Daniel escrita por Miss A


Capítulo 4
4. Encarar é preciso


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é realmente grande, um dos que mais me deu trabalho, mais também está muito, na minha opinião =)
Leiam e comentem!
E obrigado por estarem acompanhando! :3



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- Caramba Jake, precisava me jogar na areia? – Eu disse, desaprovando o sorriso maldoso no rosto dele.

- Se ele não desse um jeito de te sujar, não seria o Jacob que conhecemos – Do meu lado direito, Leonardo sorria, desaprovando o meu tom de indgnação.

- Você estava muito quieta hoje, Emy – o Bobo da Corte tava afim de por a culpa em mim.

- Acho que a idade lhe afetou. 17... – Brincou Léo – Está com medo de não ser aceita em nenhuma universidade?

- Deveria ter aceitado se tornar Líder de Torcida quando Leonardo e eu te pedimos – Jacob brincava – Você seria a mais linda e Certamente a mais talentosa e ganharia uma bolsa em uma das universidades do país.

- Todos os três deveriam estar com medo de não serem aceitos! – O homem médio e de pouco cabelo que acabara de entrar no carro, falou.

-Richard está certo. Todas as áreas estão concorridíssimas e os três nem decidiram o que querem fazer – A mulher magra e de cabelos ondulados compridos concordou com o marido.

- Tia Márcia, tia Márcia! – Jake disse em tom brincalhão – O vestibular e tudo mais ainda vão demorar...

- Pois é mãe – Eu completei – Até lá muitas águas vão rolar!

- A morena tem razão, tia – Leonardo me deu forças – Vamos brincar em quanto temos tempo.

Pela janela do carro podia-se ver a imensidão verde das florestas de Pinho. O som da conversa dos meus pais no banco da frente era abafado, hora pelas piadas de Leonardo o barulho de nossas gargalhadas, hora pelo som da musica do Ipod de Jacob.

Uma viagem calma, até o momento em que um som estranho... Um baque na lateral direita do carro... Derrepente giros contínuos para esquerda junto ao barulho torturante de lata sendo amassada rapidamente. Não deu tempo de falar, não deu tempo de gritar, só deu tempo de se debater em busca da sobrevivência.

Levantei molhada de suor da cama e puxei com força os fones dos ouvidos, tentando me recompor rapidamente. Dani Califórnia era uma musica gostosa de ouvir, mais naquele momento, não me pareceu uma boa escolha para um toque de celular. “Leonardo Chamando” era o que aparecia no visor.

- Emily?

- Léo? – respondi grata por ele ter me acordado.

- Queria saber como foi a viagem e coloquei créditos novos para ligar.  Aqui na escola, a cada 5 minutos chega alguém para me perguntar sobre você.

- Foi terrível! Sabe que eu odeio viagens de avião...

- E como ela te trata? – ele pareceu preocupado – A sua tia?

- Normal, como ela fez ai em Richmond. Ela ainda estava falando comigo em inglês ontem à noite, mais vou começar a esquecer meu idioma e falar só o dela. É até melhor para mim, para não ser difícil quando eu for para o colégio.

 “Toc Toc Toc”.

- Me liga mais tarde Leonardo. Acho que tem alguém batendo na porta.

- O.K. – E ele desligou o telefone.

- Emily? – A voz de Christina era audível. O mais rápido possível, tentei me lembrar do bom português que eu praticava com minha mãe.

- Pode entrar – Deu certo. A porta de maçaneta dourada se abriu e uma Christina de vestido adentrou o quarto.

- Bom dia, querida – ela começou em português – Se preferir, posso continuar a falar em inglês com você, entendeu?

- Sim – estava dando certo, eu entendia bem o que ela dizia – Mas se, eu vou ficar aqui, tenho que falar português, não?

- Sim, e tenho que admitir que esteja indo bem...

- Que dia é hoje, tia?

- Segunda-feira, querida – Ela me respondeu com a mesma calmaria de ontem – Desculpe por eu não avisar ontem, mais já está matriculada na escola. Porém imagino que ainda esteja cansada, então não precisa ir hoje, se quiser.

- Não – respondi – Eu vou!

Tudo que eu não precisava era de um dia frustrante em uma casa de madeira envernizada. Frustrante por conta dos vários telefonemas curiosos eu poderia receber vindos de Richmond e pelo grande N A D A que eu ficaria fazendo nesse lugar.

Durante os 5 dias que passei internada mais consciente, recebi visitas de vários amigos de escola que eu adorava e que sabia que gostavam de mim, Marcos e Carla, mais houve visitas também de garotas que não se importavam nada com a Emily jogada naquela cama, e sim com suas posições sociais no colégio, que subiriam apartir do momento que a noticia de estarem visitando a menina mais popular e melhor amiga dos jogadores de futebol mais gloriosos daquela escola, dando todo apoio a sua recuperação se espalhasse pelo colégio. Era o caso de Jessica Cortez, a campeã de puxa saquismo da cidade.

Os olhares curiosos nunca me amedrontaram e eu não teria problema em entrar nessa escola mesmo sem conhecer ninguém e falando pessimamente o idioma deles. Depois do banho, escolhi uma calça jens skini azul, uma camiseta preta estilo nadador (Senti calor antes mesmo de sair do quarto com ar-condicionado) e uma pulseira de couro fininha com um pingente de laço dourado. Pelo menos na escola, eu teria uma desculpa para manter o celular desligado. 7h e 14min puxei minha mochila marrom e enfiei meu caderno já usado, o estojo com o resto dos materiais e meus fones de ouvido. Peguei o celular da cama e o fitei por um momento, hora de ir, pensei.

Na sala antiga, um homem branco, alto e de cabelos dourados me recebeu.

- Bom Dia – Ele sorriu em um gesto de boas vindas meu novo idioma sendo usado – Você deve ser a senhorita Emily Kalizia, filha de Márcia e sobrinha de Christina. – Ele estendeu a mão para me cumprimentar – Sou Jorge Gallner. Marido da sua tia.

- Bom Dia, senhor – sorri o cumprimentando de volta e apertando sua mão. Gallner, não me pareceu um sobrenome brasileiro.

- Você está atrasada, então sugiro que tome café lá na cozinha rapidinho enquanto eu a aguardo lá no carro.

- Vai me levar de carro?

- Claro mocinha... A cozinha é logo ali... A escola não é tão longe, mais como é seu primeiro dia...

- Só um estante!

A cozinha da casa dos Oliveira era diferente da sala, a madeira era mais escura. As paredes eram cheias de armários e prateleiras, e a quantidade de copos enfileirados numa parede me assustou.

- Muita gente morou aqui no inicio do século passado – Christina me entregou uma xícara de café enquanto eu admirava o que parecia ser uma coleção de taças – Essas – ela apontou para um conjunto de taças e copos com uma borda dourada – Foram usadas no casamento dos meus bisavôs em 1912, quando essa cidade mal existia. O dourado é ouro.

- Nossa – não havia como não admirar – são muito lindos.  Todos. Suponho que deva haver muitos...

- Pratos? – ela completou minha frase e eu confirmei com a cabeça – Cerca de 600. Todos guardados nestes três armários – ela apontou para três portas fechadas na parede esquerda ao lado de um fogão indústria – Mais presumo que deva estar atrasada, então vamos deixar a aula de história para quando você voltar.

- Claro – tomei em um gole o restante de café da minha xícara – Até mais tarde.

Fomos em um sedam prata bastante silencioso. Durante o trajeto relativamente curto, de cerca de 5 minutos. Jorge foi me falando o nome das ruas que passávamos e da avenida que pegamos. Só memorizei o da avenida, Fab.

- E por fim, seu destino final – ele parou em frente ao portão de uma enorme escola em largura. Percebi que ela tomava a extensão de um quarteirão todo. A arquitetura logo me pareceu estranha, o colégio pintado de amarelo tinha um ar pesado e era impossível não olhar para o seu grande nome pintado ao que devia ser só o teto: Escola Estadual Tiradentes.

 - Muito obrigada, senhor – sorri mais uma vez para ele. Em agradecimento.

- De nada, mais me faça um favor?

- Ok. Qual? – As palavras que eu deveria dar de resposta, agora me vinham rapidamente à cabeça.

- Me chame de Jorge, por favor – ele pediu em tom brincalhão – Vai me fazer sentir mais novo.

- Ok – concordei - tio Jorge. Assim está melhor?

- Bem melhor, Emily. Quer que eu venha lhe buscar, ou acha que sabe o caminho para casa?

- Imagino que eu saiba voltar sozinha – eu não queria tomar seu tempo.

- Ok, então – ele sorrio novamente – te vejo em casa.

O sedam prata já havia se distanciado quando Leonardo me ligou novamente, antes de eu me lembrar de desligar o celular.

- Pode falar morena?

- Sim, mais por pouco tempo – O sinal devia estar quase tocando, se já não tocará. Porém havia muitos alunos perambulando pelos corredores e eu nem havia chego à secretaria para avisar... Será que eu deveria ir à secretaria mesmo? – 1° dia de aula na escola nova...

- Como é ai? – ele perguntou por educação

- Grande em largura, nada de dois andares e cheio de adolescentes – rimos juntos. Foi tão bom rir com Léo!

- Ok senhora engraçadinha e que logo vai ser tão adorada quanto antes... Tenho uma novidade pra te contar.

- Diga meu parente, sou toda ouvidos – uma placa na parte de cima de uma porta me dizia onde entrar. Havia duas mulheres lá dentro, então decidi esperar um pouco lá fora falando com Léo. Os alunos que passavam olhavam curiosos, absortos com o inglês perfeito que eu falava ao telefone.

- Um carro, Emy – pude sentir a alegria na voz dele – Meu pai me deu um carro!

- Caramba, Léo – Não pude deixar de ficar feliz por ele. Uma mulher que acabara de ser atendida saia da secretaria – Que ótima noticia! Se eu estivesse do seu lado, te daria um abraço, primo.

- Sei disso – Que saudade dos braços grandes dele.

- Que droga Leonardo! Porque meus pais tinham que me mandar pra cá?

- Não sei Emy. E eu não sei quanto tempo mais vou conseguir ficar longe de você. Carla esta sendo uma super amiga não só hoje aqui na escola, mais todos esses dias que você esteve internada, mais não é mesma coisa. Como vou cumprir a promessa que Jacob e eu fizemos a três anos atrás, de cuidar de você pra sempre? Sou seu único guardião agora, lembra?

- Lembro.

- Eu amo você, Emy.

- Te amo, Léo.

Desliguei o celular bem na hora em que a ultima mulher abria porta da secretaria para sair. A parte designada para as pessoas era separada por um balcão da parte dos funcionários e era extremamente pequena. A meu ver, só davam quatro pessoas ali dentro. Já do outro lado, o espaço era amplo, talvez alvo de reclamações por quem trabalhasse por ter três mesas cheias de papeis e 2 armários grandes, reclamações sem fundamento se existirem, a sala era friazinha e bem iluminada.

- Posso ajudá-la? – Uma moça ruiva e alta me perguntou.

- Cheguei hoje, sou Emily Meyer.

- Meyer – ela admirou-se. E cavucou uma pequena pilha de documentos em uma mesa até encontrar o que estava procurando – Você não parecer ser daqui. É francesa?

- Não, sou de Richmond, Virginia.

- Então é americana?

- Sim. Estou morando com minha tia a algumas horas. Cheguei de noite.

- Interessante, mais você fala um português quase que fluente...

- Minha mãe era brasileira, morava aqui em Macapá, e me ensinou o português. Ela e meu pai morreram a duas semanas – senti uma lagrima deixar um rastro pelo meu rosto.

- Encarar é preciso, querida. Bom, a série que você cursava nos Estados Unidos, equivale ao 2° ano aqui no Tiradentes. Sua turma é a 215. Que bom que você não perdeu quase nada. Estamos em março, às aulas começaram a uma semana, praticamente...

- Ok. Obrigada – Tentei sorrir mais não deu muito certo. Ela entendeu.

Não foi difícil encontrar a minha sala. Pelo visto, não eram os alunos que deveriam ir até a sala em que estavam os professores, mais sim ao contrário. Eu teria uma turma fixa, com os mesmos colegas até o fim do ano.

Pelo que pude perceber rapidamente, a área designada as salas de aula era só um retângulo. Dois corredores dividiam a escola, o esquerdo não tão grande quanto o direito, organizados de forma decrescente apartir do corredor de entrada da escola, primeiro cinco turmas de 3° ano, depois sete turmas de 2° ano e por fim, mais 7 turmas de 1° ano. O amarelo estava por todos os lugares.

Em meio às turmas de 3° e 2°, estava a lanchonete do colégio, a parte, imaginei, que ficasse mais cheia na hora da refeição, por conta de vender coisas que adolescentes adoram comer. Escolas brasileiras como o Tiradentes possuíam os seus refeitórios, o local onde a escola oferecia o lanche gratuito, que quase sempre, não agradava seus alunos. Bem em frente à lanchonete, e a minha sala também, havia um quadrado com plantas, onde o sol iluminava.

A sala também exibia a tal da cor amarela, que agora estava me enjoando. Pelo menos, era bem friazinha e clara, graças às janelas de vidro que estavam por toda a extensão da parede esquerda. O professor havia acabado de chegar na sala e me recebeu com um sorriso simpático.

- Ok, senhorita Emily Meyer. Pode se sentar – Após assinar um papel que a moça da secretaria me dera e escrever meu nome na caderneta que ele tinha, o professor baixo e calvo me liberou para poder começar a aula.

- Bom, temos uma colega nova – ele gesticulou para mim – O nome dela é Emily. E a propósito, eu sou seu professor Julio, de Matemática. Como você é nova, não deve conhecer o ensino modular, em que você, na primeira parte do ano estuda determinadas matérias e depois troca, pelas não estudadas. De onde você veio, Emily?

- Richmond, Virgínia – Eu não quis dizer que já conhecia muito bem o ensino modular.

- Estados Unidos? – Nesse momento, senti todos os olhares dos outros alunos em mim – É americana?

- Sim, minha mãe era brasileira, e me ensinou o português quando eu era menor.

- Legal! – o professor realmente era bem humorado, e disse sorrindo – É a primeira vez que eu conheço alguém dos Estados Unidos. Ok, turma – ele se recompôs – Formem um circulo, que vamos ter uma aula prática de trigonometria.

A garota que ficou ao meu lado no circulo se chamava Silvana e se mostrou ser uma menina bem educada. Conversar com ela não foi difícil para mim. A revisão de matéria do primeiro ano devia mais não me interessava, e me pareceu não interessar a Silvana também, e durante os dois horários da mesma aula, ela me falou sobre os professores dos nossos próximos horários, que eu não tinha perdido nada por conta das aulas terem começado a três semanas e de como Macapá, por mais pequena que fosse, poderia ser uma cidade interessante. Por duas vezes o professor reclamou do quanto estava barulhenta a sala, e por diversas vezes enfatizou como a escola era ótima.

Quando tocou o sinal, uma garota magricela e sorridente entrou na sala e puxou Silvana para fora. Imaginei que devesse ser alguma amiga dela e agradeci por ela não querer me puxar junto também.

Os corredores estavam cheios de alunos que não pareciam ligar para os muitos professores que já adentravam as salas. Na porta da minha sala, esbarrei sem quer em um garoto. Arthur Soltelo era um menino louro e de porte atlético, que estava entrando de mochila na sala. Ele me pediu desculpas três vezes.

- Não me lembro de te ver por aqui – ele começou tentando ser educado, logo depois de me dizer seu nome. Ele não havia assistido à aula de matemática.

- É meu primeiro dia hoje. Eu sou Emily Meyer e vim de Richmond. Estados Unidos

- Sério? Estados Unidos?

- Sim. Deve achar meu sotaque ridículo – ele riu. Que brasileiro lindo!

- Richmond deve ser um lugar lindo. Quantos anos têm? – ele sorriu.

- Ah... Seventeen. – O louro lindo e atlético estava mesmo puxando conversa comigo?

- Quer dizer dezessete – ele sorriu. Nem notei que havia dito minha idade em inglês – Imagino que em Richmond, você não estivesse no 2° ano.

- Não, estava no 3°, a moça disse que eu estava adiantada, porém era o equivalente ao 2° ano de vocês.

- Arthur, deixe para conversar com a menina depois da aula – Um novo professor adentrou a sala. Este era um pouco mais alto que o anterior e bastante barrigudo, ele me pareceu carrancudo.

Aprecei-me para achar o meu lugar, que na nova organização da sala, estava na fila ao lado da que eu havia escolhido. Depois de o professor assinar sem dizer uma só palavra, me sentei na carteira que agora estava longe da de Silvana e esperei as horas passarem sem realmente prestar atenção ao que ele dizia sobre física.

Quando tocou o sinal de intervalo para o lanche, Arthur, que saia da sala ao lado de mais dois garotos, sorriu de relance para mim, o que me deixou um pouco envergonhada. Silvana percebeu, porém não me perguntou nada. A garota doida que a havia puxado não voltou, o que a deu segurança para me contar como essa mania feia a deixava com raiva da amiga. Como suspeitei, a área da lanchonete estava cheia de alunos, era até difícil passar por lá. Porém Silvana insistiu em lanchar, e quando eu disse que só tinha dólares na minha mochila, ela insistiu em pagar uma lata de Coca e um sonho de chocolate para mim. Houve tempo suficiente, para terminarmos de comer e eu contar um pouco de como era os Estados Unidos para ela, por que o professor carrancudo de física demorou a voltar.

            O resto da aula se passou do mesmo jeito. A professora de Língua portuguesa que assumiria os dois últimos horários era magricela e usava óculos, senhorita Rita Mendes, pediu para que apenas prestasse atenção nos textos que seriam apresentados e me desejou toda a sorte do mundo na nova escola. Olhei rapidamente a sala, sem prestar muita atenção nos alunos e procurei de novo minha carteira. Agora eu estava atrás de um garoto de cabelos cor de bronze e que mantinha a cabeça baixar, e que eu não fiz questão de reparar.

Os alunos foram chamados a frente da turma para que pudessem ler seus poemas, textos ou histórias sobre o que lhes dava medo. Mike, Alexia, Andresa, Alexandre, André e Kelly foram os primeiros a apresentarem seus medos, todos de algum animal. As três meninas tinham medo de baratas e os meninos não escreveram mais de 15 palavras sobre bichos grandes como hipopótamos, jacarés e por incrível que pareça, girafas.

- Grigori – anunciou a professora magricela – Sua vez.

Não pude deixar de pensar no garoto que alugara um quarto na “Residência dos Oliveira”, e em minha tia descrevendo rapidamente o rapaz que eu ainda não conhecia. O garoto a minha frente se ergueu e um perfume deliciosamente inexplicável e que eu não havia sentido antes se espalhou a minha frente. De tão gostoso, agora me deixava tonta.

O tal Grigori, que até agora eu não sabia se chamava-se Daniel, não era tão alto, mais, mesmo de costas para mim, não havia como não reparar no seu intimidador porte atlético. Em geral, dos alunos que eu observei no intervalo, nenhum era parecido com Arthur Soltelo fisicamente, quanto o garoto que acabara de levantar. Os outros eram normais e eu diria, magricelas.

Senti como se uma leve corrente elétrica percorresse o meu corpo quando fitei pela primeira vez seu rosto pálido, ilegível e extremamente lindo. E sua voz era doce e suave como veludo, a definição perfeita do que eu imaginava ser a voz de um anjo. “Agonia”, ele disse, e eu não consegui me concentrar mais. Naquele momento, o seu poema não importava nada para mim, tudo que eu queria era admirar seu rosto.

- Muito intrigante, Daniel – Daniel! Então ele era Daniel Grigori. Morávamos na mesma casa – Sem duvida o melhor até agora.

- Obrigado – e ele se encaminhou a carteira a minha frente sem realmente me olhar.

            Tudo que eu queria era poder chamá-lo. Apresentar-me a ele. Não, eu não faria isso no meio do poema de sei lá quem, correndo o risco de levar um puxão de orelha da professora ossuda por atrapalhar a aula no meu primeiro dia ali, e ainda por cima, ficar com cara de idiota na frente da classe toda.

Esperei pacientemente o sexto sinal tocar, e quando isso finalmente aconteceu, Daniel Grigori não teve tempo nem de sair da frente da sala.

- Hey! – chamei e não foi só ele quem olhou – Você é Daniel Grigori, não?

- Sou, o que quer? – sua voz agora era áspera.

- Sou nova aqui e... – porque eu não ensaiei o que dizer?

- Eu reparei – ele cortou minha frase como se eu o deixa-se com raiva – Mais não tenho tempo pra ser seu guia, ainda mais porque acabou as aulas por hoje.

- Eu só...

- Imagino que saiba o caminho para a saída da escola – ele não me deixava falar – Tenho que ir agora – e me deu as costas como se eu não fosse nada.

            Ser ignorada por um garoto que eu nem conhecia me deixou confusa e extremamente perturbada. Eu tinha certeza que ele seria educado e poderíamos ir para casa juntos, conversando. Olhei ao redor, para a roda de expectadores que podiam estar nos observando e havia mais pessoas do que eu imaginava. Eu não poderia ficar ali nem mais um instante, então me virei e andei rapidamente na direção da saída. Conhecer o resto da escola já não estava nos meus planos hoje.


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Notas finais do capítulo

Comentem, comentem, comentem!
Espero que tenham gostado!
Obg :3



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