POV Hermione

–Hã´... Oi Sirius. - Cumprimentei timidamente. O que Gina estava pensando que eu poderia falar pra ele? Eu podia dizer a verdade... Parcialmente.

Ele ergueu as sobrancelhas, questionador.

–Acho que eu lhe devo algumas explicações... - Comecei.

–É, eu acho que sim. – Ele respondeu, ainda esperando.

–Ontem à tarde, eu... – Minha voz começou a falhar ao me lembrar. Ok Hermione, fique calma, Sirius não morde. Bem, não quando ele está na forma humana. Ou será que sim...?

Corei violentamente ao ver no que eu estava pensando. Concentre-se!

–Sirius, me desculpe, é que eu... Você não faz idéia do que eu estou passando, é algo complicado até mesmo pra mim!

–Você sabe que pode me contar tudo. – Ele insistiu.

–Nem tudo... – Censurei. Ele me olhou seriamente. Céus, o que eu tinha falado? – Eu quis dizer... É... Não é um segredo só meu, entenda isso.

Ele suspirou.

–Está bem. Você não parece ser mesmo do tipo que compartilha as coisas.

Eu me encolhi quando ele falou aquilo. Será que era um insulto? Se era, bem, não era a hora certa pra eu revidar, mas meu ego se superou.

–Do que está falando?Eu nem sabia sobre o que aconteceu ontem à noite! – Na verdade eu sabia, mas, de qualquer modo, não havia sido por ele.

–Por falar nisso, porquê fez a estupidez de nos seguir? – Ele perguntou num tom um tanto rude. Senti meu rosto ficar quente, sinal de que eu logo cairia no choro.

–Eu havia descido pra falar com você Sirius. Pensei que você estava sozinho lá em baixo, e eu sabia que devia explicações à você. Mas, eu fiquei curiosa com o que vocês estavam fazendo, só isso. Prometo não me meter mais na sua vida! – Despejei as palavras com raiva. Ele nunca havia sido tão rude comigo!

Senti uma lágrima escorrendo lentamente na lateral da minha bochecha. Virei o rosto para que ele não visse, sem sucesso.

–Hermione... – Ele começou em seu tom de desculpas, no entanto seus olhos ainda estavam frios. Virei as costas pra ele, e entrei na sala, antes podendo falar:

–Não se preocupe. Isso não vai se repetir.

Me sentei em uma cadeira dos fundos para que eu não pudesse ser vista, meus olhos vermelhos do jeito que estavam. Nós nunca tínhamos discutido assim, feito um casal antigo. Mas eu é que não iria pedir desculpas.

O professor iniciou sua aula, lançando olhares nervoso para mim, e pra Sirius, sentado do outro lado da sala, olhando fixamente para a janela. Provavelmente podia ter ouvido a gritaria lá de fora. Provavelmente a escola inteira teria ouvido.

Silenciosamente, assim como começaram, as lágrimas pararam de cair. Enxuguei meus olhos, a tempo de pegar meu material e sair da sala antes de todo mundo.

Assim que ia sair, alguém agarrou a minha mão, e eu certamente já sabia quem era. Me virei, e falei rapidamente:

–Você não quer parar de me magoar Sirius?

–Como é? – Dois olhos castanhos me fitaram. Olhos que eu pensaria não ver por muito tempo.

–Rem! – Não pude deixar de sorrir. Será que ele finalmente tinha criado juízo e viera falar comigo?

Mas se era ele quem segurava a minha mão, onde estava o...

Ah, Indo embora pelo corredor, bagunçando os cabelos pretos, fazendo com que algumas meninas que estavam atrás dele dessem gritinhos histéricos.

Uma súbita mistura de raiva, tristeza e culpa me acolheu. Será que eu deveria ter feito aquilo? Não sabia por quanto tempo podia aguentar a ausência dele. Mas ele, ah, é claro que podia aguentar a minha, com essas meninas aí...

Bom, pelo menos, agora eu podia me concentrar no meu melhor amigo.

–Eu pensei que não fosse falar comigo. – observei.

–E eu pensei que eu fosse uma pessoa inteligente. Essa foi a coisa mais estúpida que eu já fiz.

–Ah. – Respondi apenas. Não podia deixar que a minha raiva de Sirius afetasse essa conversa, mas... Raios, quem abandona uma pessoa e acha que pode voltar a falar com ela, numa boa?

–Você está bravíssima comigo não está? – Ele perguntou, num tom inocente.

–Estou.

–Me desculpe Hermione. Se isso te consola, nunca estive numa situação pior do que a que eu estive hoje de manhã. Aquilo definitivamente me despedaçou por completo. Nunca me senti tão estúpido.

Ele falava engraçado, reparei. Comecei a perceber coisas que eu não tinha percebido antes. A cor de mel dos seus olhos. Uma cicatriz fina no pescoço. O cabelo loiro bagunçado. Deveriam ser as tais “pequenas coisas” que ele tinha falado.

Não pude deixar de sorrir mais ainda.

–Eu senti sua falta. – Confessei.

–E eu mais ainda. – Ele me abraçou, e eu correspondi. Como ele era mais alto que eu, pude encostar a cabeça em seu peito, ouvindo seu coração.

Nunca recebi um abraço tão bom. Um abraço de amigo.