalie, sabendo que ela entendia mais de tratamento médico que minha mãe.

—Sim, acho que tudo bem, mas não a deixe agitada ou mais confusa, Carlisle explicou o mínimo possível sobre o acidente. Ela ainda não consegue falar e sequer sabe que está em nossa casa_ disse-me Rose com a mesma complacência que Bella.

—Onde estão os outros? Seria melhor que papai estivesse aqui, uma vez que Hannah ainda não pode falar_ refleti, um pé hesitando sobre o primeiro degrau enquanto me virei para falar com Bella e Rosalie.

—Caçando, meu bem, ele já deve estar voltando_ minha mãe respondeu e Rose riu de minha... Exigência.

 

No quarto que Hannah ocupava e que mais parecia pertencer a um hospital exceto por alguns quadros na parede e os CDs de Hannah em uma prateleira, a humana parecia um espectro muito pálida e mais magra, não da forma saudável e invejável de quase um ano atrás. Mas isso era irrisório diante de seus olhos abertos e mais vividos do que me lembrava que eram; foi quase fácil esquecer disso vendo-a tão machucada e depois de tanto tempo debilitada como estava.

 

Seus olhos verdes desviaram da janela e repousaram em mim enquanto eu me aproximava lentamente da cama, Carlisle ainda de costas; minhas mãos adejando em meu rosto, sem saber se cobriam o sorriso em meu rosto ou secavam as lágrimas que ameaçavam cair ao ver o reconhecimento no rosto opaco de Hannah.

—Que bom que se lembra dela, querida_ falou Carlisle tranquilizadoramente, a voz como veludo. Ele verificava, com os dedos, cada junta e articulação da mão esquerda dela; um exame ou exercício fisioterápico.

—Sequelas, vovô?_ falei de forma que nenhum humano pudesse ouvir.

—Preciso de exames mais detalhados, mas pelo que vejo não é nada que não possa ser revertido com fisioterapia_ respondeu ele no mesmo tom.

***

Hannah não parecia muito a vontade com ninguém além de mim, Alice, Esme e Carlisle. Esme parecia ter ganhado mais uma filha, e Hannah se deixou ser adotada. Isso me deixava feliz, eu não podia imaginar como era estar sozinha por tanto tempo; eu nunca estivera sozinha.

Não demorou muito até que Hannah conseguisse falar, Carlisle fazia com ela todos os dias vários exercícios de fisioterapia, exceto a perna ferida no acidente toda a coordenação limitada pelo estado anterior de coma estava sendo restaurada rapidamente; é claro ela teria de ter paciência até que seu corpo reacostumasse plenamente com a vertical e ela voltasse a ter tanta vitalidade e força muscular quanto antes, seu corpo humano era frágil e limitado, mas tudo ficaria bem.

Ela estava tendo aulas com Esme, para quem sabe tentar a Universidade no próximo semestre. Ela não sabia, mas seria fácil para os Cullen conseguir uma vaga pra ela em qualquer curso e Faculdade que quisesse; não que ela não fosse cognitivamente capaz, mas legalmente devido os meses de inconsequência ela teria de cursar um semestre do colegial antes disso. Outra coisa que Hannah não sabia é que ela era cerca de duas vezes mais rica do já era; é isso que dá ter as finanças cuidadas por alguém com o dom de prever em que ações da bolsa são melhor investir... Eu perdia o fôlego só tentando imaginar quanto dinheiro havia em meu nome e contas pelo mundo, meus pais eram um tanto obsecados quanto a garantir meu futuro.

Eu contei para Hannah do acidente, ela não se lembrava dele, e contei que Carlisle cuidou dela e que convenci meu pai adotivo a trazê-la para nossa casa, contei que ela perdeu a escola e foi com o coração na mão que me despedi dela duas semanas depois de seu despertar; mas as aulas na universidade de Seattle já iam começar e minha amiga estaria bem cuidada, Alice, Esme e Carlisle eram como irmã e pais para ela. Sua humanidade e o atual estado mais frágil faziam aflorar em mim sentimentos muito humanos e realmente muito bonitos, eu nunca quis ou imaginei ter irmãos, muito consciente da natureza de minha família, mas acho que Hannah era assim para mim, como uma irmã caçula, muito embora ela na verdade fosse mais velha.

Sábado pela manhã, depois de minha última aula: A base filosófica da astronomia, eu voei até meu carro, acenando para alguns colegas de classes que andavam pelo campus; eu havia decidido me permitir um pouco mais no mundo humano, eu sabia que não podia fazer amigos de verdade, mas não havia porque me isolar era algo com que eu podia lidar.

Eu estava na metade do caminho quando a 280 km/h vi o vulto do carro de policia que logo ficou para trás. Droga! Deixei minha cabeça pender até o volante enquanto desacelerava e me dirigia ao acostamento, três minutos e a viatura surgiu em meu retrovisor. Inclinei-me sobre o banco passageiro buscando em minha bolsa meus documentos e carteira. Mais dois minutos e o carro parou do outro lado da estrada, eu baixei o vidro. Eu não tinha como hábito ludibriar humanos nem os enfrentava sozinha normalmente, mas ao que parecia, eu era adulta agora e Edward ou Bella não estavam aqui no momento. É, claro, que eu poderia ter apenas pisado no acelerador, mas uma Ferrari a mais de 250 km/h chamava bastante atenção e eu poderia ser interceptada a frente, então melhor que chamar atenção era bancar a boa cidadã, com minha identidade e carteira de motoristas impecavelmente falsificada.

—Senhor_ falei macio e educadamente. O policial que não passava dos quarenta e estava em boa forma, acenou, parecendo surpreso. Ele talvez não esperasse alguém tão jovem ou um a mulher ou... Eu não lia mentes!

—Carteira e documentos, por favor, mocinha_ ele pediu dando um abaixadinha e olhando dentro do carro, seu coração perdeu uma batida ao olhar em cheio em meu rosto; eu sorri enquanto lhe entregava os documentos. Por três segundos inteiros ele pareceu esquecer-se de como respirar. Ele pigarreou e deu uma olhadela nos documentos, eu duvidei que ele tivesse visto algo do que tinha nas mãos. Então ele deu um longo assovio.

—É uma F430?_ perguntou inclinando-se para olhar a traseira.

—É, sim senhor!_ falei não evitando soar orgulhosa.

—Eu até entendo você estar correndo, senhorita_ e ele me sorriu com ares de galanteio. Eu retribuí sorrindo abertamente para o humano.

—Eu estou muito encrencada?_ perguntei suavemente tentando imitar a forma como pai falava ao resolver problemas com humanos, geralmente humanas, era o tom que minha mãe definia como veludo e mel; esperei estar fazendo isso certo.

—Andou bebendo?_ perguntou desconcertado sem tirar os olhos azuis do meus.

—Não, senhor_ respondi suavemente.

—Pode sair do carro, por favor e andar e linha resta cerca de cinco passos adiante?_ ele sorriu. Eu assenti desprendendo o cinto, eu tinha dúvidas sobre o que ele queria: eu não dava indícios nenhum de embriaguez é claro, os sinais intensos e variantes em sua mente me indicavam outra coisa. Fiz o que ele pediu e ele assentiu para si, eu começava a perder a paciência... Sorri o mais sedutoramente que pude lembrando a forma como as Denali brincavam com os homens quando era conveniente.

—Posso ir, senhor? Eu estou mesmo com pressa, é minha primeira semana na universidade e não vejo a hora de rever minha família_ fiz a expressão mais pedinte e irresistível que me julguei capaz e praticamente o vi derreter.

—Claro senhorita, mas devo pedir que reduza a velocidade, não queremos que perca o controle desse máquina, não é? Tenho certeza que sua família prefere um atraso a não tê-la segura_ disse-me ele entregando-me os documentos. _Não vou multá-la.

—Obrigada_ sorri mais uma vez e entrei no carro sem mais. Apenas acenei para o policial enquanto dava partida. Dois quilômetros depois eu já estava de novo em meu ritmo.

 

Em casa, todos estavam na varanda para me receber, exceto Esme que eu ouvia falando com Hannah no andar de cima. Eu nunca vi vampiros fazerem tanto alvoroço, falando ao mesmo tempo e rindo disso. Dei um resumo de como foi minha semana e tentei subir para ver Hannah e minha avó, mas meu pai me impediu, de subir imediatamente, eu percebi que não era nada muito grave, e toda a família já estava a par, a julgar por suas expressões.

 

—Algum problema?

—Não ainda_ respondeu meu pai abraçando meus ombros_ Só preciso que tome cuidado com o que diz a Hannah ou perto dela, mesmo que ela esteja dormindo.

Assenti e ergui as sobrancelhas inquisitivamente, sem entender.

—Ela andou sonhando com Alice e Esme caçando_ disse ele categórico.

—Caçando?

—Com armas, como humanos caçam, mas ela provavelmente guardou inconscientemente alguma conversa que um de nós teve perto dela, e nós sabemos que ela não é uma leiga sobre o nosso mundo. Ela é muito sagaz e tudo é uma pisa muito grande para ela.

—Eu entendo_ aquiesci.

A visita de Johan havia nos deixado em alerta sobre Hannah, de alguma forma, acho que para evitar atritos com Nahuel por minha causa ele pareceu entender minha relação com a humana. E não fazia parte dos planos que ela soubesse de nosso mundo, mas nem mesmo Alice poderia prever a tamanha bobagem que desencadeara tudo.

No domingo à tarde Alice queria ir ao Shopping onde eu encontraria Nahuel, Hannah não havia acordado muito disposta, inclusive Carlisle havia marcado exames neurológicos para ela na segunda. Mas talvez fizesse bem sair e ver gente, ela não se cansaria se usasse a cadeira de rodas (vinha sem do esse seu meio de locomoção, já que perna direita talvez precisasse passar por uma cirurgia e ela não havia recuperado o tônus muscular ainda) não que ela não pudesse caminhar, era apenas mais confortável pra ela usar a cadeira. Eu entrei no quarto de Hannah a fim de convencê-la a ir conosco para o passeio no shopping, ela estava na cadeira de rodas na sacada e tinha um livro sobre a mesa, ao lado de uma xícara de chá, mas não foi sentada e lendo que eu a encontrei; Hannah estava de pé, apoiada no para peito da sacada, parecia pálida e tinha os olhos fechados, a expressão confusa de quem é acometido por tontura (algo que vinha acontecendo muito). Foi com pavor que eu a percebi curvando-se, sem forças, sobre si e o para peito em direção a três andares abaixo, escorregando.

Foi tudo rápido de uma forma estranha, pois, é claro, eu via os segundos passando com a lentidão que parecia aos meus olhos semi-imortais; eu percebi que ela estava consciente de que caía embora nada pudesse fazer e eu tinha ideia de que não teria explicação plausível para isso, nada que eu fizesse para ajudá-la naquele momento teria uma explicação dentro dos padrões humanos e mesmo assim eu já estava a toda minha velocidade mergulhando sacada abaixo e a alcançando; uma manobra digna de filmes de super-heróis. Hannah arfou no início da queda provavelmente muito assustada para gritar, e quando a peguei tudo o que pude fazer foi acolhê-la como a uma criança em meus braços e tentar me equilibrar, eu caí agachada como em posição de ataque com ela em meus braços. Ela parecia bem e a depositei no gramado amarelado pelo outono só então percebendo o horror em seus olhos; aquela expressão era muito perto do ódio, não tinha a ver com ter caído três andares.

Só então percebi os vampiros imóveis atrás de mim, minha família exceto meu pai parecia bem apreensiva.

—Você..._murmurou Hannah, meus olhos indo até seu rosto crispado em raiva._Não é humana... Eu sabia. Monstros. São como eles..._ os sussurros desconexos dela ganhavam intensidade e a perdiam em cada palavra, as vezes soando como pensamentos.

—Você está bem Hannah?_ perguntou Carlisle sendo o primeiro a se aproximar. A garota se encolhe u ao som da voz dele, lágrimas brotando dos olhos verdes.

—Hannah_ tentei, mas sua voz embargada me interrompeu.

—Eu sei, não minta, vocês são como eles..._ ela parecia fora de si, os olhos chorosos ardiam em ódio. Ela falava histericamente e se encolheu quando fiz menção de tocá-la. _São assassinos também, são do mesmo jeito, são a mesma coisa. Monstros. Monstros! Eu sempre soube!

—Jasper!_ Carlisle e Edward disseram ao mesmo tempo.

—Você não é humana! É um monstro, bebedor de sangue como quem matou meus pais_ gritou Hannah olhando furiosamente em meus olhos afastando-se, se arrastando pelo gramado amarelo e úmido, distanciando-se de mim. Ela não foi muito longe enquanto eu me dobrava sobre meus joelhos sentindo a calma que fazia tudo parecer um filme , como se eu não estivesse vivendo aquilo; Hannah curvou-se sobre os braços, escondendo o rosto no chão com um soluço e logo estava inconsciente, tomada pelo dom da Jasper.

Carlisle avançou juntando o corpo desacordado de Hannah e mãos frias me ergueram, apoiando-me por baixo dos braços, não precisei erguer os olhos para saber que era Edward. Sentia-me a esmo; olhei desolada para meu pai.

—Desculpe, eu não..._ tentei. As lágrimas que não saiam por meus olhos de alguma forma obstruíam minha garganta.

—Foi um acidente_ murmurou ele abraçando-me.

Pensar com calma não mudava nada, eu ainda achava que ter evitado que sua queda fosse incisiva e direta era a melhor opção.

—Não fique triste, Renesmee_ começou Alice já dentro de casa enquanto Edward se aninhava comigo no sofá_ Isso parece bem óbvio agora, afinal, ela já sabia... Uma confirmação é só..._ Alice encolheu os ombros miúdos.

—A cereja do bolo_ disse Rosalie em tom de poucos amigos, mas me olhou carinhosamente quando nossos olhos se cruzaram.

Carlisle deu um sedativo para Hannah, só o bastante para que ela dormisse pelo restante da noite. E a casa se acomodou em resignação, como Alice disse, parecia muito óbvio agora, que Hannah iria descobrir... Não descobrir, porque ela já sabia, mas que ela mais cedo ou mais tarde teria uma confirmação, ainda que não fosse algo tão latente.

Como o shopping não era mais uma opção, dirigi até o apartamento de Nahuel a fim de semi- esquecer o ocorrido por alguns instantes.

—Vinho?_ ofereceu ele enquanto eu contava o que aconteceu para termos cancelado nosso encontro durante a tarde. Naquele momento eu gostaria de ser apenas humana, pequena demais para sentir tantas coisas e pensar de forma tão complexa e exaustiva, ser como a Sininho de Peter Pan: pequena e simples, sentir só uma coisa de cada vez. Humana. Humana só um pouco mais, quem sabe o bastante para que o vinho fizesse um pouco mais de efeito e que eu pudesse mergulhar em algum lugar desconhecido e tranquilo de minha mente... Talvez eu tenha vivido a perfeição perigosa, e ainda assim estagnada de minha vida, curta e imortal, por tempo demais; talvez eu não soubesse lidar com adversidades.

Nahuel encheu a taça e ainda me pareceu pouco, eu queria me afogar. Bebi com um gole só, vendo com a visão periférica seus olhos se arregalarem enquanto ele bebericava. Eu mesma enchi novamente a dei outro gole, sentindo meu peito aquecer e meu estômago vibrar enquanto lentamente o calor se irradiava pelo corpo, lembrando-me da sensação de alimentar-se de sangue. Eu tinha que caçar no caminho para Seattle, pensei vagamente, servindo-me de mais vinho.

—Não devia deixar a vida humana afetá-la tanto_ disse Nahuel, a voz baixa como um suspiro, ergui os olhos de minha taça e o fitei, ele dava a volta no balcão da cozinha, em minha direção_ Não me entenda mal, mas há de considerar que se deixar envolver tanto só acarretará sofrimento para você.

Eu não respondi, eu sabia que ele tinha razão, se envolver com humanos não era prático em meu mundo. Mas o caso de Hannah era diferente, ela havia se envolvido em nosso mundo muito antes que a conhecêssemos.

—Tem razão_ murmurei. _Mas é tarde agora, não importa mais_ suspirei longamente e dei outro gole.

—Vamos esquecer isso_ dizendo isso Nahuel procurou meus lábios e eu me deixei ser beijada.

 

Antes mesmo de estacionar em frente a minha casa eu soube que Hannah estava desperta; estranhei esse fato porque pensei que Carlisle havia lhe dado calmante o bastante para que ela dormisse pelo resto da noite. Mas já era mesmo bem tarde, e eu me perguntei aí porque meus pais não haviam me ligado ainda.

Meu pai estava sentado no sofá, sozinho e imóvel como uma estátua.

—Pensei que não viria mais para casa_ a estátua moveu os lábios com sarcasmo e seus olhos escurecidos me fitaram enquanto eu parava na entrada da sala de estar.

—Desculpe, eu realmente perdi a noção das horas_ demandei.

—E do vinho_ rebateu meu pai, provavelmente sentindo o cheiro.

—Sabe que não_ murmurei. _E Hannah? Pensei que não acordaria logo.

—Ela está um pouco grogue, mas acordou, Carlisle achou melhor não medicá-la mais.

—Onde estão todos?_ apenas três estavam em casa e um deles eu sabia que era Carlisle porque reconheci seus passos cadenciados no assoalho do andar de cima.

—Caçando, é melhor não assustar Hannah com as mudanças nos olhos_ Respondeu-me _Agora que chegou, eu também vou, quer ir?

—Eu..._ precisava mesmo caçar, mas queria conversar com Hannah enquanto ela estava afetada pelo calmante e provavelmente não reagiria da forma como reagiu antes.

—Não acho que seja uma boa ideia_ murmurou Edward.

—Eu preciso falar com ela, se não for hoje será amanhã e não posso evitar isso.

Meu pai meneou a cabeça e avançou até mim, beijando-me a testa.

Eu subi relutante, encontrando Carlisle no corredor.

—Vovô... O que ela disse? Explicaram algo?

—Ela sequer olhou para mim, a única coisa que eu disse é que ela está segura e que ela terá todas as explicações que quiser, quando estiver pronta.

—Terá?_ indaguei, de alguma forma surpresa. Carlisle sorriu, os olhos ternos.

—Negar não seria eficaz_ respondeu-me, eu assenti.

Sorri debilmente e fui em direção ao quarto de Hannah.

Ela estava encolhida em uma bola na cama que já não era mais um leito de hospital. Era comum e de casal, estava acordada e seus olhos me olharam com raiva quando adejaram em minha direção. Aproximei, mas fiquei em uma distancia segura, não quis que ela se irritasse ou algo assim.

—Hannah... Desculpe por ter mentido. É mais complicado do que parece, não foi por mal. Apenas não é seguro que saiba; não que nós a faremos mal, mas não depende de nós.

Ela permaneceu em silêncio, e ao contrário do que pensei, eu não encontrei algo para dizer. Com um suspiro resignado eu a deixei sozinha.

Eu voltei para Seattle como tinha de ser. Bella disse que Hannah não falava e pouco comia, estava entrando em uma espécie de depressão. Também se negava a fazer os exercícios de fisioterapia. Carlisle e Esme eram os únicos que não a deixavam nervosa, sendo assim, mesmo Alice evitava subir ao seu quarto.

Os dias passaram e eu não pude ir para o Canadá no fim de semana seguinte ao primeiro.

Na sexta a noite de minha terceira semana na faculdade, Nahuel surgiu na minha porta com uma garrafa de vinho, foi uma noite muito gostosa... Vinho, Um corpo que Cai de Alfred Hitchcock, um ótimo suspense da década de 50...

No fim de semana seguinte eu viajei para o Canadá. A situação ainda era a mesma e Hannah não queria falar comigo; isso começou a me irritar. Não que ela não tivesse direito e razões, mas ela não percebia como sua vida era preciosa e efêmera e o quanto ela estava desperdiçando?! Não era justo, não era justo com ela mesma, com as coisas além dela; com tudo que ainda havia para viver.

No sábado a noite, depois que Esme a ajudou a tomar banho (Hannah não era hostil com Esme, só não era aberta como parecia antes, e minha avó sofria por isso), eu entrei no quarto a fim de mais uma tentativa.

—Hannah!_ falei sem esconder minha indignação com sua atitude. Ela, em sua cadeira de rodas, apenas virou de costas para mim, ficando de frente para a sacada.

Com toda minha velocidade sobrenatural fui até ela, eu pude ouvir o sobressalto em seu coração quando virei sua cadeira para mim o mais rápida e delicadamente que pude.

—Você está sendo idiota!_ falei a primeira coisa que me veio à mente. Eu estava um tanto atordoada pela raiva e pela tristeza. Hannah bufou para mim, os olhos tentando manter a indiferença. _Tudo bem, você odeia o que somos, mas se odeia também?_ dei um passo atrás tentando parecer menos agressiva.

—Porque se manter nessa prostração?! Por acaso acha que está honrando de alguma forma à morte que seus pais tiveram?_ eu soube que havia tocada na ferida, aí. Seus olhos verdes se arregalaram e ela arfou minimamente, a respiração ficando pesada. _Seus pais morreram e isso é triste, mas você está viva e está desperdiçando isso! Acha mesmo que eles ficariam felizes com isso?

—Você não sabe o que está dizendo!_ gritou ela aos prantos.

—Não, eu não sei muito sobre a morte, ou perdas, mas sei sobre a vida e sei sobre o tempo. O que estou dizendo é que enquanto você se auto-flagela pelo que eu sou, sua vida é como uma ampulheta e a cada minuto você está mais perto do fim! Não desperdice isso.

—Vá embora, saia daqui!_ gritou uma vez mais.

Avancei sem pensar muito até a prateleira onde havia, de enfeite, um dado de aço.

—Está vendo isso?_ falei pegando-o e em seguida depositando em seu colo, para que sentisse o peso. Depois o peguei novamente e fechei-o em minhas mãos sentindo-o pulverizar como cascas de ovos, Hannah assistia boquiaberta.

—Eu sou mesmo um monstro, fisicamente capaz de muitas coisas, e enquanto você se castiga dessa forma, minha família e eu continuamos sendo exatamente o que somos e temos um tempo infinito diante de nós. O que está fazendo só faz mal a você na verdade, por mais que Esme, Carlisle e todos nós nos importemos_ falei tristemente e sem mais me retirei, deixando-a com seus soluços.

Eu esperava que ela em fim despertasse.


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Notas finais do capítulo

E o próximo capítulo se chamará: "Não existem palavras para isso".
Isso lhes diz alguma coisa?
E ele vai sair mais rápido porque eu já tenho uma parte escrita em algum caderno...