Deus sabe o quanto aquilo era difícil. Depois de três semanas de abstinência, e um encontro perfeito, a despedida de fato não seria fácil.

- Você precisa me soltar agora Gabriel. – Juliana disse risonha encarando o rapaz a sua frente.

- E eu vou. Assim que eu tiver certeza de que você não vai ir embora nunca mais. – Ele falou sorrindo também.

- Então vamos ficar agarrados para sempre. – Juliana retrucou e ele riu mais ainda, piscando maroto em seguida.

- E ai está o ponto. – Ele falou e ela revirou os olhos.

- O Douggie já está com fome. – Juliana tentou mais um argumento.

- Eu ainda tenho vários biscoitos. – Ele respondeu com ar divertido.

- Você é um chato.

- E você continua agarrada comigo mesmo assim.

A discussão ferrenha entre eles teria durado mais algumas horas, ou talvez dias, quem sabe, se Douggie não tivesse começado com uma estranha agitação repentina.

- Quietinho Douggie. – Gabriel se separou de Juliana rapidamente para oferecer mais biscoito ao cachorro.

- Não Gabriel. – Juliana se separou um pouco mais dele. – Ele deve estar vendo alguma coisa.

Mesmo que eles estivessem em uma parte mais afastada da praia, o encontro publico ainda era meio arriscado. Depois do primeiro beijo e uma crise repentina de razão dos dois, eles decidiram ir para um lugar mais reservado, mas aparentemente o lugar não era tão reservado assim.

- Vem vindo alguém. – Gabriel sussurrou e Juliana assentiu. Segundos depois uma silhueta feminina se fez ver, junto com um pequeno poodle preso a uma fina correntinha. No instante seguinte o grande labrador de Juliana, que estava solto na areia naquele momento correu em direção ao animal distraindo a atenção da dona do bichinho. Juliana praguejou no mesmo instante e viu Gabriel repetir o seu gesto.

Logo os gritinhos desesperados de uma garota puderam ser ouvidos.

- Faça alguma coisa. – Gabriel exclamou e Juliana revirou os olhos.

- Não é como se o Douggie realmente fosse fácil de “manusear”. – Ela retrucou irônica. – Faça você alguma coisa. Você é cara grande por aqui.

- Tudo bem. – Ele falou e logo correu na direção dos gritos e dos latidos.

Não demorou para que Gabriel conseguisse conter Douggie. O problema maior começou, no entanto, assim que ele focou os olhos na dona do cachorrinho causador da confusão.

- Angélica? – Ele perguntou surpreso e chamou imediatamente a atenção de Juliana que de longe reconheceu a aluna. Aquilo era sem sombra de duvidas um problema. – O que está fazendo aqui?

- Bom, eu estava passeando, até esse monstro que você está segurando decidiu atacar o meu bebê. – Ela falou em voz manhosa e de longe Juliana podia ver o olhar assustado de Gabriel. Parecia que o garoto compartilhava de sua aflição.

Em um surto de desespero ao notar que logo Angélica a veria, ela se escondeu por de trás de alguns pequenos coqueiros fazendo o barulho das folhas chamar a atenção de Douggie para si. A prece silenciosa de Juliana para que o cachorro não corresse em sua direção foi de fato ignorada.

- Douggie, não faça isso. – Gabriel gritou para o cachorro no intuito vão de fazê-lo parar de correr e consequentemente relevar o “esconderijo” precário de Juliana.

- Douggie não é o nome do cachorro daquela professora a Juliana? – Angélica percebeu a semelhança e logo se pronunciou. – Na verdade, esse cachorro é idêntico ao que ela levou para a aula. – Ela falou seguindo Douggie com os olhos e o vendo se lançar sobre Juliana a derrubando em cheio no chão.

- Ah meu Deus. – Gabriel e Angélica exclamaram ao mesmo tempo.

- Juliana você está bem? – O rapaz perguntou

- O que você está fazendo aqui? – A voz esganiçada de Angélica soou também.

- Eu estou bem Gabriel. – Ela disse se levantando do chão e lançando um olhar assassino ao cachorro. Olhar esse sendo direcionado em seguida para Angélica.

- Você não respondeu minha pergunta. – Angel pontuou atraindo para si mais um olhar furioso de Juliana. Gabriel viu que era o mesmo que ela havia lançado a sua mãe no hospital tempos atrás.

- Desculpe. Eu estava ocupada tentando tirar meu cachorro de cinqüenta e tantos quilos de cima de mim. – Juliana respondeu pingando sarcasmo na voz. Angélica estreitou os olhos fazendo uma careta de compreensão em seguida.

- Desculpe professora. – Ela disse enfatizando o termo no intuito de alfinetar a outra. – Só achei estranho encontrar a senhora aqui na praia sozinha com o Gabriel a uma hora dessas.

- Vamos aos pontos. – Juliana começou a frase com o olhar faiscando. Gabriel nem se quer ousava pensar em dizer alguma coisa. – Primeiro, é senhorita, segundo, se eu estou com o Gabriel, tecnicamente eu não estou sozinha o que faz da sua frase anterior uma porcaria completamente sem sentido. Terceiro, eu não respondo perguntas sem sentido, e por ultimo, mas não menos importante, eu não devo nenhum tipo de satisfação a você.

- Oh, eu sei que você não deve. – Angélica respondeu sorrindo ironicamente. – Não Amim e não agora. Mas garanto a você que o conselho estudantil ficará bastante curioso quando eu contar a eles o que eu acabo de presenciar.

- Cale a boca Angélica. Antes que mais merda saia voando daí. – Gabriel interrompeu a garota que o olhou um tanto assustada.

- Vai defender sua garota agora Gabriel? Antigamente você não me tratava assim. – Ela disse e ele revirou os olhos. – E quanto a você professora, perdeu a fala, ou só não achou nenhum erro na minha ultima sentença?

- Na verdade eu estava pensando em como alguém pode ter uma capacidade intelectual como a sua. – Ela disse a outra a encarou em expectativa. – Um cacto teria de fato um intelecto mais brilhante. – Juliana completou e Angélica a olhou feio. – Mas apara evitar que você pêra uma noite de sono tentando arquitetar um plano maligno de como você irá contar o que acha que viu hoje aqui para o conselho amanhã, vou te informar que foi a própria diretora quem solicitou que eu desse algumas aulas depois do horário ao Gabriel. Mas mesmo assim, acho bom você contar tudo ao conselho. Tenho certeza que uma animada conversa vai alegrar a manhã daqueles professores que não tem nada de mais importante com o que se preocupar que não envolva delírios de adolescentes que adoram fantasiar as coisas.

Angélica encarou atônita a mulher a sua frente. Não tinha um porte muito diferente do seu Talvez fosse até um pouco mais baixa. Mas suas poucas palavras foram o suficiente para a deixar desarmada. Ao menos por enquanto.

- Se nos permite... – Juliana disse passando rapidamente por ela e sendo seguida por Gabriel que agora trazia Douggie preso fortemente na corrente. – Tenha um bom fim de tarde.