Dreamland: Onde Os Segredos Se Escondem escrita por alexiawhittier


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Olá dreamers! FYI, organizei os capítulos antigos na estrutura nova, e acho que tá melhor agora hehe... Porém, para os leitores antigos, não terá quase nenhuma novidade até o capítulo 9 :( Vocês vão ver "cenas" novas e mais detalhadas, mas a continuação mesmo do antigo capítulo 4 agora será o capítulo 10. Mas aguentem aí, porque já que eu já tenho esses "pedaços", que são os capítulos antigos, não deve demorar muito pra eu terminar de escrever os novos :)



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– Não me diga que estou vendo Samantha Rivers nervosa – Harry brincou enquanto eu, ele e mais algumas pessoas conversávamos na cozinha.

– Mas é o nosso primeiro cliente, oficialmente! Vai que não dá certo?

– Claro que vai, Sam! – Monica sorriu para me acalmar – A gente até já trouxe bolo e champanhe para comemorar, olha – Ela me mostrou a geladeira aberta.

– Vocês estão loucos? Se tudo der errado isso será desperdiçado!

– Pelo amor de Deus menina, vai dar tudo certo. E se não der a gente comemora do mesmo jeito.

– Tá bom então – Ri discretamente – Harry, você já conferiu se está tudo certo na sala do Cerebrum?

– Já – Ele assegurou e viu a incerteza em meu rosto – Mas sinto que você se sentiria melhor se fossemos lá dar mais uma checada, certo?

– Não custa nada – Sorri.

E lá fomos nós, como tantas outras vezes, conferir se tudo estava funcionando normalmente. Apesar de já processar aquelas informações quase que automaticamente, parecia que naquele dia eu mal conseguia absorvê-las, inquieta e ansiosa como uma criança.

– A última vez que me lembro de você fazendo isso foi quando tinha uns dez anos – Harry me pegou ligando e desligando o botão principal do Cerebrum, que ficava ao lado direito da grande estrutura branca.

– E aposto que se minha vó estivesse aqui, ficaria braba do mesmo jeito. Posso até ouvir ela dizendo “Te dei aqueles joguinhos cheios de botão pra que você não quisesse ficar apertando esse, Samantha” – Ri junto de Harry.

– Como se uma criança não fosse preferir um botão azul gigante, que ilumina uma máquina maior ainda! Bom, claramente o Cerebrum está funcionando. Quer checar o software?

Passando pela porta que levava à sala do computador, sentei e me entretive com as informações na tela. Mexi em alguns ajustes do programa, dei uma olhada nas filmagens que já tínhamos e fiz alguns testes. Depois disso, fui à minha sala. Como ainda seriam algumas horas até que nosso paciente viesse, relaxei no sofá e comecei a ver os arquivos de vídeos que eu tinha na TV. Fui passando pela grande lista de vídeos até chegar ao do casamento de meus avós, e instantaneamente comecei a vê-lo, como já havia feito muitas vezes antes.

Adorava ver minha vó indo ao encontro de meu vô, sorrindo abobada. Desde pequena, eu ficava adorando aquele vestido, apesar de ser tão diferente dos modelos de hoje em dia. Eu já sabia quase de cor o discurso do padre, e os votos que os dois falavam. A parte da festa era divertida também, mas eu não conhecia quase nenhuma daquelas pessoas. As famílias, tanto do meu avô quanto da minha avó, eram pequenas já na época, sendo que hoje em dia só há um parente ou outro espalhado pelo país. Fora isso, havia vários amigos dos dois – alguns deles que trabalharam ou ainda trabalham na Dreamland.

Como você se vê daqui a dez anos?” A pessoa que estava filmando perguntou para minha avó.

Casada com Hank é tudo o que importa” Ela riu enquanto seu novo marido sentava ao seu lado e a beijava – É claro que filhos e uma carreira bem sucedida também são bem-vindos.

Nós vamos ter uma grande empresa um dia” Hank olhou para a câmera – Posso até ver nossos filhos correndo pelos corredores enquanto trabalhamos.

Pouco depois disso, o vídeo acabou, e escolhi o próximo, com o título “Início da Dreamland”. Apertei o play e logo vi a filmagem de meu avô conversando com alguém, provavelmente um arquiteto ou algo do gênero, em meio a um espaço ainda não mobiliado. Isso aconteceu em 1990, três anos após o casamento deles.

– Tudo bem por aqui? – Genevive bateu à porta e entrou – Já passou o nervosismo?

– Que nervosismo? – Brinquei e ela riu – Estou vendo alguns vídeos, se quiser me acompanhar.

– Quem é o bebê? – Ela apontou para a tela.

– Minha mãe. Tinha dois anos na época.

Anabelle querida, pare de correr!” Joanna chamou e a criança veio em direção à câmera. “Você quer ajudar o papai a construir as coisas, não é?” Anabelle começou a rir e pegou um brinquedo do chão.

Você e sua inseparável câmera” Hank riu olhando para a câmera após passar pela porta de vidro e entrar na sala onde Joanna estava brincando com Anabelle.

Explique como tudo vai funcionar, para que fique guardado para sempre” Joanna pediu.

Aqui será a sala de reuniões, onde vamos decidir e discutir tudo; então, basicamente, um local para se ficar entediado” Hank brincou, e fez Joanna rir quando fingiu sentar ao redor da mesa da sala, ainda sem cadeiras. Depois, eles saíram andando pelo corredor e entraram em outra sala.

Aqui ficarão arquivadas as pesquisas da minha genial esposa e seus colegas de trabalho...

Em armários construídos pelo meu genial marido” Minha avó respondeu, abaixando a câmera para lhe dar um beijo.

Agora vamos ver a melhor parte” Hank pegou Anabelle no colo e segurou a mão de Joanna, levando-a à sala da frente – aonde eu estava agora.

Os móveis já chegaram! Por que não me contou?” Joanna riu.

Queria que fosse surpresa!

– É esta sala aqui, não é? – Genevive perguntou.

– Sim – Sorri – Era a sala de meus avós até a empresa passar para mim.

Minha vó sentou-se no sofá e pegou Anabelle no colo, e logo Hank começou a fazer caras engraçadas para as duas rirem, desligando a câmera.

– Vou ao banheiro. Escolha aí o próximo vídeo – Sorri para Genevive e joguei o controle no sofá. Quando voltei, ela estava reproduzindo o vídeo que escolheu: “2018: 12 anos da Samantha”. Logo vi meus cachos loiros balançando de um lado para o outro enquanto corria pelo jardim.

Sam, assim você vai estragar seu vestido!” Minha avó correu e me abraçou, fazendo cócegas em mim. Desta vez quem estava filmando era meu avô Hank. “Se você não cuidar, não trago mais presentes lindos da Itália, mocinha” Joanna arrumou o laço em minha cabeça e ajeitou o vestido branco de renda, cheio de botõezinhos nas costas. Sorri com a frase de minha vó, ao perceber que a blusa preta de bolinhas brancas que eu usava naquele dia também foi um presente dela, de uma das “luas-de-mel” que ela fazia com o vovô pela Europa. Eles amavam tanto aquelas férias que não sei como não tiraram a Dreamland daqui de Boston para relocar ela em alguma cidade por lá.

Vovó, como se chama mesmo a cidade onde você comprou o vestido?

Milão.

Não, o nome em italiano!

Milano.

Milano” Repeti a palavra, tentando ser fiel ao sotaque correto, e caí na gargalhada.

– Seus avós eram praticamente seus pais, não é? – Genevive perguntou inocentemente.

– Sim. Sempre os chamei de avós mesmo, mas não conhecia mais nada como família. Minha mãe sempre foi muito ausente...

– Você acha que é porque ela era muito nova? – Genevive investiu. Ela gostava de dar uma de psicóloga às vezes, e muitas vezes era o que eu precisava.

– Em parte, sim. É que ela sempre quis ser atriz. E quando tinha 18 anos, engravidou. Só que o problema é que em vez de me ter e continuar batalhando, continuar lutando pelo sonho dela, ela desistiu de tudo o que amava e virou uma pessoa triste e rebelde. E ficar perto de mim só a lembrava de como sua vida foi arruinada.

– Bom, mas veja pelo lado de que você teve uma família mesmo assim. Cresceu com seus avós, que além de terem sido ótimas pessoas te deixaram um legado pelo qual as pessoas matariam – Genevive sorriu e retribuí, voltando a atenção para a tela, para as crianças correndo pelo jardim, rindo e gritando. Amigos de escola, vizinhos, filhos de amigos dos meus avós, todos juntos correndo para cantar o Parabéns, e depois sentados em um grande círculo na grama, comendo o bolo.

Quando o vídeo terminou, olhei para o relógio e vi que era quatro e meia. Como o paciente devia ter chego às quatro, já me preocupei, mas alguns segundos depois veio a voz da secretária no alto-falante do telefone, em cima da mesa.

– Srta. Rivers, Adam Humpfrey está aqui.

E lá fomos eu e Genevive, conhecer o tão falado – entre nós da Dreamland, claro – Adam Humpfrey, nosso primeiro paciente. Havia cerca de três meses que ele havia sofrido um grave acidente de carro com a família. Era uma noite chuvosa na estrada, e ele foi o único sobrevivente do carro com sua mãe e irmã mais nova. Nós iríamos tentar retirar informações de seu subconsciente, já que ele tinha constantes pesadelos sobre o ocorrido.

Terminando de percorrer o corredor, vi entrar um belo homem, com um braço e uma perna engessados, além de alguns ferimentos no rosto que já se recuperavam. Parecia nervoso, então me apressei para tentar acalmá-lo.

– Boa tarde Sr. Humpfrey – Estendi a mão e ele retribuiu – Eu sou Samantha Rivers.

– Por favor, me chame de Adam – Ele sorriu – Você é a dona daqui, certo?

– É, tecnicamente... Mas acredite, tem muita a gente aqui com funções bem mais importantes que a minha – Pisquei para Harry, que estava próximo, e comecei a andar para a sala do Cerebrum, gesticulando para que Adam me seguisse.

– Tudo bem? – Harry perguntou, ao ver que Adam estava imóvel.

– Sim... Só estou um pouco nervoso – Ele sorriu de maneira desconfortável.

– Vou pegar um copo d’água para você – Genevive sorriu e se retirou, e Adam vagarosamente moveu suas muletas atrás de mim, até chegarmos ao Cerebrum. Adam se sentou na cama e Genevive apareceu com o copo d’água, que ficou vazio em segundos.

– Então, Adam... – Sentei-me numa cadeira à sua frente – Já te explicaram como tudo funciona?

– Já... Eu li tudo nos papéis que recebi – Ele passou a mão pelos cabelos, inquieto.

– Você tem alguma dúvida?

– Erm... O que acontece se eu acordar no meio do sonho?

– A transmissão simplesmente para. O vídeo fica... Inacabado. E podemos lhe dar um calmante para que adormeça de novo. Você quer um?

– Não sei se vai adiantar – Ele olhou em meus olhos e falou baixo, apesar de sermos os únicos na sala depois que Genevive saiu – Talvez devêssemos deixar isso para outro dia.

– Por quê?

– Não estou me sentindo muito bem... Estou com medo, para ser honesto.

– Medo? Adam... – Segurei sua mão para lhe dar mais confiança – Você não quer saber o que causou o acidente?

– Quero, mas... Por outro lado, não quero me lembrar de todos os detalhes do dia mas horrível da minha vida.

Mas será para o bem. Para que você fique em paz com tudo isso. Que tal fazermos um acordo: você tenta dormir agora, e se parecer que está tendo um pesadelo muito ruim, o que posso ver pelo vídeo e pelo modo como se comporta, eu te acordo.

– Me desculpe, Srta. Rivers. Eu sei que você quer ajudar, mas não há nada que possa fazer por mim agora – Ele se levantou e começou a andar novamente após pegar as muletas. Nem tentei ir atrás, pois sabia que não poderia convencê-lo de ficar. Mas por que ele estava tão nervoso com um simples sonho?

*

– Falei que não ia dar certo – Quebrei o silêncio enquanto todos nós sentávamos na sala de reunião, com o bolo, champanhe, taças, pratos e garfos descartáveis sobre a mesa.

– Acho que você amaldiçoou o bolo, Sam – Monica riu – Mas, como eu tinha dito, vamos comemorar do mesmo jeito.

– Monica está certa – Harry cortou um pedaço do bolo e pôs num prato para ele mesmo – Já demos um grande passo, começando a ajudar as pessoas. Mesmo que elas não se sintam prontas ainda.

A noite acabou sendo agradável, apesar da decepção em relação a Adam. Nós conversamos sobre trabalho, sobre pacientes, e depois da garrafa de champanhe chegar ao fim, sobre coisas mais fúteis.

– Mas eu ainda acho estranho ele ter fugido assim – Falei para Harry enquanto todos se preparavam para ir embora, limpando a mesa e pegando suas coisas – Por que ele não iria querer ver o sonho e esclarecer as coisas?

– Às vezes os sonhos nos contam coisas que não queríamos saber – Ele respondeu com firmeza.


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