Interlúdio escrita por Djin


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

N.A.: Once Upon A Time não me pertence. Obviamente. Se pertencesse, SpoonQueen seria um ship canon. Sério. As always, créditos aos senhores Edward Kitsis e Adam Horowitz e à ABC.
Mil agradecimentos à minha super-ágil beta, Mellie. Mal posso ver seus movimentos!



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“Belle?”

“Hm?” Isabelle balançou a cabeça, arrancada dos seus devaneios.

“Você não fala nada há uns dez minutos. Parece perdida em pensamentos. Seu chá esfriou.” O Sr. Gold lançou-lhe um olhar preocupado.

“Desculpe. Me distraí.”

“Algum problema?”

“Não, não. Só estava lembrando de uma conversa que tive com o Henry.”

“O filho da prefeita Mills?” O Sr. Gold inclinou-se levemente na direção de Isabelle, com um ar interessado. O pequeno príncipe sempre estava no vórtice das agitações entre a rainha e a salvadora.

“Sim. Eu te contei que a Mary Margaret está com um projeto de leitura com seus alunos, não? Todo domingo eles vão à biblioteca para escolher um livro infantil para ler e comentar. Bom, ela me convidou para ajudar no projeto, eu achei muito interessante.”

“Sim...”

“Ontem, antes de ir embora, Henry veio falar comigo...” Isabelle parou no meio da fala e riu. “Não sei se deveria te contar. A ‘operação Cobra’ é ultra-secreta.”

“’Operação Cobra’?! Querida, você não está falando coisa com coisa.”

“Bom, acho que posso confiar em você.” Isabelle deu-lhe uma piscadela divertida. “O Henry tem esse livro de contos-de-fadas... umas versões bem modernas dos contos-de-fadas, na verdade.... De qualquer forma, ele gosta de ficar imaginando quem os personagem das histórias seriam no mundo real.”

“Oh, é mesmo? Quanta imaginação.” O Sr. Gold sorriu de leve, por trás de sua xícara.

“Ele leva essa história um pouco a sério demais, na verdade.”

“E quem ele pensa que você é?”

“Ele disse que não tem certeza, mas que com certeza eu sou ‘do bem’ e uma inimiga da rainha má, já que ela me prendeu no seu ‘calabouço’. A rainha seria a prefeita.”

“Faz sentido.”

“Não acho muito saudável uma criança fantasiar que sua mãe é uma rainha má.” Isabelle franziu a testa.

“Bem, não se pode dizer que ela não combine com o papel.” O Sr. Gold deixou um toque sombrio escorrer em suas palavras, ganhando um olhar curioso de Isabelle. Estava claro para a garota que a prefeita não deveria ser uma pessoa muito fácil. Emma já falara muito sobre ela e seus atritos; e não era a primeira vez que o Sr. Gold parecia desagradado ao falar na mulher.

A única lembrança que Isabelle tinha dela era uma rápida aparição no dia de sua libertação do hospital. Suas memórias daqueles dias eram bem confusas, mas ela recordava-se de se sentir muito mal na presença da mulher. Seu olhar lhe lembrara muito alguém que a observava às vezes através da portinhola de sua cela. Em análise posterior, Isabelle achou que aquilo não fazia sentido. Por que a prefeita da cidade ficaria vigiando uma paciente psiquiátrica? Ainda assim, ela se sentia agradecida por nunca mais ter cruzado com o olhar dela pela cidade.

“Henry me pediu ajuda para descobrir quem você era.” Ela comentou, finalmente.

“Mesmo?” Ele se perguntou como o garoto teria descoberto a assosciação entre os dois. Era um garoto muito esperto, de fato.

“Parece que você é intrigante demais até para a imaginação florida dele.” Isabelle riu, mas ele apenas a observou, pensativo.

“Quem você acha que eu sou?”

“Era justamente isso que eu estava ponderando agora há pouco.”

“Um feiticeiro das trevas, talvez...?”

“Você não é um vilão, Gold!” Ela lhe franziu a testa.

“Eu não sou nenhum príncipe encantado, Belle.” Ele falou, muito seriamente, e Isabelle ficou desconcertada com a gravidade de seu olhar. Ela deu de ombros e forçou um pequeno riso.

“Que bom, então. Príncipes encantados são meio chatos. De quelquer forma, você não é um vilão.”

“Quem eu sou, então?”

Ela observou-o atentamente por um momento, uma pequena ruga entre seus olhos.

“Vejamos. Você é esperto, tem uma inteligência afiada... E sabe manejar bem as pessoas.” Ele sorriu ante sua escolha de palavras, pensando que ‘manipular pessoas’ seria uma definição mais apurada, mas não comentou nada enquanto ela continuava pensativa. Um ar divertido tomou sua expressão.

“Você pode ser o Gato-de-Botas!”

“Gato-de-Botas!? Você acha que eu sou um animal?” Ele riu abertamente.

“Não ‘um animal’! Um felino! Cheio de classe.” Ela lhe piscou alegremente.

“Desculpe decepcioná-la, querida, mas não acho que eu seja um gato.”

“Certo, vamos ver outras opções então. Levando em conta sua inclinação para contratos e acordos, você bem poderia ser o Flautista de Hamelin.”

O Sr. Gold lhe lançou um olhar surpreso. Ele era o flautista de Hamelin. Ou, para ser mais exato, um de seus acordos era a versão análoga ao conto folclórico deste mundo. Claro, ele tinha acabado com uma infestação de goblins, não de ratos. E ele não havia roubado todas as crianças da cidade. Onde ele colocaria todas elas? Crianças davam trabalho. Não, só os primogênitos das famílias nobres já tinham sido o bastante.

“Talvez você esteja certa. Talvez eu seja mesmo o Flautista de Hamelin.”

Ela riu, satisfeita por seu palpite ser aprovado.

“E você não se importa por eu ter roubado os garotos?”

“Oh, bem... Eles não deveriam ter quebrado o contrato.” Ela deu de ombros, e o Sr. Gold teve que rir.

“Parece que você me entende melhor do que eu imaginava.”

“É claro que sim! E você não é um vilão.”

Ele não se deu ao trabalho de discordar, e Isabelle se inclinou em sua direção, tomando seus lábios em um sorridente beijo.

–*-*-*-

Enquanto caminhava calmamente pelas ruas de Storybrooke, o Sr. Gold quase teve vontade de soltar um assovio alegre. Isso não faria muito bem à sua reputação, mas talvez o olhar espantado que com certeza receberia dos passantes valesse a pena. O fato é que, em meio a uma cidade amaldiçoada, onde todos estavam fadados a viverem sem finais felizes, ele estava vivendo seu conto-de-fadas particular.

Claro, ele ainda tinha muito com o que se preocupar. Seu interesse maior era a quebra da maldição, e nada poderia ficar no caminho da sua busca por Baelfire. Ele muitas vezes ficava enfadado com o desenvolvimento dolorosamente lento das picuinhas entre a prefeita e a Srta. Swan. Claro, a salvadora havia mudado algumas coisas por ali, alterando a vida de muita gente. Mas ele se perguntava se não estaria na hora de tomar alguma atitude grande, agitar um pouco as coisas para acelerar o processo.

De qualquer forma, no momento ele não tinha muito do que reclamar. Após décadas, ele estava novamente ao lado de sua Belle, e as coisas estavam se desenvolvendo melhor do que ele ousara imaginar em seus sonhos mais delirantes. Ele havia tido até a chance de saborear uma agradável vingança contra o dentista idiota. Estava tudo indo muito bem. Assim, foi com o espírito leve que ele chegou à sua porta e bateu de leve. Bastou um olhar para a face desanimada de Isabelle para ele perceber que havia alguma coisa muito errada.

“Boa noite, Belle.”

Ela afastou-se da porta para que ele entrasse. Ele ficou parado no meio da sala, as duas mãos sobre a bengala, sem saber bem o que dizer, enquanto Isabelle fechava a porta sem uma palavra.

“O que você quer fazer hoje a noite? Pensei em alugarmos alguns filmes...” Ele começou, tentativamente, mas foi interrompido pela voz tensa de Isabelle.

“Você espancou meu pai?”

O Sr. Gold olhou para Isabelle, espantado. Ele imaginou que aquilo poderia vir à tona mais cedo ou mais tarde. No final, ele acabara descobrindo que o homem era inocente, nunca havia torturado Belle, e a culpa de tudo era da Rainha. De qualquer forma, não havia sentido em negar o acontecido.

“Ele invadiu minha casa e me roubou.” Ele sentiu seu coração se apertar diante do olhar quebrado que Isabelle lhe lançou.

“É verdade, então? E você admite com essa calma?!”

“Ele me roubou.” Ele repetiu, simplesmente.

“Você é rico, inferno! O que ele poderia ter pego que valesse duas semanas no hospital?!”

“Algo muito valioso.”

Isabelle pareceu não acreditar no que ouvia. Com um suspiro, ela fechou os olhos, parecendo cansada.

“Suponho que não vá negar também que tentou comprar um bebê.”

Aquilo sim pegou o Sr. Gold de surpresa. Ela não poderia ter escutado aquelas duas histórias por acaso. Alguém resolvera espalhar alguns contos sobre ele nos ouvidos de Belle. Sua mente voou, tentando imaginar quem teria sido.

A menina-lobo costumava ser amiga de Ashley Boyd e tentara até ajudá-la a escapar, na ocasião. É possível também que tivesse conhecimento também do incidente com o Sr. French. No entando, o Sr. Gold achava que a garota preferia constrangê-lo com os olhares divertidos para ele cada vez que entrava no Granny’s e falava com Isabelle, em vez de tentar envenená-la contra ele. Se aquele fosse seu objetivo, já teria tido muitas oportunidades antes.

A xerife parecia muito menos simpática à relação. Ela lançara um olhar desgostoso em sua direção certa vez em que o vira entrar na casa de Isabelle. Chegara a ir à sua loja e questionar suas intenções com a garota, declarando, meio cartunescamente, que estaria de olho nele. O Sr. Gold não se importara realmente. Qualquer um que tivesse interesse em defender Belle teria sua benção, mesmo se fosse contra ele. De qualquer forma, a Srta. Swan não fazia o estilo de armar intrigas às escondidas.

“E então?”

O Sr. Gold percebeu que Isabelle ainda esperava uma resposta, com um olhar afiado.

“Eu não estava comprando uma criança. Eu fiz um acordo, e me comprometi a encontrar um lar decente para ela.”

“Você queria arrancar um bebê da mãe!”

“Não aceito que quebrem contratos comigo!”

“Você não pode estar falando sério!” Isabelle tinha uma expressão de horror, e parecia vê-lo pela primeira vez.

“Belle... Belle, deixe-me explicar. Não foi bem assim...”

“E você colocou fogo à prefeitura.”

Certo, aquilo já era demais. Alguém seria escaldado vivo.

“Do que você está falando?”

“Você não causou um incêndio na prefeitura? Alguém podia ter morrido! Vai dizer que não fez isso?!” Ela falava com agitação e raiva, mas o Sr. Gold viu uma pontada de esperança angustiada em suas palavras. Ela queria muito que ele dissesse que aquilo tudo era um engano. Mas ele não podia mentir para ela.

“Não há provas.”

“Então você não fez?”

Ele ficou em silêncio enquanto Isabelle o encarava intensamente.

“Por que você fez isso...?”

“Eu fiz o que era necessário.”

“Necessário para quê?”

Ele ficou em silêncio novamente, e uma expressão de desânimo tomou Isabelle.

“Esse não é você...”

“E você acha que me conhece?” Suas palavras saíram mais afiadas do que ele pretendia, e Isabelle o encarou com um olhar ferido.

“Pensei que sim.”

“Eu avisei, queridinha. Não sou nenhum príncipe encantado.” Um sorriso irônico acompanhou suas palavras, e Isabelle desviou o olhar, enojada.

“Saia daqui.” As palavras saíram dos seus lábios em um sussuro derrotado. Só após ouvir a porta sendo fechada, ela deixou escapar um soluço, enquanto as lágrimas começaram a cair pelo seu rosto.


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