Olhei pela janela os borrões dos edifícios. Eu estava em um taxi, para caso de ter alguns dos cúmplices do Jerry vigiando a porta. Todos os outros agentes já estavam em posições incluindo Ethan, que havia saindo antes.

- Já estamos chegando? – perguntei ao motorista do taxi.

- Sim, senhorita. – respondeu o motorista.

Rolei entre meus dedos o comprimido que o Ethan havia me feito jurar tomar, de acordo com ele o comprimido me deixaria mais calma, mas pelo olhar em seu rosto eu sabia que o único que ficaria calmo caso eu tomasse o comprimido seria ele. Olhei para o comprimido e finalmente o coloquei na boca e engoli, era um pouco grande e eu deveria ter tomado com pouco de água, mas não tinha gosto ruim e eu não quis tomar isso na casa do Ethan.

- Chegamos – informou o motorista parando em frente a uma casa noturna com luzes brilhantes, a Elysium Lounge, havia uma enorme fila para poder entrada, cheia de pessoas vestindo roupas semelhantes a minha.

- Obrigado – como Lily já havia pagado ao motorista antes eu simplesmente agradeci ao motorista e saí do carro.

A fila era realmente enorme, mas ao invés de ir para o final dela assim como os recém-chegados fui direto para o segurança na porta, ele era gigante com a pele bronzeada e estava todo vestido de preto com uma prancheta nas mãos, sua cabeça era careca e ele tinha todo esse porte de “sou perigoso”, e tinha uma enorme tatuagem a mostra em seu antebraço, um escorpião negro.

Cheguei perto do homem ignorando todos na fila que agora me xingavam em voz alta, não sabia porque. O segurança me olhou de cima a baixo e ergueu uma sobrancelha, não falou uma palavra, mas eu sabia que o que ele queria saber.

- Sou Evie, vim encontrar com Mary. – falei o olhando nos olhos e falando com uma voz cheia de indiferença.

O homem nem sequer olhou na prancheta, ele apenas abaixou sua grossa sobrancelha escura e acenou com a cabeça me dando permissão para entrar. Ouvi os xingamentos ficarem mais alto até que eu passei pela porta e a única coisa que pude ouvir foi uma musica tão alta que eu podia sentir as vibrações no meu corpo. A pista de dança era no centro e estava cheia. Havia um bar em forma de L que se estendia por toda a extremidade direita e metade da de trás, depois do bar havia uma sessão com mesas separas e cabines, uma escada na extremidade levava para a área VIP do Clube.

Andei até a sessão de mesas que estava do outro lado enfrentando pessoas suadas e bêbadas, meu pé foi pisado mais de cinco vezes e perdi a conta de quantas vezes eu senti alguém passar as mãos na minha bunda ou no meu cabelo, mas ao invés de enfrentar o otário eu simplesmente segui em frente, tendo coisas mais importantes para tratar do que simples homens bêbados.

Sentei em uma cadeira e aguardei, não demorou muito para que alguém viesse falar comigo, mas infelizmente não era a pessoa que eu esperava.

- Olá gatinha, o que está fazendo aqui sozinha? Esperando o namorado? – perguntou o homem já parcialmente bêbado. Seus cabelos loiros estavam bagunçados, suas roupas um pouco amarrotadas, e ele estava suado como tivesse dançado a noite toda.

- Estou esperando alguém – respondi desviando o olhar dele e olhando para frente em um obvio sinal de que não queria conversa, mas ao invés de sair ele simplesmente sentou ao meu lado e colocou seu braço por cima dos meus ombros.

- Qual é gatinha? Seu namorado deve esta pegando outra por ai e você nem sabe, porque não fazer o mesmo? – perguntou chegando perto do meu ouvido para que eu o pudesse ouvir melhor por cima da musica.

O cheiro de álcool no seu halito era palpável e desagradável. Tirei seu braço dos meus ombros e me afastei dele.

- Vai embora. – falei enquanto tentava ignorá-lo, mas era quase impossível já sua mão agora estava na minha coxa.

- Vamos gatinha, não pode vestir uma roupa como essa e não me deixar ao menos te provar! – reclamou e depois continuou - Posso fazer um belo trabalho com minha lingua, não quer testar?

Senti meu rosto corar ao lembrar da escuta que tinha no meu decote e que todos os agentes do FBI que vieram essa noite estavam escutando tudo o que o homem falava para mim.

A mão dele subiu pela minha coxa enquanto ele se inclinava para tentar me beijar então não pude mais me controlar e o acertei em cheio com meu punho. Ele caiu no chão com mão no rosto e algumas pessoas que estavam por perto olharam para nós.

- Eu falei para ir. – repeti dessa vez com a voz tão fria que o homem arregalou os olhos, se levantou cambaleando e foi embora com seu nariz sangrando. Suspirei aliviada.

A música da boate mudou duas vezes, estava tão cheia como antes e eu já havia localizado três cumplices da Elizabeth, porem nenhum deles trabalhava para Jerry, mas eu reconhecia eles, as vezes iam no galpão e sempre que estavam lá Jerry ficava inquieto e ainda mais cauteloso do que já era, dei a descrição deles para Lily ou qualquer que seja o agente que estava me escutando quando finalmente Elizabeth chegou. Ela vestia um vestido preto colado e curto que marcava suas curvas, saltos altos, seu cabelo antes loiro agora era castanho escuro e curto, ela sorriu para mim e sentou na minha frente.

- Que bom que conseguiu chegar, querida. Eu estava começando a ficar preocupada – falou estendendo a mão por cima da mesa para pegar a minha.

Deixei ela segurar minha mão e sorri para ela, entrando no jogo.

- Obrigado por estar aqui. – falei a olhando nos olhos e me inclinando um pouco sobre a mesa como se não quisesse perder uma palavra que saísse de sua boca.

- Tem certeza que ninguém te seguiu? – perguntou cautelosa olhando ao redor antes de voltar a me olhar com aquele toque de doçura no olhar, essa cadela iria pagar por me fazer de boba.

- Sim, tenho certeza. Não deixaria que alguém me seguisse e colocasse você em risco. – disse apertando sua mão.

- Você está muito bonita, onde conseguiu a roupa? – perguntou olhando meu espatilho preto e minha jaqueta.

- Depois que Ethan saiu roubei um relógio – falei baixando um pouco a voz como se estivesse envergonhada pelo meu ato mais ainda a deixando alto o suficiente para que Elizabeth escutasse. – E havia essa loja de penhores do outro lado da rua então troquei o relógio por dinheiro e comprei essa roupa. Você disse que eu deveria me vestir uma roupa adequada e então como não sabia o que seria adequado para o clube pedi para a garota que trabalhava na loja me ajudar a encontrar essa roupa. – terminei ainda olhando nos olhos.

Elizabeth acenou com a cabeça acreditando em mim, afinal que motivo ela teria para achar que eu estava mentindo?

- Muito inteligente querida. – disse sorrindo e soltando minha mão – Agora vamos embora, precisamos ser rápidas e estar fora da cidade quando os federais descobrirem que você fugiu.

- Elizabeth, espere – pedi quando ela começou a levantar.

- Não podemos esperar queri ... –ela parou de falar quando notou que a chamei por seu verdadeiro nome. Seus olhos se arregalaram e acho que ela sairia correndo se eu não tivesse segurado sua mão com um aperto de ferro.

- Não vamos sair agora, primeiro vamos ter uma conversinha. – falei deixando minha voz fria e calculada, então sorri para ela.

Elizabeth sentou novamente porem rígida e seu olhar caloroso e doce tinha ido para o espaço, agora aqui estava o olhar de uma assassina.

- Como soube? Isso é uma armação, não é? Armou para mim, como pode fazer isso comigo? – perguntou com a voz amarga.

- Não importa como soube e não, eu não armei para você, eu realmente fugi e não trouxe nenhum federal comigo. – menti ainda segurando sua mão para mantê-la no lugar.

Então por incrível que pareça um enorme sorriso surgiu nos lábios de Elizabeth e ela riu.

- Como descobriu? E como pode ser tão idiota para vir aqui sozinha? É ainda mais tola do que imaginei. – disse rindo.

Tive vontade de que soca-la com tanta força até que cada um dos seus dentes caíssem e sua cara ficasse completamente vermelha de sangue, mas me controlei, eu tinha um trabalho para fazer e não podia estragar tudo apenas por um capricho.

- No dia que liguei para você, eu estava copiando formulas para os federias no escritório do agente Ross e depois que você desligou meu papel acabou e fui procurar mais, então encontrei essa pasta, com fotos suas e uma ficha criminal bem comprida. Não sabe como fiquei com ódio quando vi aquilo.

- E ainda assim você foi tola o suficiente para vir se encontrar comigo sozinha. – comentou fazendo uma careta para mim.

- Quanto Jerry está te pagando? – perguntei – Está trabalhando para ele não está?

- Não docinho, não estou trabalhando para o idiota do seu pai, digamos que cansei de receber ordens dele e não receber dinheiro o suficiente por meus serviços, então quando Ronny me ofereceu mais deixei seu pai em um piscar de olhos. - respondeu sorrindo.

“Onde ela está? Vamos seu inútil, temos uma ótima oportunidade de pegar aquela gracinha, sabe o quanto os caras do Ronny estão pagando por ela?”Lembrei das palavras de Todd quando ele e seu estupido irmão estavam nos perseguindo naquele dia.

Infernos! Elizabeth estava trabalhando para Ronny, isso era pior do que imaginei.

- O que o Ronny quer comigo? Não tenho nada para tratar com ele, nem sequer o conheço.

- O que Ronny quer com você? Querida você é o pequeno tesouro do Jerry, é uma mina de ouro com todas essas informações nessa cabecinha tola. É claro que Ronny quer você e eu vou leva-la para ele. – falou fazendo um leve movimento com a cabeça para alguém atrás de mim.

- Eu não acho que estou indo com você. – falei largando sua mão para sair dali o mais rápido possível. - Mas quando o encontrar dê um recado para ele, diga que espero que ele se foda.

Eu mal fiquei de pé quando uma explosão vindo dos banheiros do outro lado do salão fez o chão tremer e teria caído no chão se dois braços fortes não tivessem me segurado, por um momento pensei que fosse Ethan, mas logo percebi que não era assim que vi aquela maldita tatuagem de escorpião, antes que eu pudesse me livrar dos braços fui jogada sobre o ombro do "segurança". A fumaça estava se espalhando rápido e as pessoas já estavam histéricas, querendo sair e então se fez o caos.

Pessoas gritando, fumaça, fogo, pessoas sendo pisoteadas e por mais que tentasse me livrar do homem ele me tinha muito firme sobre seu ombro, eu mal conseguia me mexer e com esse caos seria impossível para algum agente me encontrar.

- Me larga! – gritei socando suas costas e chutando ele, mas minha posição não me dava muito poder.

Oh Deus, e se Ethan tivesse se ferido na explosão?

- Parece que vai poder dar o recado você mesma. – sorriu Elizabeth para mim.