- Kuroko, espera! – A voz de Kagami suou atrás de si, fazendo-o parar e olhar na sua direção.

         Tinham acabado mais um treino intenso que durara até anoitecer e por isso todos estavam exaustos e seguiam para as suas casas, incluindo Kuroko que agora olhava para o seu colega de equipa ruivo esperando que ele chegasse perto de si.

         - Algum problema Kagami-kun? – Questionou assim que o outro parou à sua frente.

         - Eu sei que estás cansado, eu também estou, mas achas que podemos ir dar uma volta? Preciso de falar contigo. – Pediu. – Eu pago-te um milkshake. – Acrescentou como forma de persuasão.

         - Não podemos falar amanhã?

         - Não. Eu preciso mesmo que seja agora. – Insistiu nervosamente.

         Kuroko ficou confuso; o que poderia ser tão importante que não pudesse esperar pelo dia seguinte?

         - Okay. – Assentiu finalmente, começando a acompanhar o outro na direção oposta à que seguia anteriormente.

         Passaram pelo sítio habitual para comprar o tão amado milkshake de Kuroko e seguiram em silêncio para o parque ali próximo.

         Sentaram-se num banco e continuaram num silêncio desconfortável até Kuroko acabar a sua bebida, e o barulho característico que a palhinha fazia ao tentar sorver as últimas gotas, o quebrar.

         - Então… o que querias falar comigo afinal? – Kuroko decidiu perguntar finalmente. Estava curioso e algo preocupado com o nervosismo do amigo. Nervosismo esse que se refletia pela maneira como ele não conseguia estar quieto com as pernas e as suas mãos tremiam ligeiramente e abriam e fechavam constantemente. Não era normal Kagami estar tão nervoso. – Espero que não seja nada de grave. – Especulou, fazendo o outro olhar rapidamente para si.

         - Não! Quer dizer, sim! Quer dizer, não. Quer dizer… - Atrapalhou-se. Suspirou pesadamente e desviou o olhar para o chão. – Não sei. – Disse por fim.

         Voltaram ao silêncio estranho, e desta vez um pouco constrangedor por parte de Kagami.

         Kuroko observou-o durante algum tempo até quebrar o silêncio novamente.

         - O que se passa afinal?

         - Eu… hoje quando o Kise apareceu a meio do treino, disse que queria falar contigo e vocês foram para o balneário… - Pausou, começando a ficar com um leve rubor na face. – Bem… fiquei curioso e meio que pedi autorização para ir beber água e segui-vos. – Apertou os punhos nervosamente e voltou a olhá-lo. – Eu ouvi que ele se declarou a ti!

         - O quanto é que tu ouviste e viste? – Questionou aparentemente calmo.

         As memórias do que Kise lhe tinha dito e o que acontecera logo a seguir voltaram à memória de Kuroko. O loiro tinha dito que o amava desde o tempo em que ainda estavam na mesma equipa e logo depois tinha-o beijado. Kuroko ficara tão surpreso com a declaração que não teve reação ao ser beijado, só depois de alguns segundos é que recuperara do transe e empurrara o mais alto para longe de si.

         - O suficiente para perceber que também gostas dele. – Desviou o olhar, não querendo que o outro visse a mágoa e a raiva contida nos seus olhos.

         - Estás errado. – Levantou-se postando-se à frente do ruivo voltando a ter a atenção dele voltada para si. – Se tivesses ficado o tempo suficiente saberias isso. Eu fiquei tão surpreso com a declaração do Kise-kun que não tive reação quando ele me beijou. Logo assim que voltei a mim empurrei-o e disse-lhe que agradecia, mas que não podia corresponder aos seus sentimentos, pois já estou apaixonado por outra pessoa. – Corou um pouco com as suas últimas palavras. – Ele disse algo sobre o Aominecchi ter razão e foi-se embora. Não percebi o que ele quis dizer com aquilo, mas…

         - Tu gostas de alguém? – Interrompeu-o abruptamente, levantando-se. – Se não é o Kise então quem é?

         Kuroko encarou-o por alguns momentos como se pensasse no que deveria dizer. Por fim decidiu optar por não falar nada e sim mostrar.

         Ficando em bicos dos pés esticou-se o máximo que conseguia até passar os braços em volta do pescoço do ruivo e simplesmente beijou-o fechando os olhos à espera de uma reação.

         Kagami arregalou os olhos perante o ato do mais baixo. Mas quando finalmente voltou a si abraçou-o contra o seu corpo, quase levantando-o do chão, e fechando os olhos pediu passagem com a sua lingua, pedido esse que foi aceito rapidamente e logo os dois estavam enredados num beijo profundo e apaixonado. Já tinha a sua resposta.

*

         Um pouco afastado dali um loiro observava a cena com um sorriso melancólico nos lábios. Estava feliz por o amigo estar com quem amava, mas sentia-se perdido.

         - Parece que eu tinha razão. – Uma voz forte, porém compreensiva, fez com que desvia-se o olhar do recém-formado casal para olhar para trás.

         - Aominecchi! – Exclamou surpreso ao vê-lo aproximar-se. Suspirou. – Sim. Parece que sim. – Voltou a olhar por breves momentos os outros dois para depois voltar a sua atenção para o moreno de cabelos azuis-escuros diante de si. – O que estás aqui a fazer?

         - Ia a passar quando te vi aqui a olhar para aqueles dois enquanto te martirizavas. – Aproximou-se mais do loiro até ficar a meros centímetros de distância. Vendo o outro a desviar o olhar de si pegou-lhe no queixo com uma mão e obrigou-o a encará-lo novamente. – Eu sei que dói. – Murmurou. – Mas não precisas de sofrer para sempre. – Beijou-o levemente nos lábios como uma carícia. – Achas que talvez me possas dar uma hipótese? – Perguntou por fim.

         Kise encarou-o por alguns momentos realmente surpreso. Tanto pelos sentimentos ali expressos do outro, como também pela sua atitude doce e anormalmente séria e calma. Aomine tinha mudado bastante desde o último jogo contra Seirin.

         Baixou o olhar por alguns segundos pensando nas suas alternativas: sofrer por um amor não correspondido ou tentar ser feliz e amar outro alguém. Aomine estava ali, expectante, querendo acolhê-lo e amá-lo, então… porque não?

         Pegou-lhe no pulso afastando a sua mão do seu rosto e venceu a distância entre os seus corpos encostando a sua cabeça no peito do mais alto procurando conforto.

         - Sim. – Suspirou baixinho sentindo os braços fortes do outro envolvendo-o num abraço cúmplice e protetor.

         Levantou um pouco a cabeça e os lábios dos dois encontraram-se num beijo calmo, e quando as suas linguas se tocaram um arrepio percorreu-lhe o corpo, e de repente já não se sentia tão perdido.

         Quem sabe se Aominecchi não poderia ajudá-lo a encontrar-se?

*

         Kagami voltou a sentar-se no banco, trazendo o outro consigo e fazendo-o sentar-se no seu colo de frente. Em nenhum momento os seus lábios se separaram.

         Só quando o ar se tornou realmente escasso é que interromperam os beijos, olhando-se ofegantes.

         Kuroko escondeu o rosto no pescoço do ruivo querendo esconder o rubor na sua face normalmente pálida e inexpressiva. – Espero que isto tenha respondido à tua pergunta. – Sussurrou.

         - Sim. – Respondeu levando uma mão aos cabelos azulados do pequeno. O seu pequeno. – Respondeu sim. – Sorriu levemente.

         - Já é tarde. – Kuroko constatou olhando para o seu relógio de pulso vendo que era quase meia-noite.

         - É. – Concordou. – O que achas de irmos para minha casa? É perto daqui, podes passar lá a noite, se quiseres. – Convidou.

         - Parece-me bem. – Assentiu.

         Levantaram-se e, de mãos dadas, dirigiram-se para casa do ruivo.

         Aquela ia ser uma longa noite para ambos os casais.

Owari!