Brief escrita por Zoë


Capítulo 3
Capítulo 3 - Novas Companhias


Notas iniciais do capítulo

- Ehr, então... Me desculpem pela demora para postar esse capítulo. Em época de finais fica difícil arranjar tempo pra escrever (e inspiração)
- Eu ainda não revisei isso tudo, então caso encontrarem alguns erros, me perdoem por isso (e não me importo caso queira apontá-los (eu até agradeço), para que eu possa concertar o que me passou despercebido)
- Vocês ainda continuam lendo isso aqui? (Just asking)



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Na semana seguinte, acabei não recebendo nenhuma visita - como minha mãe era uma professora, assim que conseguia, reservava alguns de seus escassos dias livres para (1) Me visitar, ou (2) Corrigir provas. Era uma semana de provas na escola onde ela trabalhava (e onde eu já estudei em um passado distante), e por ora ela teve que optar por pular um dia de visita para a próxima semana. Eu não me importei, pois não queria incomodá-la com a pressão de ter que vir toda semana. Ela relutou para se opor contra as provas e passar o dia comigo, mas eu a disse que não tinha problema, e dei uma desculpa de que Sebastian iria vir, conforme o prometido (Spoilers: ele não veio).

Nada muito interessante tinha acontecido até então: Eu continuei seguindo a monótona rotina de terapias ao ar livre, aulas de arte, terapia cognitiva, terapia em grupo, terapia disso, terapia daquilo, lendo livros na cavernosa biblioteca local que cheirava a café e mofo, e vendo filmes na sala de TV com Elliott (o garoto que era uma das pessoas mais sociáveis de lá quando não tinha episódios de raiva) e Nessie (uma garota com Síndrome do Pânico que apresentava um quadro de obsessão patológica por mim, do qual eu vinha tentando ignorar desde minha chegada na clínica). O ápice da minha semana foi no sábado, quando recebi a notícia de que iria ter que compartilhar o meu quarto com uma garota chamada Heather Ekenberg, que já tinha “frequentado” a Guinner Hill por alguns meses entre o período em que eu deixei a clínica pela primeira vez, e o que voltei. Tudo o que Elliott havia me contado sobre Heather é que ela era anoréxica e gostava de desenhar caricaturas das pessoas. No modo como suas pupilas dilataram ao mencionar seu nome, ficou um pouco evidente o contentamento irônico em saber que a garota estava de volta.

Na manhã de domingo, despacharam um par de malas sobre a cama da parede contrária à minha, com apenas um criado mudo disposto logo abaixo do parapeito da minúscula janela responsável por iluminar o cubículo com a luz opaca do enfadonho céu nublado de Seattle entre nós.

Eu ainda não sabia como me sentia sobre ter que dividir meu quarto com alguém. Eu sempre fui reservada, e as unicas vezes em que dividi um quarto com alguém era com Sebastian, antes de vendermos nossa casa de praia para arcar com as despesas de sua faculdade.


Porém, concluí por fim que essa ideia ainda podia me incomodar mais, ao passo que Heather parecia ser legal. Por essas razões me limitei a aceitar isso em silêncio (genuinamente desejando que sua estadia fosse breve).

A garota anunciou sua entrada com três batidas na porta que já se encontrava aberta. Ela carregava uma caixa na altura do peito e a segurava firmemente. Sua pele era clara e macilenta, e seu cabelo louro acinzentado estava preso em um coque bagunçado, exibindo claramente seu rosto redondo e profundos olhos negros circulados por escuros anéis de olheiras.

Seu semblante continuou estável, indecifrável, como uma foto de Efeito Kuleshov. Seu olhar dançou para os quadros suspensos pelas paredes.

— Então você gosta de Renoir e Kandinsky. — Foram suas primeiras palavras ao ver as releituras de Duas Jovens Garotas Lendo (Renoir) e Ao Redor do Círculo (Kandinksky), duas de minhas obras favoritas. Eu gosto da delicadeza e a harmonia expressiva de Renoir, e complexa odisséia de cores e formas de Kandinsky. Eu cresci ao redor de quadros e tintas e artistas não-promissores, e os quadros me ajudavam a me sentir em casa.

Me pareceu uma tentativa de sorriso o que ela fez em seguida.


— Legal. — Disse.

Perguntei se se importava com as pinturas, e ela balançou a cabeça em negação, afirmando que:

— Eu prefiro assim. Geralmente quartos de adolescentes são cheios de pôsteres de bandas de rock em uma tentativa de demonstrarem um pouco de personalidade falsa. Os quadros são ótimos para mim. — E depois colocou a caixa de papelão sobre sua devida cama, ao lado das outras malas.

Certo. Outro detalhe sobre Heather é que ela não era uma adolescente: Elliott mencionara que ela tinha vinte anos, e por isso ainda teria de frequentar a ala de menores de idade.

— Você deve ser Silver Clarke —, supôs ela, estendendo uma mão para me cumprimentar.

— E você é Heather, certo? — a cumprimentei, sua mão era fria e mole, fina como alfinete.

— Heather Ekenberg. — Confirmou, — Você tem um cigarro para me emprestar?

Balancei a cabeça em negação.

— Eu não fumo.

— Faz do tipo que teme câncer de pulmão, ou algo do tipo? — Ela riu para si mesma, tornando-se para suas malas e revirando alguns bolsos na esperança de encontrar algum tabaco.

— Não muito. — Dei de ombros, sem me preocupar em dar uma satisfação. A verdade é que eu já tentei fumar uma vez. Ou duas. Na primeira vez foi durante um acampamento de verão que fui com meu - até então - melhor amigo, Martin. Nós devíamos ter uns 13 anos, e ele surgiu com alguns cigarros no bolso que havia roubado de um dos inspetores. Nós fumamos todos, e acabamos tossindo loucamente durante o resto do dia. Depois disso, foi a segunda vez, no ano seguinte: Martin comprara uma carteira de cigarros em uma mercearia que não pediam identidade. Ele se passava por mais velho sem problemas (o contrário de mim, que desde os meus 12 anos pareço estar fisicamente estagnada no tempo), e dividimos a carteira fumando no telhado de sua casa. Acabou que, sua mãe acabou descobrindo, e ela contou para a minha mãe, que brigou comigo e me deu uma palestra de aproximadamente duas horas de duração sobre problemas respiratórios e algumas outras drogas que ela já podia me ver usando. Depois disso eu nunca mais coloquei um cigarro na boca; não porque eu me assustei com toda a história, mas porque eu não queria chateá-la mais. E também porque aquele discurso já tinha sido o suficiente para uma vida inteira.

Heather desfez suas malas e saiu a procura de cigarros, enquanto eu tentava me concentrar no livro que estava em minha cabeceira por semanas. Eu tenho a péssima mania de me desanimar com as coisas. Eu começo me empolgando, e aos poucos isso vai se desgastando, até eu desistir de dar continuidade ao que eu fazia (O que lamento informar, mas me sinto a mesma em relação às pessoas). Simples assim.

Como o livro (Que a propósito, era “O Grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald) não conseguia me prender, fui à sala de tevê. Elliott estava lá (como sempre), centrando sua atenção em um filme dos anos 80 que me despertou interesse por seu protagonista (a propósito, a história também pareceu interessante). O garoto louro, cujo personagem atendia pelo nome de “Danny” (que eventualmente descobri que o nome do ator era “River Pheonix”) me lembrara do Garoto Suicida que conheci no terraço no dia de meu aniversário, que conforme os dias sem notícias suas, passei a acreditar que foi apenas uma ilusão de minha cabeça. Um amigo imaginário. (Tanto é que evitei mencioná-lo nas terapias cognitivas).

— Você quer que eu mude de canal? — Perguntou Elliott. Sua voz ela baixa e falhava (provavelmente por causa dos gritos), o que me obrigou a perguntá-lo para repetir o que tinha dito.

Ele pigarreou e gesticulou para a tela.


— O canal. Você quer que eu mude? — Repetiu.

— Não. — Respondi, tentando não parecer muito ríspida. — Quer dizer, a não ser que você queira. — Sugeri.

Elliott não respondeu, e simplesmente voltou sua atenção para a tela. Seus olhos castanhos e olheiras me lembraram da mesma imagem de Heather, o que me dava a ideia de que a finalidade de clínicas psiquiátricas era fazer com que todos parecessem fantasmas. Me perguntei se eu parecia um fantasma.
Tentei resgatar a imagem que vi no espelho de corpo inteiro ao lado da cama de Heather naquela manhã: Meu cabelo castanho claro parecia uma palha, e também haviam olheiras ao redor de meus olhos. Meus lábios estavam descolorados em função da medicação diária, e tudo que eu parecia era uma criatura tentando se contrair dentro de seu próprio corpo, como quem se sentisse desconfortável dentro de si mesmo. E eu meio que me sentia.

Uma pessoa adentrou a sala durante o intervalo comercial. Em seu crachá exibia o nome “Dra. Shields”, mas todos a chamavam de Minnie Mouse, pelo modo como ela prendia o seu cabelo em dois coques (um de cada lado, como aquelas adolescentes do começo de 2000 costumavam usar), e também porque ela tinha olhos grandes e um nariz empinado. A Doutora deu alguns passos na direção de Elliott, e murmurou algo para ele, que ainda parecia imerso na tela da televisão, apoiando seu cotovelo no braço do largo sofá de couro escuro e segurando seu rosto.

Ela tocou em seu braço para pedir sua atenção, e a sua reação foi tipo como quando um acorda de um sonho em que estava caindo.

— Elliott, tem alguém aqui que veio te ver. — Anunciou Minnie Mouse.


Elliott franziu o cenho, ainda assustado, e dirigiu o olhar para o arco da porta, a procura de alguém.

Só me deu tempo de seguir o seu olhar, e avistar um garoto de corpo esguio e um cabelo louro que brilhava como ouro sob a iluminação daquela luz fluorescente. Ele tinha olhos esverdeados, que ora pareciam esmeraldas, e ora pareciam âmbar.

Eu realmente gostaria de encontrar mais metáforas para descrevê-lo, desde as mais clichés até as mais criativas, porém: eu havia esquecido até mesmo de como formar palavras naquele segundo.

Aquela foi a primeira vez que eu me senti bem por estar errada: Não, o garoto suicida não era apenas uma ilusão. Na verdade, ele me parecia mais real do que nunca.


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Notas finais do capítulo

- Reviews, feedbacks, opiniões, comentários (em geral), como sempre, seriam aceitos de muito bom grado. x
- Vou tentar postar o próximo capítulo mais rápido, eu prometo. :D



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