Sempre me considerei uma pessoa de sorte. Em desesseis anos de vida,nunca me meti em confusões, sempre fui uma aluna exemplar, tinha alguns garotos a meus pés. Nunca fui a mais popular da escola, mas sempre fui feliz assim.

O meu pai, Jake, sempre me tratava com muito amor, sempre me presenteava e se importava comigo. Minha mãe, Rose, era um pouco mais ausente, mas eu tentava não me importar, afinal, ela sempre foi calada e ligeiramente irritada com a vida.

Eu nunca me achei a garota mais bonita da cidade, mas sempre atraia olhares quando passava pela rua.Apesar de ser tímida no inicio de minha conversa com pessoas desconhecidas, passando-se um certo tempo,eu ia me soltando e arrancava risadas de todas as pessoas ao meu redor.Sempre me acharam um doce de pessoa.

Sempre fui feliz dessa maneira, nunca quis mudar nada em minha vida.Eu estava satisfeita,me contentava com a vida que levava,então não tinha muitas ambições.Eu simplesmente queria curtir, mas não deixava os estudos de lado.

Depois de começar a estudar no McKinley, fiz novas amizades e comecei a sair mais. Sempre fui muito caseira, então meus pais estranharam no início,mas me permitiam ir,pois confiavam na filha perfeita que tinham.

Perfeita.  Eu simplesmente não gosto dessa palavra, mas muitos me definiam assim. Sempre esperavam mais de mim do que outras das outras pessoas. Acho que ser a única garota da família emplacava nisso: ser cobrada.

Meus pais sempre exigiram muito de mim, que eu fosse forte, que eu fosse inteligente, que eu fosse simpática. Nunca me perguntaram o que eu gostaria de ser.Nunca.E eu, como um fantoche, sempre obedeci a eles sem me impor.

Era uma manhã de verão, e como sempre,eu estava na fila da cantina para comprar doces.Eu só poderia comer doces na escola,pois meus pais nunca permitiram.O clima estava fresco e meus amigos estavam indo para a quadra e me juntei a eles.Pelo que eu entendi,iríamos acompanhar um jogo de futebol feminino.

Assim que chegamos à quadra, meus olhos foram de encontro a uma garota morena, um pouco baixa, mas muito bonita.Não entendi na hora, mas ela tinha algo que me prendeu. Ela me chamava atenção á primeira vista, mas não entendi se era pelo cabelo dela que rolava ao vento, ou se era o sorriso de garota moleca que ela carregava no rosto.  Fiquei fitando-a por alguns minutos e quando ela percebeu e me olhou de volta,abaixei a cabeça,disfarçando.

Cutuquei de leve o braço de Rachel,e perguntei:

-Quem é ela?

-O nome dela é Santana. Santana Lopez, ela está na outra sala.

-Ah sim – Respondi envergonhada

-Engraçado como você não a conhecia. Todos dizem que ela é uma metida, nunca ouviu os boatos?

-Verdade,eu já deveria conhecê-la.De outras vidas,não sei...

-Outras vidas?Britt,você está louca?

-Esquece Rach,nem eu sei de onde eu tirei isso.

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O ano se passou,e eu sempre que podia, fitava aquele corpo esbelto, mesmo que de longe. Não sabia a conexão que eu tinha com ela, mas só sabia que era muito forte.Pelo menos,era forte para mim.

Felizmente, ou infelizmente, não sei dizer, tínhamos amigos em comum e fui apresentada formalmente a Santana. Não tínhamos muitos assuntos na época, então por questão de educação,sempre trocávamos um “oi” rápido e quando ela não tinha o que fazer,a morena continuava a conversa comigo arriscando um “tudo bem”.

Um dia, estávamos em uma festa, eu percebi que ela estava sozinha e não conhecia ninguém, então me aproximei.

-Ei Santana.Tudo bem?

-Ah- Ela saiu de seus pensamentos- Oi Britt,estou bem,como você vai?

-Estou bem também. Alguma amiga sua foi no banheiro ou algo assim?Você parece tão solitária ai..

-Bem, meus pais me obrigaram a vir nessa festa da Marley,nós brigamos a algum tempo,mas como nós crescemos juntas,eles fizeram questão que eu viesse.

-É péssimo, não é? Fazer o que não estamos com vontade..eu sei bem como é...

-Oi?

-Nada San,esquece.Olha,você gosta de fazer o quê?

E assim a conversa entre nós foi seguindo. Nossos gostos não eram parecidos. Ela adorava Guns n’ Roses,ACDC,Slipknot,Red Hot Chilli Pepper e eu amava Lady Gaga, Beyoncé, Shakira e Pitbull. Nós realmente não tínhamos nada em comum,mas nosso papo fluía com tranquilidade e ela me convidou para ir a sua casa,na próxima semana.

Marcamos tudo,e lá estava eu, na hora marcada,batendo em sua porta.Eu estava muito ansiosa por aquilo, não sabia explicar. O dia se passou normal com ela,nos conhecemos mais,eu encontrei seus pais e eles me trataram super bem.Depois de um tempo,nossa amizade foi fluindo e de colegas,nos tornamos amigas.A latina passou a me contar tudo,e eu contava a ela quase tudo da minha vida. Eu nunca gostei de me abrir, e a única pessoa que eu contava meus segredos era  meu primo Sam Evans.Ele sempre foi o meu melhor amigo,desde a infância.

***

Passamos um ano com essa amizade. Não éramos melhores amigas,mas compartilhávamos alguns segredos. Eu sempre admirei Santana pelo jeito que ela levava a vida. Ela não era tinha preocupações, não fazia o dever de casa, não estudava para a prova, mas sempre foi inteligente. Ninguém esperava nada dela, então ela simplesmente não ligava pra nada.

Ela corria com suas amigas, jogava futebol, tinha amigos meninos. Ela era o que podemos chamar de popular. Passou-se um ano e fui separada de Rachel  e os meus amigos.Só ficamos eu e Santana em uma sala cheia de desconhecidos.Combinamos perguntar com nossas mães para mudarmos de sala.A minha, permitiu, ao contrário da mãe dela.

Ela era muito amiga de Mercedes, e a garota enchia o peito de orgulho ao dizer que era amiga de Santana.Ou como ela mesma se referia a ela: irmã.Não preciso nem dizer que não ia com a cara de Mercedes,eu simplesmente não engolia o jeito daquela garota.

Ela se achava o ultimo biscoito do pacote e pensava que tinha todos os garotos a seus pés,o que era uma ilusão só dela,pois todo mundo falava mal da garota pelas costas. Menos Santana, é claro.

Eu iria mudar de sala, para continuar estudando com os meus amigos, mas alguma coisa dentro de mim me impediu.Não sei porque,mas não conseguiria deixar a morena sozinha naquela sala cheia de estranhos.Simplesmente não era o certo a se fazer.

Então foi isso, continuei com ela naquela sala,mas acabei me afastando de Rachel,infelizmente.Não brigamos nem nada,simplesmente o assunto foi acabando.Depois de alguns meses naquela sala de aula,fiz amizade com o Mike, o Blaine, e o Puck,que se sentavam ao meu lado.

Enquanto isso, eu e Santana ficávamos cada vez mais próximas e viramos melhores amigas. Éramos como unha e carne, andávamos sempre juntas e todos tinham um pouco de inveja da amizade que construímos, porque apesar das nossas diferenças, nossa relação era verdadeira.

Mercedes assistia a tudo isso de longe, e sempre quando estávamos juntas,ela fazia questão de expressar seu descontentamento. Creio que ela ainda pensava que Santana se importava com ela.Coitada.

Eu e a morena nos tornamos confidentes,melhores amigas,companheiras,chame como quiser.Estávamos sempre juntas,e depois de um tempo,eu me sentia muito feliz quando estava com ela.Não era uma coisa normal de se sentir por uma amiga,mas eu continuava me convencendo que o que havia entre nós era só amizade e isso nunca mudaria.

Um dia,ela chegou na sala de aula toda feliz com uma aliança. Ela estava namorando com Sebastian, um garoto filhinho-de-papai que havia repetido a serie umas três vezes e que tinha  pai rico. A sorte era que ele não estudava no nosso colégio,senão eu teria que aguentar os dois de namorico a manhã inteira. Eu tinha sido a ultima a saber, e eu não gostava nada disso.

Na mesma época que ela estava namorando, eu comecei a namorar também. Era um garoto chamado Matt, um dos amiguinhos de Sebastian. Ele era um aprendiz de bandido,pode-se dizer assim.Mas eu não ligava.Ele até que era bonitinho e eu estava com ele só pra não ficar sozinha. Eu o beijava,mas não sentia nada.Nosso relacionamento era frio.Ele nunca me deu tesão algum.

No dia do meu aniversário, saí com Sam,Santana e Matt. Foi bem divertido, mas nada comparado ao que aconteceu na madrugada. Conversamos bastante á noite e resolvi tirar uma dúvida minha que era bem antiga.Perguntei:

-Santana,posso te perguntar uma coisa?-

-Claro Britt-Britt,manda ai!-Ela me respondeu com um sorriso- Desembucha!-

-Ah,eu fico sem graça de te perguntar isso,mas...bom,a Mercedes morre de ciúmes da gente,você sabe.Ela olha pra você,quase te comendo com os olhos,e não é segredo nenhum que ela me odeia.Vocês sempre foram muito próximas..vocês já..se pegaram?-Corei ao perguntar-

-Que besteira,Britt- Ela me respondeu,sorrindo – É claro que não.Eu acho que nunca ficaria com uma menina.

-Fico feliz que vocês não tenham feito nada, quer dizer, ela não merece uma garota como você e ..-

-Uma garota como eu? Isso é bom?

-Isso é ótimo,San- Respondi,corando.-Eu te acho uma pessoa incrível.-Nesse momento Santana sorriu- Mas porque você não ficaria?

-B,eu vou te responder do fundo do coração,eu acho que tenho muito medo de..gostar,sei lá.Os meus pais são muito rigorosos e você sabe que eu tenho problemas com eles,então nem procuro,seria sarna pra se coçar.

-Eu entendo.

Acabamos mudando de assunto automaticamente. Soltamos gargalhadas,cantamos,nos divertimos muito.Mas teve um momento em que Santana começou a desabafar comigo no meio da noite.

-Ai,Britt..ele me trata tão mal..acredita que ele nunca disse que me ama?Eu não sei mais o que fazer,porque eu o amo tanto.. -

-San,posso te dizer uma coisa- Ela assentiu com a cabeça e eu continuei- Eu não acho que você ame o Seb,não estou falando que você está mentindo nem nada,mas não sei,talvez você esteja confusa.Você quer uma coisa que você mesmo não faz. Você não é muito aberta com esses seus sentimentos,as vezes,eu nem consigo te entender... eu só acho que você não é uma garota ideal pra ele. Ele merece uma vadiazinha, e você não é pro bico dele – Os olhos dela começaram a escorrer e ela abaixou a cabeça- Bom,eu so acho..San,não faz isso,você sabe que eu gosto muito de você e que eu odeio te ver chorando.

Eu a puxei para um abraço e ficamos uns 20 minutos juntas.Simplesmente dois corpos abraçados.Nenhuma palavra.

Parece que deu uma louca nela e a morena pegou meu travesseiro e colocou-o no seu cochão.  Santana cortou o silêncio e disse:

-Você vai dormir comigo hoje,Brittany..eu não quero ficar sozinha.Não agora.

Em questão de segundos eu a obedeci.Abracei o seu corpo pequeno e ela se virou,ficando de costas pra mim.O cheiro dela impregnava minhas narinas e era uma sensação tão boa.Eu não consegui explicar.Ela ainda chorava e eu afundei minha cabeça na curva de seu pescoço beijando-a naquele local.Enquanto eu a acariciava eu dizia no ouvido dela:

-Você não está sozinha,San.Eu te prometo,eu vou estar com você.Eu me importo com você,nunca vou te deixar.Nunca-

Eu não entendi o porquê que aquelas palavras foram pronunciadas, elas simplesmente saíram da minha boca.Isso a acalmou e quando dei por mim,eu estava beijando-a no pescoço.Eu pude sentir a respiração dela se tornando pesada, e mesmo contra o meu coração,que queria que eu continuasse,eu não poderia obrigar Santana a nada.Então apelei pro bom senso que ainda tinha, a soltei do abraço e virei de lado.

Para a minha surpresa,ela se virou também,me abraçando por trás e depositando beijos no meu pescoço.Senti sua respiração quente no meu ouvido e aquilo estava me levando à loucura.Nunca tinha sentido isso.Era único. Acho que se ela colocasse a mão na minha calcinha,ela perceberia que eu estava molhada.Eu comecei a falar:

-Você está..,San, você está me excitando..e muito.. ah,San...-

Nessa hora,eu pude sentir um sorriso se formando nos lábios dela,pois estavam colados no meu pescoço.Aquele toque quente me arrepiava inteira.

Eu não aguentei e virei de frente para ela,e mordisquei de leve sua orelha.Ela soltou um gemido rouco e continuou me provocando,ora me beijando o pescoço,ora descendo as mãos pelas minhas costas.

Percebi que ela estava tão no clima quanto eu,olhei fixamente nos olhos dela e puxei seu rosto para um beijo. Ela cedeu e quando senti os seus lábios nos meus, eu não entendi ao certo se estava sonhando, ou se aquilo era real. Senti fogos de artifício, e nunca tinha sentido isso antes. Com ninguém. Nenhum garoto me deixou nas alturas como Santana deixou. Era tudo tão... perfeito.

Os lábios se encostavam tranquilos e as línguas dançavam um ritmo novo. Um ritmo bom.

Passamos os outros dias,normais,na medida do possível.O assunto praticamente morreu.Ela se afastou de mim por um tempo,mas depois de um mês aproximadamente nossa amizade se normalizou.Mas não tive coragem de conversar com ela sobre o beijo.E nem ela teve.Só ignoramos o que aconteceu e seguimos com a amizade.

Pra minha decepção, porque comecei a vê-la com outros olhos.Antes,eu já a via assim,mas depois do meu aniversário eu comecei a me permitir pensar nela de outro modo.Eu tinha esperanças.Infelizmente.

Chegou um dia em que Matt me traiu. Todos me olhavam com cara de pena,mas sinceramente? Eu nem me importei com a traição.

Depois de um tempo,quando eu ia abraçá-la,a garota me empurrava ou então me cortava com palavras. Aquilo era como um soco no estômago, machucava. E muito. Eu sempre tive que me controlar para não segurar a mão dela no corredor, passar a mão pelos fios morenos,segurar de leve seu rosto e beijar-lhe os lábios quando ela sorria,ou então quando ela ficava com vergonha de algo e encarava o chão.

Ela era tão perfeita, parecia um anjo. Quando ela sorria, era como se eu visse as portas do céu se abrindo pra mim. Sua boca parecia uma obra de arte, era bem contornada,bem vermelha e aqueles olhos castanhos...Ah,aqueles olhos...Hipnotizavam a qualquer um que os encarassem. Aquela pele cor de caramelo era macia como algodão,e me dava vontade de beijar cada centímetro daquele corpo escultural. Santana Lopez era viciante. Eu já não tinha mais duvidas disso.

Depois que Sebastian traiu Santana e terminou com ela, eu passava as tardes junto dela, ficávamos simplesmente abraçadas. Longe dos olhares, ela era outra pessoa comigo, não me empurrava, não me cortava, não me ofendia. Longe dos olhares preconceituosos ela se importava comigo.

Em uma dessas tardes,eu não me contive perto dela,e disse:

-Eu te amo,sabia?

Ela não respondeu nada. Na verdade, naquela tarde ela ficou em silencio. Eu não tive coragem de falar mais nada, só a ideia de ter sido ignorada já doía demais. Me matava,torturava. Depois das minhas palavras, nossa amizade ficou mais seca, por opção dela. Às vezes, não nos falávamos, mas sempre estávamos perto uma da outra. Passávamos os intervalos em um silencio constrangedor, que nenhuma de nós sabia como quebrar.

Depois de algum tempo, recebi seu convite de aniversário, eu fui a ultima a receber das mãos dela e a morena praticamente me jogou o convite, sem muito interesse da minha presença. Essa garota não é normal, eu pensava. Mas é isso que eu gosto nela.

Em casa, o clima também não estava bom. Depois que comecei andar com Santana,minhas notas abaixaram,e eu já não me importava tanto com os estudos. No que eu digo de notas abaixarem,quer dizer que foi de dez pra média oito. E apesar de continuar acima da média, minha mãe não achava que estas notas eram dignas da Srta.Perfeita.

Meu pai se mantinha calado a tudo isso. Ele só interferia quando minha mãe avançava em mim com um cinto na intenção de me fazer “melhorar”. Passei a esconder tudo deles, passei a fumar, passei a beber. Aquilo me dava um prazer momentâneo, e já que Santana não me queria,aquilo era tudo o que eu precisava. Até parei de dançar,apesar de ser a única coisa que eu realmente gostava de fazer,entrei numa depressão tão grande que já não conseguia dançar com a alma,como eu sempre fiz.

No dia do aniversário da morena, passei o dia escrevendo uma carta pra ela. Aquilo tudo estava entalado e eu não conseguia mais deixar aquilo quieto.  Assim que terminei a ultima frase, me arrumei e fui em direção à festa.

A festa estava um lixo. Sinceramente,todo mundo comentava,debochava da decoração e da musica que tocava. A mãe dela recolhia toda cerveja que ia pra mão dos jovens e gritava:

-Amigo da Santana não bebe!

Meu primo,particularmente,que já era maior de dezoito,achou aquilo um absurdo. Me chamou num canto e disse:

-Vou pegar outra cerveja, se ela tocar na minha garrafa, capaz de eu morder a mão dessa mulher!

Eu gargalhei com o comentário de Sam. Na verdade, foi a primeira vez que ri com vontade depois que beijei Santana. O DJ avisou que chegara a hora da valsa.

A morena dançou com o pai,com os primos,com o padrinho. Mas como uma macumba, Sebastian apareceu,pegou a mão dela e a conduziu para outra dança. Ele beijava o pescoço dela,mas não consegui ver se ela estava gostando ou não.Eu,por outro lado,olhava pro casal com ódio.

Todos aplaudiam aquele verme com a minha morena e eu não aguentei, levantei apressada indo em direção a porta do salão,quase descendo as escadas.

Ela percebeu e fez um sinal para que o DJ parasse a música. Ela distraiu seus pais por um momento e foi atrás de mim. A garota me alcançou e me segurou pelo braço.

Estávamos na escada.Ela me encarou esperando por uma resposta,até que eu comecei a falar:

-Você acha que isso é legal?- Ela não entendeu,e eu continuei. – Te amar e ver você de agarração com aquele palhaço? Eu aturei isso praticamente o ano inteiro,será que você quer que eu soletre que te amo?

Depois de alguns momentos refletindo,ela quase formou um sorriso,mas ela olhou na parede atrás da mim,e continuou,sem olhar nos meus olhos:

-Eu não sou gay,eu não sou doente feito você! –Lágrimas já caiam do meu rosto pálido – Para de me olhar com essa cara de cachorro pidão, Brittany! Eu não quero nem respirar o mesmo ar de uma aberração feito você! Você tinha um plano,não é?Queria me poluir pra me levar pro lado negro da força..Eu já devia saber que você não prestava! Sai de perto de mim,imunda!Doente!

Meus olhos queimavam de tanto chorar. Doía tanto aquilo dentro de mim. Saí da festa sem olhar pra trás e fui pra casa chorando, já com um plano em mente. Eu iria acabar com tudo.

Assim que cheguei em casa,peguei uma faca e vários cigarros. Deitei na minha cama, fumei um cigarro por um tempo, enquanto encarava o teto. Chorava tanto, minha aparência estava deplorável.

A carta, que estava na minha mão, já tinha sido relida mais de dez vezes desde que cheguei ao meu quarto. Com um impulso,me levantei e coloquei o envelope encima da escrivaninha. Escrevi mais um parágrafo,o ultimo, e escrevi em letras tortas no envelope:

Entreguem para Santana Lopez.

Me deitei na cama e comecei a me cortar. A dor era tão grande que tive que morder o travesseiro. Lágrimas salgadas rolavam meu rosto. A dor que eu sentia era muita,mas não se comparava ao que eu estava sentindo por dentro. Meu coração tinha sido quebrado,massacrado,humilhado.

Depois de um tempo,passei a ver a minha vida diante dos meus olhos. E com um ultimo suspiro,eu disse,baixinho,quase sem forças:

-Eu ainda te amo,Santana.- Dei um fraco sorriso,gastando minhas ultimas forças pra dizer: - Santana.

***

A morte de Brittany foi um choque para toda a família. Depois de alguns meses, Rose e Jake se separaram. Rose se tornou alcoólatra e Jake encontrou outra mulher e formou família com ela.

Depois de se preparar psicologicamente por vários meses, Sam foi ao quarto da prima,sua mãe limpou o quarto,mas deixou a escrivaninha e os retratos intactos.Ele sorriu quando viu uma foto de uma menina sorrindo abraçada dele,quando ainda ele ainda tinha uns dez anos. Ele olhou uma foto de Brittany ganhando seu primeiro troféu de dança. Aquela garota era tão boa,tinha tanto talento.Ele suspirou, triste.

Mas antes de sair do quarto,o loiro viu uma carta,com escritas tortas e após ler para quem era,deu um soco de ira na parede. Ele sabia que aquilo iria acontecer, por culpa daquela garota. Ele não tinha acreditado que a prima teria coragem de acabar com tudo, mas ela o fez.

 Cheio de ódio no coração, ele colocou a carta no bolso de sua jaqueta de couro, ligou sua moto e foi em direção a casa de Santana. Ele nem esperou a garota abrir a porta direito e já foi entrando, gritando com a latina.

-Sua vagabunda, você conseguiu o que queria não,é?

A latina não entendeu,e olhou incrédula para o rapaz a sua frente.Ele quase foi pra cima dela,mas foi impedido pelo juízo que ainda restava nele, o garoto tinha tanto ódio em seu olhar que assustou Santana.O garoto respirou e olhou furiosamente pra garota a sua frente:

-Brittany se matou por sua culpa! Era tudo por você! Ela me falou que te amava,mas eu nunca acreditei que ela fosse capaz de se matar por sua causa! Ela te amava,e o que você fez? Só a magoou. Não tem vergonha de andar pela rua, não? Assassina!-

 O garoto já estava descontrolado e apontava o dedo para Santana. Lágrimas rolavam do rosto dele, e as palavras que saiam da boca bem contornada já estavam meio embriagadas.  Ele precisou encostar-se à parede para tentar se controlar.

-Ela te amou. - O garoto olhou no fundo dos olhos castanhos a sua frente e continuou irônico – Você nem tem com o que se defender, não é? Você sabe que ferrou com a minha prima. -

O garoto ficou com raiva de repente e disse:

-Espero que você conviva todos os dias com a lembrança que você a matou. Você a influenciou a fazer isso. Você tirou a vida dela.

Antes de ele dar as costas à garota, que estava estática, ele jogou a carta na direção dela e disse:

-Ela ia te mandar no dia do seu aniversário. Ela ia se declarar. O ultimo parágrafo ela escreveu depois do que você disse pra ela. E olha que eu nem sei o que você disse e já estou indignado, imagina o que ela sentiu? As palavras pesam, Santana. Pena que você aprendeu isso tirando a vida de alguém que tinha um futuro brilhante pela frente. 

O garoto bateu a porta com força, ligou sua moto e seguiu para um campo deserto, onde se sentou na grama e chorou por sua prima. Santana depois de sair de seu transe, com lágrimas nos olhos,pegou a carta e levou ao seu quarto. Assim que viu o envelope, reconheceu a caligrafia de Brittany e sorriu ao se lembrar da garota.

Finalmente chegou.  Dessa vez, não é só mais um aniversário. Agora ficam marcados quinze anos de uma história que ainda tem muitos anos para ser escrita. A partir de agora, novas responsabilidades virão,e assim, novas conquistas. Mas mesmo assim, você não precisa ter medo, porque você pode ter certeza que eu vou estar aqui,pra você. Sempre.

Por isso, eu não queria só te desejar um simples “feliz aniversário”. Eu queria ter as expressões suficientes pra lotar isso daquelas palavras tão fofas que até tocariam a tua alma quando fossem lidas.  Mas não. Eu não consigo. Você escolheu a amiga mais imperfeita do mundo, porque eu não tenho capacidade de te emocionar com um pedaço de papel, e tenho certeza que as outras conseguiriam.  Mas eu vou tentar.

Eu sei que não sou a melhor amiga do mundo, mas espero que saiba o quanto que te considero na minha vida. Eu não teria coragem de te abandonar, nunca. Porque você é uma das pessoas que me fazem levantar pela manhã e viver a vida. Uma das únicas pessoas que valem a pena.

Eu queria que você soubesse o quanto é difícil pra mim te ver desabar. Quando você chora, parece que estão me apunhalando, porque você pode ter certeza que dói tanto em você quanto em mim. Saiba que eu sempre vou fazer tudo pra te ver sorrir, nem que seja com uma piadinha idiota, alguns conselhos, com minhas caretas... ou até mesmo gastar dinheiro pra te comprar o chocolate que você tanto ama.

 Porque você merece, merece mais do que tudo isso. Eu só tento satisfazer a pessoa perfeita que você é, mesmo sabendo que tudo que eu faço é pouco. Pouco pra garota chata, irritante, boba e idiota que você é.

Depois daquela noite em que trocamos beijos e carícias,percebi que te amava. Senti fogos de artifício, entende? Naquela noite,eu percebi que a única coisa que eu queria fazer da vida era te abraçar e te proteger do mundo inteiro.

Eu tenho certeza que tanto nos momentos bons como ruins, eu vou estar te apoiando em todas as tuas decisões, como eu sempre fiz. E sempre vou fazer. Porque é assim que funciona. Quem ama cuida,e eu sempre vou cuidar de você

E eu realmente tenho orgulho de te amar.

A capacidade que você tem que surpreender a todo mundo que espera que você use rosa e uma saia rodada. O jeito que você vive sem se importar com os rótulos que as pessoas colocam em você. É isso que eu amo.

E mesmo que você não queira segurar a minha mão, pode ter certeza que eu te vou ouvir enquanto você fala dos seus problemas,quando for pra rir, pra chorar. Porque quem ama faz isso.

Queria que você ficasse comigo pra sempre.Queria que você soubesse que quando penso em você,logo me vem a ideia de nós duas envelhecendo juntas,com nossos netinhos correndo pela casa. Você me fez pensar no futuro, e eu percebi que quero o meu do seu lado.

Eu quero acordar pela manhã,e ver o seu corpo moreno contrastando com o lençol branco. Quero me levantar mais cedo que você e te trazer um maravilhoso café na cama.Te acordar com beijos e carinhos e ver sua feição preguiçosa se transformar num sorriso só meu.

Quero ter a chance de te fazer feliz,do jeito que uma pessoa incrível como você merece. E eu não ligo pra opinião dos outros.Eu quero só você.Sua pele,seus olhos,sua boca.Tudo em você é perfeito,e eu amo tudo que te envolve.

Queria te desejar parabéns por nunca ter desistido, por ser essa menina linda que você sempre foi. Que Deus ilumine todos os seus passos. Amor,saúde,paz,alegria e juízo nessa nova fase que começou. Isso é tudo que te desejo.

E já que eu te entreguei minha vida de bandeja, agora quero te presentear com a minha morte. Não tem mais sentido viver, me lembrando das palavras frias que você me disse. Espero que sua vida seja cheia de alegrias e conquistas. Não vou deixar nada acontecer de ruim a você, mesmo que seja de outro lugar. De outra vida.Mesmo depois de tudo,eu ainda te amo.

Brittany S. Pierce

Assim que terminou de ler tudo, Santana abraçou o pedaço de papel e lágrimas queimavam sua face. Ela soluçava muito e não conseguia nem raciocinar direito. Ela tinha dito aquelas palavras para Brittany na intenção de fazer a garota se esquecer dela mais facilmente, mas só tinha piorado as coisas.

O plano era perfeito. Ela magoaria Brittany ,a loira sentiria ódio dela e a esqueceria rapidamente. Simples, rápido e fácil. Mas não foi nada daquilo. Santana usou aquelas palavras para tentar maquiar o que sentia pela loira já que seu pai estava olhando a cena,escondido. Foi um plano idiota?Foi. Pois tirou a vida de quem ela mais amava.

Ela só tratava a garota mal, não era porque não a amava, mas sim porque aquele era o jeito que ela encontrou para esquecer-se daquela pele macia, daqueles beijos doces, daqueles olhos azuis que a hipnotizavam cada vez que fitavam os seus.

Se ela agisse de uma maneira ruim com Brittany, talvez ela conseguisse se convencer que não a amava a loira e seguiria com sua vida. Santana já estava deitada em sua cama, ainda junto a carta e às vezes, parecia que ela sentia a presença de Brittany no local,a abraçando e a protegendo,apesar de tudo o que fizera para a garota.

- Eu vou me encontrar com você ,B- Ela dizia,entre soluços..Não se preocupe.

Ela saiu disparada de seu quarto e pegou a maleta que ficava em cima do armário da cozinha. Ligou seu carro, e foi em direção ao cemitério St. Phillip. Chovia e relampeava muito. Procurou o nome de sua loira pelas lápides até que encontrou o que queria.

Ajoelhou-se e começou a dizer,enquanto chorava sem parar:

-Eu nunca te mereci, Britt-Britt. Todas as vezes que você dizia que me amava, queria que você soubesse que eu te amava demais, mas estava muito confusa sobre o que eu sentia. Pensei que se eu te tratasse mal, eu conseguiria tirar suas esperanças por um futuro junto comigo, mas eu estava errada.

Você nunca desistiu de mim,mesmo quando eu estava insuportável. E eu passava minhas noites me convencendo a desistir de você. Perdoa-me pelo jeito que te tratei,pensei que fosse o melhor para nós duas,mas na verdade, eu não posso ditar o que é melhor para outra pessoa,e vi que o melhor pra mim é você.

Minha Brittany,espero que estejas descansando em paz. Eu nunca quis te chamar daquela maneira,mas sei que desculpas não são o suficiente agora. Decidi que quero ficar com você pela eternidade. Eu estraguei tudo,mas posso tentar consertar. Por você.

Desde aquele beijo, na sua casa, eu passei a te ver de maneira diferente.Um abraço seu me fazia ir as nuvens,um toque já me deixava feliz.Até que fiquei sabendo que meu pai bateu em um garoto homossexual na rua. E ele me contou isso com tanta naturalidade, sabe? Eu fiquei com muito medo, Britt. E resolvi me afastar.

Aquele dia em que você se declarou pra mim, no meu aniversário, foi o melhor dia da minha vida. Você não sabe a vontade que tive de te beijar e te fazer minha. Mas meu pai estava escutando a conversa e ele não iria reagir bem com a notícia que a filha é lésbica. Eu pensei que poderia me declarar em outra ocasião,sabe? Queria que nós pudéssemos namorar escondido,e na faculdade, quando não devêssemos nada a ninguém, poderíamos assumir.

Perdoa-me pela dor imensa que eu te causei, eu fiquei tão assustada que não parei um segundo pra pensar em conversar com você sobre o que você sentiu. Você sempre me ouviu, e eu nunca parei um segundo pra saber o que você sentia. Merda, eu me sinto péssima agora.  

Espero que você saiba que eu vou tentar consertar o que eu fiz, por mais que seja tarde, pra você saber que nessa relação, você não amou sozinha. Eu te amo, e te entrego a minha vida,da mesma maneira que você me entregou a sua. -

Naquele momento, Santana abriu a maleta e tirou uma pistola de lá. Encostou-a em sua cabeça e antes de apertar o gatilho,ela disse:

-Eu te amo, Brittany.

O corpo de Santana caiu, ensanguentado em cima do túmulo de Brittany. A chuva parou, os relâmpagos cessaram, o sol voltou ao céu,um silencio se estabeleceu.

A morte não é um fim, ela simplesmente nos liberta para um novo começo. Nos leva a um mundo onde podemos pagar nossos pecados, e por fim, deixar nossa alma descansar em paz.

***

-Brittany?-A voz da latina ecoava naquele lugar escuro, e ela repetiu – Brittany?

Santana continuou seguindo sem direção, procurando a loira que tanto amava. Ela chamava o nome de sua menina,dessa vez chorando.

-Onde está você,Britt?-

A latina sentiu um frio na espinha,de repente e ouviu sua menina responder:

-Aqui, Santana,aqui.

A morena avistou uma luz forte e foi em direção a ela. Quando mais se aproximava, ela ia sentindo um calor insuportável. Ela parava algumas vezes, mas sempre continuava quando ouvia a voz de Brittany lhe chamando. Aquele calor ia queimando sua alma, mas mesmo que aquilo demorasse a eternidade, ela iria continuar, por sua Brittany.

Chegou a uma parte do caminho que era pouco iluminada, e a latina conseguia ouvir barulhos de ossos se quebrando, e gritos de dor. Aquilo a assustava, mas a garota tentou se focar na voz suave que lhe chamava a todo instante. Fazia um calor extremo, mas ela conseguiu encostar-se àquela claridade. Quando tocou a luz, ela teve a sensação de que seus membros fossem arrancados dela. Santana sentiu uma dor insuportável e não conseguiu ver mais nada.

Quando a garota abriu os olhos, ela estava num campo florido e ouvia sons de pássaros cantando, alegres. Olhou em volta e viu uma loira de costas usando um vestido branco sentada num balanço amarrado em uma árvore.

Ela se aproximou e colocou a mão sobre o ombro daquela garota. Olhos azuis a fitaram com alegria e Brittany se levantou ficando cara a cara com Santana. Antes que a dançarina pudesse falar qualquer coisa, a latina a calou com os dedos e começou a dizer:

-Me perdoa,Brittany. Eu sinto muito,por tudo,eu...

A loira sorriu para a garota a sua frente e a cortou:

-Não precisa me explicar nada, eu ouvi.

A latina sorriu e segurou o rosto perfeito em sua frente com as duas mãos. Finalmente ela estava com sua alma gêmea. A garota era tão perfeita, e finalmente, era só sua. Santana observava cada traço de sua menina, atentamente, como se precisasse gravar todos os detalhes daquela beleza angelical. Ela aplicou um beijo nas pequenas sardas, e olhou profundamente naquele mar azul a sua frente, antes de fechar o espaço entre as duas com carinho.

As línguas dançavam lentamente, explorando cada canto da boca uma da outra. As mãos de Brittany arranhavam a cintura de Santana, enquanto a latina acarinhava os cabelos loiros. Naquele momento, as duas conseguiram escutar o som das harpas alegrando o momento mágico. Depois de matar a saudade, as duas se separaram com um uníssono “Eu te amo”.

“Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.”

Pablo Neruda