Eu olhei em seus olhos castanhos, curiosos sobre porquê eu o estava chamando para uma conversa.

Ok, chega de enrolar. Temos pouco tempo.

–Então, o que foi?

Respirei fundo. Comecei a falar tudo.

Tudo. Desde a parte sobre o vira-tempo, até a parte em que eu tinha apenas uma semana para me despedir. Enquanto eu contava, ele apenas escutava, sem expressão alguma.

Estava com medo do que Sirius tinha falado. Reagir ainda pior? Como poderia ser isso?

E se isso acontecesse, será que eu iria aguentar?

Terminei de falar. Ele assentiu com a cabeça.

–Então... Você está falando sério? - Perguntou, com a sobrancelhas erguidas.

–Sim. - Respondi.

–Hum, eu bem já ouvi falar que vira- tempos são muito complexos.

–E é verdade.

–Certo. Uma semana?

–Uma semana. - Confirmei.

–Isso é pouco tempo. - Ele observou. E então continuou a ler seu livro.

O quê?

Como assim?! Era só isso? Essa era a reação terrível que Sirius tinha falado? Pra mim ele parecia ter aceitado facilmente.

Facilmente demais. Esquisito.

–Você está bem? - Perguntei.

–Sim, porquê? - Ele me olhou, calmo.

Ok. Será que ele estava achando que eu tinha ficado louca?

–Você acredita em mim, certo?

Ele demorou um pouco pra responder. Eu arranquei aquele maldito livro das suas mãos.

–Sim, eu acredito em você. - Respondeu, surpreso por eu ter lhe tirado o livro.

–Porquê você está tão... - Procurei a palavra certa. -... Normal?

–Normal?

–É, calmo, tranquilo. Porquê você está assim? - Eu estava me consumindo com aquela reação dele. Ele não disse que gostava muito de mim? Será que havia mentido? Ou será que não sentia mais aquilo?

Será que agora eu não fazia mais diferença pra ele?

–Eu estou assim porque não posso fazer nada.

–N-nada?

–É, nada. Se eu tentasse te impedir, ainda assim você iria não?

–Eu iria, m-mas...

–Vê? não posso fazer nada.

Ele pegou gentilmente o livro de minhas mãos e voltou a lê-lo.

Eu o fitei atônita. O que tinha acabado de acontecer?

Ele continuou lendo, distraído, talvez nem percebendo que eu continuava lá, olhando pra ele, completamente chocada.

Ok. Se você não se importa comigo, tudo bem, pensei. Menos dor pra mim.

Ou mais.

* * *

Naquela noite, no jantar, me sentei ao lado de Sirius. Me lembrei de que aquele já era meu segundo dia. No primeiro eu falara com Dumbledore e com Sirius. E naquele dia, infelizmente, eu tentara falar com aquele que disse que era meu melhor amigo. Era.

Pelo menos tivera a parte de Hogsmeade. Isso deixava a situação melhor.

–Como foi? - Sirius perguntou, comendo sua torta de chocolate, servida na sobremesa.

–Eu não entendo... - Antes que eu continuasse, Sirius me interrompeu.

–Eu sabia que você ia dizer isso.

–Como assim?

–Ele tem um próprio manual de como agir. Ninguém que seja de fora o conhece. Nem mesmo eu o conheço. - Ele sorriu. - Então, obviamente, você não iria entender.

Me lembrei de quando ele tinha parado de falar comigo, quando eu e Sirius havíamos brigado.

–É uma maneira estranha de agir.

–Mas pra ele, parece racional. - Ele olhou Rem, sentado um pouco longe de nós, ao lado de James.

–Só que não é! Eu sei o que é racional. Ele não sabe. - Respondi, irritada.

–Vamos começar a discutir qual de vocês dois é mais inteligente? Por favor, Hermione...

–Ok, ok, entendi. - Falei, impaciente.

–E então, o que rolou?

–Ah, ele simplesmente agiu normal! Isso não é normal. - Efatizei as palavras.

Sirius riu baixinho.

–O que foi? - Perguntei curiosa. - Porquê está rindo?

–Você é tão bobinha.... - Ele me deu um beijinho na testa.

–Sirius. - Falei, séria. Ele parou imediatamente de rir, prevendo que se continuasse, viria uma bronca.

–Tudo bem, eu parei. - Ele respirou fundo. - Acontece que você está encrencada.

–O quê?

–Eu tento entender o modo dele de agir, com experiências passadas. Uma vez, eu "sem querer" joguei um dos seus livros favoritos na fogueira da sala comunal.

–E ele agiu assim com você?

–Sim.

–Eu estou encrencada. - Conclui.

–Ei, mas escute. Ele não deve estar irritado com você. Não há motivos para estar. Deve estar apenas triste. - Falou, tentando me acalmar.

Eu fiquei um pouco mais tranquila. Até que ele continuou.

–Ou, para agir desse modo, ele deve estar realmente triste. A questão é que ele sempre tenta esconder essas coisas. Por exemplo, quando eu queimei seu livro, apesar de estar com vontade de me socar até a morte, ele agiu agradavelmente comigo.

Conclusão: Sirius era péssimo em acalmar pessoas.

–Agradável demais? - Perguntei.

Ele assentiu.

–E então eu pedi desculpas pra ele, e lhe dei outro livro. Ele voltou a agir normalmente. - Ele olhou em meus olhos. - Tente conversar com ele.

–Vou tentar. - Disse. - Alguma dica?

–Hum, deixe-me pensar... Escute tudo que ele tem a dizer. Mas também fale.

–Como assim?

–Se ele sentir que é o único que está falando, ele continuará guardando tudo pra si.

–Certo.

Conclusão 2: Remo Lupin era uma pessoa muito complicada. Por mais incrível que pareça, mais complicada até que eu.